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    Pokémon Ree laii [14 +]

    Mr. Mudkip
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    Mensagem por Mr. Mudkip 09.03.12 15:31

    Pokémon Ree laii [14 +] 1zce73t


    Reiniciando pokémon ree laii com alterações. Estou reformulando e aos poucos irei postando os capítulos corrigidos e começarei a reescrever de onde parei no capítulo 20. Por enquanto o prólogo.



    Prólogo


    - Os relatórios que solicitou já estão a caminho Doutor Cerule, e... Bem eu não deveria me meter, mas vi que está se alimentando um pouco mal e por isso lhe trouxe um lanche pra repor suas energias. – incapaz de desviar a atenção de minhas últimas descobertas, acabei por demorar demais nestas leituras complexas e ao procurar agradecer o atencioso gesto de minha colaboradora, já me encontro só em meu improvisado escritório.

    As caixas de madeira talhada abarrotadas de livros desgastados decorrentes do uso contínuo, todos amontoados aos equipamentos de mergulho corroídos pela névoa fina, úmida e salgada dificultava a passagem. Uma verdadeira bagunça que somente aos meus olhos me era organizada.

    O ranger das tábuas da escada indicavam movimentação por ali. Havia realmente alguém a pouco, excluindo minhas teorias mirabolantes de loucura iminente. O carpete vermelho carmesim do lugar abafava o som da sala, silenciando os passos de quem adentrasse o local e acabava por ignorar quem vinha até mim, tornando-me arrogante frente às pessoas a minha volta.

    Mas nada poderia ser feito para mudar essa situação criada e confirmada acidentalmente em exaustão, não aqui. A cabine rústica fora propositalmente emudecida a permitir, única e exclusivamente, o som das ondas de encontro ao casco, um pedido pessoal. Uma das minhas paixões era o mar, misterioso e profundo, desde a juventude atiçando-me a desvendar seus segredos ocultos. Era o preço a se pagar por minhas pequenas excentricidades.

    As cortinas aveludadas pesavam e mal se moviam sob a janela de alumínio. Entornada para o exterior, permitia a luz do luar e o vento úmido, gelado e salso adentrarem o local dando a sensação de proximidade com a enseada.

    Bem próximo a mim, o divã em couro bordado a mão fabricado artesanalmente repousava, atraindo-me para seu leito. Apesar da extenuação física e mental, contive meus impulsos focalizando os renques de tinta preta aderidos ao papel amarelado procurando descobrir algo que auxiliasse a localizar certo artefato.

    A chama amarelo-ouro da vela sob o castiçal de cobre trepidava ao sabor do vento dificultando a leitura, em acréscimo, o formigamento em minhas pálpebras de noites a fio, não ajudava. O gerador de energia pifou há cerca de uma semana e agora estávamos ilhados em um cenário paradisíaco repleto de pokémon selvagens, aguardando pela guarda costeira.

    As lentes embaçavam a todo instante, culpa da alta umidade, mas apesar disso, no canto superior esquerdo da página sessenta e dois, um brasão chamou minha atenção. Esmalte em prata, entornado em um escudo lanceolado com partição em asna, de tonalidade sable. Suporte projetando imponentes silhuetas negras de duas morsas com linhas esféricas prateadas no busto, dorso e na cauda, dotadas de presas poderosas, envolvidas em contornos prateados com detalhes acompanhando a coloração da asna nos cantões, esquerdo e direito do chefe, e em destaque, dois ramos prateados simetricamente cravados, em alto relevo, retorcidos ao centro do escudo.

    Frequente em minhas pesquisas, alguns aspectos da heráldica foram necessários para compreender a origem do emblema. Pelas características inusitadas do brasão consegui definir ao menos a que se destinava tal figura. As cores e as representações utilizadas também me ajudaram a revelar dados importantes para assinalar a personalidade de seu detentor. A prata demonstrava a pureza de um coração puro, firmeza, obediência e integridade deste ser, enquanto o preto, a prudência necessária para manter-se em tempos árduos de épocas antigas, rigor, honestidade, certa tristeza por suas perdas pessoais e materiais e astúcia para vencer as dificuldades. As ramas presentes no centro evidenciavam a natureza e a riqueza de suas terras e os suportes nas laterais do escudo, demonstravam a força, a capacidade de proteger e a grandeza dos Walreins. Pokémons aquáticos de extremo poder, ao qual tive o prazer de ver em seu habitat.

    Contudo, essas raras informações ainda não se conectavam a ninguém em específico. Em sete anos, investigando e buscando documentos, dados, relatos ou pistas mergulhando pelos mares de Hoenn, pouco foi descoberto. Permanecia o enigma. A quem ou a quê se destinava tão ornamento? Quem o criou? Quando? Onde? Por quê?

    Questões a serem respondidas, mas sem previsão. Meus devaneios em torno de questionamentos e hipóteses afastaram minha mente, distante, até aqueles que me são caros. Minha família. Duas mulheres a me aguardar ansiosas na cidade onde nasci e cresci e ao qual escolhi como lar para minha filha e esposa. Num estalo, o relatório já se encontrava a mesa, acompanhado de um gélido líquido escuro e amargo e um prato vazio. Decididamente algum pokémon roubara minha comida enquanto eu dormia.

    Raios claros e brilhantes da alvorada inundaram meus olhos, refletindo por entre as lentes, cegando-me momentaneamente.

    Pokémon Ree laii [14 +] 279

    - Peeeliper. – Rondando o navio, revoadas de aves brancas de olhos negros profundos, coloração azul celeste na extremidade das asas achatadas e delgadas, nos pés pequenos e no topo da cabeça, seu bico amarelo em meia lua compondo a maior parte de seu corpo caçavam vorazmente o primeiro lanche do dia, abocanhando enormes quantidades de pescado em um único rasante.

    Pokémon Ree laii [14 +] 278

    - Guuuuuulll. – Entre eles, alguns miúdos pássaros de enormes asas com mesma coloração, mas de bicos finos, longos e de ponta negra e olhos pequenos mirando as águas, tentavam competir pela comida.

    Meu corpo rígido pesava na cadeira. Em conjunto a claridade incomodava a vista cansada de uma noite mal dormida após dias de insônia, aumentando minha irritação. Os óculos na altura do queixo roçavam na barba azul meia noite apertando a maça do rosto. Os cabelos disciplinadamente lisos voltados para trás contrastavam com os meus olhos castanhos, transbordando em sentimentos revolucionários, se encontravam marejados e sujos do recém acordar.

    A calça de linho branco aderiu-se as pernas, impedindo-me de movimentá-las adequadamente, deixando-me aborrecido. Ajeitei a gola da camisa pólo bordô, alisando o tecido procurando remover os amassados sem o mínimo sucesso.

    Aqueci os membros, alongando-os ainda sentado consumindo minhas últimas energias. Levantei-me zonzo, nauseado e com a boca seca sentindo os lábios fendidos. Nem me lembrava à última vez que bebera um pouco de água, talvez fosse melhor começar a montar cronogramas para não esquecer-me de atos simples e vitais como comer.

    Dirigi-me ao pequeno banheiro, lavei o rosto massageando suavemente as têmporas respirando profundamente pelas narinas para tentar aliviar-me do mal-estar. Fitei o espelho. Contornos pálidos, olheiras profundas enegrecidas, cenho trajado por marcas de expressão à pele ensopada e engordurada. Ao enxugar o rosto com uma toalha verde limão, a aparência ainda me parecia desagradável.

    Definitivamente iria tirar o dia de folga. Em breve voltaria para casa rever a família. Ainda que fosse por pouco tempo, menos de uma semana, era o que dava ânimo para continuar. Devia aparentar estar bem ao menos.

    Mirei a baía, admirando a bela paisagem proporcionada pela natureza exuberante de Hoenn, ao qual ainda não havia dado a atenção merecida. O céu límpido com poucas nuvens alegrou meu ânimo de que eu teria um bom dia para descansar. Cerrei os olhos, concentrando-me nos sons emitidos pelo mar. O chiar produzido pelas ondas, à vida em movimento, no ar, na água, na terra, a vegetação esvoaçante dançando aos passos do vento sempre me encantando. Respirei o calor úmido e aconchegante, relaxando cada músculo de meu corpo, liberando a tensão e preenchendo-me de tranquilidade.

    Aos poucos, me é perceptível roncos incomuns para uma região tão inóspita. Em alta velocidade, cerca de quinze jet skis castanho avermelhado entoando rugidos metálicos em meio as engrenagens, rodearam a embarcação, espantando os pássaros para longe dali. Muita movimentação nas cabines e nos corredores, a sensação térmica, antes agradável, aumentava exponencialmente.

    - Revistem tudo! – ordenou uma voz masculina meio rouca, grave entre dentes. – Tragam todos que encontrarem. Andem!

    Calculei minhas opções, observando os arredores. Diversos indivíduos permaneciam aos jet skis em uniformes padronizados com um capuz carmim, luvas e botas como acessórios e espécies de chifres e calças negras. Em destaque, um M estilizado no peitoral.

    - Me encontraram mesmo aqui, só que não conseguirão me pegar.

    Em minhas expedições não costumava levar meus pokémons, permanecíamos incomunicáveis há dias e nesse momento meus colaboradores corriam perigo. Enfrentá-los não seria viável. Procurar ajuda. Improvável nesse cenário quase inabitado. Última alternativa. Improvisar e contar com a sorte.

    Saltei pela janela de encontro ao mar. O choque com as águas foi intenso. Uma queda de três metros comprimiu-me pela dor dilacerante, sugando-me até a superfície. Procurei me recuperar, forçando a musculatura a agir, afundando no denso oceano em direção a praia, lançando mão de minhas últimas forças para escapar da morte.


    Em breve:

    Spoiler:

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    Mensagem por Illidan 10.03.12 21:03

    Ree Laii vai voltar!! Grande notícia, tava lendo a fic, qnd entrei hj pra ler mais um capitulo, n acredite, qnd clicava nos favoritos dizia q a pagina tinha sido removida... entrei no forum pra ver o q tinha acontecido e me deparei com essa noticia!! Estava no capitulo 16, a fic tava mt boa, mas estava um poco decepcionado qnd descobri q tinha parado... estou na espera dos novos capitulos!!!

    ps.: Tem como me passar os capitulos que n consegui ler??
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    Mensagem por Mr. Mudkip 11.03.12 0:09

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    Olá a todos. O primeiro capítulo de Pokémon Ree laii remodelado e acredito esteja bem superior ao original. Espero que gostem.

    Respondendo Illidan: acho melhor não disponibilizar os capítulos pela questão de que estão sendo alterados e poderá haver grandes modificações da história também. Tentarei acrescentar mais explicitamente os personagens e suas características e seu aparecimento no decorrer da história poderá ser feito em outro ponto, por exemplo.



    Capítulo 001 – Olhos verdes



    - Qual a razão para tanta... Água? – ecos recorrentes e indistinguíveis ressoavam em minha mente, impedindo-me de raciocinar. – Não... – aos poucos eu sentia pequenos pontos tocarem em meu corpo. – Isso é chuva? – questionei-me indecisa. – Pode ser. Talvez não... Mas então... O que seria? – tentei abrir os olhos, no entanto fora bloqueada por alguma força sinistra.

    Meus sentidos haviam sido suprimidos, deixando a sensação de inanição completa do meu ser. Minha audição aguçou-se instantaneamente, assimilando o som de chuva permitindo a confirmação de minhas suspeitas.

    Dentre alguns segundos já conseguia definir gotas gélidas respingarem em minhas vestes peroladas, encharcando-as. Imóvel, eu me forçava a agir. Era como se uma cachoeira estivesse desaguando a minha volta, respingando gotas d’água congelantes em mim. Quem quer que fosse a me bloquear, perdia seu controle sobre mim, visto aos meus sentidos irem retornando vagarosamente.

    Enfim estava conseguindo recuperar-me deste estado de inconsciência plena e ver onde eu estava. Minha visão ainda embaçada, não prejudicou muito e pude definir então o piso marfim misturado a um líquido vermelho, sem realmente entender o que se passava ali.

    - Sangue? – sem me importar um líquido escarlate, liberado de meu interior esboçava uma figura por entre as fendas do solo.

    O pavor começava a tomar espaço em minha mente ainda ressurgindo. Apavorada, meu único desejo era desaparecer deste pesadelo.

    - Você é especial. – sorri timidamente com a voz doce.

    - Obrigada. – de maneira automática respondi ternamente o seu elogio.

    Observando as linhas, não compreendia o que aquilo significava. Apenas sentia o desejo incontrolável daquele eu de permanecer ali, eternamente.

    ***

    Arfante e enojada, não conseguia acreditar na volta de tal pesadelo enterrado em meu passado. Queria retirar de mim o que acabara de ver, arrancar sem o mínimo pudor essa lembrança aterrorizante. Sabia que seria impossível. Já ocorrera o mesmo, e não conseguira esquecer. Um único e assombroso pesadelo ocorrido em minha infância, contido bem aqui na memória.

    Logo hoje, nesse dia tão importante. Meu dia perfeito foi arruinado.

    - Seis horas e dois minutos. – grunhi ainda embrulhada na coberta lilás, recuperando-me desta experiência apavorante.

    O despertador não tocara na hora prevista. Estava marcado para as seis em ponto, eu tinha certeza. Estapeei a cômoda procurando o despertador e acabei por derrubá-lo no chão. Ainda sonolenta, busquei motivação para sair da minha cama quentinha e confortável, e enfim me lembrei da razão de acordar no meio da semana de madrugada. Calcei meus chinelos e me dirigi ao corredor escuro. Acendi as luzes do banheiro de ladrilhos verde musgo e tranquei a fechadura dourada, observando quase de imediato o meu visual no enorme espelho anexado a parede.

    Meus cabelos azul aço amarrados em um coque firmado por uma caneta vermelha, que encontrei por acaso na gaveta da cômoda da sala, permanecia intocável. Os olhos cor de água, como um límpido lago, herança de minha avó paterna, estavam areados e avermelhados, mas nada que um pouco de água não curasse. Abri a torneira da pia, limpando a face em movimentos circulares. Meus dedos trêmulos readquiriam o controle lentamente a cada toque em minha pele rósea.

    Puxei alguns lenços umedecidos do pacote sob a bancada, esfregando os poros da testa e nas laterais das narinas avançando até o pescoço. Atirei-os ao lixo, dirigindo-me a ducha. Retirei o pijama, uma camisola branca de algodão com letras estampadas em rosa espalhadas desordenadamente pelo tecido e depositei no cesto de roupas ao lado da toalha verde florida em bordas brancas.

    O banho foi apenas para reavivar corpo e mente para iniciar a minha tão esperada jornada. Não era acostumada a acordar tão cedo, embora gostasse do aroma de orvalho e do brilho suave do sol da manhã, um sopro revigorante sempre presente em Cerulean.

    A temperatura estava estranhamente baixa para esta época do ano, contudo a água saía fervilhante dos orifícios do chuveiro, díspar ao recente pesadelo. Esfreguei a bucha amarela de textura áspera, porém com aroma delicado das flores cheri do meu sabonete preferido aderindo o cheiro doce em minha pele. Após o banho, enxuguei-me a toalha, e voltei ao quarto para colocar as roupas que a vendedora me disse serem ótimas para quem costuma fazer longas viagens, ou começar uma jornada.

    A calça de linho três quartos de tonalidade creme que caiu feito uma luva no meu corpo. Uma camiseta básica de algodão verde água de manga curta bem justa na cintura, incomodando pela pequena saliência insistente em minha barriga e um colete preto em sarja, sem mangas com dois botões frontais e meias brancas combinado ao tênis em fibras de carbono cinza e branco.

    Retirei a caneta do cabelo, penteando-o suavemente. Escovei os dentes, liberando um frescor de menta e voltei ao quarto, peguei a mochila preta em cordura impermeável da prateleira depositando-a sob a cama desarrumada.

    Abri o zíper, confirmando todos os itens.

    - Cantil, saco de dormir compacto, itens de higiene pessoal, dois conjuntos de roupas para ambientes aquáticos e frios, conjunto “Cozinha de acampar” bem aqui, tênis extra, ok. Fones de ouvido, ração para pokémons aquáticos... – conferi item por item. – Minha carteira, pilhas, lanterna resistente multiambientes, certo. Protetor solar fator cinquenta, minha pokegear, óculos escuros e, ah! Um lembrete de “lanche”. – eu realmente havia me esquecido disso.

    Fechei a mochila, andei em círculos pelo quarto guardando em minha mente cada detalhe. O papel de parede branco e verde-limão, com folhas verdejantes dentro de tarjas horizontais decorados antes mesmo de eu pensar em nascer, escolha da minha mãe. A janela de madeira branca e as venezianas em vidro, combinando com o guarda-roupa e a escrivaninha. O computador verde-limão coberto de quinquilharias inúteis, todos presentes de uma velha amiga, lembranças preciosas de minha breve vida. O piso de tábuas corridas recém envernizadas que enfim pararam de esfarelar e liberar poeira pelo meu quarto. As prateleiras lotadas com bonecos de pokémon aquáticos dos locais onde meu pai pesquisava. Da esquerda para a direita um Azurill, o Lotad, dois Shellos, do leste e do oeste, um de cada cor, Qwilfish, Seel, Finneon, Poliwag, Luvdisk e, finalmente Slowpoke. O meu preferido era um Wailmer, que a anos eu utilizava como travesseiro e neste momento repousava na cama.

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    Fechei a porta por trás de mim caminhando até a cozinha para o último café da manhã em companhia de minha mãe, antes de me juntar a um mundo repleto de aventuras incríveis.

    O corredor dava na sala de jantar ligada a cozinha em estilo americano por um arco vistoso, talhado a mão, presente de casamento de um grande amigo do meu pai.

    - Bom dia, mãe. – sorri de orelha a orelha para tentar animá-la. A notícia de que finalmente partiria em minha jornada, não a agradou nem um pouco.

    - Ah, sim querida. Bom dia. – sua voz angustiada, subtendia reprovação. – Tome seu café, você precisa estar forte, sua mãe não estará por perto para cuidar de você a partir de hoje.

    Hoje ela vestia um avental cor de rosa por cima do vestido branco sem adornos.

    - Dona Sunli, não dramatize. – ela nunca quis que eu pusesse os pés fora de casa. Se dependesse dela eu teria sido criada em uma bolha, salva de todos os perigos. – Quem sabe eu consigo me cuidar sozinha. Só poderei saber tentando.

    Ela me jogou um olhar de ressentimento sobre as minhas palavras demonstrando seu rosto para mim.

    Aparentava ser bem mais velha do que realmente era. Agoniada, vivia pelos cantos arrumando os objetos em posições milimetricamente calculadas; demorava horas para limpar a casa e nunca se sentia satisfeita. Pokémons então, estritamente proibidos. Até tocar no assunto, ela se irritava.

    Ela tinha um cabelo lindo e sedoso, mas os escondia, prendendo-os constantemente. Diversos fios brancos começavam a duelar contra o brilho do seu cabelo castanho, fora as manchas abaixo dos olhos pelo choro habitual, deixando um aspecto de degradação em sua face. Chorava muito trancada no banheiro de sua suíte, embora tentasse disfarçar todas às vezes, inventando desculpas esfarrapas, como se eu não pudesse ouvir os soluços por trás da porta.

    Quando mais jovem apresentava vivacidade, seus olhos acobreados brilhavam transmitindo felicidade a todos que se aproximavam dela. Bom, ao menos assim era como meu pai a descrevia. Eu só tinha uma foto para comprovar as palavras dele. Sempre perguntava a ele o porquê de minha mãe ter se tornado tão depressiva, mas ele sempre mudava de assunto e me ignorava solenemente e acabei por desistir.

    - Mãe. – ao vê-la me senti culpada e decidi me retratar – Desculpe-me. Eu queria que ficasse feliz por mim. Sei que quer o meu bem e agradeço só que você precisa relaxar. Está bem.

    - Querida. – ela apertou minhas bochechas carinhosamente. Fazia isso, quando perdoava os meus pequenos deslizes. – Coma logo, tem de pegar o ônibus às sete e meia. Melhor não se atrasar.

    - Verdade! – tasquei-lhe um beijo e sentei-me a mesa sorrindo.

    Ela retribuiu com um sorriso amarelo. Ao menos estava se esforçando e não fez súplicas para continuar em casa, acho que havia dedo do meu pai nisso, mas decidi ficar calada para evitar possíveis reviravoltas.

    Comi calmamente, aproveitando de sua companhia.

    - Obrigado. – agradeci pelo seu empenho em parecer feliz. Levantei e abri a geladeira, procurando uma vasilha com um sanduíche. Não esquecera o lembrete. – Acho que chegou a momento, mamãe. Hora de ir.

    Com lágrimas nos olhos, ela pôde enfim chorar por um motivo plausível. Ela nunca chorava em minha presença, essa era a primeira vez. Abracei-a afetuosamente, sentindo o seu aroma amadeirado. Nunca contei para ela que adorava o seu cheiro. Achei que não era o momento. Não queria chorar também.

