Quando o grupo designado para ir ao Norte pegou a estrada, não imaginariam que fossem encontrar algum problema no caminho. De fato, alguns membros estavam até chateados por estar indo para um lugar como a cidade de Nova Luz.
- Ah, ninguém merece! O Coal mandou a gente pra cá de propósito! – reclamava Waterking – aposto que foi por causa da minha batalha...
- O que sua batalha tem a ver com isso? O Coal não deve estar bem da cabeça. – disse Iunick. – Ele faz as coisas e nunca explica as razões dele.
- É porque ele sabe o que faz – disse Cyber. – E não pensem que só porque estamos nos dirigindo para Northerns que vocês estão em segurança! Os guerreiros de lá são muito fortes e tem muitas habilidades. E vamos andando, senão vamos virar picolés aqui no caminho. – disse, enquanto se dirigiam à cidade.
Cyber liderou o caminho até a cidade de Nova Luz, fronteira com Northerns, país ao norte de Santa Cruz. Northerns era um país basicamente frio. Tempestades de neve, frentes frias, e outros fenômenos climáticos acometiam o país a todo momento, tornando difícil a vida naquele lugar. Mas havia algumas cidadelas e uma população que, mesmo contra todos os cataclismos, ainda insistiam em continuar vivendo ali. Cyber era um desses, e era agora considerado um dos líderes de sua cidade, por sua força e bravura.
Alexo Coal fora um dos primeiros sulistas a visitar a cidade onde Cyber vivia. Nessa época, Cyber ainda era garoto, e estava treinando junto aos irmãos, mas ele pôde ver quando acordos foram firmados e os recursos começaram a chegar. Isso selou a paz entre os dois países temporariamente. Northerns sempre foi um país tribal, muito tradicional em vista das outras nações. Quando Santa Cruz se entregou à intensa revolução tecnológica proporcionada pelos Línea, os northernos se recusaram a reconhecer o avanço, e assim fecharam suas fronteiras. Foram os Coal que trouxeram, mesmo que ilegalmente, a sobrevivência às cidades novamente. Depois de discussões com o conselho dos países, um acordo foi firmado, trazendo diversos benefícios para Northerns e, além disso, crianças northenas começaram a ter a oportunidade de estudar na Academia de Habilidades de Santa Cruz. Foi assim que Cyber pôde ter sua instrução, e assim que ele conheceu Trevor Coal.
Mesmo estudando em turmas diferentes, Cyber e Coal puderam ser amigos. Coal sempre se interessara pelos northernos, e confiava em sua força e habilidade. Assim também era Cyber, que confiou sempre nos Coal. E ele sabia que quando Coal tinha um plano, o plano dava certo.
Dessa vez não dependia apenas das circunstâncias, mas também do desempenho dos agentes cumprindo a tarefa. A noite já caíra e Cyber já estava lutando fazia quarenta minutos. O problema todo aconteceu assim que eles chegaram à cidade. Nova Luz estava em chamas.
As pessoas correndo, gritando, com seus poucos pertences nos braços, seguiam em direção às florestas de pinheiro nos arredores da cidade. Como uma cidade pode arder em chamas neste frio? Todos se perguntavam. Olhando melhor para a paisagem, o povo via que o fogo se concentrava a leste do riacho que cortava a cidade. Ali, era onde a população de classe mais alta morava então os prédios eram altos, dando a sensação de que havia labaredas por toda a cidade.
Mesmo com toda a confusão, eles entraram na cidade. Aquele incêndio era coincidência demais para ser casual. Eles deviam se aproximar.
- Vamos entrar na cidade. Loke, você fica e cuida dos cavalos – disse Cyber. – Waterking, Iunick, vamos cuidar desse incêndio.
Loke conjurou um enorme estábulo vindo da terra, para os cavalos poderem se abrigar. Ali também ficaram os desabrigados que iam saindo da cidade, feridos e queimados. Os outros prepararam suas coisas, levando apenas o básico para a batalha.
