PokéShiny

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    Pokémon Ree laii [14 +]

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    Mensagem por Convidad 07.02.13 23:11

    Dei uma breve lida no prólogo. Gostei muito de tal capa que fizestes. Acho que amanhã começarei a ler o resto. Não esqueças de postar mais =D
    Mr. Mudkip
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    Pokémon Ree laii [14 +] - Página 2 Empty Re: Pokémon Ree laii [14 +]

    Mensagem por Mr. Mudkip 08.02.13 13:47

    A capa foi feita pelo Coal-sama, sou um desastre no design, comprovado!

    Em breve postarei mais caps, é que no momento estou meio atarefado... tsc tsc...

    Mr. Mudkip
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    Mensagem por Mr. Mudkip 03.03.13 15:42

    Pokémon Ree laii [14 +] - Página 2 1zce73t

    Olá a todos. Finalmente vou postar mais um capítulo de Pokémon Ree Laii. Ando tão atarefado que não anda sobrando tempo para escrever. Espero que curtam este capítulo e tentarei acelerar no próximo. Estou caminhando para o primeiro grande clímax da história e que fechará o arco introdutório de Pokémon Ree Laii e irá juntar algumas partes do quebra-cabeça. Os personagens principais irão se encontrar muito em breve, Julliane e o garoto de olhos verdes que ela viu na estância, Isis e Zackie, mas por enquanto Riuji permanecerá com seus relatos até ter a oportunidade de voltar. Então até a próxima. Comentem!!!!


    Capítulo 017 – Praia dos tesouros


    JULLIANE CERULE


    Um perfume cítrico e pulsante penetrou pelas minhas narinas e o expulsei num fungado atracado. Texturas suaves como seda pendiam pelos lençóis, macios e confortáveis. A umidade adornava-se a minha volta pregando em minha pele fria e suada por conta da maresia soturna em meio à brisa suave do início da madrugada despertando-me num instante. Estava um breu, mas em um segundo a escuridão do quarto fora abatida pela fresta de luz que surgiu pelo corredor. Tive a sensação de adormecer novamente e acordar com a luz do sol batendo em minhas costas.

    - Bom dia, dorminhoca. – Isis segurava um livro de capa texturizada verde-musgo de aparência mais conservada dos que ultimamente andava lendo. Estava escorada na porta de aço da cabine, e hoje vestia uma canga branca de certa transparência sobre o maiô de escamas de Goldeen tingido de preto e para quebrar o look monocromático, um lenço florido amarrado no cabelo. – Finalmente você resolveu acordar. Quase fiquei preocupada.

    Grunhi algum som horrível como resposta e voltei a fechar os olhos. Novamente adormeci.

    - Aqui é tão frio... – minhas mãos tocaram a água tingida de vermelho tateando o piso por baixo a procura de algum lugar para me esconder.

    Estava ensopada pelas gotas de chuva que caíam em uma sensação de dormência implacável em meu corpo, impedindo-me de me locomover. Queria sair dali, me abrigar embaixo dos arcos de mármore branco, qualquer lugar que não fosse aquele. Eu não queria mais ficar ali. Não mais.

    - Julli, acorde! – Isis me balançou com veemência até conseguir abrir os meus olhos.

    - Porque não me deixa dormir. – resvalei alguns grunhidos ao invés do que queria dizer.

    Isis puxou as cobertas para longe de mim, puxou os meus braços e me fez sentar.

    - Vai levantar agora mesmo! – Isis segurou meu queixo com força. Senti o corpo desabar de volta para o colchão, mas insistentemente ela me puxava para fora da cama. – Já chega disso!

    - Porque todo esse escândalo? – finalmente consegui falar sem grunhir.

    - Você... – Isis pousou seus olhos completamente negros sobre os meus. – Não parava de gritar.

    ***

    As oportunidades não foram poucas, e sim, houve momentos em que eu quis contar para Isis tudo o que me afligia. Em outros, jurei que eu jamais iria chegar a pronunciar qualquer mísero detalhe sobre esse assunto. Queria retirar todo esse peso, essa angústia presa em meu peito, mas eu não conseguia dividir isso com ela. Seria injusto de minha parte atormentá-la com algo em que eu sequer tinha conhecimento ou o mínimo controle. Não queria preocupá-la com essas coisas na minha cabeça, seja lá o que fosse eu iria vencê-las sozinha.

    - E então? – Isis continuava a me encarar com seus olhos negros, extremamente profundos. – Não vai me contar o que houve?

    Desvencilhei-me de seus olhos astutos por alguns míseros instantes observando o reflexo esbranquiçado da redoma de vidro a guarnecer o frágil ovo pokémon. Ele iria rachar muito em breve, e bem no meio desta confusão que vem sendo minha jornada. Logo agora quando estou sufocada de preocupações, procurando uma maneira de manter a família que resolveu se formar sob os meus cuidados, ela resolve aumentar ainda mais.

    Eu tinha noção de que em algum momento poderia lidar com essa situação, mas não achei que fosse doer tanto e pudesse ser tão complicado. O caminho para se tornar um treinador pokémon era árduo, complexo em todas as suas esferas, e nem sequer tinha certeza de que seguiria por ele. Entre esses percalços de erros e acertos, mais erros é verdade, eu consegui conquistar duas insígnias até aqui ao enfrentar duas formidáveis líderes de ginásio. Acreditando estar fazendo tudo certo, acabei me perdendo e não fiz nada para reverter isso e ainda tinha Isis...

    Estendi os braços até encontrar as mãos dela. Sentir o calor de suas mãos acalmou meu coração e me permitiu juntar forças para mantê-la longe de minhas preocupações, ao menos dessa vez.

    - Tive um sonho ruim... – ela arqueou a sobrancelha com astúcia e comecei a temer que ela estivesse captando alguma falha em minha mentira. Eu não era boa em esconder a verdade de ninguém. – Um pesadelo com o meu pai! – uma lágrima escorreu de meus olhos ao pensar nele. A única forma de Isis acreditar seria envolver o nome dele, afinal. Do pouco que ela sabia sobre meus pais descobriu em Fuchsia, quando fez contato diretamente com meu pai para lhes avisar sobre o ataque do caçador. Como estava fora do ar, não sei dos detalhes. – Foi horrível. – Era comum meu pai desaparecer por semanas devido as suas pesquisas, mas eu nunca conseguia conter essa angústia longe dele, sem nenhuma notícia e Isis já notara como sua ausência mexia comigo.

    - Julli... – Isis me abraçou amorosamente tentando me consolar enquanto meu peito doía mais um pouco, desta vez por enganar minha amiga.

    - Me desculpe se te preocupei Isis, eu não... – fui incapaz de prosseguir. Era o meu limite. Não conseguia mais. Sentia-me suja em mentir para ela. – Me desculpe... – por impulso, fugi de seu abraço. Seus olhos deixaram transparecer o meu ato como uma ofensa, e assim deixei que ficasse.

    ***

    Tinha perdido a noção de quanto tempo eu fiquei debaixo daquela água morna a cair em meus ombros e deslizar pelo meu corpo até o ralo e desaparecer pelo encanamento. Também não sabia quantas vezes tinha esfregado a bucha em minha pele tentando tirar a sujeira que eu sentia impregnada em mim. Só sentia uma forte ardência corroer minha pele agora vermelha em meio as recentes queimaduras. Havia também algumas cicatrizes, resquícios de minha jornada turbulenta.

    - Isis... – seu nome volta e meia era palco de meus pensamentos, assim como os de meus pais, meus pokémons, Adele, todos tinham seu espaço dentre as minhas inquietações.

    No momento o foco era em Isis. E pelo o que eu conhecia dela, ela iria voltar a tocar no assunto, no entanto, eu ainda não tinha tanta certeza de que conseguiria encarar Isis novamente em um novo embate, ao menos não agora. Eu sentia o desgaste fluir pelos meus pés instáveis ao pisar firmemente no piso encharcado e sobrar apenas à sensação de se pisar em falso.

    Eu colecionava sentimentos perturbadores a cada dia desta jornada, e precisava me livrar de cada um deles, mas não sabia como. Com Isis, o estrago já estava feito e agora não queria voltar atrás. Se havia guardado tudo para mim, seria melhor manter como estava.

    Recolhi-me na toalha e passei a me ver pelo espelho embaçado pelo vapor quente e em aromas florais das berrys cherry. Pela veneziana, a brisa da maresia abrandava o calor ali presente. As pastilhas coloridas de laranja, branco e vermelho respingavam gotas d’água evidenciando ainda mais as cores vivas. Passei os dedos molhados sobre o vidro úmido criando linhas desajustadas com as gotas de água a escorrer de minhas mãos, permitindo assim, ver pelo reflexo ofuscado os meus olhos cor de água mais pesados do que nunca.

    - Seja forte pelo menos uma vez. – falei em voz alta para tentar me convencer. – Uma vez... Você pode conseguir...

    Quando finalmente terminei de juntar os pedaços que restavam de minhas forças e me aprontar, segui até o deque frontal e encontrei Isis deitada em uma espreguiçadeira acolchoada de couro e vigas de madeira caramelada com os olhos vagos postos disfarçadamente no livro de capa verde-musgo. Ao perceber a minha presença, ela guardou o livro em sua mochila e mirou o horizonte, oposto a ilha Knot, para a imensidão de água por onde havíamos navegado. Sem trocarmos sequer uma palavra fomos procurar o capitão para nos permitir desembarcar fora do horário, o que ele o fez rapidamente ao disponibilizar um de seus homens para nos levar.

    - É bom te ver novamente Isis. – o marinheiro disse para ela ao chegarmos à área dos botes, quebrando o silêncio incômodo entre nós duas. Como Isis estava me ignorando, acabei por manter a minha curiosidade em saber como eles se conheceram.

    - Digo o mesmo Andrei. – Isis sorriu gentilmente evitando me olhar.

    O jovem ao qual Isis se referiu como sendo Andrei, era alto e esguio; tinha a pele queimada de sol combinando com seus olhos castanhos de um encanto candente e os cabelos esverdeados a brilhar intensamente sob o sol forte.

    - Senhorita. – ele dispôs sua mão para me auxiliar a embarcar.

    - Agradeço. – segurei firmemente soltando assim que me senti segura.

    - Acho que vocês deveriam visitar a praia dos tesouros, é um ótimo lugar para encontrar alguns itens úteis para pokémons. – Andrei sinalizou para que o bote fosse içado até a água. – É um ponto interessante aqui na ilha Knot, assim como o monte brasa.

    - Valeu a dica. – Isis parecia estar bem íntima dele.

    O bote espirrou água ao ir de encontro ao mar levantando flocos luminosos no céu de nuvens rarefeitas.

    - Você deve passar constantemente por essa região, não é? – tentei puxar assunto com ele. O silêncio entre Isis e eu seria algo difícil por enquanto.

    - Sim. – ele descarrilou a corrente do motor, ligando-o. Em poucos segundos, estávamos em alta velocidade. – Eu conheço este arquipélago com a palma de minha mão. Se tiverem qualquer dúvida é só me procurar.

    - Você é muito gentil, Andrei. – me pareceu meio desfocado para um marinheiro manter tal requinte e sofisticação nas palavras que proferia. Andrei destoava dos outros marinheiros do S. S. Marinum, que mesmo sendo disciplinado, rústico e metódico, conseguia manter uma cordialidade encantadora.

    A ilha Knot ficava maior a cada minuto e pude esmiuçar os detalhes mais perceptíveis. Possuía uma modesta vegetação se comparado à praia de areia amarelada. Arbustos verde-escuro formavam uma fileira disforme por entre as casas de telhado vermelho funcionando como um meio de definir os limites do pavimento e da calçada de terra batida e gramínea, respectivamente. Uma fumaça esbranquiçada era exalada de um monte de terra marrom de um estranho brilho avermelhado, desaparecendo depois de se desgrudar em tufos e espiralar ao sabor do vento.

    Quando percebi, já estávamos desacelerando para atracar no píer.

    - Foi rápido. – disse descontraidamente. – Nem deu tempo de conversarmos direito.

    - Teremos outras oportunidades. – Andrei desceu do bote, nos ajudando a desembarcar. Ele era muito atencioso e cavalheiro.

    - Certo. – Isis interrompeu nossa conversa, dando um breve adeus a Andrei. – Julli... – ainda estávamos estremecidas com o recente acontecido e sabíamos que havia certa estranheza entre nós, ao qual somente eu sabia os motivos. Cada vez que ela pousava aqueles olhos em mim, eu via, eu sentia a dúvida e até mágoa em seu olhar. – Podemos ir? – Isis se virou abruptamente e Andrei foi incapaz de esconder uma expressão preocupada. – Nos vemos depois então, Andrei.

    - Sim... – eu fiquei meio sem jeito, então me despedi rapidamente, correndo para acompanhá-la.

    Observei os arredores onde havia apenas algumas casas dispostas aqui e ali, com uma baixa circulação de pessoas se comparado à explosão de gente encontrada no porto de Cinnabar. As casas eram modestas e pequenas, todas de madeira branca, e deveriam ter sido recentemente pintadas, pois o cheiro de tinta fresca ainda repousava no ar. As telhas de um vermelho vivo pareciam ser das mesmas rochas do vulcão, ao qual era conhecido como monte brasa. Comparado ao vulcão de Cinnabar, o monte brasa não passava disso, um pequeno monte de terra marrom e brilho avermelhado frente ao paredão encarnado que ficava no meio do oceano de Kanto.

    Uma leve fumaça cinzenta saía das chaminés das singelas casinhas, subindo pelo céu salpicado de tufos de nuvens até desaparecerem. Uns poucos pokémons descansavam a beira da praia ou no gramado que dá acesso ao monte brasa, despreocupados com os humanos a sua volta. As línguas protuberantes saltavam da carapaça arroxeada e me senti tentada a descobrir que pokémons eram aqueles.

    Pokémon Ree laii [14 +] - Página 2 090

    Shellder, pokémon pequeno molusco. Utiliza a língua para escavar esconderijos na areia. Nada ao contrário ao remeter o corpo em propulsão.

    - Pokémons aquáticos que eu não conheço... – meu pai poderia se decepcionar com essa notícia. Ele sempre diz que um Cerule deve saber o máximo possível sobre o elemento água, especialmente quando se trata de pokémons.

    Enquanto analisava a sombra abaixo da carapaça de um Shellder, o gramado verde salteou ao sabor do vento exalando um aroma pueril, meio imaturo. Quando dei por mim, Isis já estava de conversa com uma senhorinha meio encurvada devido à idade avançada. Aproximei-me sutilmente delas e aguardei pacientemente Isis arrancar algumas histórias sobre as ilhas Sevii, inclusive uma interessante fábula que contava do porque de haver tantos tesouros nas praias da ilha Knot.

    - ....Minha avó me falava de corsários. – a senhorinha parecia sussurrar entre pausas para recuperar o fôlego. – Se bem me lembro, aqui era uma rota perigosa, e muitos saqueadores se aventuravam nessa região para fugir da justiça. Um grupo de piratas após vários saques se encontrava abarrotado de riquezas, que alguns afirmavam ser quase infinitas e no desespero de fugir, tentou seguir por esse caminho melindroso. Seu navio, diziam, acumulavam montanhas tão grandes de itens raros que podia se ver de muito longe. A ambição foi tamanha que o navio afundou após um leve Wingull pousar no mastro para descansar depois de um longínquo voo, só para vocês calcularem o excessivo peso que carregavam. Os piratas foram presos, mas o tesouro jamais foi recuperado... – a senhorinha respirou com uma satisfação desnuda antes de terminar o pequeno conto. – Só que depois de alguns anos começaram a aparecer certos itens soterrados nas areias da ilha Knot, e daí dizem que surgiu a praia dos tesouros.