    - Minha querida, tome cuidado. – ela olhou em meus olhos e me liberou. Apesar de um ato simples para a maioria das pessoas, senti que ela se esforçou ao máximo para isso. – Me ligue sempre que puder e saiba que estou aqui te esperando. Sempre.

    - Está bem. – sussurrei em seu ouvido – Te amo.

    Dei um último abraço nela, peguei a mochila e me virei para a saída.

    Circundei a maçaneta graçapé, abrindo-me para um mundo de descobertas. Ainda não sabia qual profissão seguir: treinadora, coordenadora, ou outras mais incomuns, apenas sabia que eu estaria envolvida a pokémons. Pokémons aquáticos é claro. Por isso, hoje, no laboratório do professor Carvalho eu iria escolher um Squirtle como inicial.

    Desci pelas escadas de granito, rumo ao portão já aberto, acenando um último adeus a minha mãe.

    O terminal de ônibus ficava a duas quadras; relativamente perto. Caminhei vagarosamente para a direita, virando a esquina. Cerulean era bastante arborizada, as aglaias plantadas paralelamente entre as calçadas exalavam um perfume doce e delicado. Sua fragrância é mais perceptível à noite, embora estivesse particularmente agradável nesta manhã. As flores amarelo-creme combinavam com as folhas verde médio, moldando sua forma as designações da brisa leve. A mais bela cidade de Kanto, com toda certeza. Não por ser a minha cidade, não por isso, era realmente encantador.

    Escorei na pilastra de concreto do ponto de ônibus, sozinha, aguardando ansiosamente a sua chegada para enfim seguir rumo a Pallet.

    - Sete e vinte e três. – disse mentalmente ao olhar para a pokegear. – Os ônibus são extremamente pontuais, então mais sete minutinhos de espera.

    Aproveitei esse período, para ouvir o rádio. Mary falava de fatos curiosos ligados aos pokémons lendários. O Professor Carvalho não estava apresentando o programa hoje, provavelmente estava no laboratório esperando a minha chegada.

    - Canal Pokémon, com uma matéria super especial para vocês. – a voz de Mary sempre chamava atenção. – Vem ai o especial de uma hora, “Os mitos de Johto”. Visitamos as ilhas redemoinho tentando desvendar o segredo por trás das lendas. Não percam, hoje às dezenove horas!

    No horizonte, o ônibus com uma placa eletrônica sinalizando PALLET foi surgindo ao longe. Acenei enquanto guardava a pokegear em minha mochila, atrapalhando-me toda, quase derrubando tudo no chão. Cumprimentei o motorista subindo as escadas adentrando pelo corredor um pouco sem graça. Estranhei as poucas pessoas presentes e concentradas nas poltronas da frente. Decidi pelas poltronas do fundo, não era mesmo muito fã de multidões. A de número quarenta e cinco, na janela foi minha escolha. – assim, poderia aproveitar o tempo observando a paisagem com maior tranquilidade.

    O ronco do motor indicou a partida. Algum tempo depois uma placa arqueada firmada por fibras metálicas na saída da cidade deixava uma mensagem.

    CERULEAN AGRADECE A SUA VISITA. BOA VIAGEM!

    A portinhola se abriu, e o cobrador começou a verificar as passagens. Aos poucos, as construções davam lugar à vegetação rasteira, característica da região. O cobrador veio a mim, redigiu e entregou-me o bilhete da passagem.

    - A estrada principal que dá acesso a Pallet está bloqueada, por isso terá de fazer um percurso a pé. – disse pausadamente quase inaudível. – Como você é a única passageira com destino a cidade... Podemos parar no próximo ponto, caso não queira continuar.

    - O trecho é muito longo? – procurei sondar um pouco.

    - Não, mesmo. Cerca de dez minutos.

    - Então, sem problemas. – guardei o bilhete dentro da carteira, sentindo uma pequena pontada de preguiça ao pensar em andar alguns quilômetros, eliminando-as logo em seguida. Realizar grandes caminhadas se tornaria rotina em minha jornada. Mesmo com o contratempo, eu faria tudo para chegar ao laboratório no horário.

    - Certo. Obrigado por escolher nossa companhia.

    - De nada. – voltei a admirar a paisagem e pude ver alguns pokémons de relance.

    Em alguns minutos, houve a primeira parada, desembarcando um casal em uma estrada de terra batida e a cada parada desciam mais e mais pessoas, e estranhamente ninguém embarcava.

    Um dos últimos passageiros a desembarcar foi uma senhora idosa de cabelos pretos. Usava um xale de lã cor de oliva cobrindo as costas e desceu apoiada por uma bengala metálica ornada de pedras brilhantes e vistosas, em uma elegante estância.

    Em estilo colonial notava-se a imponência da construção. Pintura em areia revestida em granito no baldrame, o piso laminado em carvalho nos dois andares, portas de correr em arco de angelim pedra circundados por duas sacadas frontais em madeira de castanho, um primor de casa. A porta de entrada de angelim pedra almofadada em relevo com dois visores laterais destacando-se das portas da sacada e pelos detalhes. As janelas em arco desenhadas com veneziana pantográfica e roldanas de esfera e trilho de alumínio combinando com o jardim e as árvores próximas do bosque.

    Uma fonte d’água rodeando o jardim central refrescava as flores em intervalos regulares. Algumas plantas próximas as nogueiras dançavam balançando uma espécie de saia de folhas, rodando as flores de pétalas vermelhas em suas cabeças, bastante animadas. Passarinhos de dorso marrom e olhos castanhos envolvidos por um rajado de cor negra nadavam na fonte, roçando o bico nas asas limpando por entre as penas dourado pálido.

    Pokémon Ree laii [14 +] 182Pokémon Ree laii [14 +] 016

    Um garoto recebeu a senhora que acabara de descer. Vestimentas finas, pele clara, longos cabelos dourados alinhados, porte aristocrático, um verdadeiro membro da nobreza.

    Ele mirou-me com seus grandes olhos verdes, suaves e encantadores, atraindo-me silenciosamente. Exuberante, espelhavam os campos mais belos que a natureza poderia criar, transmitindo paz e bonança.

    Conectados, um lago translúcido unia-se a natureza verdejante.

    Inexplicavelmente, sentia-me calma e segura, a inquietação que se ocultava em meu íntimo ao acordar desaparecera. No entanto, em um piscar de olhos, a ligação se desfez.

    O ônibus seguiu caminho deixando-me ressabiada do recente acontecimento. Nunca havia experimentado nada semelhante em meus modestos doze anos de vida. Algo inusitado se sucedeu em um pueril contato visual.


    ***

    O restante do percurso passou num instante.

    - Pode seguir nessa estrada e chegará até Pallet em poucos minutos. – O motorista apontou para uma trilha estreita em meio à mata fechada.

    - Obrigada. – desci as escadas em direção ao caminho indicado em passadas curtas, vasculhando a mochila atrás de minha pokegear.

    - Nove e vinte e três. – O horário estava marcado para as dez, mas meu estômago já estava reclamando por um pouco de comida.

    Andei algum tempo, chegando a uma área aberta, com algumas pedras altas, protegidas pelas árvores; ambiente agradável para uma parada.

    Peguei o sanduíche de mussarela e tomate, abocanhando a parte superior com certa voracidade. Senti uma movimentação entre as pedras. Não me importei.

    Um golpe em minhas pernas me jogou na terra seca.

    - Ai! – gemi ao levantar, espanando a calça suja de areia.

    Uma pequena bola verde com asas ovaladas cor de rosa e amarelo, tracejadas de preto, sustentada por dois pés pequenos agarraram-se ao meu sanduíche, encarando-me com seus olhos negros enigmáticos.

    - Natu. – piou, permanecendo na mesma posição. – Tu.

    - Me devolve! – esbravejando corri em direção ao ladrãozinho de comida.

    Seu bico amarelo começou a brilhar, avançando em meu rosto. Bicadas fortes acertavam o meu crânio, enquanto tentava me proteger com os braços.

    - Para. Socorro! – gritei, dando lufadas no ar para afastá-lo.

    Ele se afugentou em um galho alto, e logo fugiu com o pedaço de pão.

    Abalada, procurei as pedras para descansar e me recuperar, entretanto haviam desaparecido do local. Uma vala era tudo que restava.

    - Péssima ideia comer no meio do nada. Só poderia dar nisso. – falava sozinha tentando arrumar os cabelos engalfinhados. – Huuuuuuu! Bicho idiota. – desabafei irritada com minha própria estupidez.

    Alguns ratos de pelagem arroxeada correram pelo matagal, e achei melhor seguir caminho. Não queria ser atacada novamente por outros pokémons.

    Acalmei-me e continuei por mais alguns minutos até avistar Pallet. Devido ao meu estado lastimável, não consegui me ater aos detalhes e também não havia muito a se dizer. Era uma pequena cidade entre morros e habitações rurais, de um clima ameno e acolhedor.

    Na colina mais alta em meio à vegetação, havia um portal de tijolos empilhados que levava a uma casa de telhado de barro vermelho anexada a um moinho de vento, construído com pedras de calcário. Já havia visto na televisão o laboratório do professor. Com certeza, era ali.

    Preferi dar a volta por fora da cidade. Não queria ninguém olhando o meu estado deplorável. Ainda restava um pouco de orgulho e dignidade após ser aporrinhada por um pássaro minúsculo.

    De maneira furtiva, consegui chegar até o laboratório sem ser vista.

    - Nove e cinquenta e sete. – olhei no visor da pokegear. – Pelo menos não estou atrasada. – tentei encontrar algum ponto positivo das minhas primeiras horas de jornada.

    Tentei melhorar a aparência, não obtendo sucesso. À medida que subia a estrada entre arbustos, tentava bolar uma história para explicar ao professor a condição em que me encontrava e ao qual ele acreditasse.

    Respirei fundo em frente à porta em aço maciço, tomando coragem para tocar a campainha. Alguns silvos agudos atrás da parede lavanda. Uma explosão, muita fumaça e a porta arremessada em minha direção.

    Tudo escureceu de imediato.




    Em breve:

    Spoiler:
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    Mensagem por Mr. Mudkip 14.03.12 21:37

    Pokémon Ree laii [14 +] 1zce73t


    Segundo capítulo de Pokémon Ree laii. Lembrando que as primeiras modificações de Pokémon Ree laii serão menos importantes, mas no decorrer dos capítulos as mudanças irão ser vitais para o desenvolvimento da história, como poderá ser visto no próximo capítulo. Espero que gostem.



    Capítulo 002 – Cadastro


    Ao recobrar parcialmente a consciência, já começo a notar a insistência de alguém em me fazer acordar.

    - Consegue me ouvir? – em meio a devaneios ouço uma voz gentil e polida.

    Ao abrir os olhos, ainda um pouco zonza, dei de encontro a um jovem aparentando uns dezesseis anos, e de súbito acabei gritando escandalosamente sem nenhum motivo plausível.

    - AHHHH! – com o susto, ele se desequilibrou do sofá, caindo perto da mesa de centro.

    - Ai. – ele massageou as costas tentando aliviar as dores do impacto.

    - Me desculpe, eu... – ao tentar ajudá-lo senti o músculo de minha coxa se retorcer dolorosamente, voltando para a mesma posição de imediato.

    - Você está bem? – ele prontamente se levantou e me ajudou a repousar.

    Ao me sentir melhor, ele se afastou, talvez para evitar outra reação aversiva de minha parte, retirando-se da sala destruída, mas retornando em seguida.

    Prestando mais atenção no garoto, ele tinha o cabelo preto sustentado por óculos de aviador de lentes arredondadas escondendo os olhos negros e serenos. Estava usando jaleco branco, uma camiseta de algodão verde água modelo gola em v e uma calça jeans vermelha, e supus pelas roupas que ele usava, de ser um dos colaboradores do professor Carvalho. Ele estava carregando algo, ao qual logo vi ser um kit de primeiros socorros.

    - Melhor tratarmos isso. Posso? – ao tentar levantar senti outra fisgada na coxa direita, forçando a me deitar novamente no sofá de couro sintético cinza fosco com estampas vermelhas.

    - Por favor. – falei lamuriosa.

    - Sinto por isso. – sua expressão demonstrava preocupação. – Isso pode arder um pouco. – ele retirou um frasco laranja da maleta e sacudiu.

    Pegou um chumaço de algodão embebedando em um líquido ocre fétido, passando delicadamente na palma da minha mão esquerda. Segurei a respiração por um instante, a dor se intensificou, cessando em seguida.

    - Acho que isso resolve. – seu timbre de voz era suave e acolhedor.

    - Senti uma pontada na perna. – apontei para o local, felizmente não parecia ser um ferimento grave.

    Ergui a calça empoeirada, evidenciando no local uma vermelhidão leve. Ele pegou uma lata de spray, espirrando o fluido na região lesionada atenuando a dor.

    - Melhorou. – disse sorrindo.

    - Ótimo. – ele sorriu, embora mantivesse o cenho de preocupação. – Só um minuto.

    Guardou os remédios dentro do estojo branco com uma cruz vermelha na superfície, levando-o até a outra sala.

    Enquanto isso eu dei uma olhada pelo cômodo. A sala de estar estava parcialmente destruída; A fuligem e objetos quebrados em todos os cantos tornavam quase impossível se localizar naquela bagunça. Próximo ao hall de entrada, uma cratera destacava-se, deve ter sido uma explosão mais intensa do que eu imaginava. A porta havia sido arrancada e nesse momento me lembrei o que havia me levado a desmaiar.

    O sofá, na verdade era inteiramente vermelho, encoberto pela poeira, enganou-me, me surpreendi pela tela da televisão atravessada por uma estaca metálica, a mesa de centro em estilhaços de vidro e agora tombada pelo garoto de jaleco, revistas, papéis, fios, cabos, parafusos, dentre outras parafernálias espalhadas para todo lado.

    - Tive um pequeno incidente com a máquina de transporte Pokémon. – ele disse ao ver minha curiosidade – Ela sobrecarregou, e tentei levá-la para fora, mas não foi em tempo, embora eu tenha causado alguns acidentes inesperados. – percebi seu olhar de culpa e me prontifiquei a tentar amenizar a situação.

    - Isso acontece com todo mundo, não é mesmo?! – ele riu ao ver minha reação amigável e decidiu por se aproximar de mim. – Você não odeia quando isso acontece?

    - Claro. – ele sentou-se na beirada da poltrona ao lado. – Sou Tracey Sketchit. – ele disse estendendo a mão para mim – Você deve ser a treinadora novata que veio buscar o seu primeiro pokémon, estou certo?

    - Sim. – nos cumprimentamos solenemente. – Julliane Cerule, de Cerulean. Muito prazer.

    - Cerule? – olhou-me intrigado – Por acaso você conhece Andrews Cerule? O renomado cientista especializado em pokémons aquáticos?

    - É o meu pai. – ele ficou admirado e alarmado ao mesmo tempo.

    - Acho que ele poderá ficar um pouco bravo pelo que aconteceu. – ele suspirou com ares de preocupação.

    - Talvez. – era notável o sentimento de culpa de Tracey. – Mas foi um acidente... – não sabia o que falar para amenizar a situação.

    Permanecemos em silêncio por um tempo naquela atmosfera tensa, evitando trocar olhares.

    - Adorei o último artigo que ele escreveu sobre a relação dos pokémons gelo com a água. – Tracey arriscou um recomeço. – Deixe-me lembrar o título. Qual era mesmo? Huummm!

    - “Água, elemento de transformação”. – resolvi falar ao perceber a demora de Tracey em se lembrar.

    - Isso mesmo! Foi incrível. A maneira como ele redigiu o texto, conseguiu captar a essência do estudo em todos os seus aspectos. Além disso, trouxe muitas informações relevantes e pertinentes para nós observadores Pokémon. O retrato detalhado de diversas espécies que vivem em harmonia...

    - Verdade. – acabei por interrompê-lo. Estava um pouco encabulada por não estar tão à vontade com a conversa.

    - Desculpe. Eu costumo me empolgar um pouco ao falar deste universo científico.

    - Não se preocupe. Estou acostumada.

    - Então. – disse constrangido. – Já se sente melhor?

    - Sim. – respondi ao perceber que a dor em minha coxa se esvaíra, permitindo mover a perna mais livremente. – Você por acaso não teria um pano para eu me limpar?

    - Se quiser tomar um banho? – ele sugeriu.

    - Seria bom. – ri para descontrair.

    - Pode vir por aqui, então. – Tracey levantou-se e pediu para acompanhá-lo.

    Próximo a cratera e a escada havia um banheiro em azulejos brancos, o box em vidro temperado exalando um aroma de pinho.

    - Fique a vontade. Vou arrumar isso, pelo menos o que puder. – ele apontou para a bagunça.

    - Certo. – abri minha mochila, retirando minhas roupas extras, enquanto Tracey limpava o sofá com um aspirador de pó portátil.

    ***

    - Estou muito melhor agora. – estava aliviada em retirar toda aquela sujeira do meu corpo, e ainda exalar o aroma delicioso das flores cherry, no entanto, me lembrei de minhas roupas já estarem sujas e estava ciente precisava controlar isso, ou senão ficaria difícil manter-me em jornada.

    - Certo. Se estiver disposta, podemos fazer o seu cadastro. – disse ao nos encontrarmos em uma sala um pouco mais aconchegante.

    - Cadastro? – fiquei desanimada em pensar nesses aspectos burocráticos.

    - É rápido. – Tracey garantiu. – Vamos?

    Balancei a cabeça ao ver que não tinha saída e o segui pela escada. O lugar dava acesso direto ao laboratório do professor. A primeira sala era um mega escritório, continha prateleiras repletas de livros e alguns colaboradores focados nos computadores confirmando seus estudos até então realizados, lançando-os em gráficos e calculando os desvios e estatísticas.

    A outra sala se encontrava fechada e uma placa com os dizeres “somente pessoal autorizado” deixando-me curiosa do que havia atrás daquela porta de tão importante.

    - Julliane, por aqui. – Tracey chamou minha atenção. Eu tinha parado em frente à porta e nem notara.

    - Sim, sim. – caminhei de cabeça baixa, envergonhada.

    Fomos para um corredor espaçoso, adentrando a terceira porta a esquerda. Logo se destacava a tela de computador imensa fixada à parede branca da sala redonda ocupando-a quase toda.

    A mesa em mogno anexada a um teclado complexo repleto de botões e duas cadeiras giratórias de plástico de poliamida reforçada terminava de me causar repúdio. Odiava lugares repletos de tecnologias, principalmente as de última geração.

    - Sente-se. – Tracey ofereceu a cadeira da esquerda.

    - Iaahhh... – soltei um grunhido que aos meus ouvidos soou idiota.

    - Está tudo bem? – ele me encarou com seu cenho de preocupação. – Parece pálida.

    Respirei profundamente e avancei até a cadeira, buscando coragem para ficar ali.

    - Estou ótima. Agradeço a atenção. – sentei-me, evitando aproximações mais intensas com o enorme computador. – Aliás, o professor Carvalho? Irei encontrá-lo depois? – ao menos não iria ter de inventar explicações por chegar estropiada no laboratório.

    - Sinto dizer, mas ele não se encontra em Pallet. – Tracey sibilou digitando no teclado. – Ele teve um compromisso de última hora, mas ele cuidou pessoalmente do seu caso. Ele me passou todas as instruções detalhadamente.

    - Entendo. – disse desanimada pela notícia, mas devido ao alívio ainda repousar em meu peito, deixou a má notícia menos impactante.

    - Podemos começar?

    - Sim. – quanto antes terminasse o tormento melhor. Queria sair correndo daquela sala high tech o mais rápido possível.

    - Nome? – seus dedos tocavam as teclas em uma velocidade incrível, enquanto as palavras surgiam no computador.

    - Julliane Cerule.

    - Idade?

    - Doze anos.

    - Filiação?

    - Andrews Cerule e Sunli di Castel.

    - Naturalidade?

    - Cerulean, região de Kanto.

    Os espaços iam sendo preenchidos com os dados que eu fornecia e enviados a pasta criada com meu nome.

    - Ok. – um papel saía da impressora, enquanto Tracey carregava um aparelho e carimbava algumas folhas e me pediu para assinar nos pontos assinalados por ele.

    No computador surgiu um aviso, encerrando o processo de inscrição.


    Identidade confirmada. Julliane Cerule. N° 389-456-247-62. Ponto F – 51. Setor 7.


    - Aqui está a sua pokédex. – ele me entregou um objeto retangular branco com detalhes em azul. – Neste aparelho, você encontrará diversas informações dos pokémons que avistar ou pegar durante a sua jornada. Acoplado ao software, instalamos informações técnicas dos pokémons que for capturar, além de dados em tempo real dos seus box, inclusive a pokédex funciona como um cartão eletrônico para se registrar em eventos oficiais da liga pokémon, como as competições nos ginásios credenciados e os concursos pokémons, citando claro, os mais populares, mas há várias outras por aí.

    - Certo. – vistoriei o estranho equipamento, e curiosamente não me senti amedrontada pelo aparelho eletrônico.

    Estava ficando ansiosa. O momento para escolher o meu Squirtle estava se aproximando, eu estava sentindo.