- Eles vão ficar bem, Cyber?? – perguntou Waterking, ao ver os enormes lobos ladeando o rapaz. – quero dizer, eles não são animais acostumados com o frio?
- São igualmente acostumados ao perigo. Eles atravessaram crateras vulcânicas uma vez comigo e ficaram tão bem quanto sempre. – disse Cyber. Ele olhou ao redor e viu seus quatro lobos que o acompanhavam desde menino. Aegir, o mais velho do bando, encontrou Cyber pela primeira vez perto da costa de Northerns, quando ele estava perdido. Aegir também era jovem, e, para ele, Cyber não passava de um pedaço grande de carne. Já Cyber, mesmo sendo um garoto de dez anos, já tinha muita habilidade de luta, mas contra um lobo como aquele ele não poderia sair ileso.
Passaram sete dias lutando na floresta, até que Cyber o obliterou. De fato, ele mal pôde se mover após aquela luta, e foi Aegir, derrotado, mas ainda vivo, que o levou até a cidade. Os guerreiros de Northerns, em sua maioria, possuem um animal estimado, um ser que se identifique com seu espírito. O fato de Cyber ter conseguido encontrar o seu ainda quando garoto foi um fato inusitado em sua cidade. Os mestres espirituais de lá diziam ser o prelúdio de um Herói para o país. Para Cyber, era a companhia que ele precisava para seu treinamento e seu crescimento. Assim foi não só com Aegir, mas com seus outros lobos e a alcateia que foi deixada na cidadela. Além de companhia, seus lobos conquistados ofereciam proteção. Como ele mesmo dizia, suas cicatrizes pertencem a seus lobos. Seus inimigos nunca conseguiram tocá-lo.
E mais uma vez eles estavam ao seu lado, prontos para lutar, caçar e matar por ele. Mas, de certa forma, Waterking não pareceu convencido.
- Já que insiste... Vamos lá então. – e desceram a colina para as chamas que envolviam a cidade. Adentraram a estrada principal de Nova Luz, e o calor os abraçou completamente. A fumaça intensa tornava o local difícil de respirar, e o avanço ficou lento com os obstáculos criados. Waterking cansou rápido de toda a situação e preparou-se para chamar a água – Afastem-se um pouco e protejam-se – pediu.
Assim que foram invocadas, as quatro colunas de água se ergueram nos cantos da cidade. Surpreendentemente, o fogo foi sendo pouco a pouco sufocado, e um nível de água alcançou os pés de Cyber.
- Iunick, vou nos proteger – disse –
Glacies, spiritus ferox, ades malo deféndat, et virtutem!! – a água que agora pairava perto deles os circundou, formando uma cúpula de gelo transparente ao redor deles. Dali eles puderam ver a cidade inundar e o fogo se esvair. Ao fim do encantamento de Waterking, todos os focos tinham se apagado, exceto uma luz que brilhava no centro de uma praça à frente.
Cyber apertou os olhos. Aparentemente, era um objeto que flutuava. Procurou o seu lobo Hod, um lobo cego que possuía a audição e o olfato completamente precisos. Hod não demonstrou sinal de alerta para o brilho. Pelo contrário, estava retraído, assim como os outros lobos. Essa era uma ocasião rara: encontrar alguma coisa que até mesmo os lobos temiam. “
Que diabos é isto que o Coal está nos metendo?” pensou.
Quando realizaram que todos eles estavam admirando a luz, um estrondo cortou o silêncio na cidade em ruínas. O local onde o objeto brilhava explodiu, espalhando escombros para todo lado. O objeto não se moveu, e continuou brilhando com a mesma intensidade, mas agora lançava labaredas descontroladas ao redor, como se estivesse se defendendo.
- Então foi essa coisa que ateou fogo na cidade? – disse Waterking. Agindo rápido, jogou um jato de água direto no local e apagou os focos de incêndio.