    Isis agradeceu a senhorinha pelas informações fornecidas e continuamos nosso caminho pela primeira das ilhas Sevii. Por onde passávamos, as pessoas eram amáveis e hospitaleiras, esboçando sorrisos fáceis em meio a outros que cochilavam em algumas redes penduradas em troncos de madeira de nogueira ou repousavam nos bancos de metal em frente as suas casas. Algumas crianças encenavam uma batalha pokémon emocionante depois de uma monótona discussão para decidir quem seria Lance*, o senhor dos dragões, líder da Elite dos quatro de Kanto.

    - Visitem as fontes termais na entrada do monte brasa. – um senhor de olhar serenado, o bigode branco e bem aparado nos disse ao passarmos próximo a sua casa. – Prometo que não irão se arrepender.

    Sorrimos para o senhor e ele retribuiu com um piscar de olhos.

    - Julliane Cerule? – ouvi alguém gritar meu nome vindo do acesso ao monte brasa.

    - Pois não? – busquei pela figura que poderia estar a minha procura.

    - Finalmente te achei. – um garoto vistoso caminhou até mim descompromissadamente. – Estou te esperando aqui desde ontem. Achei que não fosse desembarcar mais nessa ilha.

    Ao me deparar com o jovem, meu coração disparou. Ele tinha os mesmos olhos verdes do jovem da estância, só que de certa forma diferentes. Eram, mas ao mesmo tempo não eram. Os olhos que transmitiam a beleza e serenidade dos mais belos campos imagináveis não correspondiam aos meus como ocorreu na primeira vez que nos topamos. Sentia certo peso carregado em suas olheiras e na postura um pouco rebaixada apagando por completo essa ligação que eu começo a acreditar ser quase sobrenatural.

    Analisando bem, percebi que não poderia ser ele. Tinha a pele morena com uma vivacidade que cortava qualquer cansaço que ele tinha consigo, cabelos negros feito carvão, o sorriso sobrepujante, uma aura desafiadora emanando de seu corpo atlético.

    Ele vestia uma calça jeans azul escura com um cinto preto e uma jaqueta surrada preta com detalhes em branco e azul e por baixo uma camisa branca simples e um tênis preto sem cadarços.

    - Desculpe. – minha intuição dizia que já havíamos nos encontrado. – Eu te conheço de algum lugar?

    - Conhece, mas não fomos apresentados. Foi mal por essa mancada. – ele cedeu a mão para um cumprimento. – Me chamo Archie. Eu sou...

    - Eu sei muito bem quem você é. – Isis impediu que ele continuasse a se apresentar. – O que você quer aqui? – ela disse rispidamente.

    - Vejo que ainda há muitos céticos quanto a minha pessoa. – ele riu em tom provocativo. – Não posso culpá-las. Eu talvez fizesse o mesmo.

    - É você! – apontei em sua direção como se estivesse o acusando. – O garoto que estava no porto de Vermilion.

    - Vejo que se lembrou de mim. – ele sorriu debochadamente. – Isso torna tudo bem mais fácil. Eu vim a mando de Andrews Cerule.

    - Pai? – levei as mãos ao peito. – Como ele está?

    - Isso eu não sei dizer. – senti que ele falava a verdade. – Apenas recebi algo que deveria ser entregue pessoalmente. Ia te entregar naquele dia, só que não achei que fosse o momento.

    - Julli, não acredite nele. – Isis se pôs a minha frente. – Ele é o herdeiro do líder de um grupo terrorista bastante conhecido em Hoenn. Apesar de dizer que mudaram de lado, ainda não confio em vocês da Equipe Acqua. O que vocês podem querer com ela? – Isis permaneceu irredutível até ele se afastar um pouco.

    Archie permaneceu por alguns segundos num silêncio martirizante. Ainda era bom saber que Isis estava ao meu lado, mesmo que agora não conseguíssemos nos falar diretamente sem constrangimentos.

    - Não vim como líder da equipe Acqua. – ele disse enfim. – Estou aqui por um pedido feito pelo pai desta garota. Não confunda as coisas. Saco! Não tenho tempo pra isso.

    Ele estendeu o braço com um pacote retangular embalado em um envelope marrom carnáceo. Isis demorou um pouco para pegar o pacote, mas o apanhou ainda desconfiada de suas intenções.

    - Ainda irei vencer o ceticismo das pessoas quanto a mim, eu não sou como o meu pai. – ele encarou Isis com veemência. – Sou persistente, só que no momento. – ele lançou uma pokebola em direção ao mar. – Temos que ir Wailmer.

    Ao ouvir aquele nome, eu fiquei muito empolgada. O raio brilhante adquiriu enormes proporções até que o mar cedesse espaço para que Wailmer surgisse ali. Era maior do que eu imaginava que fosse. Uma baleia esférica azul real cobrindo a parte superior, até as nadadeiras com vilosidades assemelhando-se a dedos, a barriga de tom creme com depressões paralelas, os olhos pequenos e negros e os dentes semelhantes às cerdas de uma vassoura.

    - Wail! – Wailmer bateu as nadadeiras para demonstrar sua vitalidade.

    - Ah! – soltei um gritinho estridente para expressar minha excitação com um momento que a muito esperava. Finalmente conheceria meu pokémon preferido . – Não acredito. – esqueci de tudo a minha volta para me concentrar apenas em Wailmer. Tinha fascinação por aquele pokémon. – Eu até tenho u... – parei de falar assim que percebi que exporia minha intimidade a um desconhecido. Ninguém precisava saber que meu travesseiro, na verdade era uma boneca pokémon de um Wailmer. Já não era mais nenhuma criancinha. Apontei a pokedex para coletar algumas informações, tentando manter um mínimo de dignidade.

    Pokémon Ree laii [14 +] - Página 2 320

    Wailmer, pokémon baleia. Vive preferencialmente no mar, com raras aparições em rios e lagos. Consome grandes quantidades de comida, preferencialmente, Remoraids.

    - É hora de ir. – Archie saltou sobre Wailmer de uma distância e altura elevadas evidenciando sua ótima condição física. Wailmer quase não sentiu o impacto, devido à capa de gordura que recobria seu corpo. – Foi bom conhecê-las, mas tenho assuntos pendentes... É apenas um palpite, mas acho que nos veremos muito em breve. – ele acenou, massageando as têmporas e em seguida, sentou-se com as pernas cruzadas, esperando até Wailmer começar a nadar. – Se cuidem garotas.

    - Valeu, Archie. – disse assim que Wailmer começou a partir para alto mar. Minha pulsação estava acelerada com a realização de um pequeno sonho.

    - Não estou gostando disso. – Isis colocou o pacote em minhas mãos com ar de preocupação. – Estou com um péssimo pressentimento. – mesmo sem percebermos, conseguimos mesmo que por alguns instantes, nos falar normalmente, embora já estivéssemos cientes que não seria mais tão fácil assim.

    Afobada e extremamente curiosa, comecei a rasgar o envelope. Puxei de uma vez e.

    - Um livro? – era relativamente antigo. A capa era dura e de um preto meio apagado com inscrições prateadas e simples, escrito na capa “Heráldica básica; Sr. Fuji” – Heráldica? – não fazia ideia do que era aquilo.

    - Estudo de brasões. – Isis respondeu.

    - Mas o que eu faço com isso? – perguntei a mim mesma buscando uma resposta condizente.

    Minha pokegear tocou de repente; o bastante para um sobressalto. Vasculhei em minha mochila em total desordem para atender.

    - Pois não? – disse ofegante.

    - Olá Julliane. – reconheci a voz gentil de Tracey. – Como anda a jornada?

    - Tracey... – inspirei profundamente para normalizar minha respiração. – Estou caminhando. E você, como vai?

    - Vou bem. – sua voz hesitava e Tracey começou a falar entre pausas pequenas. – Tenho um assunto um pouco chato de falar, mas...

    - Pode falar. – disse de supetão.

    - É que não consta o pagamento da taxa de manutenção deste mês. – disse rapidamente para acabar logo com o mal estar.

    Minha mente deu um estalo.

    - Julli, o que aconteceu? – Isis inquietou-se ainda mais com minha reação.

    - Pode deixar. – disse assim que recobrei a consciência. – Desculpe por isso. Eu acabei me esquecendo. Obrigado por me lembrar.

    - Você que me perdoe por ter de ser portador de notícias desagradáveis. – Tracey falou com franqueza.

    - Não se preocupe. – sinalizei para Isis que não era nada grave, para ela se acalmar.

    - Então depois nos falamos. – ele encontrou o gancho para terminar a ligação.

    - Até. – disse desligando.

    Isis soltou um olhar de reprovação e acabei por desabafar.

    - Estou abarrotada de dívidas. – falei envergonhada.

    - Como você conseguiu gastar todo aquele dinheiro? – Isis levantou a voz em fúria. – Esquece... O que eu realmente quero saber é se você não vai mesmo me dizer o que está acontecendo?

    - Como assim? – olhei para o matiz prateado das inscrições no livro a refletir a luz do sol tentando fugir de seu olhar reprovador. – Do que você está falando?

    - Julli, mentir não é uma de suas qualidades. – Isis foi contundente. – Há muito tempo eu vejo que tem alguma coisa de errado. Eu não sei o que é... Mas se não vou saber por você, eu vou dar um jeito de descobrir sozinha então.

    Isis passou por mim em direção ao Centro Pokémon, e em choque fui incapaz de fazer qualquer coisa.


    ISIS GAST

    Eu estava furiosa, mais ainda, queria gritar, esbravejar, investir, torcer, correr, extravasar, pular, puxar, lançar, bater, apunhalar, ou simplesmente sumir essa irritante irritação engasgada em meu peito. Algo em mim queria esganar a Julli a ponto de fazê-la falar, seja lá o que ela possa saber, embora eu também estivesse solidária a ela. Essa outra parte, queria fazê-la esquecer do que quer que fosse a confusão em que ela estava envolvida para podermos partir em nossa jornada por qualquer lugar, sem maiores preocupações.

    - Oi enfermeira. – meu tom de voz estava carregado de uma raiva lancinante – Será que chegou alguma encomenda em nome do curador Murder do Museu de Pewter?

    A enfermeira Joey esboçou um sorriso agradável fazendo gotejar a conta gotas um pouco de tranquilidade em mim. Não era o bastante para me acalmar, embora fosse o suficiente para não distribuir berros exaltados por aí.

    - Vou verificar agora mesmo. – ela vasculhou alguns papéis na caixa de arquivos e retirou uma ficha do correio. – Aqui está senhorita... Gast. O comprovante. – abaixo do balcão, ela puxou um caixote embrulhado em papel laminado e me entregou. – Como me foi solicitado.

    - Agradeço enfermeira Joey, e a propósito... Poderia dar uma olhada nos meus pokémons. – coloquei quatro pokébolas na grade de plástico branco a minha frente, Eevee ficara na cabine de olho no ovo de Julli. – Especialmente esses dois aqui. – apontei para as pokébolas de Teddiursa e Horsea.

    - Pode deixar, aguarde só um pouquinho. – ela entregou a grade para a Chansey, que adentrou pela área médica em passadas delicadas.

    - Certo. – me retirei com o pacote em mãos, colocando mais força para segurar que o necessário, amassando o delicado embrulho de alumínio metalizado.

    Sentei-me em uma poltrona na recepção do Centro Pokémon da ilha Knot, ínsula escolhida pelo pássaro de fogo Moltres como o seu lar, ao qual pela primeira vez, não cai em tentação de pesquisar como a maníaca por história que tenho sido nesses últimos anos. Julli conseguia me desviar de meus anseios, e de certo havia algo mais. A história de Julliane Cerule começava a soar interessante. Coloquei o embrulho metálico de lado e vasculhei minha mochila, sem realmente procurar algo em específico, até me deparar com minha pokegear.

    Ainda em dúvida se teria o direito de invadir a privacidade de Julli, encarei a pokegear por um tempo que me pareceu uma eternidade. Minha mente estava límpida, cristalina, ausente de qualquer pensamento, exceto pela raiva contida em meu coração, por Julli não confiar em mim. Eu não poderia questioná-la, também escondi dela tudo o que eu passei antes de conhecê-la: a perda de meus pais, as arriscadas expedições ao Monte Prata e ao Dragon Den, o período sombrio que passei na floresta de Ilex, o motivo de estar em Kanto, omitira tudo.

    Os pensamentos começaram a fluir, desfazendo esse estado estático em minha cabeça. Desde o dia em que passamos a seguir jornada juntas, fui conhecendo-a pouco a pouco e me afeiçoando ao jeito meio transloucado de ser dela. Logo no início eu percebi que havia algo errado e ainda sinto que há, mas somente depois daquela ligação confidencial é que eu passei a me preocupar. Fora muito doloroso vê-la ir parar em um Hospital por culpa de um caçador. Com o pai de Julli em Hoenn, a internação de Julli em Fuchsia fora responsabilidade de Bel, uma tia dela. Ela me contou que a mãe de Julli não tinha condições psicológicas para lidar com a situação.

    E agora com a presença da Equipe Acqua, e ainda por cima com o pai de Julli envolvido, fedia a problemas. Ela estava emaranhada em alguma trama que ela não fazia nem ideia e como se não fosse o bastante, há algum tempo, notei que enquanto dormia, Julli balbuciava alguma coisa inteligível e parecia sofrer com isso e a gota d’água aconteceu hoje. Aqueles gritos me deixaram arrepiada. Eu prometera a mim mesmo que a manteria segura, e até o momento minha promessa não se voltou em ações muito eficazes.

    Mesmo indecisa das minhas próximas ações, contatei em minha agenda um nome que andara evitando desde que cheguei em Kanto. A lembrança marcante revivida nas ilhas de Seafoam havia mexido comigo e talvez fosse à hora de pedir um favor também. O telefone tocou três vezes antes de atender e quase desliguei, mas contive o impulso.

    - Olá menina. – a voz dela ainda tinha a leve rouquidão agregada à monstruosa confiança de suas habilidades de que me lembrava. Mesmo ao telefone sua presença impressionava.

    - ...Agatha, eu... – contive meu orgulho, embora eu falasse com certa dificuldade. – Preciso de sua ajuda.


    JULLIANE CERULE

    Isis fora mais dura comigo do que eu previra. Talvez o calor do momento, com a presença de Archie tenha tornado Isis mais insensível e capaz de tentar arrancar a verdade de mim a todo o custo.

    - Equipe Acqua... – o que meu pai poderia querer com eles. Se fosse verdade o que Isis me contara, eles seriam como o tal grupo terrorista que atuava em Kanto e Johto, a Equipe Rocket.

    As ondas iam e vinham de encontro a areia amarela enquanto eu tentava entender o que esses pesadelos significariam, mas só conseguia deduzir que estava ficando louca. Como estava disposta a resolver meus problemas e não ficar me remoendo com eles, eu decidi vir até a praia dos tesouros tentar conseguir alguns itens de valor para vender e pagar minhas dívidas e manter um saldo positivo. Com meu pai ausente, minha conta bancária se tornou um campo minado.