    Tracey me entregou um pacote com papel de presente brilhante, e depois voltou a digitar alguma coisa no teclado.

    - Abra. – disse sem olhar para mim.

    - Esta bem.

    Comecei a abrir o embrulho com os dedos trêmulos de excitação, e me deparei com um envelope, um livreto da liga pokémon e uma pokebola dentro de uma caixa de bambu.

    Decidi começar pela carta. Reconheci a caligrafia na mesma hora, ficando emocionada.

    Minha querida,

    infelizmente não pude estar presente neste dia tão especial. Saiba que estou torcendo por você. Sei que se sairá muito bem.

    Com amor,
    Pai

    Sabia que meu pai não iria me decepcionar. Ele prometeu que de alguma forma estaria comigo nesta jornada. Não sabia como, mas agora percebia. A pokebola. Uma compacta esfera vermelha e branca continha o meu aguardado pokémon escolhido por ele.

    Segurei o objeto, acionando pela abertura frontal. Um jato brilhante transformou-se em algo sólido, palpável.

    - Mud. – três barbatanas alaranjadas nas bochechas, corpo pequeno e azulado, nadadeira no topo da cabeça, quatro patinhas gordinhas, graciosos olhos castanhos e uma cauda azul clara, esse era o meu primeiro pokémon.

    Nunca tinha visto um pokémon tão fofo. Na verdade, não conhecia aquele pokémon, mas pouco importava.

    O envolvi em um abraço apertado, rodopiando alegremente pela sala, feito uma louca desvairada.

    - O que? – alguma coisa queria conversar comigo, mas agora eu estava curtindo única e exclusivamente o meu primeiro pokémon.

    - Que coisa mais lindinha. – meus olhos cintilavam como fogos de artifício, iluminando os céus com suas cores vibrantes. Extasiada e completamente satisfeita, era assim que eu me sentia. Melhor do que qualquer sonho, a sensação de ter um pokémon era indescritível.

    - MUD! – uma cabeçada liberou o miúdo pokémon de meus braços e de meus devaneios.

    - Você o estava sufocando. – Tracey riu da situação cômica. – Ele apenas revidou, e com força. Esse baixinho tem presença, sabe se impor.

    - MUD! – o pequenino guinchou contra mim.

    - Às vezes eu tenho esses lapsos de consciência. – pedi desculpas a Tracey e ao pokémon desconhecido, tapando meu nariz dolorido. – Me desculpe, ahn... Eu não sei o nome dele. – eu estava estragando aquele momento.

    - Use a pokédex. – Tracey apontou para o aparelho em cima da cadeira.

    - É mesmo. – falei como se fosse óbvio. Peguei a pokedex e vasculhei de um lado ao outro, sem compreender como ela funcionava.

    - É só direcionar para qualquer pokémon, no caso ele. – Tracey me ajudou ao ver que estava totalmente perdida.

    Fiz o que Tracey me orientou e a pokedex começou a funcionar, falando sem parar. Por impulso, joguei para longe, espatifando no chão.


    Pokémon Ree laii [14 +] 258

    Mudkip, pokémon peixe da lama. Consegue detectar mudanças sutis na água e no ar funcionando como um radar, determinando o que ocorre ao seu redor.

    - Precisa ser mais cuidadosa. – Tracey analisou a pokedex e não viu nenhuma avaria. – É um equipamento caro e muito sensível. É resistente a quedas, mas melhor não abusar.

    - Desculpe, vou me esforçar para mantê-lo longe de perigos. – pensei comigo mesma, que o maior risco seria manter a pokedex em minhas mãos desajeitadas. Peguei a pokedex e guardei na mochila, esperando que no futuro fosse menos desastrada, sem acreditar muito.

    - Kiiiip! – Mudkip bocejou ao se ver ignorado.

    - Você é mesmo extraordinário, Mudkip. – ele me olhou enraivecido provavelmente por ter demorado em dar atenção a ele. – Quer dizer... Perdoe-me pelo meu entusiasmo exagerado. Eu não queria ter feito isso. Gostaria que fôssemos amigos, se você quiser, é claro.

    Ele piscou para mim desanimado, como se não estivesse entendo o que eu dizia. Mexeu a cabeça para o lado e aconchegou-se no chão.

    - Bom. – Tracey pegou minha pokebola, retornando Mudkip e interrompendo a minha desastrosa apresentação. – Você terá muito tempo para conhecê-lo depois. Sinto por apressá-la, mas outro treinador virá buscar seu pokémon em breve. Devido o acidente, demoramos bem mais do que o normal para atendê-la. – ele assinalou para me sentar novamente. – Seu pai nos enviou esta caixa há três dias com recomendações específicas para você. Ele disse que ficaria feliz com o pokémon que ele escolheu e pediu para cancelar o pedido dos iniciais de Kanto.

    - Não importa. Eu adorei essa coisa fofucha. Não troco por nada. – falei apressadamente, esquecendo-me da tartaruga tão sonhada. – Vou me esforçar para conquistá-lo.

    - Espero que consiga. Mas o melhor nessa nova empreitada é aproveitar a convivência com os seus novos companheiros pokémon e todas as pessoas que encontrará por suas andanças. Desculpe-me pelo ocorrido e boa sorte em sua jornada. – disse depositando a pokébola em minhas mãos. – Desejo sucesso.

    - Obrigado e não se preocupe. – expus os meus sentimentos de forma clara para que desaparecesse sua expressão preocupada. – São essas vivências que tornam a vida interessante. Poucos treinadores começaram sua jornada dessa forma meio explosiva, e além do mais, acho que combina comigo.

    - É verdade. – ele riu amavelmente. – Se ainda tiver dúvidas de que carreira irá seguir, creio firmemente em uma. Você seria bem sucedida como uma observadora pokémon, tem perspicácia e um ótimo senso de humor.

    - Quem sabe? Vamos ver até onde o acaso pode nos levar... – agradeci o conselho e avancei pelo corredor em direção a saída, contornando cuidadosamente pela cratera, acenando um breve adeus.

    - Julliane, espere! – Tracey gritou correndo até mim. – Esqueci de passar o número de contato com o laboratório para esclarecermos qualquer dúvida que possa ter e algumas pokebolas extras para pegar alguns pokémons, é claro. Não se esqueça de enfraquecê-los primeiro, ok.

    - Ah, sim. – peguei na mochila a pokegear e guardei as cinco pokebolas. – Pode me passar.

    Ele passou o telefone e se despediu novamente.

    - Boa viagem! – Tracey brandiu fortemente com os braços enquanto uma mariposa, um rato ou coelho azul de orelhas enormes, eu não sei ao certo, e um gafanhoto verde com foices em vez de patas se aproximaram dele. – Boa sorte.

    - Obrigada. – gritei descendo pela colina verdejante onde finalmente começaria minha jornada.

    ***

    Me permiti almoçar em um pequeno restaurante na rua principal de Pallet antes de sair por aí sem rumo, afinal meu lanche fora surrupiado e estava na hora do almoço. Estava faminta.

    O lugar era agradável, a comida bem temperada e o atendimento formidável. Ao ir ao caixa pagar a conta, um panfleto sobre a bancada me chamou a atenção. Grand Circo Fogo Vermelho*. Um enorme lagarto vermelho de asas cuspia fogo pela boca no formato de uma tenda, caminhando por um vulcão expelindo lava. Bastante intenso.

    - Ah, vejo que ficou interessada com o circo? – disse a jovem do caixa, mascando um chiclete. – Pena que ele já partiu.

    - Humm. – entreguei o dinheiro em suas mãos. – Deve ter sido incrível.

    - Foi muito emocionante. – ela devolveu o troco, enquanto eu guardava na carteira. – Os pokémons fizeram apresentações lindíssimas e algumas arriscadas também. Eu adoro tudo que envolva esse universo, sabe. E... Me responde uma coisinha? – ela me encarou pensativa envolvendo os cabelos loiros encaracolados na altura dos ombros entre os dedos, destacando os seus olhos cor de avelã. – Nunca te vi por essas bandas. Você é treinadora, não é?

    - Acho que sim. – disse desconcertada, sem saber bem o que eu era.

    - Tá afim de uma batalha? – a menina espalmou as mãos sobre a bancada.

    - Agora? – fiquei surpresa com a proposta direta.

    - Sim. – disse mascando o chiclete sem parar. – Topa?

    - Tudo bem, eu acho.

    Ela saltou do balcão, mostrando sua calça de listras horizontais amarelas e azuis, uma blusa de algodão branca de renda e um avental branco do restaurante.

    - Venha por aqui. – ela indicou os fundos do restaurante. – Podemos batalhar no gramado. O meu chefe não se importa, até gosta de um bom duelo. Uma batalha de um contra um, valendo uma potion? – ainda estava nervosa com a rapidez em que me vi envolvida em uma batalha pokémon. – A propósito, me chamo Moira.

    - Julliane. Ok. – aprovei sua proposta e me posicionei do outro lado, quase a imitando. – Será minha primeira batalha. – desabafei.

    - Que bom. – ela deu pulinhos de satisfação. – Você deu muita sorte. Eu também sou novata e estou tentando melhorar. Será uma ajuda mútua.

    - Então vamos começar? – eu disse mais aliviada de não ser a única inexperiente.

    - Você primeiro. – ela cedeu a dianteira para me dar certa vantagem.

    - Obrigada. – lancei a pokebola ao campo. – Mudkip, vai!

    - Arrase meowth. – Moira jogou a pokebola simultaneamente.

    Pokémon Ree laii [14 +] 052

    Dois jatos brilhantes se transformaram em dois adoráveis pokémon. Um elegante gato dourado pálido de rabo marrom em forma de caracol lambia sua pata direita lustrando insistentemente com a esquerda uma jóia dourada no topo de sua cabeça. Seus olhos grandes astutos não eram muito convidativos. Já o pequenino Mudkip sentou-se na grama alta bocejante. Demonstrava tédio e preguiça.

    - Scratch! – a garota gritou e o gato mostrou as garras cortando a grama ao seu redor, comprovando como estavam afiadas.

    - Miau! – o gato miou ferozmente mirando a face de Mudkip.

    - Saia daí. – berrei desesperada.

    - Kip. – ele rolou pelo matagal escapando do ataque.

    - Use é... Mud-slap! – mais tranquila consegui ordenar um ataque, relembrando a lista de ataques da pokédex. – E... Vamos ver... Evite ser acertado por essas garras, Mudkip. Pode ser perigoso. Está bem.

    - Growl. – embalou a garota assim que terminei de falar. Percebi que deveria ser mais breve em minhas ordens.

    O bichano miou alto zunindo em meu ouvido; Mudkip parecia acuado, mas ainda continuava com ar de desânimo. Ele jogou a cauda contra o chão jogando terra nos olhos de Meowth.

    - Miaaaaaaaa. – ele esfregou os olhos desnorteado. – Niarrrrrrrr. – rugiu raivoso, ameaçando com suas presas.

    - Use bite! – a garota proferiu balançando seu cabelo freneticamente.

    Suas presas ficaram mais evidentes focalizando o abdômen de Mudkip.

    - Mudkip, tackle. – a adrenalina percorria todo o meu corpo, alertando meus instintos.

    Ele arremessou o corpo na face de Meowth, nocauteando-o. Mudkip aterrissou no gramado olhando para mim balançando a cauda de um lado ao outro.

    - Parece que você ganhou. – a garota retornou o seu pokémon e aproximou-se de mim com um frasco nas mãos. – Acredito que isso seja seu agora.

    Aceitei a potion, grata pela experiência. Minha primeira batalha e minha primeira vitória.

    - Foi uma ótima luta – eu disse sem esconder minha alegria. – Seu Meowth deu trabalho.

    - Ah, que isso. Seu Mudkip que é demais. Além de ser muito raro nessa região. – ela mantinha o ritmo frenético ao mascar o chiclete. – Pode falar, essa não é sua primeira batalha, né? Você foi muito bem, garota.

    - Acabei de conhecê-lo. Hihihi! – ela não ficou convencida. – Falando nisso. – agachei-me próximo a Mudkip acariciando suas bochechas alaranjadas e pontiagudas. – Você é mais incrível do que eu imaginava.

    - Mud. – ele sorriu para mim animado lambendo a minha mão machucada. Tão rápido e ele já mudara de opinião sobre mim?

    - Isso faz cócegas, hahahahaha! – sentei ao chão para brincar um pouco com o meu primeiro companheiro. Comemorar pela vitória, nos conhecer, passar o máximo de tempo ao lado de Mudkip, o meu primeiro de muitos pokémons. Não iria desperdiçar, demorou tanto para estar com ele e tornar o sonho realidade.

    ***

    - E ai Mudkip? – coloquei a tigela no chão com um pouco de ração. – Está com fome?

    Ele aproximou-se, observou a vasilha, meio desconfiado, cheirou a comida, deu voltas até se certificar da ração ser dele.

    - Pode comer... – empurrei a tigela para perto dele.

    - Mud! – ele grunhiu pela minha atitude.

    Desisti de apressá-lo. Olhei para os lados. Campos verdejantes a sumir de vista e montanhas ao longe.

    - Melhor me sentar. – espreguicei-me e vi Mudkip ainda sem comer. – Talvez se eu tirar uma soneca é capaz de ele ainda nem ter começado.

    Escorei na placa da trilha indicando a Rota 1, aguardando Mudkip finalmente decidir por se alimentar. Estava quente e não poderíamos ficar ali por muito mais tempo ou eu não aguentaria andar longas distâncias. Tinha de moderar o esforço físico também, alternando as caminhadas com algumas paradas, pelo menos no começo.

    - Speeee! – um pequeno pardal de olhar furioso pousou próximo a Mudkip.

    Pela atitude pouco amistosa, cheguei a pensar que ele atacaria Mudkip. Felizmente eu estava enganada. Tive a impressão de estarem se comunicando, apesar de achar que ele não pode me compreender, deixou-me frustrada.

    Lembrei da pokedex e direcionei para o pokémon pássaro, esperando não me assustar de novo.

    Pokémon Ree laii [14 +] 021

    Spearow, pokémon pequeno pardal. Territorialistas, atacam outros pokémons e seres humanos que invadem seu território.

    - Melhor não me envolver. – permaneci embaixo da placa, observando Mudkip dividir sua ração com o pokémon selvagem. – Ai, que lindo. – quase fui até lá só para abraçá-lo por seu gesto. – Hum, melhor não. – o resultado do último abraço ainda sentia no meu nariz.

    Esperei eles repartirem a comida e o pokémon voar pelos céus rapidamente.

    - Enfim terminou, Mudkip. – acariciei sua barbatana e peguei sua pokebola. – Hora de retornar. Temos uma longa viagem.

    - Kip... – ele bocejou sonolento.

    - Bom descanso. – disse apertando a pokebola e sugando-o para o seu interior. – E eu, hora de andar...

    ***

    As árvores agora faziam sombra para mim, protegendo-me do sol forte. Escorada em um carvalho vistoso, eu observava as nuvens, me sentindo como elas após conseguir minha primeira conquista, mesmo a insistente falta de apetite de Mudkip não abalou esse sentimento.

    Fiz uma pausa para repor as energias. Tinha andado um bom trecho nesse clima fervilhante até o meu limite.

    Agora folheava o livreto da liga pokémon analisando algumas possibilidades. Já tinha feito isso, mas não conseguia me decidir por qual profissão seguir. Todas me pareciam extremamente importantes para liberar todo o potencial de um pokémon e de seu treinador, coordenador, criador, observador, e outras tantas profissões incríveis.

    Sabendo que não iria progredir em minhas escolhas agora, eu aproveitei para traçar uma rota no mapa da pokegear.

    - Quem sabe por aqui fique melhor. – indiquei uma rota mais curta.

    - Na... – um pio espalhava-se pelas copas como em um estúdio acústico.

    - Esse som não me é estranho. – levantei com cuidado e receio.

    Olhos enigmáticos pousaram a minha frente. Senti um misto de raiva e satisfação. Raiva do ser que roubara minha comida a pouco e me deixara como um farrapo humano. Satisfação de poder acertar as contas com a ave verde em forma de bola.

    - Você voltou. – disse maliciosamente. – Só que desta vez, eu vou conhecer meu inimigo.

    Apontei a pokedex em sua direção para saber contra o quê eu iria batalhar.


    Pokémon Ree laii [14 +] 177

    Natu, pokémon pequeno pássaro. Por possuir asas muito pequenas não consegue voar e geralmente busca comida no chão, mas salta grandes alturas para fazerem ninhos mais seguros. Seus olhos sempre estão apreciando algo.

    - Veio me roubar de novo? Perdeu seu tempo, não tenho mais sanduiches pra você apanhar, só tenho isso! – peguei minha pokebola liberando um entediado pokémon.

    - Muuuuuuuuuuuuud. – ele bocejou sonolento.

    - Tackle. – vi seu olhar de chateação por perturbá-lo.

    Mudkip estava desanimado.

    - Natuuuuu. – o passarinho ao perceber o início da batalha avançou em Mudkip bicando as suas barbatanas.

    - Mudkip use tackle. – insisti no ataque e ele enfim acatou a ordem. Bateu a cauda na asa direita de Natu jogando-o nas rochas incrustadas ao carvalho. – Isso aí! – extravasei por poder revidar do acontecido pela manhã.

    Natu ergueu-se voltando a bicar o pobre Mudkip. Ele parecia cansado. A luta anterior poderia tê-lo esgotado as forças, certamente não estava acostumado com o ritmo das batalhas e eu forçando-o.

    - Mudkip, coragem. – disse animadamente.

    Ele sem ânimo espirrou água pela boca em alta pressão. Acertou o pássaro derrubando-o novamente, desmaiando.

    - Isso! – joguei uma das pokebolas que Tracey me deu, sugando Natu para o seu interior.

    A pokebola começou a se mover piscando em intervalos regulares, cessando após um tempo. Um estouro ao longe espantou Mudkip, fazendo-o se acolher a mim.

    - Tudo bem, tudo bem. – segurei em meus braços o seu pequeno corpo azul tremulante. – O que será que aconteceu? – boa coisa não era. Disso eu tinha certeza.

    Peguei a pokebola com o pequeno pássaro trapaceiro, guardando em minha mochila; levei-a as costas indo para o local onde ocorreu a detonação.

    Em passos acelerados em meio à floresta, cheguei a uma clareira ofegando e com o suor escorrendo pela minha testa. Galhos arrancados, vegetação torrada, um riacho enlameado e um garoto ensanguentado ao centro. Senti minha espinha congelar. Tapei os olhos de Mudkip, regressando-o a pokebola. Não queria que ele visse tamanha violência. Nem eu queria ver, mas eu não tinha escolha.

    Andei alguns passos em direção ao centro, cambaleante e sem direção. Fui forçada a ajoelhar na grama chamuscada, minhas pernas tremiam incontrolavelmente e eu não conseguia me acalmar. Soluçando em meio ao suor frio, lancei o conteúdo de minhas entranhas para fora.

    Lágrimas escorriam descontroladamente de meus olhos cor de água. Vacilante, o meu corpo entorpecido diante de tamanha atrocidade tinha que ajudar aquele pobre garoto.

    - Vai! – arfei pesadamente ao morder o lábio inferior, liberando um filete de sangue.

    Consegui controlar meus movimentos, contudo não sabia o que poderia fazer. Vi o sangue fresco misturando-se a terra batida, tornando-se vermelho escarlate e eu me perguntava do fundo do meu ser se poderia ajudá-lo. – Se... rá?




    * O termo dado ao circo, Fogo vermelho refere-se ao jogo Pokémon Firered, reversão do clássico Pokémon Red



    Em breve:

    Spoiler:


    Última edição por Mr. Mudkip em 08.03.13 22:15, editado 2 vez(es)
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    Mensagem por Mr. Mudkip 18.03.12 18:56

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    Terceiro capítulo corrigido... Em breve os novos capítulos reformulados. Até breve!



    Capítulo 003 – Ponte dos bicicleteiros



    - ...Hum. – estiquei o braço trêmulo rumo ao corpo ensanguentado sentindo o desespero crescer ao estar presenciando algo tão assustador.

    - O que houve aqui? – alguém se aproximou pelos arredores. Surpreso, ele permaneceu contra a luz, obscuro e impossível de saber quem era. – Vocês estão bem? – disse uma voz rude e ríspida.

    O jovem estava próximo ao riacho e caminhou vagarosamente observando cautelosamente a cena. Certamente a explosão também o tenha levado até ali e provavelmente assim como eu, desejava não mais estar.

    Aparentava ter a mesma idade que eu, não sei bem, afinal meus ânimos alterados enfraqueciam minha sobriedade e capacidade perceptiva a níveis baixíssimos.

    - Ele... Rrrrrrrrrrssss. – novas lágrimas caíam e não conseguia mais falar. – Eeeeuuu.

    - Não se preocupe. – ao ver meu desespero, ele resolveu me amparar, embora não me convencesse de ser uma atitude honesta e verdadeira. Jogou água sobre o corpo inerte e escarlate, lavando o corpo sem nenhuma lesão visível. – Nem sei. Bem, algo ou alguma coisa... – ele estava tentando deduzir as ações que levaram até esse momento, ignorando-me. – Ele vai ficar bem, ao menos. – ele deu um sorriso irônico ou minha confusão mental me fez imaginar? – Vai saber como ele vai estar quando acordar, mas fisicamente ele está ótimo.