- Tsc, isso tá mais difícil que eu pensei, Tiery. – uma voz falou na rua transversal ao local onde o brilho estava. Chegando ao fim da avenida principal, até o local onde tudo estava acontecendo, Cyber pôde ver o que causara o barulho e a explosão antes. Um sapo gigantesco se movia pela rua transversal, com um rapaz sentado em suas costas. Ele olhava intrigado para o objeto luminoso, ignorando os expectadores recém-chegados.
- Temos que ter paciência, Victor. – disse o outro rapaz, Tiery, que estava em cima de um dos telhados. – Você sabia que esse não era um trabalho fácil.
- Tiery? Victor? Que estais a fazer aqui? – perguntou Cyber, já nervoso. Na época que Cyber estava para se formar, um grupo de alunos entrou na Academia, e causaram muitos prejuízos. A gangue era liderada por Victor, Tiery e também...
Uma pilha de escombros explodiu próximo ao objeto luminoso. De lá levantou um gigante, ou pelo menos foi o que pareceu a Cyber. Quando ele ajeitou seu corpo e limpou os escombros do rosto, cyber pôde reconhecê-lo.
- Destriker!! Até você está aqui?? O que houve, reuniram a gangue novamente? – disse Cyber. Finalmente o rapaz em cima do sapo deu uma segunda olhada no grupo que estava ali.
- Ora, se não é aquele cara do norte que fez o discurso lá na Academia! Lembra-se dele, Tiery? Foi há tanto tempo isso... – disse ele.
- Sim, foi há muito tempo... Tempo demais! – bradou Cyber – digam logo, porque se reuniram novamente, seus malditos!
- A nossa Dark Family nunca morreu, northerno. – disse Tiery – Trabalhamos para a Academia agora... E sinto dizer, mas temos que cumprir nossa missão, ok?
- Essa é a missão de vocês? Destruir uma cidade inteira?? – Iunick, que estava calado até agora, resolveu se manifestar – Mesmo que trabalhem para o governo deste país, Northern não ficará calada se virem a destruição que causaram em Nova Luz... Essa cidade também pertence ao povo do norte!
- Vão nos punir por estragar esse lixo?? – debochou Tiery – olhe ao redor, tampinha... Essa cidade tá acabada. Nós só demos uma mãozinha pra acelerar o processo.
- NÃO OUSE INSULTAR O MEU POVO!! – Iunick partiu para cima de Tiery, literalmente. Sacou uma espada longa, em forma de agulha, que costumava carregar consigo, e se lançou com ela pelo ar até chegar ao rapaz. Com velocidade impressionante, Tiery conseguiu desviar.
- Humph, vai precisar de mais que isso pra me acertar! – disse, e começou então as batalhas.
- Waterking, me ajude a proteger essa coisa – disse Cyber, apontando para o objeto que ainda brilhava no centro do local.
- Que coisa é essa Cyber? – disse Waterking, falando baixo – Isso poderia ser...?
- Sim, eu acho que sim... E parece que demos azar na escolha dos locais de missão.
- Destriker, segure esses dois aqui, enquanto eu tento remover o artefato – disse Victor, direcionando seu sapo para o lugar onde a coisa ainda brilhava. Cyber indicou o caminho para Waterking, mas quando tentava alcançar Victor, o gigante se colocou em seu caminho.
- Não pare Waterking, eu cuidarei deste monstrengo. – disse Cyber. Deu um olhar de relance para Destriker. Waterking o derrubou fazendo-o escorregar na água e prosseguiu. Aproveitando a oportunidade, Cyber ajeitou sua arma de punho, semelhante a uma garra. Nunca imaginaria que aquele garoto que viu na Academia anos atrás se tornaria esse monstro que estava a sua frente agora. Cerrou a garra em punho, cada lâmina cravejada com os nomes de seus quatro lobos. “O povo do norte não precisa de espíritos quando se tem um fiel animal que o acompanha. Seus preciosos companheiros se tornam seu espírito, e seu espírito se torna o de seu companheiro.” Esse era o antigo ensinamento que Cyber ouviu quando Aegir se tornou seu amigo, e teria que confiar neles para ajuda-los nessa luta.