    - Quem sabe se eu desafiar alguns treinadores valendo uma graninha? – falar sozinha era o que me restava no momento. – Onde eu estou com a cabeça? – peguei minha mochila e catei minhas pokébolas. Com meus pokémons comigo eu jamais ficaria sozinha. – Hora da caça ao tesouro! – lancei as pokébolas uma a uma, liberando Mudkip, Mareep e Natu na areia da praia.

    - Mud! – os olhos de Mudkip vibraram ao se ver em uma praia e saiu correndo de encontro as ondas, refrescando-se na água.

    - Mareeee! – Mareep saltitou e sua cauda brilhou ao sentir a luz do sol, intensa e calorosa.

    - Tuuuuu... – Natu pousou no dorso de Mareep e pipitou delicadamente para mim.

    - Ainda temos uma conversa inacabada Natu. Não pense que me esqueci, só que hoje faremos uma trégua. – sorri para ele, mas ele apenas me encarou como sempre. – Hoje, iremos brincar de caça ao tesouro! – gritei animada.

    Mareep e Natu grunhiram com vivacidade e empolgação saltando de seus poros. Mudkip saltou com o impulso de uma onda, pousando próximo a mim. Fiquei surpresa com a energia de Mudkip ao realizar um salto tão espetacular como aquele. Ele estava cada dia mais forte, na verdade todos estavam.

    - Vejo que estão prontos. – queria que Budew estivesse aqui, ela iria adorar o sol, toda a diversão, mas eu tinha de ser firme se quisesse que eles me respeitassem. – Então vamos começar. Um... Dois... E já! – corremos um para cada lado procurando qualquer coisa ocultada na areia.

    Começaria a solucionar um problema de cada vez. Dos mais simples aos mais complexos. E era bom descontrair um pouco, pois na volta teria de encarar Isis, e de novo não seria nada fácil.


    RIUJI TEIKI

    - Estou aqui velhote. – confesso que aquele senhor tinha uma presença marcante, mesmo sem saber de quem se tratava. Poderia ser um velho desaforado, intrometido e brigão, mas não era qualquer um. – Você tá querendo uma batalha é?!

    - Não seria um desafio, shishishi. – ele rodopiou a bengala e lançou um sorriso de escárnio por baixo de seu bigode branco. – Tenho apenas uma charada.

    - Charada? – disse confuso. – Tá zoando com a minha cara é velhote!

    Ele ajeitou o colete de sarja branca e pousou a bengala na mão esquerda e pegou uma pokébola com a direita.

    - O que é o que é? – ele tirou os óculos escuros, permitindo ver seus olhos de íris flamejante. – Tem azul e tem vermelho. Quando vence, perde. Quando perde, ganha.

    Mesmo duvidando das intenções do velho, eu resolvi levar a sério a charada.

    - Ah... Deixa eu ver. – levei um tempo para formular uma resposta lógica. – Stardust.

    - Pein! Perdeu. Shishishi! – ele voltou a colocar os óculos. – É mesmo um garoto idiota. Achei que um Teiki se sairia melhor, mas vejo que é igual aos outros.

    - Quem é você?! – perguntei em fúria.

    - Responda a charada e daí você saberá. – o velho acenou um adeus e seguiu a trilha para o vulcão. – Daí quem sabe eu te mostro o que e ter fogo nas veias.



    *Lance é o campeão da Elite dos 4 de Kanto, especialista em pokémons do tipo dragão, considerado por muitos os mais poderosos e difíceis de se treinar.

    No próximo capítulo:

    Spoiler:
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    Mensagem por Mr. Mudkip 07.04.13 14:10

    Pokémon Ree laii [14 +] - Página 2 1zce73t


    Finalmente consegui postar mais um capítulo. Foi mal a demora, mas provavelmente os posts continuarão nesse ritmo. Estou alcançando o ponto em que estava da última vez, mas com muitas mudanças em relação ao original que eu tinha feito. Próximo capítulo é o clímax que fecha o primeiro arco de Pokémon ree laii. Então até a próxima e comentem!!!


    Capítulo 018 – Boon, Kin, BOOOMMM!!!


    JULLIANE CERULE

    O sol se misturava na imensidão de água criando borbulhas alaranjadas e radiações douradas refletidas na vastidão do céu. Sobrestadas na areia amarela, as pedreiras cintilavam em tons pastéis e em meneios azulados por entre as fendas e depressões. O pôr do sol representava algo mais para mim, de um passado entre meus pais, embora não fosse apenas isso, também era instigante observar tal evento. Revitalizava meu espírito, trazendo um pouco de paz para o meu coração atormentado de preocupações. Ao menos hoje resolvi uma delas. Conseguiria positivar a minha conta bancária e ainda adquirir novos e importantes itens para minha mochila, e o melhor, passar um tempo agradável e descompromissado com meus adoráveis pokémons.

    Na areia, deixamos empilhados quatro pequenos montes como resultado da caça ao tesouro. Mudkip estava compenetrado em mim, avaliando-me na apuração dos itens que cada um conseguiu. Flaaffy corria em direção a Natu tentando pegá-lo, mas quando ela chegava perto, ele saltitava abrindo suas asas miúdas, flutuando no ar feito um balão. Principalmente agora a saudade de Budew surgia com força, e cogitei em desistir desse castigo, e ainda fiquei pensando em como ela ficaria feliz em brincar nessa praia repleta de tesouros.

    - Pronto... Natu! Flaaffy, eu terminei. – eles rapidamente me rodearam com uma alegria contagiante. Realmente, fora uma boa ideia virmos para a praia dos tesouros nos divertirmos um pouco e fugir de tantas responsabilidades. Somente Mudkip mantinha uma seriedade estranha até para ele. Parecia ansioso com o resultado.

    - E o grande vencedor foi... – espalmei as mãos contra as minhas coxas tentando imitar o som do ruflar de tambores. – Tam, tam, tam... NATU!!!

    - Tu? – Natu se surpreendeu com o resultado de nossa caçada. Todos foram muito bem, no entanto, sozinho, ele abocanhou três pearls, duas heart scale, uma big pearl de um brilho prateado belíssimo que está me deixando em dúvida se deveria mesmo vender ou fazer uma joia com ela, um prism scale e um pingente em formato de uma gota d’água cristalizada, que acreditava ser uma mystic water.

    - Parabéns! – beijei o topo de sua cabeça.

    - MUD! – enraivecido, Mudkip bufou pela derrota. Não havia percebido o lado competitivo dele, e ainda mais como um mal perdedor.

    - Flaaa!!! – Flaaffy agarrou Natu, lançando-o pelo céu alaranjado, balindo de felicidade pelo pequenino.

    - A disputa foi bem acirrada... E Mudkip, entre você e Natu foi à diferença de um item para conseguir um empate. – agarrei seu corpo pequeno e o coloquei em meu colo. – Não fique bravo. – massageei sua testa franzida. – Você foi ótimo e todos serão recompensados.

    - Mud... – ele tentou disfarçar o descontentamento, mas seus olhos ainda guardavam a insatisfação de não ter vencido.

    Ofuscando o brilho do sol, uma sombra disforme pousou a minha esquerda e confesso, tive receio de me virar e dar de cara com Isis. Estive evitando ao máximo o momento de encará-la novamente.

    - Julli? – aquela voz suave me fez congelar. – Esse lugar... Parece... Ser divertido, não é?

    Concordei com a cabeça evitando encará-la. Flaaffy correu para Isis com Natu sacudindo em sua cabeça. Isis os cumprimentou e entregou petiscos para os dois. Eles grunhiram em agradecimento e Isis riu quando alguns farelos caíram em Flaaffy, fazendo-a espirrar alguns balidos agudos.

    - Acho que eles também gostarão... – Isis tirou suas pokebolas da mochila. Estranhei ela retirar quatro pokebolas, já que Eevee permaneceu no navio cuidando do meu ovo pokémon. – Talvez Larvitar tenha um ataque ao ver tanta água, e bem... – Isis observou uma das pokébolas com compaixão. – Ela provavelmente irá gostar... Saiam todos!!!

    As pokébolas foram lançadas ao ar, liberando três raios brancos na areia amarela e um nas proximidades da enseada. Em instantes, a massa disforme de luz se tornou palpável.

    - LARV!!! – Larvitar berrou vigorosamente para impor a sua presença, como gostava de fazer. Assim que viu as pedreiras, ele correu até elas e deitou-se ali como se fosse o colchão mais macio e confortável que o dinheiro poderia comprar, acariciando o rosto na superfície rochosa.

    - Tedd? – Teddiursa apareceu com um sorriso radiante. Ela sentou-se ao meu lado cobrando um pouco de carinho. O brilho caramelado de seu pelo ficava mais evidente a luz do poente, e como era macio e gostoso afagá-la, Isis sabia mesmo como tratar de seus pokémons.

    - Vul... – a timidez de Vulpix a fez ficar abrigada aos pés de Isis encolhendo as orelhas simetricamente desenhadas para baixo.

    - Horseeeee!!! – entoando um cantarolar contagiante de excitação, um pequenino cavalo marinho de escamas azuladas e olhos carmesins nadou por entre as ondas com movimentos delicados e elegantes.

    Vê-la nadar encheu meu coração de boas energias. Em meu íntimo, pensei que meu pai iria ficar satisfeito em ter a oportunidade de ver um pokémon nadar com tamanha alegria e entusiasmo. O fascínio que ele mantinha com os pokémons aquáticos também me atraía, e eu mantinha um palpite forte de que finalmente o sangue Cerule se manifestava sob a forma de meus interesses. Quem sabe meu futuro seguisse pelo de um pesquisador pokémon?

    - Quando aconteceu isso? Quando pegou esse Horsea? – ao ver a felicidade de Horsea ao nadar, Mudkip saltou de meu colo em direção ao mar para acompanhá-la, liberando a vaga para Teddiursa se banhar de afagos. – É tão linda!

    - E é sua. – ela mais uma vez pousou seus olhos negros sobre os meus, atitude que começava a me incomodar. Mais uma vez desvencilhei-me daqueles olhos enigmáticos, mas estranhamente reprovadores.

    Mantive alguns segundos de silêncio antes de formular algo débil em resposta.

    - Como? – me neguei a encará-la nesse momento. A explosão de Isis há pouco me doía no peito e era difícil manter uma conversa amena, e era preciso me concentrar para me afastar de assuntos espinhosos. – Eu... – estava sentindo um misto de sentimentos, da briga com ela e a vontade de mergulhar por entre as ondas ao lado de Mudkip, e do presente mais que inesperado, Horsea. – Eu não entendo...

    - Eu... – Isis mascarou um desabafo sob um assobio arguto. – Não tinha o direito de invadir a sua privacidade e pensando nisso, queria refazer nossa amizade de uma maneira melhor, não sei. E bem... Acho que não existe prova maior do que essa. Não para nós duas... – ela revirou a cabeça e espalmou a face para não começar a chorar. – Sei que você adora pokémons do tipo água e ela me pareceu perfeita pra você. Foi à maneira que encontrei para lhe pedir desculpas.

    - Pra ser honesta... – observei Horsea e Mudkip brincarem de saltar sobre as ondas, divertindo-se sem pudores. – Não acho que precisemos nos desculpar, eu só... – engoli em seco e continuei. – Gostaria que nossa jornada fosse só um pouquinho mais fácil, e... – sorri por não conseguir concluir, sem ao menos entregar algo que ainda pretendia manter em segredo. – E então? Não vai me contar como conseguiu o mais novo membro da família? Ou melhor, da nossa família?

    Demos as mãos e sorrimos uma para a outra por enfim conseguirmos dar brechas para nos entender.

    - Tudo começou nas ilhas de Seafoam. – Isis conseguiu finalmente relaxar e passou a falar sobre a sua aventura solo, discorrendo com detalhes de cada apuro que passou por lá e da forma heroica em que Andrei a salvou.

    Após me atualizar dos últimos acontecimentos, nós apresentamos Horsea formalmente para os outros. Com as formalidades feitas, Flaaffy, Teddiursa e Natu resolveram se juntar a Larvitar nas pedreiras enquanto Isis e eu nos juntamos a Mudkip e Horsea para um refrescante mergulho de mar. Vulpix recostou-se ao lado de nossas mochilas e uma pequena trouxa de roupas, observando-nos com sapiência, a espera de provavelmente repousar em sua pokebola.

    Mais tarde, passamos em um pokeshop para vendermos os itens que conseguimos na praia dos tesouros. Como resultado, pude cobrir o rombo em minha conta e manter uma graninha para emergências e vários itens também. A beleza da mystic water me conquistou e resolvi usá-la como um pingente em meu braço, mesmo sabendo que aquele era o item ideal para aumentar a força dos ataques do tipo água e servir somente para os pokémons.


    ***

    Pela manhã, procurei um lugar tranquilo e confortável e abri o livro nas páginas iniciais para começar a estudar um assunto totalmente novo para mim, heráldica. Ali havia explicações claras e objetivas dos nomes e significados de cada parte que compunham um brasão, exemplificado com imagens detalhadas e complementados com notas de rodapé. Uma avalanche de terminologias e detalhes difíceis de assimilar. Enquanto eu quebrava a cabeça para entender aquilo tudo, Isis ficou na cabine analisando algumas gemas antigas que recebeu no Centro Pokémon da ilha Knot.

    - No que isso vai me ajudar? – coloquei o livro de lado, e passei a bater minha mão no braço da espreguiçadeira para ter o que fazer com minha ansiedade e então senti o pingente de mystic water balançar em meu braço, pendendo a gota d’água cristalizada para a palma de minha mão. – Em que?

    Eu precisava falar urgentemente com meu pai, mas ele não atendia a pokegear, o que era muito comum da parte dele, no entanto, não era apenas saudade, estava encurralada e só ele poderia responder as minhas questões. Será mesmo que o Doutor Andrews Cerule saberia o significado dessas alucinações? No momento, ele é a única pessoa em que posso confiar esse segredo. Isis era uma boa amiga, e não queria colocá-la em problemas ou que se preocupasse comigo, mas também não era uma boa ideia mantê-la curiosa sobre o que de fato está acontecendo. Em algum momento ela pode se cansar de esperar que eu fale e comece a investigar por conta própria, e no fundo eu sei que ainda não estou preparada para as reviravoltas que podem acontecer se respostas começarem a aparecer.

    - Mud, mud! – ouvi alguns grunhidos familiares que cortaram a minha linha de pensamento, e de repente vi Mudkip passeando tranquilamente pelo corredor de acesso ao restaurante com uma rawst berry na boca, soltando urros de alegria.

    - Ele não tem jeito mesmo. – esperei ele desaparecer pelos degraus e voltei a me concentrar na tarefa que meu pai me colocou.

    ***

    - Talvez seja melhor mesmo você nem ir. – Isis estava penteando o cabelo, preparando-se para sair. – A ilha Boon é um entreposto comercial onde vendem vários produtos que não são encontrados em Kanto. Como você ainda está com pouco dinheiro, melhor mesmo não sofrer tentações. Acho que ia ser pior pra você. – ela colocou a escova na bancada, dando uma última olhada no espelho.

    - Você tem razão. – escondi o desânimo estampado em meu rosto por trás do livro. – Eu tenho mesmo que ler isso, e também, não é justo que Eevee fique preso nessa cabine apertada, enquanto nos divertimos por aí. – me senti culpada em deixá-lo responsável por algo que cabia a mim. Afinal, o ovo pokémon era minha responsabilidade, e como tal, eu deveria me encarregar de vigiá-lo e cuidá-lo até que rache.