    - Pode me ajudar? – um pouco mais calma, enxuguei meu rosto e sem temores rastejei até o corpo inerte.

    - Não – ele falou simplesmente. – Vou largar de perder tempo aqui. – ele sumiu por entre as árvores, sem ao menos se despedir.

    Estava pasma com o estilo grosseiro do garoto. Via-se nele um caráter agressivo e hostil, indo contra a sua fisionomia calma e relaxada. O cabelo azul petróleo, por alguma razão me lembrou o meu pai, os olhos negros cintilando em esferas vítreas acastanhadas, a pele clara, levemente corada, feições formosas e os contornos do rosto bem definidos, não poderia negar, ele tinha certo encanto, ao qual era inútil frente a tanta animosidade.

    - Melhor me concentrar. – voltei a minha atenção ao garoto desmaiado, ajudando-o a se recompor.

    Ao mover seu corpo, o sangue foi se misturando a água enlameada lavando a pele do jovem desacordado. As lágrimas voltaram a cair, mas agora de felicidade por nada ter ocorrido com o garoto. O único dilema a permanecer em minha cabeça era o que teria se passado neste local.

    Esforcei-me para tirar o garoto dali. Seu corpo pesava, mas consegui arrastá-lo para longe do riacho. Retirei suas vestes lavando-as na água que ainda estava límpida. O sangue ainda estava fresco facilitando sua retirada diluindo-se completamente.

    O cheiro de sangue adentrava pelos meus pulmões penetrando de forma profunda em minha mente. Os segundos passavam e aos poucos não me encontrava mais na floresta danificada. O piso de pedras cor de marfim construía-se instantaneamente, pilastras arqueadas surgiam ao meu redor em meio à chuva de uma noite fria. Minha mente se fechou e voltou à realidade.

    Levei às mãos a cabeça, temendo estar ficando louca. Olhei o garoto seminu ainda desacordado e decidi esquecer esse pequeno surto por enquanto para ajudá-lo. Seu cabelo ruivo avermelhado embaraçava-se a grama amarelada, o maxilar corpulento sujo de lodo, as maçãs do rosto vívidas apesar de continuar inconsciente, seu aspecto de frieza ao mesmo tempo abrasador me afetando de alguma forma.

    Recolhi suas roupas para vesti-lo, e comecei a preparar uma fogueira para montar acampamento. Iria ficar ao seu lado até que ele acordasse e estivesse bem.


    ***

    O céu azul e iluminado desaparecia aos poucos, restando apenas o brilho da lua cheia nesta noite silenciosa. A brasa queimava os galhos de madeira já chamuscados, cozinhando algumas hortaliças que encontrei próximo a nascente do riacho. O garoto repousava em meu saco de dormir, enquanto me aquecia próximo ao fogo.

    Liberei Mudkip e Natu para me fazerem companhia oferecendo um pouco de ração pokémon para eles. Natu não aprovou deixando de lado, subindo em um galho baixo para observar a atmosfera noturna enquanto Mudkip se deliciava entupindo-se de comida.

    - Vai com calma. – pisquei para o pequenino comilão e aproximei-me de Natu. – Olha Natu. Nós vamos ter de dividir a comida, já esperava que não fosse comer essa ração. – afinal é específica para pokémons aquáticos, pensei comigo mesma – Sei que começamos mal... Apesar dos últimos acontecimentos, quero ser sua amiga.

    - Na... – Natu chiou olhando fixamente para a fogueira.

    Não sabia se ele tinha percebido o que tinha dito. Entender os pokémons era mais difícil do que eu imaginava.

    - Natu, quando eu falar você pode ao menos confirmar? – queria criar uma estratégia para podermos nos comunicar. – Balançar a cabeça uma vez para sim, e duas para não, ou quem sabe...

    - Acha mesmo que conseguirá falar com um pokémon? – uma voz grave soou atrás de mim, interrompendo minha tentativa, talvez inútil, mas eu tinha o direito de tentar qualquer coisa. – Está perdendo seu tempo, garota.

    - Se você acha? – segui em sua direção ficando cara a cara. Seu rosto contorcia-se contra as sombras da fogueira, embora seus olhos cor de fogo se destacassem feito dois meteoros incandescentes. – Quando eu te perguntar você fala. Devia me agradecer por ter te achado e tomado conta até que acordasse.

    - Não pedi que me ajudasse. – ele disse olhando para o vazio. – Você poderia ter seguido em frente. Não tinha obrigação de cuidar de mim. Fez porque quis. – não poderia argumentar quanto a isso.

    - Como se eu fosse fazer isso. – disse irritada por ser incapaz de contrapor. – Eu sou humana e jamais deixaria alguém daquele jeito. Não conseguiria mais dormir se tivesse abandonado você a própria sorte. – me virei para que ele não visse as lágrimas caírem. – Fiquei desesperada ao ver você todo ensanguentado, se não fosse aquele garoto desaforado, eu ainda estaria em choque.

    - Eu não faço ideia do que está falando. – ele evitou o assunto.

    - Agora me explica o que aconteceu aqui e não finge que não sabe de nada. – em meu íntimo não gostaria de saber o que houve. – Algo de muito grave... E eu nem posso, ou melhor, quero imaginar o que se passou.

    Não conseguiria tocá-lo. Se fizesse isso ele desmoronaria na minha frente, como um frágil cristal ao espatifar-se no chão. Minhas palavras afetaram-no, e eu estava piorando seu estado. Quem sabe fosse melhor deixá-lo em paz.

    - Como você mesmo acabou de dizer, esqueça. – ele saiu do saco de dormir e foi se aquecer perto da fogueira. – Pode continuar no seu caminho. Não quero ser um estorvo pra ninguém.

    Mudkip irritou-se com a atitude displicente do garoto, jorrando água nele.

    - Mande esse bicho parar. – falou berrando. – Porcaria de pokémons aquáticos.

    - Muito bem Mudkip. – eu não poderia tocá-lo antes, mas um banho de água fria o fortaleceu e agora não hesitaria em lhe dar um tabefe.

    - Vejo que os pombinhos estão se dando bem. – o garoto de cabelos azuis e de caráter agressivo surgiu por entre os cedros.

    - Agora não. – gritei aborrecida. – Achei que não voltaria a vê-lo.

    - Infelizmente, pra você eu voltei. – ele estalou os dedos e apontou em minha direção.

    - Poderia ter ido sem olhar para trás. – eu normalmente era mais educada com os outros, ainda mais quando acabo de conhecer, no entanto esses dois garotos não mereciam que eu gastasse minha gentileza com eles. – Para onde estava indo mesmo com tanta pressa?

    - Eu estava procurando rastros para pegar o desgraçado que causou essa situação. Eles poderiam estar por perto, mas não encontrei nada. – o garoto disse rispidamente, liberando seus pokémons em seguida. – Zubat, Squirtle descansem.

    Meus olhos brilharam animadamente esquecendo-me dos garotos, observando os dois pokémons. A tartaruga azul clara de olhos grandes e bondosos se abrigou dentro de seu casco sem ao menos nos cumprimentar, deveria ter aprendido com seu treinador. O morcego sem olhos, com suas orelhas roxas e boca enormes virou de ponta cabeça num galho alto, envolvendo-se em suas asas azul escuras.

    Apontei a pokedex para coletar informações sobre eles.


    Pokémon Ree laii [14 +] 041

    Zubat, pokémon morcego. Emite ondas ultra-sônicas de sua boca para se localizar no ambiente.

    Pokémon Ree laii [14 +] 007

    Squirtle, pokémon pequena tartaruga. Quando ameaçado se esconde em seu casco, atirando jatos de água poderosos em seus inimigos.


    - Seus pokémons são lindos. – disse sorridente. – Eu iria pegar um Squirtle hoje sabe, mas consegui um companheiro incrível, presente de meu pai.

    Quando percebi, os garotos estavam se engalfinhando no chão duro. Eu era um pouco avoada, contudo não esperava que eles fossem se atracar.

    - PAREM AGORA! – um soco levou o garoto de cabelos ruivos ao chão.

    - Esse imbecil me atacou. – disse o garoto desaforado ajeitando-se. – Eu queria algumas informações. Ai. – guinchou ao alongar o braço. – Ele é muito esquentadinho, esse seu namorado.

    - Não somos namorados! – dissemos ao mesmo tempo.

    Em seguida o garoto ruivo se afastou.

    - Está bem. – ele riu diante de nossa negação contundente. – Sei que não vão se importar de eu dormir aqui, então. – ele começou a comer os legumes tostados próximo a fogueira.

    - Acho que vou sim. – concentrei toda a minha irritação no tom de voz. – Por mim os dois poderiam ir embora. Eu e meus pokémons não precisamos de vocês. E essa comida é minha! – disse arrancando de suas mãos.

    - Assim vai ficar gorda pra sempre. – meus nervos ferveram nesse momento.

    - Gorda vai ficar a sua cara quando eu acabar com essa sua pose. – me posicionei para a batalha. – Natu, prepare-se.

    - Está nervosinha. – disse levantando-se. – Certo, mas se eu ganhar... Vou ficar.

    Ele piscou em sinal de deboche.

    - Feito. – disse decidida.

    Natu deu um salto a minha frente abanando suas pequenas asas.

    - Até que você tem personalidade. – ele falou coçando a testa. – Não costumo me apresentar, mas meu nome é Zackie. Qual o ar de sua graça, aprendiz de Wailord? – ele riu de sua própria piada infame.

    Ouvi uma risadinha contida do garoto ruivo, ao qual fez aumentar o arrependimento de ter aparecido nesta clareira.

    - A gracinha aqui, não vai te dar esse prazer. – ele estava brincando comigo. – Natu, peck.

    Zackie era insuportável. Como eu fui conhecer alguém tão arrogante e petulante e logo no meu primeiro dia de jornada? Nada saiu como eu sonhei ou planejei. Uma soma de imprevistos e situações extraordinárias e terríveis.

    - Squirtle, headbutt. – o casco se moveu numa velocidade excepcional em direção ao Natu, e no último instante acertou uma cabeçada, abatendo-o com um único golpe. – Acho que eu vou ficar.

    Já terminara?

    - O que... – eu ficara em choque.

    Zackie sentou-se próximo a fogueira alimentando-se com o meu jantar. – Quando desafiar alguém tenha certeza de estar próximo ao seu nível, senão, serão os seus pokémons que sairão machucados. Não espere que sejam bonzinhos contigo só porque é uma garota.

    - Não enche. – ainda queria dar uma lição naquele garoto, mas meu nível não era o bastante, precisava melhorar muito caso quisesse derrotá-lo. – Natu, você está bem! – corri para socorrê-lo.

    Natu piscou com seus olhos enigmáticos, parecia ótimo. Pousou em meus ombros acariciando meus cabelos azulados com seu bico amarelo. Apesar de não conseguir interpretar os meus pokémons, eles conseguiam me entender.

    Mesmo odiando-o profundamente, tive de reconhecer. Zackie teve ao menos uma atitude digna ao não tripudiar em cima de minha inexperiência através dos meus pokémons.

    - Natu, vamos comer? – cochichei indo em direção a fogueira. Mudkip ronronava tranquilamente após comer a tigela toda. Era difícil agradá-lo, mais cedo não queria comer e agora quase teve uma indigestão por exagerar na comida. Fica feliz, triste, preguiçoso quase que ao mesmo tempo. Natu era mais estável. – Antes que ele acabe com tudo.

    Natu pipitou alegremente.

    - Estou te fazendo um favor... – mal conseguia falar com a boca cheia. – Não quer ficar gorda, quer?

    - De novo com isso. – respirei fundo tentando controlar os meus impulsos. – Quem vai ficar gordo é você se continuar a comer desse jeito.

    - Vocês poderiam conversar um pouco mais baixo. – o garoto ruivo estava escorado ao cedro, possivelmente se preparando para dormir. Sua presença era quase imperceptível.

    - Se me disser o seu nome, sim. – disse sem rodeios.

    O silêncio se instaurou. Aos poucos, o som da floresta ia entoando seus hinos, as folhas se tocando entremeadas pelo vento, pios de corujas, seres rastejantes abaixo da terra, insetos caçando suas presas e se tornando presas de pokémons mais fortes, a vida em movimento.

    Ao som da floresta, pesei o meu primeiro dia de jornada. Estava sendo de fortes emoções. Um menino loiro de olhos verdes que mexeu comigo de uma forma inusitada. Um garoto ruivo que não iria abrir a boca para me contar com o quê ele se meteu, e ainda apareceu um desaforado, o único ao qual conhecia a identidade, no entanto não queria sequer saber que existia.

    Dois maravilhosos pokémons, um fofucho de barbatanas alaranjadas e uma bolinha verde indecifrável. Minha primeira batalha. Minha primeira vitória.

    Retornei meus pokémons às pokebolas e me recolhi no saco de dormir, procurando explicações para meus recentes lapsos da realidade. Sangue. Algo me dizia que o meu pesadelo e a visão estavam relacionados a isso. Algum tipo de alucinação que poderá abalar a minha sanidade e o pior é que eu não tenho resistência mental para aguentar essa provação. Entre divagações, acabei adormecendo.

    ***

    Os primeiros raios de sol surgiam por entre as folhas, incomodando minhas vistas. O cantar dos pássaros ordenados como em uma orquestra, o cheiro da relva fresca e o som da água em contato com as pedras animaram o meu coração atormentado.

    O garoto ruivo continuava no mesmo local. Não aparentava um sono tranquilo, demonstrado pelo seu cenho enrugado. Percebi que ele não carregava uma mochila, embora soubesse que não iria revelar nada para mim, fiquei tentada a descobrir um pouco sobre ele.
    Comecei a guardar os materiais e notei a ausência de Zackie. Não poderia comemorar. Ele poderia voltar para comentar sobre a minha condição física.

    - Hora de levantar. – disse para o garoto ruivo.

    Ele se espreguiçou esfregando os olhos em seguida. Mesmo após dormir durante a tarde de ontem e a noite, aparentava exaustão.

    - Para onde pretende seguir? – não acreditava que fosse me dizer.

    - Ainda não sei. – disse em tom um abatido. – Provavelmente irei para Fuchsia. É a cidade mais próxima.

    - Como assim? – peguei minha pokegear, procurando o mapa. – A cidade mais próxima é Pewter.

    - Você não tem senso de direção. – disse apontando para a direita. – Eu estava vindo pelo leste. Cinco horas de caminhada e estamos na ponte.

    - Ponte? – disse confusa.

    - Ponte dos bicicleteiros. – falou erguendo-se. – Se não sabe, fizeram uma junção com a ponte que une Celadon a Fuchsia para Pallet. Esta região ficava muito isolada. Isso facilita a movimentação pela região.

    - Certo, eu sabia sim. – eu só achava que ainda estava em construção. – Então vamos. – pus a mochila nas costas e me dirigi para onde o garoto assinalou.

    - Garota, nós temos de esperar. – disse jogando água sobre a face.

    - Por quê? – dei a volta no próprio eixo.

    - Zackie, por isso.

    - Ele que vá sozinho depois. – voltei a caminhar em direção a ponte.

    - Bbbbbbbbbbbbbbbbbbbzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz. – um enxame de abelhas amarelo-mostarda enormes passou a minha frente. Apresentavam brocas em vez de patas, seu tórax listrado conectado as patas em v e ao ferrão venenoso, olhos vermelhos luminosos emanando fúria. Apesar de quase me chocar com algum deles, não se importaram com a minha presença.

    - Isso foi por um triz. – disse aliviada. – Ainda bem que nada de pior ocorreu.

    - Não é um comportamento normal de Beedrills. – disse observando o céu. – Bom. Já que não quer esperá-lo vamos seguir em frente.

    - Seria maravilhoso não ter de revê-lo. – pensei comigo mesma.

    - Bbbbbbbbbbbzzzzzzzzzzz. – o barulho era próximo.

    Furtivamente por entre as árvores, um Beedrill se encontrava ao chão, bastante ferido.

    - Não se aproxime. – o garoto ruivo me puxou para trás. – Eles podem ser perigosos.

    - Me solta. – me desvencilhei dele indo em direção ao pokémon.

    Quando me aproximei, ele tentou se erguer e me golpear com suas brocas, entretanto, devido ao seu estado lastimável nada conseguiu fazer. Tirei de minha mochila a potion que consegui em minha primeira batalha e borrifei em suas lesões. Instantaneamente, os danos sofridos diminuíram.

    - Ótimo. – disse tentando acalmar o pokémon de natureza furiosa. – Em breve ficará bem.

    Afastei-me dele permitindo que sossegasse. Não parecia gostar de humanos. Aproveitei para coletar informações sobre este pokémon.


    Pokémon Ree laii [14 +] 015

    Beedrill, pokémon abelha. São extremamente territorialistas, atacando com seus poderosos ferrões venenosos quem se atreve a invadir seu ninho.

    Percebi que nada mais poderia fazer e fui embora.

    - Não deveria ter feito isso. Foi muito arriscado.

    - Eu não pedi a sua opinião. – prossegui. – Se você quer continuar ocultando o que aconteceu com você eu não me importo, mas não se meta nas minhas decisões.

    - Ok, não digo mais nada. – disse me seguindo.

    - Melhor mesmo.

    ***

    Andamos por algumas horas em meio à floresta densa e verdejante, até chegarmos à praia. O som das ondas era agradável, mas a areia fofa incomodava. A cada passo minhas meias abarrotavam-se de flocos de areia, pesando os meus pés.

    - Agora seguimos por aqui e chegaremos à entrada da ponte. – o garoto ruivo disse logo a minha frente.

    - Certo. Huu. Huu. – o ar úmido incomodava para falar. – Finalmente. – eu sabia que seria difícil nos primeiros dias, mas não tanto. – Como conseguem andar tanto? Estou muito cansada.

    - Rapidamente você se acostuma. – ele me respondeu serenamente com seu tom de voz grave. – No início também achei difícil.

    - Você começou como treinador é? – perguntei ao ver que ele abaixou a guarda.

    - Não quero falar sobre isso. – ele voltou a se fechar.

    - Ok. – disse frustrada. Não consegui arrancar nem o nome dele. – Que calor! – esbravejei.

    O sol do meio-dia estava extremamente forte sob nossas cabeças. O suor escorria da nuca me obrigando a amarrar o cabelo em um rabo de cavalo, com o meu rabicó mocassim.

    - Vamos parar um pouco. – disse bufando. – Podíamos nadar um pouco para espantar o calor. – o mar estava tão convidativo esbanjando frescor.

    - Estamos quase chegando. – o garoto se virou para mim extremamente cansado. – Há um centro pokémon na entrada para podermos descansar.

    - Está bem. – disse contrariada.

    Percebi um pequenino caranguejo de carapaça laranja na parte superior e creme na inferior que procurava se esconder do sol, cavando um buraco e montando uma barricada. Ele espalhava bolhas na areia para umedecê-la, permitindo moldá-la com suas pinças. Apontei a pokedex para saber que pokémon era aquele.


    Pokémon Ree laii [14 +] 098

    Krabby, pokémon caranguejo. Suas garras mantêm o equilíbrio de seu corpo, permitindo se locomover de lado, além de serem extremamente poderosas.

    - Ele é tão gracioso, não é mesmo. – disse mais animada. – Até os pokémons estão querendo fugir desse calor.

    O garoto ruivo não me respondeu, continuando sua caminhada. Permaneci em silêncio o resto do caminho, imitando-o para ele ver como sua atitude irrita.

    ***

    Meus pés doíam após tanto tempo de caminhada. Precisava melhorar o meu rendimento se quisesse continuar em minha jornada. Talvez um treinamento fosse necessário para adquirir mais fôlego e energia. Enquanto resmungava comigo mesma, a ponte ia surgindo no horizonte. Um alívio.

    As pilastras de concreto armadas com vigas metálicas acobreadas sustentavam a pista exclusiva para ciclistas que continuava até perder de vista. Os fios de aço prendiam e asseguravam estabilidade, para as pessoas circularem por ali. O terreno fora aterrado com rochas de calcário permitindo a construção do centro pokémon e do terminal na areia da praia. Era bem maior que o centro pokémon de Cerulean. Com seus três andares, um jardim formidável e uma clarabóia que ostentava toda a extensão, o centro pokémon trazia sofisticação e modernidade ao local.

    Adentramos o lugar, atravessando a porta automática de vidro temperado. O piso era carmim carnáceo e não apresentava depressões, sendo uniformemente delineado. A parede verde claro suavizava a visão após um longo período exposto a luz forte, os telões cheio de notícias referentes à liga pokémon, eram disputados pelos treinadores que não sossegavam.

    - Por favor, estamos em um hospital. – apesar de estar repreendendo os baderneiros, sua voz era doce e amável. – Tenham um pouco de respeito com os pokémons doentes. Eles precisam de silêncio.

    A multidão ressentida aquietou-se.

    A mulher era linda. Seu rosto emanava gentileza e bondade.