Olhou para seus lobos. Todos já estavam ao seu lado, como era comum. Cyber ergueu a garra e proferiu o antigo encantamento nortenho.
-
Patriam potestatem dedit invoco, me secum adducere. – Cyber pôde sentir o poder gelado correr por seu corpo e em seus lobos. Cheios de energia, os animais uivaram para o luar com ferocidade e arreganharam seus dentes para o oponente. Seus olhos fixados mostravam uma sede de sangue imensurável.
Destriker já estava de pé novamente, e com o punho a meio caminho quando Cyber se ateve a revidar. Os lobos pegaram cada um em um membro do rapaz, para que o northerno pudesse atacá-lo diretamente no peito. Seu ataque o fez recuar, mas sua garra não penetrou a pele surpreendentemente dura de Destriker. Sem defesa agora, foi jogado violentamente ao chão, seus lobos ainda atacando ferozmente o oponente.
Um vulto passou sobre Cyber, e ele virou pra ver o que havia acontecido. Waterking era lançado longe pela via, mas se recuperava velozmente como um míssil aquático. Quando passou, gritou um “Está tudo sob controle!” à distância, e Cyber pôde se preocupar com sua luta. Assim como aprendera a gostar dos sulistas enquanto estava na Academia, aprendeu a também a gostar de seus companheiros de viagem até a cidade de Nova Luz. Como mais velho e, logo, mais experiente, era deve dele gritou a todos.
Voltou à sua peleja contra Destriker. Como se não bastasse ser apenas forte, o grande rapaz ainda invocou um espírito, em forma de javali, que, por ser um espírito de ataque, conseguia manter os lobos ocupados. A luta foi brava e permaneceram assim por longos quarenta minutos. Waterking, a certo modo, conseguiu neutralizar os ataques sonoros que Victor fazia em parceria com seu sapo, e Iunick, que ainda lutava contra Tiery, estava fora de vista.
Já cansado, Cyber não conseguiu evitar um golpe poderoso de Destriker contra seu corpo e ele e seus lobos foram lançados ao longe. Sem a distração de Cyber, o gigante virou-se para a luta de Victor e Waterking e resolveu interferir. Os dois estavam em uma redoma aquática, onde os tubarões de Waterking não estavam sendo completamente páreo para o grande sapo eremita que pertencia a Victor. Ao que parecia, o sapo era real, e, assim como cyber, havia uma conexão espiritual entre os dois. Como se não bastasse a Waterking ter que lidar com isso, agora Destriker também entrava na luta. Com um balanço de seu enorme punho, lançou a bolha gigantesca feita por Waterking para o ar, e ela voou alguns metros. Quando percebeu onde haviam caído, Waterking se surpreendeu.
O domo de água caíra bem em cima do artefato luminoso que estava na cidade. A água agora se iluminava com o poder que era emanado, e a foi esquentando pouco a pouco. Depois de alguns segundos, o brilho se esvaiu.
Surpreso com o ocorrido, Waterking desfez a redoma aquática que envolvia sua batalha e a água escorreu pelas ruas. Observando o objeto atentamente agora, viu que era um aro, com alguns dentes de metal obtusos, como uma peça de encaixe. Tinha inscrições das quais ele não conseguia ler. Provavelmente, aquilo era o que eles procuravam.
- Cyber!! – Gritou Waterking – É ele mesmo!! Achamos a...
Sua voz parou a meio caminho. Ainda um pouco desnorteado, Cyber levantou e foi observar o que estava acontecendo. A água que foi usada por Waterking estava sendo sugada pelo objeto, e ele estava caído no chão, fraco. Os outros não tiveram coragem de se aproximar.
- O que está havendo, Waterking!! – perguntou Cyber, aproximando-se rapidamente em socorro. – O que há com você?