    - Então nos vemos à tarde. – ela lançou um adeus, fechando a cabine num tique metálico.

    Continuei deitada em minha cama, lendo o capítulo dois, referente à origem e formas que um brasão pode apresentar. Minha mente não conseguia absorver as informações com eficiência. Eu estava presa em dilemas demais para isso, e acabei adormecendo.


    ISIS GAST


    - Aqui está. – a enfermeira Joey colocou uma pilha de livros forrados com um saco de tecido grosseiro, surrado e maltrapilho sobre a bancada com a delicadeza que só uma enfermeira tem. – Teve muita sorte, porque as encomendas não costumam ser entregues pela manhã.

    - Ainda bem, já que preciso dessa material com urgência. Muito obrigada. – assinei o recibo, coloquei o saco contra o peito e fui me aconchegar em uma mesinha que havia no salão da recepção. – Vamos ver o que ela me mandou...


    JULLIANE CERULE


    - Olá. – Isis teve dificuldades em entrar na cabine por conta de uma velha e enorme sacola que carregava nas mãos. – Acho que vou ter trabalho pra muito tempo dessa vez. Hihihihi! – ela colocou-os no chão e soltou um sopro de satisfação por se livrar daquele peso todo.

    - Como foi o passeio? – enquanto Isis esteve fora, aproveitei para desembaraçar a lã de Flaaffy. As sessões de massagem de Natu poderiam ser relaxantes, mas era um pesadelo para mim, depois conseguir tirar todos os nós de lã. Depois fomos todos almoçar. À tarde, Natu, Mudkip e Horsea me acompanharam até a piscina enquanto Flaaffy preferiu ficar em sua pokebola descansando. Provavelmente ficou com receio de que eu voltasse a desembaraçar mais um pouco de lã. Coloquei o ovo pokémon ao meu lado, enquanto tentava estudar mais um pouco de heráldica, só que fiquei a maior parte do tempo observando Horsea e Mudkip brincarem dentro da piscina. Natu se empoleirou em uma das grades e às vezes ressonava alguns pios.

    - Foi ótimo. – Isis lavou o rosto no lavabo e enxugou o rosto com as mangas da camiseta. – Tem uma tenda que vende uns biscoitos deliciosos feitos lá em Hoenn. Também conheci uma senhorinha muito gentil que ensina algumas técnicas especiais para alguns pokémons. Ela me contou histórias fascinantes. Ah! Trouxe esse engradado de Moomoo Milk pra você. – ela tirou da mochila uma caixinha de metal com seis garrafas de leite. – Estavam em liquidação e resolvi comprar.

    - Obrigada. – coloquei o engradado em meu colo e me apoiei sobre ele, enquanto ouvia Isis me contar mais sobre a ilha Boon. Dentro de uma hora, estaríamos a caminho de mais uma das ilhas do arquipélago Sevii, a ilha Kin.

    ***

    Já que não conseguia me concentrar na leitura, passei a apreciar a paisagem da ilha Kin que por sinal era bastante interessante. Dividia-se em três partes menores ligadas por pontes flutuantes. O porto ficava onde havia um maior número de construções, em sua maioria de caráter residencial e a frente, ultrapassando uma das pontes, ficava o centro comercial. A noroeste havia uma densa e verdejante floresta. Era bem grande e povoada se comparada às outras ilhas até então visitadas.

    O porto foi construído com madeira de aveleira e por isso tinha uma coloração mais escura que o normal. A vegetação era abundante, concentrando-se principalmente na floresta presente na terceira ilha. Muretas de concreto e pinos vermelhos foram colocadas em toda a extensão da praia para diminuir a força das ondas, impedindo que a água chegasse perto das casas. Grande parte das construções da ilha Kin era feita de concreto maciço pintadas de castanho claro e o telhado de barro branco. Diferente das outras ilhas, aqui as ruas eram pavimentadas e tinham um tráfego constante de carros e motocicletas. O barco atracou no píer e seguimos até o posto de abastecimento, deixando nossos tickets de turistas.

    - Julli, eu vou ao centro pokémon e de lá acho que vou praquela floresta. – Isis apontou para a ilha central e depois para a floresta. – Gosto de ficar em lugares sossegados pra me concentrar, e como você viu estou cheia de trabalho. Andrei! Fica de olho nela. – como ela não poderia me acompanhar, pediu a Andrei que o fizesse. Isis não gostava de me deixar sozinha, embora tenha escapulido algumas vezes. – Comporte-se viu. E não se preocupe Julli, que seu ovo ficará bem seguro comigo. Vai ser melhor pra você curtir a ilha sem precisar ficar vigiando-o.

    - Pode deixar. – ele disse. – Vou cuidar bem dela.

    - Até parece que eu preciso de uma babá. – ri desolada.

    - Pelo que a Isis me contou, acho que precisa sim. – ele comentou graciosamente.

    - Ieee. – mostrei a língua como sinal de reprovação.

    Andrei fingiu que não viu.

    - Vamos que a ilha é bem grande. – ele seguiu a minha frente. – Precisamos apertar o passo, se você quiser aproveitar tudo que aqui tem a oferecer.

    - Ei! – corri para acompanhá-lo. – Me espera.

    ***

    Com tantas coisas para ver, eu fiquei tão distraída que perdi Andrei de vista e para piorar eu acabei me perdendo. Isis ficaria muito brava se descobrisse isso.

    - Consegui fazer outra burrada para variar. – estava isolada próxima a um gramado verde recém-aparado, exalando um perfume apurado e bastante característico das aglaias de Cerulean. Apesar de estar enrascada, gostei de estar naquele lugar de pura paz e que trazia lembranças de minha terra natal. – E agora? – disse pensando onde Andrei pudesse estar.

    Tentando relaxar, eu me guiei no silêncio que foi quebrado por uma bela e estonteante melodia. Procurando de onde vinha aquele som inebriante, acabei andando sem rumo até algumas ruínas de quartzo e rochas ígneas. As pilastras de mármore de fumê acinzentado envoltas em ramas verde-oliva exalavam um aroma nostálgico, e compunha o ambiente perfeito, sintonizando natureza a arquitetura criada.

    Um piso de pedras ásperas e trincadas pelas raízes que cresceram abaixo delas ficava quase ao centro, onde um piano de cauda antigo em verniz enegrecido transmitia uma sinfonia de notas espetaculares. Um garoto loiro de madeixas revoltas, a pele iluminada pelo sol, de olhos fechados para apreciar sua obra, concentrava seus dedos nas teclas para criar um arrebate para o coração. A música que tem o dom de nos emocionar estava sendo criada ali.

    Eu repousei meu corpo em uma das pilastras, apenas contemplando com os ouvidos o que a música pode nos proporcionar. Devido a minha desatenção, nem percebi um pokémon desconhecido surgir próximo a mim instituindo uma coreografia de golpes em sincronismo com as notas do piano. A cada novo som, um movimento surgia correspondendo com mesma intensidade e vigor as notas do piano.

    O pokémon parecia flutuar a cada novo lance. Socos, chutes e saltos que de tamanha sutileza pareciam mais com passos de dança. A união entre música, treinador e pokémon me levou a um outro momento mágico entre humanos e pokémons ao qual havia passado não fazia muito tempo: eu tive o privilégio de ver de perto à poderosa técnica dos Blaine, capaz de acalmar um Rapidash furioso apenas pelo olhar. Algo formidável.

    Ele estava plenamente concentrado à música para criar seus golpes, um pequeno pokémon que eu nunca havia visto, o que não era uma grande surpresa. Eu conhecia com certo domínio, quase que exclusivamente de pokémons do tipo água. Uma ignorante em se tratando de outros pokémons.

    Pokémon Ree laii [14 +] - Página 2 447

    O corpo de cor predominantemente azul aço, com os pés negros, assim como parte da face que continuava com um relevo cônico e um anel amarelo em seu pescoço, uma proeminência de cor prata no dorso das patas dianteiras, brilhando com os raios de sol. O porte fino e esguio, permitindo os movimentos elegantes e bem delineados. Era sem dúvidas um pokémon muito especial.

    O jovem terminou sua apresentação, assim como seu pokémon. Ambos abriram os olhos ao fim da canção. Os olhos vermelhos de íris negra pousaram a minha frente, fortuitos e determinados. Desviei meu olhar para o garoto, e imediatamente senti o coração acelerar. Seus olhos. Os olhos que transmitiam a quietude e a beleza dos campos mais puros e verdejantes, que criou em mim um sentimento inexplicável. O garoto da estância finalmente surgiu a mim. Pela segunda vez o lago de água cristalina entrelaçou-se aos verdes campos em uma sensação única.

    - Olá. – o garoto disse simplesmente com sua voz melodiosa. Ele não pareceu impressionado com o acontecido. Talvez fosse uma sensação que apenas eu conseguia captar.

    - Ooooi... – minha voz custou a sair.

    - Lu! – o pokémon fechou os olhos e movimentou as patas dianteiras em minha volta. – Rio. – ao terminar ele voltou-se para o jovem com um sorriso.

    - Vejo que o Riolu gostou de você. – ele disse ao se levantar do banco, ajeitando sua camiseta branca para retirar possíveis amassados. Seu short jeans surrado, não combinava com sua elegância. Se não fosse pelos olhos eu não poderia reconhecê-lo da primeira vez em que o vi.

    - O que vocês estavam fazendo? – perguntei curiosa.

    - Estava treinando. – o garoto percebeu meu desentendimento. – Um treinamento muito específico.

    - Ah, certo. – disse percebendo minha intromissão. – Desculpe, eu... – tinha certeza que estava enrubescendo.

    – Onde estão meus modos. – ele sorriu ao perceber que eu estava sem jeito. – Meu nome é Isaac, Isaac Levi. Muito prazer. – ele fez uma reverência com extrema elegância e polidez ao qual não combinava nada com suas roupas largadas e despojadas.

    Eu percebera que Isaac não era nada comum. Ele tinha uma postura exemplar, apurada e fina. Ao me lembrar do significado de seu sobrenome eu confirmei. O senhor da noite do guardião do vento. Venets Levi fora o senhor da noite mais importante, seria ele um descendente? Provável que sim. Mas como alguém tão importante poderia estar num lugar inóspito como aquele?

    - Julliane Cerule. – apesar do susto, consegui me apresentar. – Vo...

    - BOOOMMM!!! – um estrondo poderoso vindo da primeira ilha, interrompeu-nos. Uma nuvem de fumaça começou a se formar a leste onde pokémons de couraça avermelhada, longas caudas e asas reptilianas faziam rasantes sobre as construções lançando chamas incandescentes contra a cidade. Gritos, explosões, o mundo parecia que ia desabar e se instaurar o caos.

    - Isis! – tentei correr em direção à cidade, mas fui impedida pelo pokémon. – O que está acontecendo? – os gritos aterrorizados estavam me deixando assustada.

    - Não seja precipitada. – o garoto de olhos verdes me encarou. – Pode ser perigoso.

    - Minha amiga. – segurei a gota d´água em minha mão e estranhamente me senti mais tranquila. – Eu não...

    - Primeiro vamos ver o que está acontecendo, certo? – ele correu para perto do piano, pegando uma mochila. Retirou uma pokebola apontando-a para seu pokémon. – Regresse Riolu.

    - Rio. – ele obedeceu, tornando-se um raio brilhante, que foi sendo sugado pela pokebola.

    - Ora, ora. – um homem de vestes negras e rubras apareceu por entre as pilastras com um sorriso hediondo. – O que temos aqui?

    - BOOOMMM!!! – novas explosões aconteciam à todo momento, diminuindo a percepção dos gritos cada vez mais aterrorizados.

    - Eu tinha dito a eles... – o homem tinha a face levemente queimada no pescoço e tinha um semblante malévolo. – Seria muito mais divertido ouvir as explosões naquela ilhota, mas bem que ele disse. Tudo vai explodir. Knot!!! Boon, Kin, BOOOMMM!!! Hahahaha!



    ISIS GAST


    Embrenhei-me pela floresta recheada de berrys, procurando um bom lugar para começar as primeiras pesquisas sobre sonhos. Os sonhos que permeiam a vida de Julli e os quais ela insiste em esconder de mim.

    Os livros pesavam na sacola e carregá-los pelo terreno irregular da floresta de berrys dificultava bastante. Eram treze livros com assuntos que variavam desde os mistérios dos sonhos até o charlatanismo por trás das previsões do futuro. Os mais diversos escritores repassando seus conhecimentos para o papel, cedendo um pouco de seus conhecimentos para que eu pudesse ajudar minha melhor amiga. Seria um longo dia de trabalho. Muito longo.

    ***

    ”Viajar entre os sonhos, dádiva e maldição emaranhadas ao espírito possuidor da contemplação. Ser o conhecedor do que o destino reserva a cada alma a pisar na Terra, corrompe a existência que carrega o dom da clarividência a um tormento eterno. Atado a necessidade de buscar a mudança, inutilmente se afoga em seus próprios lamentos, até compreender a real dimensão desta sina: ver como tão pequena é a existência humana e sua busca pelo controle de seu destino. Tem-se o respeito à natureza aos pokémons que cultivam esse saber, presenteados pela compreensão que falta aos humanos.”

    Monge Katsuya

    ”Prever aquilo que há de ainda surgir não é um dom. Não passa de um golpe para arrancar dinheiro dos descrentes de sentimentos. O disseminador de um falso futuro não merece ter um futuro a sua espera. Pobre daqueles que se utilizam disso para se beneficiar. Mal sabem o que lhes aguardam. Apenas uns poucos pokémons possuem o verdadeiro dom e a sabedoria para tal.”

    Morgan Fattero

    ”O contemplador viaja pelos sonhos de outrem, forçado a conhecer o que se reserva para aqueles a sua volta sem o direito de interferir em seus passos. Acorrentado às vontades do destino, carrega o peso de nunca evitar o infortúnio. Um mero espectador, que jamais verá a si mesmo, com a sempre presente ignorância atrelada aos humanos.
    O aprendizado vem-se ao exemplo de todos os pokémons, ao qual apenas por serem humildes os compreendem. Incapaz de enxergar seus próprios sonhos, o contemplador vagueia entre os sonhos de desconhecidos a espera de um dia poder ver o que lhe aguarda, julgando-se superior a sua real condição.”


    Will*


    Aos poucos eu ia absorvendo as informações que cada autor discorria. Mesmo sem ter juntado nenhuma pista que me ajudasse a definir a situação de Julli, já me sentia mais útil por tentar fazer alguma coisa. Era um alívio começar de algum ponto, pois quem sabe possa ser necessário esse conhecimento, ou as minhas habilidades como historiadora.

    Um barulho próximo me desconcentrou e me fez focalizar os arbustos próximos. Uma sombra se formava abaixo da copa da árvore, me fazendo reconhecê-la de imediato.

    - Zackie. – disse levantando em sobressalto, derrubando os livros. – Que bom vê-lo.

    - Olá. – ele sorriu ao perceber que eu fiquei contente com sua presença. – Estava... Com saudades. – Zackie estava um pouco acanhado. Ele não costumava ser assim. – Nos encontramos de novo.

    - Pois é. – eu dei-lhe um abraço carinhoso. Devido à proximidade pude sentir seu perfume amadeirado adentrar em minhas narinas, o que estranhamente fez meu corpo amolecer. – Poderia pensar que estava me seguindo.