    Ela vestia um vestido rosa claro curto de manga balão, um avental branco prendido em um laço em suas costas, os cabelos rosados amarrados em dois tufos ovalados e um chapéu identificando sua profissão. Enfermeira. Estranho dizer que ela era idêntica a enfermeira Joy de Cerulean.

    Ela se pôs atrás do balcão de atendimento, anotando algo em uma caderneta.

    - Boa tarde. – disse extenuada.

    - Boa tarde. – a mulher disse gentilmente. – Seja bem vinda ao centro pokémon. Em que posso ajudar?

    - Gostaria que desse uma olhada em meus pokémons. – coloquei duas pokébolas em uma bandeja branca com espaço para seis lugares.

    - Claro. – sorriu antes de sair.

    Seu sorriso era encantador, serena, transmitia paz ao ambiente.

    O garoto ruivo se instalou no sofá de couro cor de vinho aguardando o meu atendimento. Seu olhar era vago, melancólico. Em alguns momentos acreditava estar só, sua presença era como de um objeto inanimado, sem vida.

    - Seus pokémons estão em bom estado. – ouvi a doce voz novamente. – Volte sempre!

    - Ah, sim. – disse distraída. – Por acaso você foi transferida de Cerulean, eu já te vi trabalhando no centro pokémon de lá.

    - Não, ela é minha prima. – riu amavelmente. – As pessoas sempre perguntam algo do tipo.

    - Ok. – disse guardando as pokebolas. – Obrigada.

    Sentei ao lado do garoto ruivo procurando descansar as pernas. Os tendões do calcanhar friccionavam gerando latejamento na panturrilha. O clima estava agradável graças ao ar condicionado, mas meu estômago reclamava, ronronando a todo instante.

    - Vamos comer? – olhei a placa no teto indicando que o restaurante ficava no fim do corredor principal. – Estou faminta.

    - Certo. – disse sem ânimo.

    Pedimos o prato principal e um suco de iapapa berry para mim.

    - Julliane Cerule, acho que já era hora de me apresentar. – disse o mais gentil que pude, mas não se comparava a enfermeira Joy. – Nós não começamos muito bem, não é mesmo?

    Ele evitou o meu olhar remexendo os guardanapos da mesa.

    - Ora, vamos! – procurei ser franca. – Eu não mordo. Pode dizer.

    - Augustus. – pigarreou sem jeito.

    - Olha. – disse mais animada. – Desculpe o que disse antes, Augustus. Não deveria me meter na sua vida, mas diante das circunstâncias eu acabei sendo indelicada.

    - Não se preocupe. – ele continuava a brincar com os guardanapos. – Talvez eu também fizesse o mesmo, afinal, era uma situação no mínimo desconfortável.

    O garçom chegou colocando os pratos a mesa e o meu suco. O cheiro estava maravilhoso. Tasquei um cogumelo, uma de minhas comidas prediletas.

    - Isso está divino. – falei com a boca cheia.

    Augustus riu sem jeito. Fiquei sem graça, tampando a boca com as mãos.

    - Não se preocupe. – ele colocou bastante de arroz integral na boca. – Viu? – disse com a boca abarrotada.

    - Ai que nojo! – disse rindo. – Para com isso.

    - Hahahahaha! – acabamos dando risada ao resto do almoço.

    ***

    - Então você não escolheu uma profissão para seguir? – disse Augustus com sua voz grave.

    - É. – aderi balbuciando. – Ainda tenho dúvidas, mas com certeza os pokémons estarão envolvidos em tudo o que eu fizer.

    - Porque não entra na competição da liga pokémon? – Augustus sugeriu algo que me interessou. – É a maneira mais rápida de ganhar experiência e conhecer as diversas profissões existentes.

    - Até que não é uma má ideia.

    Estávamos na sala de convivência, nos conhecendo, ou melhor, apenas ele fazia as perguntas. Pelo menos começávamos a avançar em nosso diálogo. Ainda me sentia conversando com uma quase existência, apesar de que a cada segundo reacendia a chama da vida em seu interior.

    - O cadastro é feito com a enfermeira Joy pela sua pokedex. Você tem uma né?

    - Tenho. – peguei em minha mochila. – Então vou fazer isso agora mesmo. – levantei do sofá de couro cor de vinho, e me dirigi à recepção. – Até mais.

    - Até. – Augustus acenou brevemente.

    Caminhei pelo corredor e ao me virar dei de cara com um homem enorme, um pouco acima do peso, careca, os olhos pretos e pequenos, um cavanhaque esverdeado e alguns dentes de ouro reluzentes. Vestia um macacão cor de terra e uma camisa verde militar, e botas de couro até os joelhos.

    - Está bem garotinha? – disse o senhor com sua voz fina, mas firme.

    - Estou. – achei estranho um homem daquele tamanho com uma voz tão aguda. – Desculpe por isso.

    - Poderia se desculpar batalhando comigo. – disse sorridente, destacando ainda mais os seus dentes de metal amarelo.

    - Porque não? – disse quase que espontaneamente.

    - Meu nome é As. – disse dando as mãos para me cumprimentar.

    - Julliane, prazer. – suas mãos eram enormes comparadas as minhas, apesar disso eram delicadas e macias.

    - Vamos para o último andar então? – falou caminhando para o elevador. – Os campos de batalha ficam lá.

    - Está bem. – disse seguindo com ele pelo corredor.

    - Eu sou jardineiro aqui do centro pokémon. – disse satisfeito, enquanto subíamos para o terceiro andar.

    - Você faz um ótimo trabalho. – sorri para ele. – O jardim é magnífico.

    - Oh. Obrigado! – disse envergonhado. – Não conseguiria sem o meu parceiro.

    As portas se abriram em um pátio com três campos de batalha profissional. A clarabóia permitia uma intensidade de luz agradável e acolhedora aquecendo o instinto de batalha dos treinadores que ali estavam.

    Uma batalha ocorria naquele instante. Dois insetos; uma larva castanha com um pequeno chifre no topo da cabeça e um ferrão na cauda; o nariz e os pés circulares cor de rosa e o outro, uma lagarta verde com marcas de anéis amarelos nas laterais do corpo e em destaque uma antena laranja brilhante em sua cabeça. Se digladiavam em uma batalha de insetos muito emocionante.

    - Use bug bite. – o treinador da lagarta verde ordenou seu pokémon a agir.

    Ele avançou contra a larva castanha preparando um bote.

    - String shot, agora. – a treinadora da larva castanha também se prontificou.

    Ele liberou teias esbranquiçadas abaixo de seu nariz rosado, prendendo a lagarta verde e impedindo os seus movimentos.

    - Acabe com ele. – a treinadora ordenou. – Poison sting.

    A larva castanha golpeou a lagarta verde com seu chifre no topo da cabeça, acabando com a batalha.

    - A vencedora é Lilia. – o juiz da batalha anunciou.

    Aproveitei para coletar informações sobre os pokemons. Primeiramente para a larva castanha.


    Pokémon Ree laii [14 +] 013

    Weedle, pokémon larva. Ele come o seu peso em folhas a cada dia. Sua principal defesa consiste no ferrão que possui no topo da cabeça.

    Agora para a lagarta verde.

    Pokémon Ree laii [14 +] 010

    Caterpie, pokémon pequena lagarta. Quando ameaçado libera um odor desagradável de suas antenas para afastar os predadores.

    - Interessante. – disse enquanto me dirigia para o meu lado do campo.

    - Preparada? – As falou animadamente.

    - Sim.

    - Uma batalha de um contra um, sem limites de tempo. – O juiz ditou as regras.

    - Natu a batalha. – joguei a pokébola ao campo liberando a pequena ave verde em forma de bola.

    - Naaaaaa... – seus olhos enigmáticos se concentraram no cavanhaque de As.

    - Doduo, vai. – de dentro da pokébola uma ave de duas cabeças veio a campo.

    - Dodiiiiii. – as cabeças se acariciaram bondosamente.

    Seus pescoços eram negros e conectavam-se ao corpo marrom. Suas garras e bicos eram bastante afiados. Apesar de ser uma ave, não possuía asas.

    Novamente utilizei a pokedex para conhecer um pouco mais sobre o pokémon a minha frente.


    Pokémon Ree laii [14 +] 084

    Doduo, pokémon ave de duas cabeças. As cabeças se alternam para dormir. Enquanto uma descansa a outra fica alerta. Não voa muito bem, mas compensa com sua alta velocidade.

    Guardei o aparelho preparando-me para a batalha.

    - Quick attack! – ordenou As.

    - Natu, peck. – disse decidida.

    Doduo pareceu desaparecer por um instante, contudo reapareceu golpeando Natu com seu corpo. Natu aguentou a investida dando bicadas nas cabeças dos pokémons.

    - DOO! – algo estranho ocorria. As cabeças começaram a se bicar raivosamente.

    - Doduo pare com isso. – As gritou para seu pokémon.

    De repente, Doduo cai inconsciente.

    - O que houve?


    Se as cabeças ficarem bravas elas podem se atacar até caírem exaustas.

    A pokedex respondeu como se houvesse realmente escutado a minha pergunta, me deixando apavorada.

    - Sinto muito. – As disse entristecido. – Às vezes o Doduo não consegue se conter e acaba se atacando. Ele me ajuda muito com o jardim, não esta acostumado com as batalhas.

    - Não se preocupe. – sorri para ele. – Vamos a recepção para a enfermeira Joy examiná-lo.

    - Sim. É claro.

    Corremos para o elevador apertando o botão para o primeiro andar.

    ***

    Felizmente, Doduo não havia sofrido grandes danos. Enquanto As aguardava na sala de espera, aproveitei para conversar com a enfermeira Joy sobre a minha inscrição na liga pokémon.

    - Olá enfermeira. – disse animada. – Gostaria de me inscrever na liga pokémon.

    - É só me passar a pokédex. – ela falou gentilmente.

    Ela encaixou o aparelho na entrada do computador, digitando algumas informações.

    Identidade confirmada. Julliane Cerule.


    O computador imprimiu um papel, ela destacou batendo um carimbo e colocando na gaveta. Pegou um estojo metálico e devolveu a minha pokedex.

    - Pronto. – disse com gentileza. – Você está oficialmente cadastrada na liga pokémon da região de Kanto. Neste estojo você colocará as insígnias de ginásio. – ela assinalou para oito cavidades delineadas. – São necessárias oito insígnias para entrar na liga. Você conseguirá estas insígnias com os líderes de ginásio das cidades cadastradas oficialmente pela liga pokémon. – ela disse como se tivesse decorado um texto. – Boa sorte. Uma dica, na cidade de Fuschia há um ginásio cadastrado.

    - Muito obrigada. – disse animada pelo cadastro ter sido tão rápido.

    Eu já conhecia o sistema de insígnias, afinal residia em uma cidade com um dos mais belos ginásios de toda a liga. Observei o estojo; era acolchoado com espuma revestido por tecido de algodão de coloração índico, com oito espaços disponíveis. Estava bastante animada para a minha primeira batalha de ginásio, contudo precisava treinar os meus pokémons antes de me aventurar em um ginásio.

    - Até que enfim te achei. – uma voz grave soou as minhas costas. – Estava te procurando para partirmos. Já aluguei as bicicletas.

    - Então vamos. – disse entusiasmada. – Acabei de fazer a minha inscrição na liga, e estou louca para aperfeiçoar as minhas habilidades e descobrir qual profissão seguirei.

    - Certo. – daquela forma Augustus desmotivava qualquer um.

    Despedi-me de As antes de partir rumo à ponte dos bicicleteiros, desejando melhoras ao Doduo.

    Íamos com duas bicicletas aro vinte, sem marchas, de coloração cinza metálica e preta. O terminal permitia apenas a passagem de pessoas com bicicletas. Eram muito rígidos quanto a isso.

    Em pouco mais de uma hora de pedalada chegaríamos à cidade de Fuchsia.

    ***

    O pedalar de movimentos incomodava na coxa; ainda sentia pontadas ao fazer esforço sobre ela, apesar disso compensava o vento salso que rodeava o meu corpo em uma sensação agradável e energizante. A imensidão azul do mar inundava minha visão. Estava cercada de água por todo lugar que olhava, pressionei o freio estacionando a beira da grade de proteção para contemplar a vista.

    - Isso é extraordinário. – gritei ao mar.

    As ondas se tornaram mais fortes em resposta as minhas emoções. Debatiam-se contra as pilastras com intensidade.

    - Não temos tempo para isso. – Augustus me censurou com a voz mais grave que o normal. – Irá anoitecer em breve.

    - Eu não tenho pressa. – disse extremamente emocionada. – A natureza nos presenteou com essa divina paisagem, e é nossa obrigação apreciá-la como se deve.

    - Você tem toda razão. – uma voz floreada e pausada se impôs a de Augustus. – A beleza é algo a ser admirado.

    - Acho que não me entendeu. – me assustei ao ver a figura que se dispôs a falar comigo. - ...

    Vestia um colã de couro preto cobrindo todo o seu corpo, uma saia de bailarina em um tom de rosa berrante e o sapato de salto agulha verde limão. Andava em um monociclo turquesa, com flores estilizadas no aro. O porte físico deselegante em meio a trejeitos bruscos e descoordenados; aparentava estar bêbado. O cabelo púrpura com mechas verdes trançados amarrados na ponta em uma bolsa castanho-avermelhada pedante. Apesar das feições e dos trajes femininos, era um homem e muito estranho por sinal.

    - O que foi? – provavelmente demonstrei-me espantada e isso poderia trazer consequências desagradáveis. – Não consegue apreciar a verdadeira beleza quando a vê?

    Evitei responder.

    - Exijo uma batalha. – disse entre floreios. – Você pagará a Darbas por isso.

    - Era o que me faltava. – falei irritada. – Se quer uma batalha, uma batalha é o que terá.

    - Insolente. – ele disse em tom ofensivo.

    - Julli, não temos tempo para isso. – Augustus se pôs a minha frente, tentando me impedir. – Esquece ele.

    - Não rejeito desafios. – disse decidida.

    - Ok. – Augustus se afastou. – Faça como quiser.

    Andei alguns passos para a esquerda. Não sabia se era proibido batalhar sobre a ponte, mas não me intimidei.

    - Natu, faça as honras. – finalmente havia encontrado uma frase que me soou agradável ao iniciar uma batalha.

    - Koko, mostre todo o meu encanto. – disse quase caindo do monociclo.

    - Naaaa... – ao surgir, Natu fitou a figura estranha, contudo seus olhos enigmáticos não se concentraram nele e se puseram para o oceano instintivamente.

    O bizarro ser remexeu sua trança, lançando a pokebola pela bolsa castanho-avermelhada. Do outro lado, gases tóxicos se alastravam, forçando a tapar o nariz. Uma esfera roxa com crateras emanando fumaça fulgente e um crânio com dois ossos entrecruzados desenhado na parte frontal surgiu da pokebola. Sua feição alegre, um pouco fora da realidade era engraçada.

    - Koffing. – o pokémon esfera pareceu tossir. Não iria lutar contra um pokémon doente.

    - Como ousa utilizar de um pokémon enfermo para batalhar. – disse indignada.

    - Hahahahaha! – ele riu descontroladamente. – Sua fedelha inexperiente. Meu pokémon esta em perfeitas condições.

    - Julli, este pokémon é assim mesmo. – Augustus cochichou pelas minhas costas.

    - Há, certo...

    Apontei a pokedex para o pokémon esfera um pouco receosa.


    Pokémon Ree laii [14 +] 109

    Koffing, pokémon gás venenoso. Possui diversos gases tóxicos em seu interior que podem levá-lo a explodir sem aviso prévio. Por ser extremamente leve, consegue se manter levitando.

    Estava completamente envergonhada, minha face enrubesceu queimando minhas bochechas. Percebi que tinha um grande caminho a trilhar até conseguir ser uma boa treinadora.

    - Certo. – disse ainda corada. – Posso ser inexperiente, mas irei provar o meu valor.

    - Pirralha convencida. – Darbas ajeitou a trança. – Será um prazer esmagar sua frágil segurança.

    - Natu, peck. – ignorei suas palavras.

    - Smog, Koko. – ele disse sem rodeios.

    Natu saltou bicando a face de Koffing furiosamente. As crateras de seu corpo soltaram mais gases tóxicos, mas Natu saltava evadindo do ataque pousando sobre a esfera roxa acertando bicadas em seu resistente corpo. Apesar das investidas, Koffing não havia sofrido grandes danos.

    A pokedex apitou tirando a minha atenção da batalha. Confesso que quase derrubei a pokedex, contudo segurei a tempo.


    Golpe aprendido: Night shade

    Os olhos enigmáticos de Natu iluminaram-se em um tom róseo, avançando sob a forma de uma ventania forte em direção a Koffing, fazendo-o rodopiar igual a um peão.

    Não conseguia acreditar que aquela miúda ave continha tanto poder oculto.

    - Koko, nããããoooo! – disse o ser bizarro em total descontrole.

    Natu se aquietou exausto. Koffing conseguiu se recompor, mas estava bastante ferido.

    - Isso não é justo. – disse com seus movimentos descoordenados. – Koko, Tackle.

    - Natu, Night shade. – apesar do esgotamento, Natu conseguiu recriar o seu ataque. Sua sombra se estendeu sobre Koffing engolindo o seu corpo. Ele começou a murchar rapidamente, liberando vários gases tóxicos por entre as crateras do seu corpo circular pousando na rodovia, já desacordado.

    - Não. – Darbas choramingou escandalosamente. – Como? Você ganhou? Isso é impossível.

    - Acho que resolvemos esta pendência. – disse feliz ao subir na bicicleta. – Natu, você foi esplêndido e para lhe presentear pelo seu ótimo trabalho, você irá passeando até chegarmos a Fuchsia. O que acha?

    - Natuuuuuuuu... – os olhos de Natu brilharam emocionados.

    Natu saltou para o guidão da bicicleta, e continuamos a pedalar abandonando o desconsolado ser de colã. Augustus veio logo atrás com um sorriso de satisfação em poder finalmente ir embora.





    Em breve:

    Spoiler:


    Última edição por Mr. Mudkip em 14.11.12 21:36, editado 1 vez(es) (Motivo da edição : Correção ortográfica)
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    Pokémon Ree laii [14 +] Empty Re: Pokémon Ree laii [14 +]

    Mensagem por Mr. Mudkip 23.03.12 19:19

    Pokémon Ree laii [14 +] 1zce73t


    Quarto capítulo de Pokémon ree laii. Melhorei a personalidade das personagens e estou tentanto deixar a história mais leve e acrescentar humor, ao qual não sou muito bom. O desenvolvimento será alterado, acrescentando mais informações e outras modificações para tornar a história mais agradável. Até!



    Capítulo 004 – A história de uma garota



    - Tu... – Natu estava muito alegre com o vento batendo em seu corpo.

    - Ainda falta muito? – perguntei a Augustus.

    - Não. – ele disse secamente.

    Enquanto brincava com Natu, nós continuamos a pedalar por cerca de meia hora até uma encruzilhada rumo ao norte e leste. A estrutura da ponte dali em diante era mais antiga comparada a que estávamos, deveria ser a ponte original com toda a certeza. Olhei para Augustus esperando ele me dizer por onde deveríamos ir.

    - Seguimos em frente. – Augustus disse entediado. – Por cima iríamos até Celadon, e aqui para Fuchsia.

    - Então vamos. – pedalamos mais alguns minutos até a entrada do terminal.

    Já estava anoitecendo. O sol se retirava do horizonte, acalorado e pulsante como um grande coração dourado, dando espaço para o frágil e cintilante brilho da lua, bela e misteriosa, uma alma prateada personificada.*

    - Natuuuuuuu... – Natu piou baixo, precisava descansar. Aproveitara o passeio, mas as duas batalhas de hoje o deixaram abatido.

    - Você foi uma ótima companhia e merece uma boa noite de sono. – disse antes de beijar o topo de sua cabeça. – Boa noite. – disse retornando-o a pokebola.

    - Vamos. – Augustus desceu da bicicleta, colocando-a na grade.

    O terminal era pequeno comparado ao anterior. Pagamos à tarifa de aluguel a atendente e nos dirigimos rumo a Fuchsia. A região era impressionante. Rodeada por quaresmeiras, paineiras, sândalos e resedás floridas, compreendi a denominação dada à cidade, explicada pela coloração róseo-violeta do local, explodindo em aromas adocicados e vibrantes.

    Extremamente arborizada, a sensação era comparada a estar em uma floresta. As casas se ocultavam por entre as copas das árvores rosadas, ficando ainda mais bonitas. As flores rosadas com pintas avermelhadas e bordas brancas se sobrepunham as folhas palmadas esverdeadas, destacando as suas cores pelo brilho do luar.

    - Acho que é hora de cada um seguir o seu caminho. – Augustus disse enquanto eu admirava a paisagem. – Foi até bom te conhecer.

    - Como? – disse incomodada. – Pensei que iríamos viajar juntos. – disse de supetão.

    - Talvez em outra ocasião. – Augustus falou desconcertado, mas sem emoção. – Agora preciso fazer algo sozinho.