- A... a coroa... está... drenando minhas forças – disse, com dificuldade. Cyber o levantou e o carregou para longe do poder da coroa, para que ele pudesse se recuperar.
Cyber não conseguia compreender o que se passava. Porque a coroa estava drenando o poder aquático, se agora pouco estava exalando poder de fogo? Muitas magias antigas eram complexas e tinham diversas aplicações. Conhecer todos os mistérios era impossível, até mesmo para um graduado da Academia.
- Ele mudou seu elemento – Waterking se levantava agora, arfando pesadamente – A coroa antes era fogo, agora é água, e fomos nós que causamos isso. Talvez... – olhou para Cyber, amedrontado. – Talvez agora eu possa removê-la dali.
- Você Pode? – Cyber perguntou surpreso.
- Agora que ela faz parte do meu elemento, talvez eu possa controlá-la. – disse, um pouco animado.
Um estrondo ressoou de cima de um dos prédios, e algo caiu pesadamente no chão. Iunick se mostrou no alto do prédio paralelo, com a espada em punho e diversos cortes e escoriações pelo corpo. Tiery se levantou da queda praguejando e se dirigiu aos dois companheiros.
- O que vocês estão fazendo? A Coroa parou de lançar fogo feito doida, já podemos pegá-la!!
- Não é simples assim... Acho que precisamos de alguém que possa controlá-la, Nosso esquadrão é de usuários de tipo Terra, você lembra? – berrava Victor, nervoso.
- O que está havendo? – perguntou Iunick que aterrissava ao lado de Cyber e Waterking.
- Vamos levar a coroa embora – decidiu Cyber. – Waterking já pode movê-la, nossa missão poderá ser cumprida!
- Eu não tenho exata certeza se posso movê-la ainda. – corrigiu Waterking, apreensivo – mas eu posso tentar. Mas Cyber... como vamos sair daqui? Aquele Tiery é bem rápido.
- O Iunick vai te levar, pelo ar... – e virando-se para Iunick – você consegue, certo?
- Você sabe, que sim...
À primeira troca de olhares que confirmava a ação, todos se moveram. Iunick e Waterking chegaram rapidamente à coroa, que já drenara toda a água do local. O ar estava seco ao seu redor, eles puderam sentir. Cyber só esperava que tudo corresse bem.
-
Potentia a mari – vociferou Waterking quando alcançou a coroa -
involvent illud aqua!! – uma redoma de água, semelhante à que ele usara em batalha surgiu, envolvendo a coroa. Waterking tentou movê-la, e, com muito custo, a levantou.
- MALDITOS!! – gritou Tiery. Quando teve a intenção de correr para pará-los, os olhos amarelos de Aegir cruzaram os dele.
- Se eu fosse você, eu não ousaria me mover, rapaz... – disse Cyber. Ele jogou sua capa para o lado e apertou as garras que segurava nas mãos.
- Oh... Então você pretende deter nós três? E sozinho? – disse Victor, com o seu sapo ameaçador coaxando perigosamente – Vai ser interessante ver você tentar...
- Ele não vai precisar – disse uma voz. Loke chegava montado em um majestoso cavalo espiritual. O pelo do animal era branco, assim como os cavalos que os trouxeram até Nova Luz, mas este emanava um brilho que era característico dos espíritos. Na mão de Loke, estava equipada uma lança longa e em seu peito podia-se ver uma armadura com o brasão dos Clydesdale incrustado. – Cyber, fique à vontade, eu cuido do rapaz com o sapão – e partiu para cima ele levantando sua lança.
Waterking e Iunick ganhavam altura agora, e começavam a se mover para o sul. Confiante com a chegada de Loke, Cyber acenou para os dois que estavam partindo.
- Nos encontraremos naquele lugar! Esperem-me lá! – disse.
- Não ouse subestimar nosso poder! – Tiery ainda estava acuado por Aegir, mas agora estava vermelho de ódio. – Vou matar você aqui, e vou caçá-los até os confins do inferno!