    - Do centro pokémon até a floresta você pode ter certeza. – ele riu sem jeito. – Parece que as rotas que decidimos seguir estão coincidindo não é mesmo?

    - Sei... O que você quer comigo? – meu coração batia acelerado. Sabíamos que havia algo além de amizade entre nós. Era a primeira vez eu que passava por isso. Alguém que gostasse de mim de uma maneira diferente da que eu conhecia e que eu também experimentava tal sentimento me assustava.

    - Já tinha algum tempo... – sua voz saía trêmula e um pouco esganiçada. Apesar de ter sido um pouco atrevido quando nos conhecemos, ele era tímido quando a situação se complicava. – Eu... – Zackie sorriu e disse enfim. – Queria desafiá-la pra uma batalha.
    - Hã! – eu me senti uma idiota. Eu imaginando que Zackie iria expor uma situação que, provavelmente eu tenha desejado que ocorresse. – Claro. – minha voz saiu desanimada.

    - Mas tem uma coisa. – ele evitou meu olhar. – Poderíamos apostar uma coisa?

    - Sim? – disse com a expectativa ressurgindo.

    - Se eu vencer, eu posso te... – ele tossiu, impedindo que ele terminasse a frase de imediato, ou talvez fosse o nervosismo falando mais alto. – Beijar. – falou quase inaudível.

    Eu corei instantaneamente. Sua investida direta foi capaz de me deixar sem palavras. Percebi que ele ficara esperando uma resposta, e então tentando manter o clima forcei o raciocínio para não estragar tudo.

    - Só que se eu vencer... – eu imaginei algo que pudesse ser interessante. – Hum. Você terá que cumprir um pedido meu.

    - Aceito. – Zackie disse mais relaxado. Ao ver que não fora rejeitado, ele se soltou um pouco. Aos poucos ele voltava a agir normalmente. Fora um pouco engraçado vê-lo acanhado. Nunca pensei que ele pudesse ficar assim, das poucas vezes que o vi, ele sempre parecia tão seguro de si. – Uma batalha em dupla?

    - Pode ser. – disse tentando transparecer que estava desencanada. Por dentro, a aflição me consumia.

    - Treecko e Kecleon ao campo. – ele retirou dos bolsos duas pokébolas, lançando-as na gramínea rasteira. – Espero que não volte atrás.

    - Eu sempre cumpro a minha palavra. – disse voltando a corar. Não sei de onde tirara tamanha ousadia.

    Enquanto tentava encontrar o que me levara a tal atitude, os pokémons de Zackie criavam forma em meio aos raios brilhantes da pokébola. Dois lagartos com tonalidades diferentes de verde se cumprimentaram, e em seguida ficaram de costas um para o outro.

    Pokémon Ree laii [14 +] - Página 2 252Pokémon Ree laii [14 +] - Página 2 352

    Já que ele iria utilizar de pokémons que de certa forma eram semelhantes, eu também o faria.

    - Eevee, Vulpix, hora do show! – disse assim que encontrei suas pokébolas na mochila.

    Vulpix surgiu cuspindo uma brasa ao bocejar. Ela era um pouco dorminhoca, mas nada que pudesse atrapalhar sua atuação em batalha. Percebi mais uma nova cauda surgir. Como os pokémons cresciam rápido. Até outro dia ela era uma pequenina filhotinha indefesa. Eevee veio estonteante como sempre, demonstrando toda sua desenvoltura ao caminhar pela grama rasteira.

    - Com toda essa apresentação você iria mostrar quem é que manda nos concursos pokémon. – Zackie já voltara com seus elogios tentando se dar bem.

    - Você ainda não viu nada. – Não iria pegar leve com ele. Eu sempre fui muito competitiva e nunca facilitei para ninguém em uma batalha. – Eevee, quick attack no Kecleon. – ele sentiria na pele isso.

    - Leech seed no Eevee, Treecko. – Zackie ordenou assim que percebeu meu ímpeto.

    - Eeeevv! – Eevee desapareceu devido à extrema rapidez, ressurgindo ao golpear Treecko com uma investida. O pequeno lagarto planta de ventre avermelhado não se intimidou com o ataque e cuspiu uma semente na direção de Eevee, aderindo-se ao seu pelo. Aos poucos a semente projetou ramas, retirando sua energia vital e transferindo-a para Treecko.

    - Tretretre. – Treecko ficou satisfeito com o seu feito.

    - Droga. – disse chateada pela condição desfavorável de Eevee. – Não vou deixar barato. Vulpix, confuse ray. – tinha de equilibrar a balança novamente.

    - Vuuu... – Os olhos de Vulpix projetaram um raio sinistro em Kecleon deixando-o desorientado.

    - Kecleon, tente usar faint attack. – Mesmo com os riscos, Zackie seguiu atacando.

    Kecleon tropeçou com as próprias patas, jogando o ataque em si.

    - Keeee! – Kecleon rodopiou os olhos descontroladamente.

    - Kecleon! – Zackie deu um grito para tentar chamar Kecleon de volta à batalha. Infelizmente para ele, não deu resultados.

    Não iria esperar que ele se recuperasse. Ia pra cima para conseguir alguma vantagem.

    - Eevee use helping hand. – Eevee aproximou-se de Vulpix para poderem cooperar nos próximos ataques.

    - Treecko, acrobatics no Eevee agora. – Zackie focalizou seus ataques em Eevee. Queria derrubar meu pokémon mais experiente primeiro, o que seria uma grande dor de cabeça para mim. Era uma boa estratégia, no entanto, Eevee podia resistir por muito tempo.

    - Evasiva, Eevee. – disse confiante.

    - Treckoooo! – Treecko saltou pelas árvores realizando acrobacias incríveis. Surgia em vários pontos em segundos. Era um pokémon bastante veloz. Eevee não teria condições de esquivar do ataque.

    Uma sequência de rodopios em pleno ar golpeou Eevee em cheio.

    - Eeee! – ele desabou no chão devido à violência do ataque, mas eu sabia que ele ainda estava em condições de continuar.

    - Eevee, você está bem? – perguntei por precaução.

    - Vee! – Eevee levantou com certa dificuldade, mas ainda tinha gás para continuar.

    Enquanto Eevee se recuperava, voltei minha atenção para Vulpix.

    - Use ember no Treecko. – disse observando Zackie.

    - Vuuuu... – Vulpix inspirou profundamente, e em seguida lançou um jato de brasas ardentes na direção de Treecko.

    - Treecko, evasiva. – Zackie ordenou.

    - Tree. – Treecko saltou entre as árvores evitando o ataque com facilidade, afinal aquele era o terreno ideal para um pokémon do tipo planta.

    - Não. – disse percebendo que Kecleon já se recuperara do estado de confusão.

    - Muito bem Kecleon! – Zackie extravasou. – Use double team.

    - Keeecle! – Kecleon multiplicou-se me deixando desorientada.

    - Eeee! – a força vital de Eevee fora novamente retirada.

    Eu precisava dificultar a movimentação de Treecko para que Vulpix pudesse atacá-lo. Ela estava carregando o charcoal que eu recebi como prêmio no torneio de Cinnabar, o que aumenta o poder de fogo dos pokémons que somado ao helping hand de Eevee fortalecia seus ataques ainda mais. Dificilmente Treecko suportaria seu ataque de fogo diretamente. Com isso, facilitaria muito minha vitória.

    - Eevee, shadow ball no Treecko! – disse sem alternativas melhores. Eevee ao menos conseguia acertá-lo.

    - Eeee! – uma esfera negra expandiu-se a frente de Eevee até ser lançada.

    - Treee! – a esfera adquiriu tamanha velocidade que nem permitiu a Zackie ordenar qualquer ação. Treecko rolou pelas folhas secas, atingindo a árvore próxima, fazendo-o ficar desnorteado.

    - Treecko, levante-se! – Zackie parecia aborrecido comigo.

    - Treee! – Treecko tentou se levantar, contudo o golpe fora forte demais.

    - Vulpix, acabe com isso! – disse tentando não me abalar com Zackie. – Ember no Treecko.

    - Eeee. – Eevee aproximou-se de Vulpix para auxiliar o ataque de Vulpix.

    - Vul... – um jato de brasas ardentes foi em direção a Treecko, que abalado com o último ataque recebido nada podia fazer.

    - Treeee! – as brasas queimavam seu corpo frágil para o fogo, rolando inconsciente até recostar em uma árvore.

    - Treecko! – Zackie gritou ao perceber que Treecko já não conseguia mais batalhar. – Ainda tenho como continuar. Kecleon, faint attack no Eevee.

    - Cleoooonnn... – Vários Kecleons surgiam de vários locais, confundindo Eevee. Vulpix com medo, tentou se esconder por baixo de suas patas. Apesar de ter ficado lindinha daquele jeito, era muita imprudência. Vulpix ainda tinha que adquirir experiência em batalha, mas já era um bom começo. Ela estava indo muito bem.

    - Eevee, evasiva! – tentei a sorte. Talvez Eevee conseguisse se esquivar do ataque falsamente múltiplo.

    - Eee. – Eevee saltou para evitar um dos Kecleons, mas o esforço fora inútil. O verdadeiro Kecleon apareceu pelas suas costas esmurrando seu dorso, jogando-o contra a árvore a sua frente.

    - Eevee! – ficara assustada com a violência do impacto. Zackie poderia ter pegado mais leve. Não precisava ter sido tão rude.

    - Foi mal. – Zackie percebeu que exagerara.

    - Eeee! – mesmo com o ataque, Eevee conseguiu se levantar.

    - Eevee, não se esforce demais. – estava preocupada. Eevee não se entregava facilmente. Ele era persistente para conseguir a vitória. Quando batalhei contra o Elekid do Riuji foi difícil convencê-lo de que havíamos perdido. – Você foi muito bem, melhor descansar.

    - Eeeev! – Eevee voltou seu olhar determinado para mim demonstrando seu espírito obstinado e incansável. Ele não sairia dali de pé, somente fora de combate.

    - Está bem Eevee. – disse cedendo. – Use synchronoise, então.

    - Eeee. – ondas psíquicas foram se alastrando pela floresta, adentrado a mente de Kecleon.

    - Keee. – Kecleon foi recuando alguns passos tentando suportar o ataque.

    - Droga. – Zackie sabia que não tinha mais chances de me derrotar. A vitória era minha.

    - Vulpix termine com extrasensory. – Zackie não estava nada satisfeito. Ele não deve ter gostado de eu ter feito tamanho esforço para vencer. Transpareceu que eu não queria nada com ele, mas não era isso. Depois de minha ousadia eu tinha de fazer algo para que ele não pensasse que seria tão fácil, era apenas isso. E também, uma vitória era sempre bem vinda.

    - Vull... – forças ocultas se manifestaram em Kecleon, afetando sua mente.

    - Kee! – a língua de Kecleon estendeu-se pra fora antes dele cair desacordado na grama.

    - Kecleon, Treecko foram muito bem. – Zackie apontou as pokebolas para retornar os pokémons.

    - Eevee, Vulpix! – sai correndo para abraçá-los. – Parabéns!

    - Eee! – Eevee saltitou com extrema elegância, demonstrando sua alegria pela conquista conseguida.

    - Vul? – Vulpix não acreditou que conseguira sua primeira vitória sem levar nenhum golpe.

    - Vocês foram ótimos. – disse pegando suas pokébolas. – Descansem um pouco, porque mais tarde vamos comemorar.

    Eles se empolgaram com a notícia. Os retornei para as respectivas pokébolas guardando-as em seguida na mochila.

    - Zackie. – disse me aproximando dele.

    - Acho que já entendi o recado. – ele tentou se desvencilhar de mim, mas acompanhei seus movimentos.

    - Você não sabe o que eu quero? – disse aproximando meus lábios aos dele.

    Nossos lábios se tocaram suavemente. Meu coração acelerado, pulsante, parecia que ia explodir. Meu corpo debruçou-se ao de Zackie, o calor de nossos corpos circulando de um para o outro. O toque tímido, quase imperceptível arrepiava minha pele. A respiração quente e úmida de Zackie tão próxima a mim. Estávamos intimamente ligados naquele instante.

    - BOOOMMM!!! – uma explosão ao oeste da cidade quebrou nosso momento. Uma nuvem de fumaça era perceptível mesmo de dentro da floresta.

    - Julli! – tentei correr na direção de onde veio à explosão, mas Zackie me segurou.

    Senti uma forte pancada em minha nuca e desabei no chão, inconsciente.









    * Will é um dos membros da Elite dos 4 dos jogos gold, silver, crystal, heartgold e soulsilver, especializado no tipo psíquico.



    No próximo capítulo:

    Spoiler:
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    Mensagem por Mr. Mudkip 24.08.13 17:03

    Pokémon Ree laii [14 +] - Página 2 1zce73t



    Depois de uma eternidade, consegui postar mais um capítulo de Pokémon Ree Laii. Espero que gostem. Comentem e até a próxima!!!



    Capítulo 019 – Acqua X Magma



    SHELLY SIORI

    - Você tem certeza do que tá falando, né pirralho?! – as explosões e gritos me pareciam muito realistas, no entanto esperei a confirmação de sua parte.

    - Estão invadindo a cidade por terra e pelo ar, e provavelmente até pelo mar, mas disso ainda não posso afirmar ao certo. Pelo que vejo, montaram um cerco sobre a primeira ilha. Também vi alguns Charizards, acho que foram ordenados a atacar a cidade. Só podem ser eles! – mesmo assustado, o garoto não ia se enganar. – A Equipe Magma começou a agir.

    - Vou tomar providências. Archie precisa saber disso agora mesmo! – pelo computador, tratei de começar os procedimentos para reunir os membros mais próximos, enviando mensagens criptografadas em caráter de urgência. – Pìrralho! Ouça bem, porque vou falar só uma vez.  

    - Sim, comandante. – o garoto era complicado, ignorando ordens, mas agora eu não deixaria ele se colocar em risco ou nos expor. Era nossa chance de acabar com isso de uma vez.

    - Fique nessa floresta, me ouviu! – talvez se berrasse as ordens, o garoto as acatasse. – Você fica nessa floresta até que eu precise de sua ajuda. Compreendeu?

    - Certo. – ele deixou implícito a sua chateação com a resposta curta.

    - Sobreviva garoto. Isso é uma ordem! – não esperei por resposta. Desliguei o rádio e comecei a vasculhar pelas gavetas do armário por uma maleta preta, há muito esquecida.

    Mesmo sabendo que Archie não iria aprovar minhas atitudes, hoje eu iria fazer tudo ao meu alcance para pegar aquele desgraçado do Maxie. Passara anos no seu encalço agindo em diversas missões para a sua captura, aproximando-me sorrateiramente ou diretamente, para que no fim de tudo, ele escapasse feito água por entre meus dedos.

    - Você vai pagar por tudo, seu maldito! – minha obsessão por vingança juntamente com a incapacidade de conter a raiva, mesmo após tantos anos do acontecido, explodia em berros exaltados. Por mais que Archie tenha tentado, eu não consigo, e na verdade, sei que é impossível perdoar Maxie. Ele iria conhecer as consequências de suas ações sentindo o gosto de seu próprio sangue.