    - Boa sorte, então. – estendi a mão para ele, o sorriso para amenizar o clima estranho. – Espero que nos reencontremos em uma ocasião mais agradável da próxima vez. Até.

    - Até. – disse secamente, sem apertarmos as mãos.

    Fiquei desconcertada pelo seu gesto rude, mas resolvi não me sentir ofendida. Éramos dois estranhos ainda, e o pouco que tivemos contato foi insuficiente para tirar qualquer conclusão sobre ele. Algumas sensações. Ao menos pude notar certas atitudes, forçadas e incondizentes. Ao desaparecer por entre as paineiras, senti fluir em minha cabeça, pensamentos que definiam Augustus. Ele não era mais que uma alma perdida, um ser obscuro, uma existência estraçalhada precisando de apoio. Seus demônios internos o consumiam e sem um lugar ou alguém para retornar, iria desaparecer o pouco de humanidade que resistia em permanecer. Eu senti receio em deixá-lo ir. O período que passamos juntos apesar de curto melhorou seu ânimo. De certa forma, já começávamos a nos dar bem.

    - Será que voltaremos a nos encontrar? – disse com um aperto no peito. Queria ajudá-lo, mas ele não estava solicito a aproximações.

    Fiquei por mais algum tempo em minhas divagações antes de procurar um centro pokémon para me instalar. O centro pokémon era pequeno, com poucos dormitórios disponíveis para os treinadores descansarem. Felizmente havia poucas pessoas ocupando as suítes e pude ficar sozinha em uma, apesar de que os quartos coletivos também eram confortáveis, embora fossem mais recomendados a treinadores que viajavam em grupos.

    Eu estava começando a me acostumar com a presença de Augustus. Mesmo com o jeito meio carrancudo e distante, era melhor que ficar sozinha. Eu gostaria de ter alguém para me acompanhar em minha jornada, por enquanto seguiria apenas com meus pokémons. Quem sabe eu conheça boas pessoas mais a frente. Poderia ao menos ser otimista.

    ***

    Aproveitei a folga para entregar meus pokémons a enfermeira Joy poder analisar as suas condições.

    - Poderia examiná-los? – entreguei duas pokébolas a ela.

    - Claro. – disse amavelmente. – Aguarde um momento, por favor. – ela retirou-se da recepção com a pequena bandeja.

    Ela era idêntica as outras enfermeiras. Seria um complô se formando na medicina pokémon, pensei gracejando.

    Enquanto esperava o atendimento, procurei minha pokegear na mochila para dar notícias a minha mãe. Finalmente estava em um local que pegava sinal e também sentia a saudade crescer com a sua ausência.

    A pokegear começou a tocar, e em poucos segundos ela atendeu.

    - Mãe, tudo bem? – disse calmamente.

    - Filha, que saudades. – ela falou agoniada. – Está tudo ótimo e com você minha querida?

    - Estou ótima e com saudades também. – disse alegremente, ocultando tudo que correspondia a pokémons. – Acabei de chegar a Fuchsia e tudo correu bem. Estou muito feliz, e eu tinha de ligar para lhe contar.

    - Minha querida. – ela cochichou melosa. – O que me consola é que está feliz no que está fazendo. Agora tenho que desligar, mas me ligue novamente. – disse choramingando. – Te amo.

    - Também te amo, mãe. – aproximei a pokegear a boca como se as palavras fossem chegar até ela, de maneira mais íntima.

    Segurei as lágrimas, esfregando o braço aos olhos. Minha mãe não conseguira permanecer conversando comigo nem um pouquinho. Provavelmente neste momento esteja chorando deprimida e eu nada poderia fazer. Preocupava-me deixá-la só.

    - Seus pokémons estão em boas condições. – disse uma voz gentil. – Obrigado e volte sempre.

    - Obrigada. – disse recolhendo as pokébolas sobre a bandeja, voltando ao dormitório para descansar. Iria aproveitar o dia de amanhã para treinar Mudkip e Natu. Não é sempre que se tem a oportunidade de estar em uma cidade com um ginásio credenciado para tentar minha primeira insígnia.

    ***

    Eu tive uma noite um pouco conturbada. Alguns sonhos com Augustus próximo ao riacho em uma cena macabra, repetindo-se. Apesar disso, pela manhã comecei a treinar o Mudkip e o Natu para a batalha de ginásio, como eu havia decidido. Não iria me abater. Mesmo sozinha, continuaria a minha jornada normalmente.

    A enfermeira Joy me mostrou um campo de batalha em ótimas condições nos fundos do centro pokémon próximo a uma enorme paineira produzindo uma sombra refrescante nesta manhã de clima ameno.

    Havia uma garota escorada a paineira, brincando constantemente com o seu cabelo negro sedoso e brilhante, curto e encaracolado nas pontas. Ela folheava um livro antigo, envolto em uma casca de madeira rústica, absorta em seus pensamentos, sem sequer notar a minha presença ali.

    Ela vestia uma camisa social branca, manga três quartos, botões frontais de coloração negra, um short jeans preto com suspensórios cinza ardósia escuro, tênis em fibra de carbono quantum e meias brancas. Eu adorara as roupas, o estilo, tudo. Fiquei tentada a interrompê-la, mas não poderia me desviar do treinamento.

    Peguei duas pokebolas em minha mochila, atirando-as para o alto.

    - Natu, Mudkip façam as honras. – falei sorridente.

    Dois jatos brilhantes surgiram a minha frente, uma pequena bola esverdeada de asas e uma pequenina criatura azulada e fofucha de barbatanas alaranjadas.

    - Bem Mudkip, Natu vamos começar com o nosso treinamento? – perguntei animada.

    - Mud! – apesar do humor volátil, neste instante Mudkip estava bem-disposto, Veríamos até quando.

    - Naaaaaaaa... – seus olhos enigmáticos se concentraram na garota abrigada na paineira. Não conseguia descobrir se prestava atenção em mim ou nela. Era frustrante.

    - Começaremos aquecendo os músculos com um alongamento. – disse espreguiçando os braços para o alto.

    Mudkip esticou o corpo caindo de barriga no chão e Natu tentava rodopiar as asas para me imitar.

    - Hahahahaha! – não consegui conter o riso. - Isso foi um começo... – disse tentando me retratar imediatamente.

    Mudkip jorrou água em mim. Ficara zangado com a minha atitude. Natu continuava a observar a garota sem demonstrar maiores emoções.

    - Desculpem. – disse sem graça. – Vocês estão se esforçando e eu não deveria ter feito isso. Perdoem-me.

    - Mud... – Mudkip se recolheu ignorando-me.

    - Naaaaaaa... – Natu não desgrudava os olhos da garota.

    - Isso vai ser mais difícil do que eu imaginei. – sussurrei chateada comigo mesma. – Eu asseguro que vou me comportar.

    - Kip. – Mudkip se levantou ainda desconfiado, mas agora parecia desanimado.

    - Naaaaaaaatuuuuuuuu... – ainda da mesma forma.

    - Vamos começar com uma corrida. – disse entusiasmada. – O que acham?

    Comecei a dar voltas no campo, Natu saltava e Mudkip corria um pouco desengonçado.

    Aos poucos, pegávamos um ritmo, contudo em menos de cinquenta voltas Mudkip e eu ficamos exaustos. Natu ainda saltava pelo campo com energia de sobra.

    - Uma pausa. – disse sem fôlego. – Para nos hidratarmos.

    Coloquei água para eles enquanto bebia um pouco do cantil. Natu bebericava pequenas doses de água, enquanto Mudkip engolia enormes quantidades de uma vez. Acho que a hesitação de Mudkip com a comida foi coisa de momento, ele parecia um triturador ao se alimentar ou beber água.

    - Agora que estamos aquecidos, vamos à batalha. – levantei sentindo o corpo dolorido. O acidente no laboratório ainda surtia efeitos em mim. – Natu contra Mudkip.

    - Mud. – Mudkip me olhou estranhando.

    - Naaaaaa! – Amedrontado, Natu pulou sobre a minha cabeça.

    Estava começando a achar que eles conseguiam entender o que eu falava. Ainda tinha de confirmar isso, apesar de estar claro.

    - Será uma batalha de treinamento. – disse retirando o pequeno pássaro em forma de bola de cima de mim. Foi um pouco complicado, suas garras prenderam em meu cabelo. – Para melhorar suas habilidades.

    Mudkip e Natu acalmaram-se, após eu gesticular vários gestos estranhos e acho compreender as minhas intenções e se puseram um de cada lado do campo. Olhei a lista de ataques de Mudkip e Natu na pokédex, ordenando os primeiros ataques.

    - Natu, peck. – gritei no canto do campo. – Mudkip, water gun.

    Natu saltou em direção a Mudkip, mas ele foi envolvido por água acertando Natu violentamente. A pokedex apitou descontroladamente.

    Erro fatal. Erro fatal. Erro fatal.

    Não parava de repetir a mesma frase e impulsivamente joguei o aparelho longe com medo que explodisse. Natu e Mudkip se aproximaram de mim alarmados. Eu era um pouco tecnófoba. Conseguia manipular algumas tecnologias, mas se ocorressem problemas eu ficava apreensiva e as evitava, era uma negação quanto a isso.

    - Não se preocupem. Eu resolvo isso. – a garota de cabelos negros disse calmamente.

    Ela fuçou por alguns segundos silenciando a pokedex.

    - Pronto! – falou ao me entregar o aparelho.

    - Obrigada. – disse desconcertada. – Acabei passando a minha fobia por tecnologia para os pokémons. Se não fosse por você, eu nem saberia o que fazer. – estendi a mão para cumprimentá-la. – Julliane Cerule.

    - Isis Gast, prazer em conhecê-la. – disse sorrindo. – Foi um prazer ajudá-la.

    Ao tocarmos as mãos, um choque estático sobreveio. Retiramos as mãos involuntariamente.

    - Que estranho. – dissemos ao mesmo tempo. – Hahahahaha! – rimos por falarmos juntas.

    - Você deve ser de Hoenn, certo? – Isis disse com extrema delicadeza.

    - Não!? – minha voz saiu um pouco esganiçada. – Por que acha isso?

    - Seus pokémons são frequentes nessa região, na verdade, para obtê-los, você deve ir para Hoenn, onde possui ambas as espécies ou Johto, para capturar este pequenino Natu. – disse acariciando a pena rósea em sua cabeça.

    - Na verdade eu sou de Cerulean. – disse incomodada por não ser reconhecida como natural de Kanto. – O Mudkip foi presente do meu pai, e o Natu capturei na floresta próxima a Pallet. – comentei onde os consegui.

    - Isso é estranho ou você teve muita sorte. – ela falou distraída. – Pode me emprestar a sua pokedex?

    - Claro. – disse recuperando a vitalidade.

    Isis digitou alguma coisa e entregou a pokedex para mim.

    - Segundo a pokedex, o Mudkip é incapaz de aprender aqua jet. – Isis disse maravilhada. – Aparentemente o seu consegue.

    Fiquei estupefata. Descontrolada, abracei seu pequeno corpo azulado, apertando-o. Uma cabeçada acertou meu nariz e me jogou ao chão. Aquela cena me parecia familiar...

    - Mud! – ele grunhiu extremamente irritado.

    - O que foi isso? – Isis disse apontando de um lado ao outro, sem entender nada.

    - É que às vezes eu perco o domínio das minhas ações. – comentei envergonhada, levantando do chão. – Ocorre essencialmente com pokémons.

    - Nossa! – ela enrugou a testa. – Você fala de um modo tão estranho. Muito formal.

    - É que meus estudos foram muito extenuantes. – procurei explicar este pequeno detalhe. – Minha mãe cobrava extrema dedicação em todas as atividades, e meu pai... Bem, sempre me inspirei a ser como ele. Sua sabedoria, seu bom senso e inteligência encantam-me profundamente. É por esta razão que somente pude sair em minha jornada agora aos doze anos. Além de outras implicações que não convém dizer.

    - Impressionante como você consegue se expressar assim. – Isis acalentou minhas mãos. – Eu adoraria ter domínio das palavras desta maneira. Mesmo sendo uma leitora assídua eu não consigo.

    - Eu não... – estava realmente constrangida com tal elogio. – Obrigada. – foi o que consegui dizer.

    - Ah. Desculpe por isso. – ela sentiu-se envergonhada, soltando minhas mãos. – Acho que fui um pouco entrona.

    - Não se preocupe com isso. – procurei mudar de assunto. Estava desconfortável com aquilo. – Aquele livro singular que estava lendo; nunca tive a oportunidade de ver um.

    - É um tonalamatl. – ao ver meu desentendimento, Isis prontamente explicou. – Significa página dos dias. – ela disse sorridente. – Na antiguidade, os ancestrais utilizavam cascas da árvore de figueira aplicando gesso branco para poderem pintar desenhos ou escrever sobre ele. É como um livro, mas feito de uma forma bem artesanal e criativa. Um dos poucos exemplares restantes da região de Kanto.

    - Poderia ver? – pedi quase como uma súplica.

    - Claro. – ela me puxou para a paineira. – Este está na nossa língua, apesar de muito antigo.

    - Mudkip e Natu, uma pausa e voltamos. – gritei para eles.

    - Mud! – Mudkip repousou debaixo do banco para fugir do sol. Ainda estava insatisfeito comigo, teria de me retratar de alguma forma.

    - Naaaaaaaa... – Natu saltou para um galho alto da paineira, observando de longe.

    ***


    ”Concebiam o tempo como uma sucessão de momentos uniformes, alongando-se monotonamente do passado indefinido para o futuro indefinido. Nem era o seu tempo de qualidade indiferente e uniforme. Será de salientar o fato de que o tempo é pleno de energia e movimento, albergando a mudança e sempre carregado de um sentido de acontecimentos miraculosos. Estas noções sobre o caráter do tempo e a expressão da sua “energia interior” do ontem, do hoje e do amanhã, revelam uma preocupação com o processo da criação, destruição e recriação.”

    Venets


    Assim iniciava a leitura daquele estranho livro composto principalmente de representações de monumentos em cores fortes, as imagens simplistas contando histórias de civilizações perdidas no tempo.

    - O primeiro é o interessante tonalpohualli ou a “conta dos dias”, mostrando o ciclo de duzentos e sessenta dias usados com propósitos divinatórios. – Isis explicava cada página. – Esta repetitiva roda de dias formava um almanaque sagrado com os guardiões, assim chamados os pokémons que poderiam pertencer à determinado indivíduo e assim decidindo a sorte e os prováveis destinos deles.

    Duas rodas com setas estavam representadas, à direita no sentido horário e a esquerda, anti-horário. A roda da esquerda com treze números intercalados aos vinte nomes da roda da direita: cana, ocelote, águia, abutre, movimento, faca de sílex, chuva, flor, crocodilo, vento, casa, lagarto, serpente, cabeça da morte, veado, coelho, água, cão, macaco e erva. Todos pintados com figuras referentes a eles.

    - Este calendário utilizava a associação dos nove senhores da noite, os chefes das tribos da região de Kanto, com os dias portadores dos anos para um período de cinquenta e dois anos. Ele é bem diferente do que usamos hoje. – ela tentava associar os dados com a nossa realidade, para me ajudar a entender com maior clareza. – O nosso é baseado na rotação terrestre, bem mais simples e preciso, é claro. Por essa razão, somente os sacerdotes conseguiam compreender estas datas e informá-las aos senhores da noite e a tribo. Ele é constituído por um calendário festivo de dezoito meses e vinte dias, correspondente ao ano dois cana, uma espécie de data para o ano novo, na época conhecida apenas quando se celebrava a cerimônia do acender do Fogo Novo, surgindo um novo ciclo de guardiões. – ela comentava à medida que folheava o calendário em forma de livro.

    Uma figura de um homem ornado em jóias destacava-se ao centro sobrepujando um dragão cuspidor de fogo. Oito figuras menores divididas nas laterais compunham os nomes correspondentes a roda da direita, com figuras de seus guardiões pokémons.

    - Estes são os senhores da noite do período do ano sete abutre, com seus respectivos senhores da noite. – ela apontou para cada imagem. – O guardião da serpente. – uma cobra evidenciando suas presas venenosas. – O guardião do movimento. – Isis indicou um rato com a cauda em forma de um trovão. – O guardião do cão. – o vistoso cachorro lançando chamas pela boca. – O guardião da flor. – ela mostrou a figura de uma enorme flor vermelha espalhando um pó amarelo e intenso. – O guardião da faca de sílex. – algo parecido com uma carapaça ameaçadora com duas laminas afiadas em destaque. – O guardião da água. – o caracol repleto de tentáculos. – O guardião do lagarto. – ele me lembrou a imagem do panfleto do circo no balcão do restaurante de Pallet, com o enorme lagarto de asas dracônicas. – O guardião da cabeça da morte. – um pequeno ser de assustar, com um esqueleto em sua cabeça. – E o guardião do vento. – ela direcionou para a imagem central, o poderoso dragão.

    - Muito interessante. – Isis ficou feliz pela minha empolgação.

    - Nessa seção estão pintados os rituais que se realizavam em cada festa. – disse animada. – Um ciclo de cinquenta e dois anos que leva a um novo ano dois cana e à seguinte cerimônia do Fogo Novo.

    Uma fogueira queimava as oferendas, metais nobres que derretiam e eram moldados nas formas dos guardiões dos nove senhores da noite desta época.

    - A flor, Vileplume, a serpente, Arbok, o cão, Arcanine, a cabeça da morte, Marowak, a faca de sílex, Kabutops, a água, Omastar, o lagarto, Charizard, o movimento, Raichu e o vento, Dragonite. – Isis disse calmamente. – Cada senhor da noite possuía o seu guardião, que protegia as suas tribos, estes foram os desta época. Ah! – Isis apontou para o calendário relembrando sua importância para a escolha do guardião do senhor da noite. – Os herdeiros possuíam os seus guardiões dependendo da figura referente em que haviam nascido. Através disso definiram os ginásios da região de Kanto.

    Pokémon Ree laii [14 +] 045Pokémon Ree laii [14 +] 024Pokémon Ree laii [14 +] 059Pokémon Ree laii [14 +] 105Pokémon Ree laii [14 +] 141Pokémon Ree laii [14 +] 139Pokémon Ree laii [14 +] 006Pokémon Ree laii [14 +] 026Pokémon Ree laii [14 +] 149

    - Então um guardião da figura do coelho seria designado para quem nascesse no período do coelho? – eram muitas informações.

    - Correto. – Isis disse aliviada por eu ter entendido. – E para controlar este sistema de datas, as tribos tinham o auxílio dos sacerdotes, como já havia citado. Especialistas que eram chamados para efetuarem prognósticos sobre recém nascidos, para aconselharem em matéria de diferentes objetivos de acordo com dias auspiciosos, ou para determinar os melhores dias de cultivo ou colheita. Supõe-se que estes prognósticos eram realizados em conjugação com padrões de clima conhecidos e outras condições ambientais, assim como outros fatores sociais e econômicos. Nesta época, eles acreditavam que os sacerdotes possuíam poderes sobrenaturais, e talvez alguns tivessem, mas a maioria se aproveitava dos benefícios de ser um sacerdote.

    - Isso é incrível. – disse abismada. – Como consegue absorver tanta informação?

    - Eu sou historiadora e arqueóloga pokémon. – falou orgulhosa, retirando de sua mochila um cartão. – Meu trainer card.

    No cartão havia uma foto dela, um chip aderido, seu nome, data de nascimento, número de inscrição na liga pokémon e no espaço destinado a profissão e ao local de nascimento, historiadora e arqueóloga pokémon e Azalea, região de Johto, respectivamente.

    - Você é de Johto?! – disse meio que perguntando. – Então já está em jornada há bastante tempo.

    - Eu comecei a minha jornada há dois anos. – sorriu para mim sem jeito. – Mas como me concentrei em descobrir mais sobre a história pokémon, não desenvolvi meus pokémons para batalhar e os deixei de lado. – seu ânimo esvaiu-se ao começar a falar sobre isso.

    - O importante é que você já encontrou aquilo que lhe dá prazer. – disse desconcertada por lhe lembrar de suas preocupações. – Eu ainda não adquiri meu trainer card por não ter decidido que profissão eu pretendo seguir. – Isis arregalou os olhos de surpresa com minha revelação. – Para mim, todas são necessárias para explorar todo o potencial de um pokémon e demonstrá-lo ao máximo. Eu não consigo me decidir de jeito nenhum, por isso entrei na Liga Pokémon para poder começar de alguma forma.

    - Eu acho isso incrível. – Isis me interrompeu levantando-se. – Grande parte das pessoas já sai em suas jornadas decididas e com seus sonhos e objetivos definidos.

    - Mas essa indecisão me mata. – desabafei. – Eu queria ter um objetivo pra me agarrar... Hum. Sinto um vazio sabe. – apertei as mãos sobre o peito. – E você? Quais são os seus sonhos?

    Isis ficou admirada por me importar com seus interesses e sorriu serenamente.

    - O meu sonho é mostrar que o passado representa a possibilidade de aprender e conseguir corrigir as falhas para garantir um futuro melhor entre seres humanos e pokémons. – Isis pressionou os dedos próximos aos olhos. – Eu comecei tão decidida a isso que deixei meus pokémons de lado e embarquei no passado almejando um bom futuro e esquecendo-me do presente. – ela apertou as mãos, extravasando a emoção contida. – Agora me sinto culpada de não ter dado a devida atenção a eles.