Dominus lucis famae et adducite mihi!! – Um espírito surgiu e pousou nos ombros de Tiery. Tomando a forma de um galo, o animal entoou um som estridente. Tiery sacou um pequeno punhal e então, veio para o ataque.
Cyber o bloqueou facilmente. Em termos de velocidade ele poderia estar vencendo, mas em termos de ataque, o northerno o neutralizava completamente. Mesmo assim, era Aegir quem travava a maior parte da batalha contra Tiery, defendendo seu líder com unhas e dentes. Mas no meio da confusão, Cyber sentiu que algo estava vindo.
Destriker entrava na luta novamente e errou Cyber por milímetros. Dois oponentes não era algo fácil de lidar, ainda mais com tal poder que eles tinham. Ele não tinha outra escolha senão lutar seriamente.
- Segurem-nos para mim. Eu vou fazer aquilo – disse aos seus lobos. Cyber pôde sentir os lobos ficarem nervosos e excitados. Em breve, eles estariam na presença do líder.
Cyber parou. Procurou sentir a noite à sua volta. A lua refletia o brilho da noite, e isso, de certa forma, dava confiança a ele. Sempre gostara das noites enluaradas e quando saiu da Academia soube o porquê.
Os anciãos de Northerns diziam sempre que, para obter força total, você deve sacrificar sua própria natureza. Ser mais que um ser humano, você deve se entregar ao plano natural que o cerca. E fora isso que cyber fizera aquela noite e é isso que estava para fazer agora. Juntou as mãos em cunha e realizou o encantamento.
-
Clamavero ad meos. Accipiam me fortitudo.O poder o engolfou e ele saiu de si. Antes de perder a consciência, sentiu seu corpo crescer, sentiu seus ossos deslocarem para diferentes posições, ouviu seus lobos uivarem para a noite, ouviu seus inimigos arfarem de medo. Era doloroso passar por aquilo, mas era necessário. E depois de experimentar a dor tantas vezes, já estava acostumado.
Quando abriu os olhos novamente, era tudo claro como o dia. Farejou o ar em volta e reconheceu todos que estavam ali, e achou todos que estavam na colina, onde Loke os havia deixado. Rosnou audivelmente para seus lobos e eles recuaram em formação, como sempre era ordenado.
- Mas que diabo de animal é esse? De onde ele surgiu? – uma das presas disse. Cyber reconheceu o espírito de Loke, que galopava mais ao longe, contra um outro espírito que habitava um animal. “Aquelas não poderão ser atacadas”, pensou. Então seu divertimento seriam aqueles dois que sobraram.
Loke e Victor pararam a luta para ver o que acontecia. Loke procurou Cyber, mas no lugar encontrou somente um lobo. Não apenas um lobo, mas uma fera enorme, com quase o triplo do tamanho dos lobos normais. Sua pelagem era branca e, surpreendentemente azulada, dando a impressão de que estava congelado. Suas presas fizeram Loke querer correr para bem longe daquele local. Mas seu oponente ainda não estava caído, e ele continuou a lutar.
Cyber iniciou seu movimento e se lançou para cima de suas presas. Os cinco guerreiros da alcateia estavam agora reunidos, e seus movimentos eram perfeitamente sincronizados. Decidiu que o primeiro a cair seria o menor deles. Pulou sobre ele em meio a gritos e desespero, enterrando as garras no peito da vítima, deixando o sangue quente escorrer. Procurou-lhe o pescoço e perfurou-o com suas presas, mas dessa vez o sangue não escorreu. Suas presas eram encantadas com seu poder das águas, e congelavam o sangue a cada mordida. Era melhor assim. Não haveria mortes esta noite.
O outro seria mais difícil de lidar. Seu tamanho, peso e força dificultaram a investida de Cyber, mas no final, tudo se resumiu ao seu instinto. Já que não pôde perfurar-lhe a pele, enterrou suas garras em seus olhos. O gigante ainda viveria, mas nada veria a partir daquele momento. Os outros membros da alcateia reclamaram suas partes, retirando dedos, cartilagens e pedaços de pele que conseguiram arrancar do gigante.