    Encontrei a maleta escondida em um fundo falso na penúltima gaveta. Digitei a senha de acesso sem a mesma destreza de outras épocas, de tantas simulações feitas e refeitas diariamente, para casos como este. Dentro, estavam os restos de um passado ainda muito presente em mim, marcado a fogo por Maxie e a Equipe Magma. – Parece em boas condições. – deslizei os dedos pelo metal frio, percebendo que nem mesmo o rolar do tempo me fez esquecer essa sensação negrume de senti-la em minhas mãos. Acostumara-me ao cheiro de pólvora, marca da morte como Miranda sempre falava. Em grande parte de minha vida foi a minha única companhia e mais uma vez a levaria a um encontro fatal.

    Mesmo que isso possa colocar a perder todo o trabalho de Archie em torno da imagem da Equipe Acqua, alguém teria de sujar as mãos. Archie era um bom líder e certamente a melhor pessoa que conheci, no entanto, se quiséssemos parar a Equipe Magma, eles só poderiam contar com o meu arsenal ao seu lado. – Mas antes...


    JULLIANE CERULE


    - Quem vai querer brincar de treinador comigo? – o homem tirou uma pokebola por debaixo do forro avermelhado presente em seu peitoral. – Hihihi! Aposto que vai proteger a mocinha como o bom rapaz que você é. O heroi, salvador de donzelas indefesas.

    - Ela sabe se virar sozinha. – Isaac só respondeu, embora eu tivesse notado a intenção de também sacar uma pokebola. Ele conteve o impulso, transferindo seu ímpeto para uma frustração contida, demonstrada no pressionar endurecido de seus dedos contra a palma da mão. Pelo visto, o meu estado não era dos mais animadores, completamente atordoada com os gritos de terror vindos da cidade, incapaz de falar qualquer coisa. – Você é quem vai precisar de ajuda. – Com gestos sutis, Isaac tentava recuar, embora não houvesse para onde correr.

    Observei o homem que nos ameaçava. Ele tinha os olhos caídos e enegrecidos, a boca reta e sem vivacidade. O cabelo era amendoado, dispostos em pequenos caracóis nas pontas revoltas. O queixo proeminente evidenciava as queimaduras em seu pescoço. As linhas de expressão marcadas no cenho e em volta dos olhos dava uma aparência mais velha, mas ele não deveria ter mais que vinte anos. Era difícil acreditar que alguém tão jovem estivesse envolvido com tais atrocidades.

    - Torkoal, vamos nos divertir? – ele ignorou Isaac, lançando seu pokémon a campo para forçá-lo a batalhar, mesmo assim, Isaac manteve-se inalterado. Eu não entendia a sua negativa em batalhar, já que se prontificou a minha frente. De qualquer forma o homem iria nos atacar, disso eu não tinha dúvidas. Por precaução, mantive a pokebola de Mudkip a disposição, caso fosse necessário, embora eu soubesse que não conseguiria detê-lo. Mesmo com minha ínfima experiência, eu sabia de alguma forma que aquele homem era perigoso, muito perigoso.

    “Quando desafiar alguém tenha certeza de estar próximo ao seu nível, senão, serão os seus pokémons que sairão machucados. Não espere que sejam bonzinhos contigo só porque é uma garota”.

    As palavras de Zackie sussurraram pela minha cabeça, e acabei por desistir de tentar enfrentá-lo. Começava a compreender a descontentamento de Isaac, de mãos atadas, aguardando que uma pergunta vital fosse respondida. E agora, o que nós faríamos? .

    - TOOOORRRRR! – com um grunhido doído, uma tartaruga de casco negro em formas hexagonais avermelhadas surgiu sobre as pedras rachadas lançando fumaça pelo nariz pequeno e ovalado e também no topo de seu casco petrificado. O chiado que ele produzia, assemelhava-se ao fumegar efervescente de uma chaleira, o que estranhamente me trouxe uma boa lembrança, meio esquecida do passado e acabei por me sentir mais calma.

    Pokémon Ree laii [14 +] - Página 2 324

    A fumaça passou a se propagar em todas as direções, tornando-se mais densa a cada segundo. O cheiro de fuligem e de matéria carbonizada adentrava pelos meus pulmões, criando um formigamento incômodo em meu peito como forma de protesto. Sem conseguir mais aguentar, tapei o rosto, sem melhores alternativas.

    - Fique perto de mim. – eu já não conseguia enxergar mais do que uma sombra do lugar onde Isaac estava. Ele se apoiou em mim, deixando-me de costas para Torkoal. – Estão usando smokescreen para nos confundir.  

    - O que faremos? – segurei nas mãos de Isaac, procurando confortar-me de meus temores.

    As mãos dele estavam suadas e trêmulas. Também havia medo em Isaac, mas ao menos ele conseguia escondê-lo melhor do que eu. Deixar transparecer todas as minhas emoções feito uma criança assustada depois de ouvir histórias de terror não era o que eu tinha em mente. Sempre pensei ser uma pessoa corajosa, capaz de enfrentar o perigo como foi em Fuchsia, só que a cada dia, percebia que eu não era nada do que eu imaginava ser, e sim do que eu gostaria de ser.
     
    - Ainda não sei. – senti sua voz falhar. – Eu não vou colocar meus pokémons nessa confusão. Só isso que eu sei. – o motivo de sua decisão era claro. Não conseguiríamos vencê-lo de qualquer forma.

    - Certo, mas o que faremos então? – as sombras da fumaça cinzenta se dobravam sobre ela mesma, projetando figuras estranhas a minha frente, dentre elas, uma em formas humanas chamou a minha atenção.

    - Eu preciso, tsc... – Isaac pestanejou. – Não acho boa ideia enfrentá-lo.

    A cada segundo a estranha aparição parecia estar mais perto. Num instante, ela lançou uma esfera para o alto transformando-se em um teto negro sobre nossas cabeças. Ela projetava-se como um pássaro bem acima de mim e Isaac, executando pequenos cânticos.

    - AIR SLASH! – a voz me era familiar. Um timbrado doce e responsável. Quase conseguia defini-lo dentro da fumaça densa. Os cabelos esverdeados, a pele bronzeada, o sorriso fácil.

    - Andrei! – a figura sob nossas cabeças lançou uma lufada de ar que se misturou a fumaça, dissipando-a para a atmosfera num turbilhão cego.

    - Tiiiiii! – com o fim da bruma fuliginosa, a verdade se propagou sobre meus olhos marejados. O que eu imaginara ser um pássaro era na verdade uma enorme arraia de escamas prateadas em couraça azul marinho com esferas em alvo no dorso. O majestoso representante dos mares, Mantine.

    Pokémon Ree laii [14 +] - Página 2 226

    - Estão bem? – Andrei se colocou a nossa frente em posição de batalha.

    - Sim, eu só... – contive as palavras. Andrei entendera minha inquietação, mas o momento não era para consolações ou palavras amigas. Tínhamos de vencer este obstáculo, antes de me preocupar em encontrar Isis.

    - Fujam para um lugar seguro. Eu cuido dele! – tentei me mexer, mas não consegui. Isaac relutava. Parecia inconformado com a situação.

    - Temos mais companhia? – o homem beliscou suas próprias queimaduras, esboçando mais uma vez seu sorriso malévolo. – Hum! Parece que eu me enganei. É agora que o heroi aparece, fazendo sua entrada triunfal para salvar as pobres crianças inocentes. Como sou idiota em pensar que um garotinho de cabelos dourados pudesse ser oponente para mim?

    Isaac o fulminou com os olhos.

    - Torrrr... – Torkoal voltou a soltar linhas de fumaça cinzenta de seu nariz ovalado. Divertia-se com a reação de Isaac.

    - Você quer um oponente? – Andrei mantinha a face presa e sem emoção. – Não o terá em mim. Você não passa de um trasgo.

    O homem semicerrou os olhos até compreender que Andrei o lançara uma ofensa. Ele riu, torcendo os ombros para afrouxá-los. Enquanto isso, Mantine se colocou ao meu lado, ressonando seu suave cântico por debaixo de suas enormes barbatanas, tão grandes e acolhedoras, abafando o som das constantes explosões a nossa volta.

    - Você não tem escolha... Andrei? É esse o seu nome? – o homem mordiscou uma unha, cuspindo-a no chão. – Sou Phil, da Equipe Magma. – ele dobrou o corpo em um cumprimento desajeitado. – Hoje, vocês terão o prazer de presenciar o maior terror que vocês poderiam conhecer. Um acontecimento para mudar a história, isso é claro se sobreviverem para ver o que nós preparamos. – ele voltou a escancarar seu sorriso malévolo. – Vocês não me têm como oponente. Andrei, você enfrenta a fúria dos Magma, mesmo se passar por mim, haverá mais e mais, até você e seus amiguinhos caírem.


    ARCHIE II

    - Façam tudo que estiver ao alcance para neutralizar aqueles Charizards. Deem um jeito de pará-los! – ordenei enraivecido para o primeiro pelotão, com a cabeça palpitando incessantemente. Havia sido enganado e levado a uma falsa pista para a Equipe Magma. Por minha culpa, os habitantes da ilha Kin sofreriam por minha incompetência. – E vocês bloqueiem as entradas da ilha. Usem os Sharpedos para vigiá-los, se necessário. Não podemos deixá-los escapar novamente. Isso já foi longe demais. – gritei para o segundo pelotão.

    - Sim senhor. – todos se dispersaram rapidamente.

    - Maldito Maxie! – meu pai não havia sido páreo para as artimanhas dele, mas eu iria achar um jeito de detê-lo. – Onde a Shelly se meteu? – o sumiço dela nunca era bom sinal. O ódio que ela mantinha sobre a Equipe Magma e, principalmente sobre Maxie a cegava. – Não posso deixá-la meter os pés pelas mãos. Ela pode por tudo a perder. – esmurrei a parede, derrubando o quadro de avisos.

    - Senhor Archie, não se exalte assim, não fará bem para sua saúde. – uma voz doce e cálida soou pelo salão. – Iremos pegá-los, não se preocupe.

    - Miria... – vê-la sempre abrandava minha fúria, o mesmo não acontecia com minhas dores de cabeça.  

    - Shelly nunca o decepcionou, e não será agora que começará a fazê-lo. Todos nós temos fé em você e por isso continuamos ao seu lado. – Miranda era a pessoa em que eu mais confiava e nos momentos difíceis sempre achava a coisa certa a dizer.

    - Eu queria saber só uma vez o caminho certo a seguir. Mesmo que vocês depositem toda a sua fé em mim... Miria, eu não sei se conseguirei. Isto já foi longe demais – repousei a cabeça na parede por um instante, ressuscitando velhas lembranças.

    “Era um dia frio e úmido. O vento soprava forte naquele fim de tarde, chapinhando o lamaçal na murada da frente. Chovera muito nos últimos dias e por conta disso, passávamos todo o tempo dentro de casa, aguardando notícias, fossem elas boas ou ruins.  

    - Você disse que eles viriam hoje... Você prometeu, Miria. – Miranda desviou o olhar, incapaz de enfrentar as dores de uma criança com saudades dos pais.

    - A chuva os atrasou um pouco, só isso. Logo estarão aqui. Quem sabe amanhã?

    - Pode ser... – as evasivas de Miranda só pioravam meu ânimo, já castigado pelas constantes tempestades.

    Vivíamos no marasmo, isolados em um casebre velho e frio, sem brinquedos ou distrações. Construído entre duas colinas disformes e um bosque tenebroso, não era o lugar ideal para uma criança. E nesses dias chuvosos, restava-me ficar debruçado na janela frontal, esperando o momento em que eles chegariam.

    - Nyyyte... – pequenos tentáculos gelados grudaram em minha perna, arrepiando-me.

    - Omanyte, hoje eu não estou a fim de brincar. – cruzei os braços sobre as pernas, escondendo o choro.

    - Archie, não desconte sua tristeza nos outros, principalmente em seus pokémons. – Miranda levantou meu rosto e enxugou minhas lágrimas de forma grosseira. – Você está predestinado a ser um líder, deve permanecer forte, jamais demonstrar suas fraquezas ou o peso de seu fardo. Archie, sei que ainda é um menino, mas precisa saber que você terá grandes responsabilidades, guardará segredos terríveis, tomará decisões muito difíceis e algum dia carregará o peso que seus pais suportam e daí entenderá a ausência deles.”


    Sorri para Miranda e ela encarou-me com docilidade, por fim, acabei cedendo ao cansaço e sentei-me na poltrona, observando-a. Naquela época éramos diferentes, nem melhores nem piores, apenas diferentes do que nos tornamos hoje. Endurecidos pela vida, perdemos nossa inocência. Amadurecemos rápido demais e, principalmente Miranda pagou um preço caro demais pelos erros de meus pais.

    O resultado das ações inconsequentes da Equipe Aqua caiu diretamente sobre nós. Pelo bem ou pelo mal, a angústia que me consumia ao vê-la naquela condição transformou-se em uma vontade de ferro, consolidada constantemente por cada ação da Equipe Magma, ao saber que poderia contar com cada uma dessas pessoas para enfim acabar com o terror que eles insistem em espalhar. – Sabe que é só por você que continuo nisso. – sorri procurando retribuir seu carinho. – Eu encontro à força de vontade para seguir em frente, graças a você.

    Se não fosse por ela, eu não conseguiria chegar até esse momento. Minha vida virou de ponta cabeça ao ser incluído nesse jogo sórdido por poder, uma constante exibição de forças, Acqua X Magma, Archie contra Maxie. Eu quebrei a corrente quando assumi o comando, desbaratando a antiga Equipe Aqua e a política de terror em Hoenn. Ao fazer isso eu não esperava as fortes represálias feitas pela Equipe Magma, não da forma que tem acontecido.  

    - Archie. – os olhos de Miranda iluminaram-se ao olhar para mim. – Seus pais teriam muito orgulho da pessoa que você vem se tornando.

    - Miria, não sei o que eu faria sem você por perto. – disse sinceramente.

    - Sou seu braço direito, como você mesmo diz... Isso lá é verdade. – ela virou a cadeira rumando para a saída. – Se por algum infortúnio desta vida você perdê-lo...  – ela fez uma pausa dramática, tão típico dela. – Haverá algumas dificuldades, mas você sobreviverá no final.

    - Acho que você está enganada. – ela parou por um instante e me olhou de soslaio, curiosa como sempre. “Você está mais para o meu coração”, eu quis dizer. – Sem você eu não seria nada. – acabei por afagá-la com uma lisonja, mesmo ela não admitindo expor seus sentimentos. Miranda balançou seu cabelo castanho ondulante e sedoso e saiu empurrando sua cadeira de rodas.

    Levei a mão ao peito, sentindo as batidas descompassadas e furiosas de meu coração. – Apenas ela... Por quê?


    SHELLY SIORI


    - Treze. – uma infestação de vermes rastejantes insistia em aparecer por todos os lados, atrapalhando meus objetivos. – Estou me cansando disso... Droga, estou ficando sem munição. – talvez fosse o momento de recuar e usar meus pokémons. Não estava entre as melhores opções atacar um batalhão de Magmas com minhas armas.

    - Já estou com dezenove, comandante! – Cabeça de Martelo disse em tom de zombaria.

    - Quatorze, quinze! Isso não é uma competição seu idiota. – dois vultos avermelhados caíram à espreita, remexendo-se em pequenos espasmos. – Estas armas de choque nem de longe são o que vocês merecem seus vermes rastejantes! – no último instante, recuei meu ímpeto para não decepcionar Archie, apesar de que os sermões de Phoebe* contribuíram muito para deixar minhas armas esquecidas no fundo do armário. Archie me fez uma promessa e por isso eu tinha de confiar em sua palavra. Dar o benefício da dúvida. Iríamos vencer juntos sem sujar as mãos. – Dezessete!