    - Você ainda pode compensar. – disse olhando em seus olhos negros e profundos. – Eu posso ser inexperiente ainda, mas Isis, o que você faz é incrível. Seus pokémons com certeza entenderão o seu afastamento. Agora peça perdão e busque encaixá-los no seu trabalho. Você precisa agir...

    Isis me abraçou, derramando lágrimas em meus ombros.

    - Obrigada. – Isis disse aliviada. – Eu estava precisando disso. Alguém que conseguisse me entender por entre as entrelinhas.

    Não havia compreendido a sua última frase, contudo meus novos sentimentos conseguiram.

    ***

    Depois de muita conversa, decidi por continuar o treinamento pelo resto do dia e mais tarde fomos ao pokeshop comprar alguns itens para o dia a dia e para a batalha de amanhã. Extremamente cansados e satisfeitos dos resultados, nós repousamos no dormitório. Isis me acompanhou, trocando para o mesmo quarto que eu. Estava feliz por ela ter dado tal sugestão, estava adorando sua companhia, fui recompensada rapidamente com uma nova amizade, pensei.

    - Então planeja desafiar a líder de ginásio de Fuchsia? – estávamos deitadas nos beliches após organizarmos as roupas e tomado banho.

    - Correto. – disse massageando o calcanhar. – Será minha primeira batalha de ginásio.

    - Eu posso ir com você? – Isis falou discretamente. – É que eu sempre tive curiosidade de ver como é uma batalha de ginásio, mas não pus isso em prática ainda.

    - Claro. – disse sorridente. – Vai ser uma honra ter a sua companhia.

    - Legal. – Isis ergueu-se da cama. – A história de uma garota começando super agitada. Julliane em busca de um sonho, enfrentando os poderosos líderes de ginásio, e viajando sem rumo para enfim achar aquele diferencial, logo aquele, que você só encontra naquilo em que realmente te satisfaz. – Isis estava tão empolgada que acabou me passando um pouco desta energia contagiante.

    - Mal posso esperar. – estava ansiosa para esse dia chegar.

    - Mas agora vamos comer. Ninguém consegue nada de barriga vazia, não é mesmo? – Isis desceu pelas escadas do beliche.

    - Você tem toda a razão.

    - Para amanhã estarmos bem, eu com certeza vou precisar de um sanduíche bem recheado de coisas bem gostosas. – eu ri do jeito engraçado dela de falar. – Será um dia cheio, só assim pra conseguir.

    - É verdade, contudo precisarei fazer uma ligação. – disse esfregando as pernas, ainda doíam. – Me encontre na lanchonete depois.

    - Não demora. – Isis disse antes de sair.

    Peguei a pokegear, contatando Tracey. Cerca de três toques e alguém atende.

    - Alô, Julli. – disse uma voz suave. – Como está?

    - Bem e você? – disse animada.

    - Ótimo. – falou do outro lado da linha. – Algum problema?

    - É que hoje a minha pokedex apresentou um defeito. – disse meio sem graça. Já era a segunda vez que algo inesperado ocorria.

    - De que tipo? – perguntou preocupado.

    - Meu Mudkip aprendeu aqua jet e a pokedex afirmou ser impossível que ele pudesse aprender tal ataque. – disse rapidamente, gesticulando feito uma tonta. Ele não poderia ver nada, me senti meio idiota. – Ela apitava erro fatal, erro fatal.

    - Hummm... – pensou um pouco. – Irei verificar e retorno para você. Certo.

    - Agradeço a atenção. – disse carinhosa.

    - Desculpe estas falhas, e tentarei minimizá-las. – disse suavemente.

    - Ok. – disse terminando a ligação.

    Guardei a pokegear na mochila, peguei a carteira e fui para a lanchonete me encontrar com a Isis. Enquanto caminhava pelo corredor, me prendi em novos sentimentos em relação a ela. Minha convivência com ela fluía naturalmente, era como se nos conhecêssemos há tempos, mesmo eu não sabendo nada dela. Algo me dizia, não eu acreditava piamente nisso. Iríamos nos unir em nossas jornadas. A história de duas garotas soava bem melhor. Parecia-me solitário demais seguir meu caminho sozinha. Estava contente em poder dividir com alguém. Não, feliz por ser com uma pessoa ao qual me identifiquei perfeitamente.

    - Oi. – vasculhei a figura de Isis até vê-la mordiscando umas batatas cozidas com queijo em cima. – Nem me esperou.

    - Só pedi um petisco pra gente. – ela empurrou a cestinha de batatas apetitosas para mim e então aproveitei para experimentar.

    - Muito bom. – a batata derretia em minha boca em uma leve picância.

    - Já decidiu como vai batalhar? – os olhos de Isis brilharam ao tocar no assunto estratégia.

    - Pelo que sabemos é um ginásio especialista no tipo venenoso. – olhei o cardápio para fazer o meu pedido. – Pokémons psíquicos e terrestres são bons contra os do tipo venenoso, então tanto Natu como Mudkip serão eficazes contra eles. Mas por ser um ginásio, não será nada fácil, e por isso só posso confiar neles e me precaver de ser envenenada.

    - Hum. – Isis chamou a garçonete. – Entendi e já sei o que pretende. Por isso você ficou enchendo o balconista do pokeshop com perguntas.

    - Acabei conseguindo uma informação valiosa. – fizemos nossos pedidos e voltamos a discutir sobre a tática a ser utilizada no ginásio. – Só espero que dê certo.

    - Amanhã, veremos. – Isis ergueu o copo de suco para um brinde. – Ao primeiro obstáculo de uma jornada.

    - Hum! – para não contrariá-la correspondi ao brinde. – As boas amizades.

    Isis sorriu emocionada.


    ***

    Estava uma manhã muito agradável e calma na lanchonete. Eu e Isis aproveitamos o café da manhã em companhia de Natu e Mudkip, muito determinados por sinal. A noite foi tranquila, permitindo descansar o corpo e a mente para batalhar. Estávamos a todo gás.

    - Será bastante emocionante não é mesmo? – Isis disse empolgada.

    - Espero que sim. – disse um pouco insegura. – Eu confio no Mudkip e no Natu, mas estou sentindo um frio na barriga insuportável.

    - Mud! – Mudkip olhou para os lados ao ouvir seu nome. Estava cada vez mais certa, eles conseguiam me entender, mas porque era tão difícil assim?

    - Não se preocupe. – Isis disse abocanhando um pedaço de salada de berrys. – É natural. É apenas a ansiedade aguçando os seus sentidos.

    - Você acha? – perguntei angustiada.

    - Vai correr tudo bem. – disse engolindo em seco. – Você treinou duro para isso, então dê o seu melhor.

    - Certo. – falei mais insegura do que nunca. – Vou me esforçar.

    Terminamos de comer e nos dirigimos ao ginásio.

    Minha ansiedade só piorava meu estado de nervos, não sabia se eu ficava e enfrentava tudo de frente ou desistia para começar, talvez quem sabe nos concursos pokémon.

    Seguimos até uma construção em estilo oriental de formato em u, as paredes mescladas em branco e azul, o portal de madeira de lei, com dobradiças em ouro e uma humilde placa assinalando o ginásio da cidade de Fuschia. Toquei a campainha, e um tilintar de sinos soou rumo ao interior.

    As portas de madeira se abriram em um ranger irritante. Um belo gramado central, com passagem para a sacada destacava-se. As portas de correr se espaçaram, possibilitando ver um vulto em formas femininas.

    - Eeeeuu... desafio o ginásio de Fuchsia. – disse meio gaguejante.

    - Aceito. – uma voz forte e sobrepujante respondeu. – Uma batalha em estilo ninja.

    - Como? – disse surpresa.

    Meus temores se elevaram ao limite. Eu conseguiria suportar toda aquela pressão?




    * Os termos coração dourado e alma prateada referem-se às reversões do clássico Gold e Silver, Heartgold (coração de ouro) e Soulsilver (alma prateada).



    Em caso de dúvida leiam o spoiler. (Acho que precisarão)




    Abaixo um resumo do próximo capítulo, seguido se uma breve explicação do presente capítulo:

    Spoiler:






    Última edição por Mr. Mudkip em 14.11.12 21:38, editado 1 vez(es)
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    Pokémon Ree laii [14 +] Empty Re: Pokémon Ree laii [14 +]

    Mensagem por Mr. Mudkip 02.04.12 18:17

    Pokémon Ree laii [14 +] 1zce73t

    Quinto capítulo pra vocês. Já estou terminando os capítulos inéditos de Mitologue e Série experimental - SE, em breve eu posto. Estou tentando acelerar em Pokémon Ree laii para chegar logo ao capítulo 20, mas com tantas fics ao mesmo tempo eu não estou conseguindo. Bom, vou postando aos poucos mesmo. Aproveitem o capítulo e até a próxima.



    Capítulo 005 – Alma e coração



    Uma mulher rodopiou pelo gramado em belos e orquestrados saltos ornamentais pousando a minha frente. Encarando-me com seu olhar bestial, eu retrocedi meus passos, sentindo-me intimidada.

    - Uma batalha de dois contra dois pokémons, sem limites de tempo e permissão de trocas apenas para o desafiante. – ela disse com sua voz imponente, incompatível com sua feição suave. Sua respiração compassada tocava em minha epiderme aquecendo-a.

    Os seus olhos lilás combinavam com os cabelos roxos espetados amarrados a uma fita de seda pura amarela. Vestia uma calça sépia, alguns metais estrelados fixados ao cinto salmão, uma blusa de algodão preta sem manga unida ao tecido rendado em laranja nos braços e braceletes em preto com detalhes em violeta na extremidade dos membros e um cachecol de lã salmão trepidante. Não calçava sapatos.

    Suas unhas bem feitas pintadas de roxo, a pele lisa com poucas rugas no cenho. Deveria ter uns vinte e cinco anos no máximo.

    - ... – não conseguia responder.

    - Está de acordo? – a mulher disse estranhando.

    - Ela está sim. – Isis falou por mim. – Só está um pouco nervosa. É a primeira batalha de ginásio dela. – disse piscando para a líder do ginásio. – Eu sou Isis e ela é Julliane.

    - É uma honra ser a primeira oponente oficial da liga pokémon no qual você enfrenta. – a mulher disse em tom emocionado. – Me chamo Janine, sou a líder do ginásio de Fuchsia.

    Ela agarrou algumas estrelas metálicas agarradas em seu cinto por entre os seus dedos, atirando nas pilastras que sustentam o revestimento da sacada. Todas acertaram o ponto exato entre os parafusos enquanto girou o corpo de forma impressionante. Rodou de ponta cabeça impulsionando com o pé esquerdo até pousar o indicador no gramado verdejante, clareado suavemente pelo sol da manhã. Ficara sustentada com apenas um dedo. Saltou novamente pousando próxima a sacada frontal.

    - Isso é impressionante. – Isis disse batendo palmas. – Bela apresentação.

    - Obrigada. – Janine disse lisonjeada.

    Ela levou as mãos abaixo do cachecol retirando uma pokebola. Ainda paralisada, Isis teve de me beliscar para que acordasse.

    - Ai! – disse com raiva.

    - Vai logo. – Isis disse disfarçando indo se sentar próximo a escada lateral.

    - Está bem. – disse respirando fundo e observando o clima agradável, procurando me acalmar.

    Peguei na mochila a pokebola, atirando para o alto.

    - Natu, faça as honras. – minhas mãos suavam inconvenientemente, a visão turva, o coração disparado e o sangue pulsando intensamente em minhas veias. Uma sensação no mínimo estressante, contrariando-se ao sereno ambiente.

    - Natu. – seus olhos enigmáticos se concentraram na estrela de metal atravessada na pilastra.

    - Força Natu. – Isis gritou animada.

    Janine também lançou sua pokebola, liberando um jato brilhante seguido de um pokémon que não me trouxe boas recordações de uma certa pessoa.

    - Zzzzzzzzz. – as asas batiam tão rápido que produziam um chiado estéril e espaçado.

    - Zubat é com você. – um rasante levou o morcego acima do telhado próximo ao sol entre nuvens. – Wing attack.

    Rapidamente Zubat desceu o céu em um bater de asas contra Natu.

    - Natu evasiva seguido de peck. – disse apreensiva.

    Natu saltou evitando o golpe de Zubat, retornando com o bico em seu dorso.

    - Zuuuu. – Zubat guinchou desfalecendo no chão.

    - Muito bem! – Isis gritou para mim.

    Natu pousou ao seu lado, contudo em uma virada rápida Zubat golpeou Natu com violência. O impacto arrastou Natu pelo gramado, impregnando terra em suas asas.

    - Astonish é efetivo contra o seu pequeno pássaro. – Janine comentou com uma pitada de sarcasmo, o último ataque de Zubat.

    Não esperava que Zubat tivesse ataques que causassem danos mais graves em Natu. Esperava obter vantagem por escolher um pokémon psíquico em um ginásio especializado em tipos venenosos, mas Janine já previra tal possibilidade e se adiantou.

    - Natu você está bem? – disse inquieta. Isis levou as mãos ao peito.

    - Naaaaaaaa. – Natu piou furiosamente ao se erguer.

    - Agora use supersonic. – Janine disse sorridente.

    Zubat levantou voo emitindo ondas supersônicas de sua enorme boca gerando um som ensurdecedor. Extremamente agudo e poderoso, zunia nas profundezas de minha mente.

    - Natu! – gritei tapando os ouvidos.

    - Naaaaaaaaaa... – Natu demonstrava sofrimento em suas feições e isso me enfureceu.

    - Natu salte e utilize night shade. – gritei acalorada. – Acabe com isso.

    O silvo agudo cessara; contudo Natu parecia desnorteado. Apesar disso, seus olhos brilharam em tom róseo produzindo imagens fantasmagóricas que iam arrancando chumaços de grama cortantes como navalhas enquanto se aproximavam de Zubat.

    - Evasiva. – Janine sobressaiu sua voz em relação a minha. – E astonish para finalizar.

    Zubat tentou uma manobra de escape, mas acabou atingido em cheio. Natu continuou com os olhos iluminados jogando contra si a força de seu ataque.

    - Natu pare com isso. – disse preocupada. Isis também embarcou na mesma emoção.

    - Naaaaaaaaaa... – Natu não conseguia interromper o golpe, parecia confuso. As figuras tenebrosas rodeavam Natu ferindo o seu corpo.

    - Preste atenção somente em minha voz. – disse calmamente. – Apenas isso.

    - Zubat, astonish. – apesar das investidas, Zubat ainda estava em condições de batalhar. Um pokémon muito bem treinado.

    Janine aquietou-se enquanto Zubat voava em alta velocidade contra Natu.

    - Natu... Vamos! – disse esperançosa.

    -Você consegue Natu! – Ansiosa Isis levantou-se do piso de madeira corrida.

    - Naaaaaaaaa... – raios negros surgiram no ar golpeando Zubat. Com o impacto, ele girou trezentos e sessenta graus caindo ao chão imóvel.

    - Natu é o vitorioso. – Janine disse perturbada.

    - Muito bem Natu. – disse orgulhosa de meu pequeno pokémon.

    - Natu você é demais! – Isis fez sinal positivo para ele.

    - Naaaa... – Natu cerrou seus olhos entregando-se a exaustão. Tinha sido uma batalha muito atribulada, necessitava de um bom descanso.

    - Regresse. – retornei Natu a pokebola. – Natu. – cochichei para a pokebola. – Você foi incrível! Obrigado e descanse.

    Janine recolheu o morcego nocauteado para a pokebola lançando outra quase que imediatamente.

    - Prepare-se. – disse confiante. – A verdadeira batalha começa agora!

    Apesar de suas palavras não me intimidei.

    - Fu, fu, fu, fu... – Janine disse gracejando. – Prepare-se Ekans.

    - Ssssssssss... – Uma cobra feroz exibindo cores vivas surgiu no gramado baixo balançando o chocalho amarelo na ponta da cauda.

    Olhos amarelos e provocantes, a couraça em tom arroxeado brilhante com detalhes em amarelo no pescoço e no abdômen, as narinas pulsantes a boca aberta tremulante. Assustador.

    Apontei a pokedex para colher informações daquele réptil instigante.


    Pokémon Ree laii [14 +] 023

    Ekans, pokémon serpente. Se oculta entre as matas para surpreender suas presas. Ao nascer não apresenta veneno, apesar disso, sua mordida pode ser bastante dolorosa.

    - Tenho de fazer o máximo para ele não morder Mudkip. – minha maior preocupação era evitar que meus pokémons fossem envenenados.

    Guardei a pokedex na mochila procurando a minha segunda pokebola.

    - Mudkip faça as honras. – disse lançando sua pokebola ao campo.

    - Mud! – ele estava vibrante.

    - Ekaaaaaaaaaannnnnnnnsssssssss. – a serpente tentou intimidar Mudkip com um silvo vibrante irritadiço.

    Mudkip mostrou a língua em resposta.

    - Hahaha! – Janine riu. – Este pokémon tem personalidade.

    Ekans não aprovara o gesto de retribuição, ficando ainda mais furiosa.

    - Mudkip não repita isso. – o repreendi com autoridade.

    - Kip... – ele olhou para mim culpado, com uma feição muito fofa. – Mud. – grunhiu consentindo logo em seguida.

    - Ekans, bite. – Janine falou de perfil. Mudara sua posição deixando-me intrigada. Algo ocorreu e não havia compreendido.

    - Mudkip use mud-slap. – gritei com vigor.

    - Ekansssss... – Ekans rastejou em movimentos ondulares abocanhando Mudkip entre as costelas, jogando-o contra a pilastra evitando que atacasse.

    - Muuuuuuuuuuuuud. – Mudkip gemeu em razão da dor.

    - Mudkip! – meus olhos encheram de água nesse momento. – Você está bem?

    Isis levou às mãos a boca, inaudível.

    - Mud. – gritou ao se recuperar.

    - É isso aí, Mudkip. – Isis voltou a gritar.

    Ekans balançava de um lado ao outro prestes a lançar outro golpe.

    - Poison sting. – Janine disse ainda de lado.

    Uma jogada de corpo levou Ekans bem próximo a Mudkip. Aquela serpente era extremamente rápida, contudo eu tinha um trunfo.

    - Mudkip, aqua jet. – disse esperançosa de que funcionasse como treinamos.

    - Mud. – seu miúdo corpo azulado foi envolvido por água, impulsionado, foi de encontro à cabeça de Ekans.

    - Isso! – comemorei o nosso esforço para aperfeiçoar o ataque.

    Janine não se surpreendeu com a reviravolta.

    - W-r-a-p. – Janine soletrou.

    Não entendi o porquê daquilo, mas algo me dizia para recuar.

    - Mudkip afaste-se. – segui meus instintos. – E concentre-se.

    - Mud! – saltou para trás pousando na terra vermelha úmida e recém revirada remexendo as barbatanas alaranjadas. Sua atitude me chamou a atenção.

    Com movimentos ardilosos, Ekans se desdobrou pelo gramado aguardando uma oportunidade de se aproximar. Algum tempo depois percebi que Mudkip estava enfraquecendo. Havia sido envenenado.

    Ekans estava aguardando para que o veneno se espalhasse pelo corpo de Mudkip e fazer efeito. Por isso estava se resguardando.

    - Vejo que percebeu. – Janine disse voltando-se para frente. – Um ninja age pelas sombras, ocultando a verdadeira intenção de seus movimentos. Notei que seu Mudkip carregava uma pecha berry. Foi cautelosa e me atrasou com essa manobra, mas agora a vitória é minha. – disse sorridente.

    Meus olhos cor de água cintilaram ao me deparar com essa estratégia. O nível de um líder de ginásio superou todas as minhas expectativas, apesar de estar completamente atada aos movimentos de Janine passei a admirá-la. Ainda não compreendia como ela tinha realizado tal façanha, e isso foi o que mais me impressionou.

    - Você está com a vantagem e se antecipou aos meus movimentos, mas mesmo assim não me darei por derrotada. – disse em tom irredutível. – Francamente eu não sei o que poderei fazer... – falei honestamente, apesar de dizer que não desistiria me sentia acuada e desacreditada.

    - Mud! – Mudkip me interrompeu e vi seus olhos inflamados reacendendo a minha vontade de vencer. Estava pronto a dar tudo de si.

    - Mudkip... – fiquei emocionada com sua entrega. – Vamos dar o nosso melhor! Conto com você Mudkip. Mud-slap!

    - Era o que esperava. – Janine disse contente. – Ekans, dig!

    Ekans saltou rodopiando aterrando-se no subsolo, evadindo do ataque.

    - Mudkip eu acredito em você! – Isis continuava a enviar confiança e boas energias.

    Recordei-me dos dados da pokedex referentes ao Mudkip. Ele conseguia sentir as vibrações ao seu redor. Provavelmente poderia pressentir o ataque e revidar.

    - É isso! Mudkip, concentre-se nas vibrações do subsolo. – disse contente de ter uma sobrevida na batalha. – Você consegue!