Cyber rosnou um “Já chega!” para seus lobos e todos recuaram. Os dois oponentes jaziam no chão, feridos, inconscientes e, acima de tudo, derrotados. Poucas coisas eram páreo para aquela forma animalesca que seu espírito lupino o proporcionava. Até o próprio Coal o temia, Cyber soubera. Mas, diferente de muitos, foi por tal causa que muitos de seus amigos estão com ele hoje. Porque ele pode ser forte.
Com muito custo, Cyber voltou à sua forma humana. Quase sem energia, ficou de pé e pôde ver com olhos humanos o que havia feito. Seu banquete a sangue frio o deixou com o estômago embrulhado. Ao longe, Loke cavalgava em sua direção.
- Desculpe, deixei o outro fugir. Seu sapo o engoliu e ambos desapareceram em um lago aqui próximo. Foi minha culpa, eu não deveria ter dado tanto espaço...
- Não tem problema, já chega de lutar. – disse Cyber, melancólico. – fizemos a nossa parte. Precisamos avisar aos outros que eles estão levando a coroa... Vamos, me ajude aqui, vamos para onde os cavalos estão.
O espírito de Loke desencarnou e ele ajudou o amigo a andar até a colina. Cyber estava seguro de que Victor não iria alcançar seus amigos, e confiava em Iunick para entregar a Coal a coroa em segurança.
***
- Estou na escuta – falou Kaze ao comunicador. Estavam já há dias caminhando em direção à propriedade dos Línea, mas ainda faltava alguns quilômetros. Esta noite, eles pernoitavam em uma colina próxima.
- Ka-Kaze... – a voz do outro lado parecia nervosa e muito apreensiva. De certa forma, kaze pôde reconhecer a voz infantil de Vida do outro lado.
- O que houve Vida?? Porque está assim?? Onde está o Factor?? – esta última frase acometeu uma pausa. Momentos depois a voz de Vida retornou, embargada e chorosa.
- Kaze... ele... o Factor, ele... – Vida se debulhava em lágrimas – ele não... eu não podia fazer nada... ele não... ele não merecia...
- Acalme-se rapaz, conte o que está acontecendo – Kaze abandonou seu jantar mal cozido na fogueira e levantou-se, buscando o sinal. Bernardi acompanhou seu movimento, preocupado.
Kaze ficou alguns minutos em silêncio, apenas escutando. Vez ou outra ele procurava acalmar Vida e encorajava-o a contar tudo. Sua face mudava de cor do branco para o vermelho gradativamente.
- MALDITO! – gritou, praguejando, quando desligou o aparelho. – EU VOU TER QUE DAR UMA LIÇÃO NAQUELE FILHO DA...
- O que houve Kaze? Pra onde está indo? – perguntou Bernardi, observando Kaze subir a passos pesados para a fogueira.
- O que está acontecendo? – Hirako permanecia sentado, terminando seu jantar.
- O Quartel General foi atacado. Aquele pilantra!! Eu sabia que havia algo de errado com ele!! – dizia enquanto catava suas coisas. – Houve traição, Factor está morto... E eu não vou deixar isso barato.
- Kaze, espere, nós precisamos cumprir a tarefa que... – Bernardi tentou argumentar, mas Kaze já havia desaparecido. – É, pelo visto vai ser só nós dois mesmo, Hirako. – disse Bernardi, voltando para a fogueira. – Será que o Coal sabe dessa história toda?
- Não sei... mas são poucas as coisas que o Coal não sabe. – disse Hirako. – Mas espero que o Kaze não faça besteiras, com essa raiva toda. Pude ouvir seus dentes rangerem daqui.
- Ele só está nervoso, depois ele se acalma... – respondeu Bernardi – Mas temos um longo dia nos esperando e queira os deuses que a família Línea esteja de bom humor para nos receber.