    - Comandante, precisamos avançar. – Harry era um dos poucos membros remanescentes da antiga formação, de grande experiência em situações como essa. – Maxie deve estar próximo. Eu sinto.

    - Eu sei disso, mas não podemos deixá-los agindo livremente. A Equipe Magma planeja alguma coisa grande. – sinalizei para que avançassem. – Adoraria saber o que é.

    - Se conseguirmos pará-los, poderemos arrancar a verdade da boca deles. – Phoebe deu uma risada transloucada e seguiu adiante.
     
    Faíscas relampejaram pela esquerda, derrubando o último oficial. Com a área finalmente limpa destes vermes rastejantes, peguei o acesso pelas periferias, onde mais oficiais Magma saqueavam os prédios enquanto Slugmas e Numels incendiavam o restante.

    - Onde você se meteu, Maxie! – a localização dele ainda era incerta, mas eu o conhecia bem. Ele não era homem de se esconder por trás de seus subordinados quando armava jogadas grandiosas como essa. Ele estava aqui e eu iria localizá-lo e neutralizá-lo de vez. – Vamos acabar com eles!

    Formávamos um pequeno esquadrão de elite, mas todos sabiam, era eu quem iria pegá-lo hoje. Por enquanto meu pelotão não conseguia quebrar o bloqueio sul e avançar pelas ruas laterais até o centro comercial. A primeira ilha estava infestada de Charizards incendiando tudo que viam pela frente. Pelippers tentavam impedi-los enquanto Lombres, Corphishs, Crawdaunts e Clamperls controlavam o fogo. A floresta de Berry estava protegida por Wailmers e Wailords, caso o fogo se alastrasse. Estávamos bem posicionados e preparados, mas os Magma estavam em maior número.

    - Em frente. – guardei as armas e saquei minha pokebola. – A brincadeira acabou!

    - Fuuu... – um grupo de Charizards sobrevoaram nossas cabeças, pousando mais a frente, descarregando mais oficiais Magma, alçando voo em seguida. Para minha surpresa, Maxie estava entre eles.

    - Maxie, enfim apareceu. – sorri majestosamente, emanando vingança de meu ser. – Foi trabalhoso ter de te caçar neste caos. Pronto para os negócios?

    - Limpem a área. – Harry ordenou para os outros membros. – Mightyena, crunch! – num movimento rápido, Mightyena avançou contra um oficial Magma, derrubando-o nos escombros, desaparecendo na confusão.

    A minha briga era com Maxie. Phoebe, Harry e Cabeça de Martelo dariam conta do recado.  

    Maxie era um homem confiante, o que o tornava descuidado. Em suas missões, ele preferia ficar disperso em algum pelotão, aguardando algum oponente digno de uma batalha. Desprotegido, era assim que ele queria parecer. Contudo, Maxie ainda era muito perigoso. Ardiloso, sempre um passo a frente, mesmo derrotado ele conseguia um modo de escapar.
     
    Maxie sorriu ao ver seus oficiais caírem um a um. Seus olhos flamejantes continuavam frios. Uma combinação tenebrosa. Ele não admitia homens fracos ao seu lado. Não daria clemência a nenhum deles.  

    - Você sempre tão espirituosa, Shelly. – Maxie sacou sua pokébola, pronto para o combate. – Ainda bem que restou alguém de respeito nisso que vocês chamam de Equipe Acqua. – ele balançou a cabeça veementemente. – Que pena. Você seria um grande reforço em meu pequeno grupo, como vê, é difícil encontrar bons subalternos hoje em dia. Pena que você não consegue compreender a beleza de minhas obras.

    - Por entendê-las muito bem é que eu não me interesso. – respondi com a classe que ele não merecia. – Encontrei quem nos guiasse para o caminho certo.

    - Você não pode estar falando daquele molha-fralda insolente. – Maxie debochou. – Archie é apenas uma criança sonhadora, filho de um inútil, que nunca conseguiu nada! – ele irritava-se com uma facilidade impressionante. – Admira-me ele ainda continuar depois de tudo o que houve. Você seria uma escolha muito mais coerente e digna para se superar... Talvez aquela outra garota também, mas Archie não tem a mínima chance contra mim em um confronto direto. Já você Shelly, tem tudo o que falta nele.

    - Mas ele tem o mais importante. – eu peguei minha pokébola, preparada para finalmente acabar com o tormento que insistia em permanecer em minha vida. – Espero que tenha o mínimo de decência e respeite as regras de uma batalha pokémon.

    - Não me faça rir, Shelly. – Maxie coçou a nuca fingindo não ouvir o que eu acabara de falar. – Você nunca foi assim tão inocente. Só garanto que usarei meus pokémons.  

    - Já é alguma coisa. – joguei minha pokébola no ar. – Swampert, acabe com ele.

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    - Swaaaaa! – meu primeiro e melhor pokémon surgiu com voracidade no campo de pedras carbonizadas.

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    - Blaziken, blaze kick! – Maxie lançou sua pokébola já antecipando os movimentos.

    - Blaziii. – o melhor combatente de Maxie, já surgiu despejando chutes flamejantes contra Swampert. Os golpes eram tão potentes que resvalavam em minha direção, forçando-me a desviar. Swampert era extremamente resistente, conseguindo suportar os ataques facilmente.

    - Use muddy water, Swampert! – disse preparada para uma batalha colossal. Os maiores combatentes de cada equipe iriam finalmente medir forças e comprovar quem era o melhor.

    Sob suas patas, Swampert criou uma onda lamacenta em direção a Blaziken que saltou sob o telhado em chamas, evitando que o acertasse.

    - Você pode fazer melhor que isso minha querida. – Maxie queria me provocar e conseguiu.

    Eu estava explodindo em um poço de puro ódio. Ia arrancar aquele sorrisinho da cara dele.

    - Swampert, use aqua tail! – agora iríamos ver se ele conseguiria escapar.

    - Humph! – Maxie balançou a cabeça. – Vai precisar se esforçar mais que isso, Shelly. Onde está aquela mulher perigosa que meus homens falaram? Mostre sua verdadeira face!

    Minha mão ansiava por uma arma de verdade, não essa porcaria de armas de choque inúteis. Cada provocação aumentava a vontade de estourar a cabeça de Maxie em milhões de pedacinhos. Mesmo sem isso, hoje eu iria pegá-lo. Tinha que me lembrar de Archie, do que ele prometeu, não podia matar ninguém da Equipe Magma, nem mesmo ele. Archie me fez jurar, mas Phoebe estava certa, se eu tivesse a oportunidade de matá-lo, faria no mesmo instante, não sou capaz de me conter na presença de Maxie.
     
    - Swarrr! – a água aderiu-se a cauda de Swampert formando pequenas ondas. Ele partiu em direção a Blaziken preparado para a investida.

    Blaziken permanecia sob o telhado, apenas aguardando a chegada de Swampert.

    - Hi jump kick! – Maxie deu um sorriso irônico ao se pronunciar.

    Blaziken saltou e desferiu um chute poderoso em Swampert.

    - CABOOOMMMM!!! – o estrondo causado pelo encontro das duas técnicas foi enorme. Swampert foi lançado contra as construções em chamas, derrubando as paredes fragilizadas pelo incêndio.

    Uma nuvem de poeira construiu-se de imediato, impossibilitando ver o que estava acontecendo. Pedras caíam por todo lado em meio às explosões e já não conseguia escutar muita coisa também. Swampert tentava se livrar dos escombros para voltar à batalha, enquanto Maxie e Blaziken haviam desaparecido. Ele era ardiloso, ele iria se aproveitar da situação, eu tinha certeza.

    - So...r ...m! – pude ouvir a voz entre dentes de Maxie ao longe.

    Algo não se encaixava. À medida que a poeira assentava, uma claridade forte tomava conta do espaço.

    - Isso não! – instintivamente lancei uma pokebola em direção a um brilho crescente. Assim que ela se abriu liberando meu Pokémon, um raio branco e brilhante o golpeou.

    O ataque fez meu pokémon ser puxado pelo raio de luz até acertar Swampert violentamente. O raio dissipou a poeira, permitindo ver o que Maxie tramara contra mim. Ao lado dele, um camelo vermelho com duas corcovas de pedras, semelhantes a dois vulcões ronronava tranquilamente. Mais a frente, Blaziken apresentava cansaço. Provavelmente ele tenha utilizado alguma técnica que extrapolou sua capacidade.

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    - Você não consegue jogar limpo nunca? – disse contrariada.

    - Não leve para o lado pessoal. – ele zombou.

    Observei entre os escombros algumas patas amarelas tentando sair. Se eu não tivesse previsto o que Maxie pretendia, Swampert estaria em sérios apuros.

    - Fez Camerupt lançar um sunny day na surdina, somente para agilizar o solar beam do Blaziken. – Swampert é bastante susceptível a ataques planta. É a única coisa capaz de detê-lo. – Bom, melhor deixar pra lá. – por um segundo havia esquecido contra quem estava lutando. – Acho que agora será uma batalha com dois pokémons. – ironizei.

    Ele concordou com a cabeça.

    Um fio de seda prendeu-se em uma parede, e uma aranha conseguiu se desvencilhar dos destroços, puxando Swampert consigo. Ela destilava fúria de seus olhos.

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    - Ariados, não há perdão para o que eu fiz. – Tive de usá-la como escudo para Swampert. Já perdi as contas de quantas vezes Ariados interceptou ataques do tipo planta para livrá-lo de maiores complicações, mas nunca havia feito dessa forma, pegando-a de surpresa. – Foi necessário.

    - Blaziken, brave bird. – Maxie estava impaciente. – Camerupt. – ele sorriu para ele. – Lava plume, sim.

    - Blazzz. – Blaziken foi envolto por uma aura azulada trepidante como o fogo, abriu os braços e correu em direção a Swampert.

    Estalei os dedos com um sorriso irônico estampado no rosto.

    Já que Maxie não seguia regras, resolvi enfrentá-lo nas mesmas condições.

    Por conhecê-lo bem, eu deveria me preparar para tudo e foi o que eu fiz. Pensando assim, decidi por me precaver com uma pequena armadilha. Com toda a confusão, resolvi camuflar Shelgon entre os escombros para algum momento oportuno. Com Ariados e Swampert em campo, um terceiro elemento poderia enfim acabar com Maxie e seus pokémons.  

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    Ele se revelou no momento exato para bloquear Blaziken. Brave bird é um ataque que dificilmente permite outro pokémon de pará-lo, o que não se aplica muito bem a Shelgon. Blaziken foi surpreendido por Shelgon golpeando-o com violência contra uma coluna de ferro. Interrompendo o ataque de Blaziken, pude me concentrar em Camerupt.

    O dócil Camerupt explodiu em fúria lançando chamas intensas.

    - Muddy water, Swampert! – ordenei.

    - Swarr. – Swampert lançou uma onda de lama apenas para bloquear o ataque de Camerupt, protegendo Ariados. Era o meu modo de pedir desculpas a ela.

    - Fffffff. – o encontro das chamas com a água fez o vapor crescer rapidamente, e criar uma névoa densa e confortante para o calor provocado pelo incêndio.

    - E ainda diz que não aprecia a minha arte. – Maxie disse debochadamente. – Usando de truques sujos para me derrotar, Shelly. Você nunca jogou tão baixo assim, minha querida. Cada vez mais se parece comigo...

    - Não tive escolha. – evitei seu olhar devido à insegurança que começava a sentir. – Não me compare a você.

    - Todos nós temos escolha, Shelly. – Maxie riu diante de minhas incertezas. – Admita. Você sempre preferiu o meu caminho de ódio e vingança. Dois sentimentos que ambos compartilhamos em abundância.

    - Sentimentos que você criou em mim. – o acusei. – Farei você sentir em dobro tudo o que você me fez passar. – será que toda essa fixação por Maxie, estava me fazendo ficar igual a ele? Suas palavras de alguma forma me abalaram.

    - Sentimentalismo não é o seu forte, Shelly. – a névoa dissipou-se e pude ver seus olhos frios, sem vida. – Ainda não conhecia Shelgon. É um pokémon poderoso, digno de você. – ele bocejou um pouco inconformado. – Uma pena, mas não poderei testar suas habilidades hoje. Até a próxima, Shelly, isso se você ainda estiver viva. – ele retornou seus pokémons e deu um breve adeus.

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    Dois Charizards sobrevoaram nossas cabeças, lançando lufadas de ar aumentando as chamas a nosso redor.

    - Mais o que? – meu coração disparou devido à súbita aparição deles.

    Ariados e Swampert aproximaram-se de mim. Estavam preocupados com a minha segurança. Shelgon não conseguia se mover direito, ainda estava baqueado com o ataque de Blaziken.

    - Char! – um dos Charizards retornou cuspindo chamas efervescentes sobre as casas, acelerando a destruição das construções a nossa volta enquanto o outro pousava próximo a Maxie.

    - Onde pensa que vai? – tinha de impedi-lo. – Ariados, sucker punch! – mesmo com minhas ordens, ela manteve-se ao meu lado. Estava preocupada comigo.

    Precisava ao menos descobrir o que Maxie pretendia ao invadir a ilha Kin. Boa coisa não era.

    - Charizard, overheat! – Maxie ordenou ao Charizard que estava sobrevoando ao redor. – Quanto aos outros... Faça o que quiser com eles. Não preciso de mais incompetentes. – Maxie apontou para os seus oficiais caídos. – O meu convidado de honra não apareceu. Talvez o convite tenha extraviado. Quem sabe na próxima? – ele piscou para mim.  

    - De quem você está falando? – saquei a arma e mirei em Maxie. Meus dedos tremiam, jamais fraquejei como agora. O que estava acontecendo comigo?

    - Zaaarrr! – enquanto Maxie subia nas costas de Charizard, o outro lançou labaredas ardentes contra mim e acabei errando o alvo.

    Em uma ação rápida, Swampert bloqueou o ataque com o instinto de me proteger. Algumas fagulhas acertaram a mim e Ariados, sem realmente causar danos.

    - NÃO! – gritei ao ver Swampert cair com queimaduras graves em sua pele escamosa.

    - Swaaa. – Swampert tremia descontroladamente.

    - Swampert, o que você fez? – Maxie estava fugindo. Eu deveria ir atrás dele, era a minha missão, pela promessa a Archie, no entanto, ver Swampert naquele estado, me fez entrar em choque. – Se eu tivesse... – Eu não sou como Maxie. Ou será que sou? As palavras de Maxie me afetaram mais do que eu poderia imaginar. Eu precisava ajudar Swampert, deter Maxie, fazer alguma coisa, mas minha mente estava em colapso. – Maxie, Swampert...

    “- Shelly? – Phoebe gostava de aparecer de surpresa nas sessões de treinamento. Nessas oportunidades tínhamos combates fenomenais.

    - Swampert, vamos mostrar a essa metida do que somos capazes de fazer. – Phoebe era muito respeitada e temida. Um Membro da Elite de Hoenn e minha melhor amiga.

    - Acho que meu Dusknoir vai discordar de vocês... – ela lançou um sorriso meio macabro, que somente ela conseguia fazer.”


    - Aquele dia... Phoebe. – jamais pensei que iria me arrepender por debochar de um ataque de Swampert que teria feito toda a diferença agora. – Protect.  

    - Sheee! – Shelgon rugiu estrondosamente em meus ouvidos me fazendo acordar.

    - Certo, eu... – não era o momento para fraquejar. Peguei o rádio e acessei a frequência de nosso pelotão. – Phoebe está me ouvindo? Câmbio.

    - Sim, câmbio. – ouvi a voz de Phoebe sair um pouco chiada.

    - Maxie fugiu. – a fumaça estava me deixando zonza. – A prioridade agora é controlar o incêndio, câmbio.

    - Certo câmbio – ela respondeu com dureza na voz.

    - Deixo tudo em suas mãos agora, câmbio. – não aguardei o retorno. Desliguei o rádio para começar a preparar os primeiros socorros a Swampert. – Eu não sou como você! – Acima de minha vingança estavam meus pokémons. Ele nunca colocaria algo acima de seus interesses. Em outra oportunidade Maxie iria pagar. Ele e toda a Equipe Magma.



    ARCHIE II


    - Archie? – após um tempo conflituoso sem notícias de Shelly, ela resolveu me contatar pelo rádio. – Está me ouvindo? Câmbio.

    - Onde você se meteu Shelly? Preciso de você aqui, agora! Câmbio. – a cabeça doía incessantemente, mesmo com doses cavalares de remédios e tentativas inúteis de aliviar as dores massageando as têmporas. – Eu dei ordens claras a você!

    - Me perdoe, Archie. – sua voz falhava. Estava aflita.

    - O que houve Shelly? – ela não era do tipo que pedia desculpas.

    - Maxie escapou. – fiquei em silêncio sem saber o que dizer. – Preciso de uma equipe médica. Swampert, ele precisa de ajuda. Por favor, apresse-se.

    - Estamos a caminho Shelly! Qual a sua localização?

    - Já transmiti as coordenadas para Phoebe. Por favor, rápido!

    - Vamos chegar a tempo. – esmurrei a mesa até sentir as mãos formigarem e desabei na cadeira. – Mais uma vez... Maxie... Você só pode ser um monstro... Como consegue dormir a noite depois de fazer isso? – tentei me colocar no lugar de Maxie, compreende-lo, mas nada havia para se entender. Observei as chamas avançarem sobre a ilha Kin em lambidas furiosas consumindo muitos de seus habitantes consigo. Eu era incapaz de desviar o olhar nesse momento. Era minha responsabilidade. – Precisa se concentrar! Seja forte! – esbravejei para mim mesmo. – Seja um líder melhor!



    JULLIANE CERULE



    - Mantine, vamos ensinar o lugar deles! – Andrei não se deixou abater com as ameaças de Phil. – Water pulse! – ordenou com dureza na voz.

    - Tiiiii! – Mantine concentrava uma bolha de água límpida, acima de suas antenas.

    - Rock slide nesses idiotas. – Phil gritou enlouquecidamente.

    - Torkoal!!! – Torkoal bateu os cascos contra o chão, desprendendo vários pedregulhos.

    O clima era diferente de uma batalha pokémon comum. A tensão fluía pelo ar como uma faísca pronta a explodir em tragédia. Uma guerra por nossas vidas iria começar.

    - Isaac, eu estou com medo. – era impossível conter as lágrimas. – Isis... Papai... – segurei a Mystic water nas mãos, tentando controlar os temores cada vez mais crescentes. Ciente do meu descontrole emocional, preferi fugir da única forma que podia, mesmo sabendo que não poderia voltar.

    “Estava sentada na pedreira, apenas a observar a beleza do anoitecer da praia dos tesouros. Esta era uma imagem que gostaria de guardar de minha jornada. Um dia de descanso e diversão aproveitando da companhia de minha nova família.

    - ... – Isis sentou-se ao meu lado, e apenas ficamos ali nos deliciando com a brisa vinda do mar. – Julli? – após um longo período, ela resolveu quebrar o silêncio. – Eu não deveria me meter, mas como eu não quero que tenha qualquer arrependimento no futuro, eu gostaria que você pensasse melhor sobre sua decisão de não participar da Liga Pokémon. – percebi que aquilo também não era fácil para ela. – Pode não ser exatamente o que você procura, eu sei disso, mas você parece tão feliz e entusiasmada quando está com seus pokémons em uma batalha. – ela admirava o céu estrelado e sorri ao ver o brilho particular a se formar em seus olhos. – Existe algo que não sei como explicar... É engraçado como vocês cativam as pessoas a torcerem, a se emocionarem, quererem estar ali batalhando, só pra sentir um pouquinho do que vocês transmitem. Parece bobagem, mas a cada batalha suas, eu quero ver vocês vencendo, mesmo que isso pareça impossível.

    As palavras de Isis, ao mesmo tempo, me confortavam e desconsolavam. Ela estava tentando me ajudar como a boa amiga que era, no entanto eu realmente não desejava ter aquela conversa.

    - Vamos combinar o seguinte. – mesmo sem um retorno de minha parte, Isis continuou. – Eu vou participar dos torneios pokémon e você das batalhas. O que acha disso, hein? È uma boa forma de nos apoiar e vencer as dificuldades que possamos enfrentar. Penelope não para de me cobrar uma posição.

    Para tentar me esquivar, concentrei-me em Mudkip para me distrair de meus próprios pensamentos.  Ele continuava a nadar com Horsea, saltando contra as ondas em um ritmo preciso enquanto Horsea falhava miseravelmente. Mudkip tinha uma vantagem formidável que tornava a disputa desleal entre eles, isso porque sua habilidade em sentir as vibrações a sua volta era muito útil. Isso foi algo que me intrigou quando o conheci e me estimula a aperfeiçoá-la para ver de que maneira ela seria colocada em uma batalha.

    Já estava ficando entediada de observá-los na água e então mirei Natu a pipitar sossegadamente sobre a cabeça de Flaaffy. Ele adormecia com uma facilidade incrível, talvez porque suas habilidades psíquicas exigissem muito dele e trouxesse algum tipo de cansaço mental, deixando-o exausto. Quem diria que um pokémon tão pequeno e frágil como Natu seria um artefato raro a se decifrar. Olhando ele assim, não dá para imaginar que ele contém um poder oculto em seu interior, que se puder ser controlado poderia torná-lo um combatente extraordinário. Eu queria explorar todo esse potencial escondido para que todos saibam que ele é especial.

    Quando eu soube por Isis que ele não é natural da região de Kanto, mas apareceu nos arredores de Pallet por mero acaso, me surgiu à curiosidade em saber como ele veio parar ali distante de Johto ou até mesmo de Hoenn, direto para os meus braços. Seus poderes psíquicos, ao qual eu já havia presenciado a força me salvaram. Se não fosse por ele, o que teria acontecido? Às vezes eu penso que Natu foi enviado especialmente para me proteger, como se alguém estivesse manipulando tudo o que eu fazia. Eu sentia arrepios só de pensar nisso, mas a cada passo que eu dou aumenta essa sensação de que estou sendo seguida.

    Isso começou a ser perceptível quando eu cheguei em Fuchsia. Nesse lugar eu tive a experiência de superar todos os meus limites para salvar os pokémons de um destino cruel. Budew, ah Budew! Doía-me imaginar o que ela sofreu nas mãos daquelas pessoas sem coração. Eu queria recompensá-la com muito amor e carinho, mas fazendo isso eu acabei falhando como treinadora com ela, mas um dia eu sei que ela irá florescer como a mais bela flor.

    E o que dizer da minha precoce pokémon ovelha. Mareep cresceu rapidamente, evoluiu e tornou-se Flaaffy, a coisa mais fofa e graciosa que já vi. Seu espírito livre e tempestuoso, e seu estilo de batalha próprio, fizeram com que eu cedesse as suas técnicas de batalha eficientes.

    Hoje eu vejo que a minha vontade de me aprimorar em conjunto aos meus pokémons é o que me moveu até esse ponto de minha jornada. Mesmo com todos os obstáculos e percalços enfrentados, eu me sinto completa ao lado deles. No fundo, eu sabia que eu estava me acovardando frente às dificuldades que insistiam em crescer e crescer. Eu finalmente estava admitindo a mim mesma que não conseguia lidar com a possibilidade de ser incapaz de vencer e que havia algo muito errado acontecendo.

    Eu queria muito dizer a Isis tudo o que eu estou sentindo, que ela teve uma ótima ideia, mas eu não conseguia.

    - Está bem Julli, não vou mais insistir nisso. – Isis pegou suas coisas e saiu com Vulpix em seu encalço.”


    - Julliane? – meu estômago doía, pressionando minhas vísceras para fora. – Você está bem?

    - Au... – a cena construía-se a floresta destruída. O garoto banhado em sangue, o cheiro de enxofre pelo ar. – Augustus. – disse antes de apagar de vez.

    ”- Preparados? – perguntei a Mudkip, Mareep, Natu e Budew.

    - Mud! – Mudkip esbravejou.

    - ... – Natu olhava fixamente para o horizonte. Não tinha certeza se ele havia escutado o que eu disse.

    - Buuu, buuu. – Budew saltitou impaciente.

    - Mareee... – Mareep balançou sua lã deixando-a ainda mais iluminada.

    - Lá vai. – lancei quatro discos de papel ao céu aberto.

    Rajadas de folhas, água e raios acertaram nos discos com extrema precisão. Um dos discos era comprimido por alguma força oculta até virar uma bola de papel.

    - Muito bem. – felicitei os pokémons por se esforçarem no treinamento. – Acho que estamos prontos para derrotar a Li.

    - Já era hora! – Isis escovava o pelo de Eevee à sombra de uma nogueira. – Vamos comer?

    Todos se animaram com a proposta.

    - Vou procurar alguns gravetos e você vai montando acampamento. – disse retirando duas latas de sopa de legumes e um saco de ração pokémon da mochila.

    - Julli! – Isis me repreendeu.

    - O que? – estranhei sua reação.

    - Acho que já está na hora de você aprender algumas receitas. – ela apoiou-se na árvore para se levantar.

    - Oi? – não estava entendendo.

    - A ração pokémon pode ser boa para iniciantes, por ser mais prática e tal, mas todo bom treinador sabe que a alimentação de seus pokémons deve conter elementos que deem destaque as suas características e melhorem a sua capacidade, e claro, tenha um sabor agradável a eles. – Isis retirou uma sacola de sua mochila e abriu. – Eu preparo uma ração caseira para cada um dos meus pokémons. Para o Eevee eu faço uma mistura mais úmida, com berries frescas e castanhas produzidas em Azalea que dá um sabor mais cítrico a comida e aumenta a luminosidade de seu pelo. Ele adora, não é mesmo, Eevee?

    - Eeeee. – Eevee concordou.

    - Teddiursa gosta muito de doce, por isso eu coloco bastante honey. – Isis continuou. – Para não ficar pobre em nutrientes eu acrescento algumas ervas que acentuam o sabor do honey. Foi complicado encontrar ingredientes que combinassem. Ela não come se não for assim. E olha que com o Larvitar foi ainda mais difícil. – ela levou a mão no rosto. – Tive de conseguir rochas do monte Prata para que ele comesse.

    - Isso parece difícil. – cocei a cabeça.

    - É um pouco sim. – ela riu da minha reação. – Mas eu tive ajuda especializada pra fazer isso. Eu nunca teria conseguido sozinha, e além do mais, depois que você monta a receita fica fácil.

    - Você vai me ajudar então. – intimei Isis.  
     
    - Precisaremos ir até Celadon então, é o lugar mais perto que eu conheço. – ela levantou. – Como eu já disse, eu tive muita ajuda de alguns criadores e coordenadores que conheci lá pra conseguir montar as receitas. Não consigo fazer sozinha. Coitado de nossos pokémons se eles tiverem que ser cobaia nessa experiência.

    - Hahahahaha! – ri só de imaginar. – Você tem toda a razão.”

    - Ela precisa de um médico! – um grito decidido despedaçou minhas lembranças.

    Em seu lugar, um mundo negro e sufocante, pairou a minha volta. Era frio, conseguia sentir pela dor em meus ossos. Eu não ousava me mexer, nem mesmo um milímetro com medo de cair na imensidão daquele lugar. De um tempo que durou uma eternidade, pontos avermelhados começaram a aparecer. Desvanecendo a escuridão, linhas de sangue desenharam formar estranhas no vazio.

    Onde quer que eu me esconda, não é o bastante para me sentir segura. Em que lugar eu estaria protegida?

    [i]“- O crescimento do comércio e o turismo em Johto deveram-se principalmente após a construção do porto em Olivine, permitindo assim, o acesso facilitado entre Kanto e Johto, beneficiando ambas as regiões, diminuindo custos e consolidando a política externa. Os navios cargueiros e os cruzeiros tornaram-se uma alavanca para o crescimento econômico e demográfico de toda a região, representando trinta por cento do capital de giro da região de Johto. – Adele ditava um trecho do capítulo nove do livro de geografia. Lembro que falava sobre os meios de produção, comércio exterior e políticas intervencionistas para o crescimento socioeconômico. Apesar de eu estar prestando atenção na matéria, eu estava chateada com a notícia de que Adele se mudaria.

    - Você ainda vai continuar sendo minha amiga, né? – interrompi os estudos sem cerimônia. Eu queria que nosso último dia juntas fosse diferente, mas minha mãe disse que só depois de revisarmos toda a matéria é que poderíamos ir brincar. – Vamos ser companheiras de jornada como sempre sonhamos... E...

    - Claro. – Adele sorriu amigavelmente, respondendo pela milésima vez.

    - Sempre? – insisti.

    - Sempre. – ela afirmou veementemente. – Agora vamos terminar logo para podermos sair.

    - Ok. – disse com sonoridade tentando parecer mais animada.

    - ...a economia de Kanto já estabilizada com o comércio aquecido em Celadon e Saffron, investiu em um mercado rentável e em amplo crescimento. – minha mãe entrou na sala discretamente com o tradicional lanche de intervalo nos estudos.

    - Não quero atrapalhar. – ela colocou uma bandeja com biscoitos, frutas frescas e leite morno na cômoda ao lado da mesa e saiu apressadamente.

    Sempre dávamos risadas da maneira que minha mãe ficava nervosa para sair sem nos perturbar. Sentiria saudades de nossos momentos. A distância impediria que nossa amizade continuasse a mesma, mas eu sabia dentro de mim que ela seria para sempre minha amiga.

    - Julli, obrigada por estar aqui. – a imagem de Adele começou a se alternar com a de Isis.

    - Julliane Cerule? – ouvi Archie gritar meu nome. – Vim a mando de Andrews Cerule. – ele me encarou com insolência.

    - Posso anotar o seu pedido? – a garçonete com trajes de uma gueixa, pousou seus olhos verde-esmeralda sobre mim esperando que eu me decidisse com o cardápio.

    - Ratatta, use bite. – a menina ordenou seu pokémon a atacar Mudkip. Os treinadores da rota quinze trouxeram batalhas emocionantes a minha jornada. Aperfeiçoamos muitas técnicas nesse lugar.

    - Mamãe, o que aconteceu com você? – sempre fazia a mesma pergunta ao ver aquela foto antiga.


    - Pai! – berrei como se isso tirasse o incômodo em meu coração. – Isis...






    *Phoebe, membro da Elite dos 4 de Hoenn. Especialista em Pokémon Fantasma.



    No próximo capítulo:

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