    Mudkip focou-se no tato e na audição. Movimentou as barbatanas de suas bochechas respirando em intervalos regulares e compassados. Compreendi naquele instante como Mudkip sentia as vibrações ao redor. Deveria ser rápida, a cada segundo Mudkip sofria os efeitos do envenenamento, estava no limite.

    Mudkip saltou no instante que Ekans saía do chão, evitando o golpe. Ambos estavam no ar. Mudkip se antecipou. Seu corpo envolveu-se de água golpeando Ekans em um impacto fluído com uma força ainda não demonstrada por ele. Os dois caíram, um em cada extremidade do gramado.

    - Empate! O desafiante saiu vitorioso. – Janine disse ao recolher seu pokémon para a pokebola. – Julliane, parabéns. A insígnia da alma é sua. – completou.

    - Julli, você conseguiu! – Isis gritou escandalosamente correndo para me abraçar.

    - Mudkip. – o recolhi do chão para os meus braços, preocupada com seu estado.

    Isis se aquietou para um momento mais oportuno de se comemorar.

    - Não se preocupe. – Janine disse imponente. – O veneno só causa enfraquecimento na vítima. Em pouco tempo será eliminado do organismo e ele ficará bem.

    - Muito obrigada. – disse com lágrimas nos olhos. – Desculpe. Eu estou emocionada. – tapei o rosto com a mão esquerda, envergonhada de me encontrar aos prantos. Eu criticava minha mãe por isso, mas estava igual a ela. – Eu não esperava que pudesse conseguir.

    - Você foi muito bem. – Janine levantou meu rosto para mantermos um contato visual. – Você soube utilizar as habilidades de Mudkip em um momento decisivo. Não acreditava que conseguiria vencer. Surpreendeu-me. Terá um grande futuro. E um dos grandes segredos de um bom treinador, são seus amigos. – disse olhando para Isis. – Essa garota sabe mesmo como apoiar os amigos.

    - Garota, isso foi incrível! – Isis gritou em meu ouvido ao me abraçar. Ainda estava empolgada. – Agradeço o elogio Janine. – disse sorridente.

    - Você foi muito importante Isis. Obrigada. – disse enxugando o rosto. – Poderia segurar o Mudkip. – disse entregando-o.

    - Claro. – Isis disse embalando Mudkip em seus braços. – Você arrasou, mas depois conversamos. Ok. – ela saiu para perto da escada frontal.

    Tentei me recompor limpando o rosto e voltando a falar com Janine.

    - Alma e coração. – Janine iniciou seu discurso. – Um ninja, assim como um treinador se entrega de alma e coração para completar sua missão, e hoje você demonstrou isso em batalha. – ela tirou algo do cachecol. – Aqui está a insígnia da alma. – Janine colocou uma pequena pedra rosada em formato de coração talhada ao meio com uma linha preta em minhas mãos. – O símbolo da vitória no ginásio de Fuchsia. – ela sorriu para mim. Seus dentes alinhados e brilhantes eram encantadores. – Você me proporcionou um bom desafio, espero ter a oportunidade de batalhar novamente quando obtiver mais experiência.

    Pokémon Ree laii [14 +] Alma%5B1%5D

    - Obrigada. – disse mais calma. Apesar de a impressão inicial ter sido negativa, Janine era doce e amigável.

    - Desculpe interromper Janine, mas temos que conversar. – uma mulher muito bonita fardada em um uniforme feminino de polícia azul escuro a frente azul clara com mangas e gola alizarina estava próximo ao portal de madeira. Os traços meigos harmonizando com os olhos castanhos. O quepe no topo da cabeça aos cabelos em tom água-marinha, encaracolados e espetados nas pontas. – É urgente.

    ***

    - O que será que aconteceu? – disse curiosa e preocupada, mas extremamente satisfeita por obter minha primeira insígnia. – Nem pude saber como ela envenenou o Mudkip.

    - Não sei, mas por ser a policial Jenny, só pode ser problema. – Isis ainda estava muita entusiasmada. – Alguma coisa que ela não deu conta e foi pedir pra líder de ginásio, nada mais natural.

    - Que comentário maldoso. – recriminei seu ato.

    - Não tive intenção. – Isis disse incrédula. – Apenas comentei uma das funções de um líder de ginásio.

    - Eles também são responsáveis em manter a segurança da cidade? – perguntei.

    - Lembra dos nove senhores da noite? – Isis respondeu com outra pergunta.

    - Sim. – com isso associei as informações. – Então os nove senhores da noite correspondem aos líderes de ginásio licenciados de Kanto. É claro.

    - Isso mesmo. – disse sorridente. – Fuchsia é representado pela serpente, Ekans, o guardião mais astuto e traiçoeiro conhecido da época. A tradição ninja iniciou-se sobre sua tutela, e estende-se até hoje, pelas mãos de Janine, mas um pouco mais honrosa.

    - Que interessante. – disse empolgada. – Certamente irei aperfeiçoar meus conhecimentos históricos com você ao meu lado.

    - Assim você me deixa encabulada. – Isis disse meio sem jeito.

    Nesse instante fomos interrompidas pelo tocar da pokegear. Fiquei pasma ao ver o visor.

    - Pai é você? – falei cética de que fosse realmente ele.

    - Oi... Que...da. – a ligação estava muito ruim.

    - Pai. – falei ainda desacreditando

    - Querida... Terei de ..er breve... – as palavras estavam sendo entrecortadas. – Como... de... ter notado... o sinal...tá ruim...

    - Sim. – disse um pouco decepcionada de não podermos nos falar muito.

    - Onde você...tá? – mesmo com os cortes consegui compreender.

    - Em Fuchsia. – disse rapidamente.

    - Vá ... centro ..kémon.. mand..rei algumas c..isas. – a ligação caiu.

    - Pai? – disse entristecida.

    - O que houve? – Isis demonstrava preocupação. – Aconteceu alguma coisa grave?

    - Não. – disse me recuperando. – Só porque eu tive pouco tempo para falar com ele, mas o que importa é que pude ouvir sua voz. Há muito não tinha notícias dele.

    - Ahhhhh. – Isis disse emocionada. – Adoro ver estas ligações fortes entre pai e filha.

    - Deixa de ser boba. – ri para não chorar. A saudade apertava em meu peito, era difícil resistir aos sentimentos.

    ***

    Eu estava sentindo um misto de emoções que me deixaram sensibilizada. Isis tentava me animar enquanto adentrávamos o centro pokémon. Estava deserto. Pela hora do almoço, os treinadores deveriam estar na lanchonete. Apenas a enfermeira se encontrava por detrás do balcão da recepção. Dirigi-me a enfermeira Joy e Isis permaneceu a meu lado me apoiando espiritualmente.

    - Em que posso ajudá-la? – disse gentilmente.

    - Poderia examinar meus pokémons. – minha voz saiu doída, cingida.

    - Claro. – falou colocando uma bandeja branca com espaço para seis lugares.

    - Obrigada. – disse depositando as pokébolas ali.

    - Chansey, poderia levá-los. – a enfermeira pediu a sua assistente pokémon, surgindo pela porta frontal.

    - Chansey. – grunhiu docemente.

    Eu já havia entrado em contato com aquele pokémon rosa em forma de ovo em algumas ocasiões, entre elas uma das mais difíceis que já havia enfrentado. Ela carregava um ovo em sua bolsa, tinha uma pequena cauda, membros curtos, um olhar adorável e alguns filamentos rodeados ao tronco. Ainda sim me prestei a coletar informações com a minha pokedex.


    Pokémon Ree laii [14 +] 113

    Chansey, pokémon ovo. Um pokémon raro e elusivo, dito para trazer felicidade para os corações feridos. Os ovos são ricos em nutrientes e extremamente deliciosos. Diz-se que seus ovos possuem propriedades míticas.

    Não sabia que aquele pokémon adorável poderia ser tão interessante. Chansey rodeou o balcão parando a minha frente, sorrindo. Acenou para que me abaixasse. Não entendi o que ela queria, mas obedeci.

    - Chansey. – disse retirando o ovo de sua bolsa e entregando-o para mim.

    Ao segurar senti uma sensação indescritível. A alegria inundou em meu coração, e não havia mais absolutamente nada me incomodando. Minhas preocupações, a saudade, lembranças ruins, pesadelos, alucinações, todos os sentimentos negativos esvaíram-se de mim. O ovo desapareceu neste instante evaporando em cintilantes flocos esbranquiçados, notavelmente semelhantes à neve.

    - É raro a minha Chansey dividir o seu ovo. – a enfermeira Joy disse gentilmente. – Deve ser uma pessoa muito especial e de bom coração.

    - Obrigada. – Abracei Chansey emocionada de seu ato inesperado. A felicidade era tamanha que transbordaram lágrimas em meus olhos cor de água, encharcando minha face rosada.

    - Chansey. – ela acariciou minhas costelas carinhosamente com seus braços encurtados.

    Ao nos soltarmos, já havia outro ovo em sua bolsa. Ela se dispôs para o consultório empurrando a cômoda metálica com várias bandejas.

    - Enfermeira, meu pai disse que iria mandar algo para mim. – disse enxugando as lágrimas, extremamente feliz. Isis me abraçou visivelmente emocionada. – Andrews Cerule. – disse pigarreando. – Desculpe. – estava sem graça. Porque demonstrava minhas emoções tão intensamente em companhia de pessoas que não tinha intimidade? Perguntei para o meu íntimo. Pelo menos não havia um público presente para ver.

    - Não se preocupe. – falou observando o monitor. – Ah, sim. – disse digitando algo. – Poderia me entregar sua pokegear e sua pokedex. E aqui. – disse entregando um cd. – Acabei de gravar um recado que seu pai enviou. Você poderá escutá-la naqueles telefones. – ela apontou para uma mesa de mogno envernizado com divisórias, e em cada uma, um enorme aparelho prateado, com um visor negro brilhante, entradas para as mais diversas funções, e uma base com o fone fixado. – Irei fazer algumas atualizações e poderá demorar um pouco. Enquanto isso pode aproveitar para escutar o recado. – disse encaixando um cabo USB a pokegear e a pokedex em uma entrada própria no computador.

    - Nossa! – disse surpresa com tamanha eficiência demonstrada pela enfermeira. – Realmente faz um ótimo trabalho e obrigado pelo elogio. – não esquecera seu comentário.

    - Eu que agradeço. – ela pôs as mãos no rosto demonstrando constrangimento.

    Encaminhei-me para os telefones, Isis em meu encalço.

    - Isis poderia me auxiliar? – olhei todas aqueles botões e entradas sem saber o que fazer.

    - Certo. – Isis já previra que eu precisaria de sua ajuda.

    Ela inseriu o cd em um dos orifícios, e o tela mostrou a imagem de meu pai.

    A felicidade explodiu em meu coração, ao poder ver seu rosto, mesmo que fosse por um telefone.

    - Querida, estou com muitas saudades. – disse com seu sorriso pueril. Seu cabelo e sua barba lisa azul meia noite intocável, os olhos castanhos que transmitiam aspiração e desejo de um mundo melhor, o aspecto cansado de trabalhar até a exaustão, ainda era como eu lembrava. Ele vestia um jaleco por cima de uma camisa pólo âmbar, e se encontrava em um local escuro, indefinível, provavelmente era noite quando gravou a mensagem. – Desejo os mais sinceros votos de sucesso em sua empreitada, entretanto quero que tenha cuidado. Prometi a sua mãe que você ficaria bem, então nada de ações audaciosas. Mudando de assunto, eu recebi uma mensagem de um assistente do professor Carvalho com algumas dúvidas referentes à sua pokédex. Eu já havia dialogado com o professor, mas ele teve de se ausentar e provavelmente não teve tempo hábil para atualizar a pokédex com as informações que obtive em minhas últimas pesquisas. Descobri um exemplar que se encontra com você, capaz de utilizar um ataque até então considerado impossível para um Mudkip. Resolvi dá-lo de presente a você, como compensação de minha ausência. Espero que compreenda. Não pude interromper as pesquisas. Em relação a pokegear, ela estava desatualizada. Desculpe por isso. Eu não havia notado que o mapa estava incorreto. Era uma versão pós a catástrofe. – nesse momento um vento gélido transpassou minha nuca, arrepiando-me. – Em breve nos veremos minha querida. Seu pai te ama muito. Estou orgulhoso de você.

    A tela enegreceu-se simbolizando o fim da mensagem.

    - Porque não me disse quem era seu pai? – Isis deu uma batidinha carinhosa em meu ombro.

    - Somente pelo tempo. – repliquei imediatamente.

    - É mesmo. – Isis ficara estranha. Os olhos negros brilhantes e vívidos se resumiram em hesitação. – O tempo.

    - O que se passa nessa cabecinha? – disse sorridente, a alegria se sobressaía aos outros sentimentos.

    - Tenho um compromisso importantíssimo e estou procrastinando, acho que por medo. – Isis tremulou a voz.

    Sabia que Isis iria procurar se entender com os seus pokémons. Era uma tarefa difícil e dolorosa. Muita coisa poderia ocorrer e eu sentia que ela não estava preparada para algumas das possibilidades.

    - Quer que eu te acompanhe? – perguntei já sabendo a resposta.

    - Não. – Isis disse com firmeza. – Isso é algo que tenho de fazer sozinha.

    - Certo. – lhe dei um abraço caridoso. – Então, boa sorte.

    - Obrigada. – ela liberou-se de mim, caminhando rumo à saída. – Nos veremos a noite?

    - Com certeza. – complementei. – Nos encontraremos para comemorar.

    Isis sorriu e foi-se embora. Agora tinha de esperar as atualizações serem feitas e meus adoráveis pokémons se recuperarem. Como Isis, eu também tinha alguns assuntos pendentes. Assim que surgisse a oportunidade de conversar com meu pai, iria fazê-lo. Tinha tantas dúvidas. Neste momento não pareciam importantes, contudo em algum momento elas me dominariam, e não queria que isso ocorresse.

    Decidi passear pela cidade para espairecer as ideias. Isis disse que retornaria somente à noite, então não havia empecilhos para isso. Fui à recepção, queria aproveitar o restante do dia para conhecer Fuchsia, iríamos partir logo cedo amanhã.

    - Enfermeira, eu irei dar uma saída, em breve estarei de volta, está bem. – disse sorridente.

    - Pode ir sossegada. – ela falou gentilmente. – Ainda levarei algum tempo para terminar as atualizações e seus pokémons precisam de descanso.

    - Certo. – consenti com a cabeça.

    ***

    Aproveitei o período de almoço para conhecer a culinária local. Um restaurante construído entre as árvores de flores rosadas, protegido por lonas em tom amêndoa, suavizavam-se e se rematavam. Ao centro, os cozinheiros davam um show no preparo dos pratos em uma espécie de redoma de vidro temperado circular. Eram chefs malabaristas, conhecidos pelo modo inusitado de inventar e apresentar seus pratos. Os clientes maravilhados aplaudiam a todo instante cada movimento que realizavam.

    Havia apenas uma mesa disponível, então me apressei para poder sentar. Os móveis eram diferenciados. A mesa era rebaixada, e com isso os assentos resumiam-se a confortáveis e macias almofadas de cores quentes e alegres.

    Assim que me aconcheguei, uma garçonete se aproximou para coletar meu pedido.

    - Deixo para o chef escolher. – disse muito animada. Gostaria de ter dividido este momento com Isis, pensei.

    - Certo. – sua voz era levemente rouca. Ela parecia utilizar de uma peruca preta, não tinha certeza, era natural embora não acreditasse realmente ser possível mantê-lo daquela forma. Os olhos de uma cor vívida e muito bonita, algo próximo do verde-esmeralda, a maquiagem forte, boca vermelho berrante, tinta branca em todo o rosto, em conjunto a um quimono branco com flores de aglaias estampados, em um corpete coral. Apesar de exagerado, extraía uma beleza intocável e misteriosa, juntamente a uma sedução reservada de muito bom gosto.

    Enquanto aguardava, eu me distraía com um dos cozinheiros lançando pedaços de frango e legumes grelhados no ar atravessando-os em espetos de madeira, terminando mais um prato. Outro incendiava uma panela repleta de batatas doces cozidas, distribuindo temperos diversos, revirando-os em um prato de porcelana abafando o ar, eliminando as chamas, restando mais um belo prato de encher os olhos.

    - Aqui está. – a mulher disse colocando as porções a mesa. – Saboreie.

    - Obrigada. – não sei se era por que me encontrava faminta, mas o aroma e o visual estavam espetaculares. – Obrigado pela comida!

    Tasquei um pedaço de sunomono divino. De consistência leve, suavemente acidificado era o melhor que já provara. Associei com karaage, que acentuava o sabor do sunomono, picante, tive de me refrescar com o suco de sitrus berry. De sobremesa, um anmitsu congelante, suave e adocicado.*

    Após me deliciar com um almoço esplendido, uma conta um pouco salgada me causou indigestão. No recibo notei que meu saldo estava consideravelmente elevado, diminuindo o rombo causado. Eu sabia que as batalhas pokémon rendiam recursos para os treinadores, mas eu não havia comentado valores com os meus adversários. Meu pai deve ter dado um upgrade em minha conta bancária para me precaver de urgências.

    Depois me preocuparia com isso. Estava aproveitando a recente invasão de felicidade para me divertir.

    Continuei a excursão solitária pela cidade me deparando com uma modesta construção. Cercas metálicas com lâmpadas amareladas luminosas circundando uma área considerável, à frente, um edifício em tijolos de barro, a porta e as janelas de carvalho envernizado, a maçaneta prateada, um quadro de avisos e uma placa envelhecida. Alguns jipes verde musgo enlameados, permaneciam no estacionamento, prontos para qualquer emergência.

    - Zona do safári. – fiquei abismada comigo. Sempre dizia que iria a um e não me liguei que em Fuchsia havia um dos estabelecimentos de referência neste quesito.

    Prontifiquei-me a abrir a porta. Duas mulheres em um macacão camuflado, verde, cinza claro e amarelo pálido digitavam constantemente aos teclados, focadas nos computadores atrás do balcão bege de teflon. O piso de porcelanato siena claro emoldurado a parede terracota, contornava as salas da administração, banheiros e da entrada do safári.

    - Posso ajudar? – a mulher da esquerda disse como um robô. Seus olhos fundos, rente as olheiras enegrecidas, os cabelos ruivos desarrumados. Notava-se sua exaustão.

    - Ann... – ficara um pouco assustada, mas logo a alegria me inundou. O ovo de Chansey ainda fazia efeito em mim. – Gostaria de participar do safári. – disse tranquilamente.

    - Certo. – a mulher disse desanimada. – É a sua primeira visita?

    - Sim. – certamente teria de fazer um cadastro, tudo exigia isso.

    - Você deverá pagar a taxa de entrada, e receberá trinta safariballs para uso exclusivo no safári e terá duas horas para explorar o local. – a mulher disse colocando uma pulseira de plástico negra com alguns pontos verdes a mostra e uma sacola verde amarrado a uma corda preta visivelmente resistente. Ficara feliz de ser apenas uma breve explicação do funcionamento do safári e não mais um cadastro a ser preenchido. – É estritamente proibido utilizar seus pokémons durante o percurso, por isso instalamos um sistema que impede o funcionamento das pokebolas para liberar um pokémon, apenas retorná-lo, permitindo somente a captura. Esta pulseira possui um sistema GPS, que marcará a sua posição e o tempo será de acordo com a coluna verde. Assim que desaparecer o último pino, você será recolhida por nosso pessoal e trazida em segurança até aqui. Em caso de emergência, abra este compartimento, pressionando este botão por cinco segundos, digitando o código, um, seis, oito. – falou destacando uma tecla branca na lateral direita. – Seus pertences serão colocados no guarda-volumes e poderá recolhê-los ao retornar. Alguma dúvida?

    - Não. – As informações se contradiziam. Um aviso ao fundo me confundiu ainda mais.


    PARA MAIOR PROTEÇÃO, NÃO SERÁ PERMITIDA A ENTRADA COM OBJETOS PESSOAIS

    Como era proibido levar os seus pertences, qual a necessidade de dizer que os pokémons também eram. Talvez quisessem reforçar aos treinadores que ali viessem às regras do safári.

    - Aproveite. – disse em um sorriso forçado.

    - Agradeço. – Fui em direção a porta, quando percebi a imensidão verde dominou toda a paisagem.

    Uma campina verdejante em meio a castanheiras de cinco metros aproximadamente enfeitava a natureza selvagem daquele lugar. Apesar da riqueza da flora local, a fauna estava estranhamente ausente.

    ***

    Já se passara um longo período andando por entre as trilhas e nenhum pokémon a vista. Sentia-me feliz, e não almejava estar. Naquele momento desejava sentir frustração, natural de se sentir quando não consegue cumprir o seu objetivo. Os sentimentos surgiam e desapareciam instantaneamente, bloqueados por uma alegria sobrenatural irritante.

    Sentei em uma pedra próxima, ajeitando o cabelo em um rabo de cavalo, amarrando com um rabicó mocassim. Alguns grunhidos as minhas costas me animaram. Finalmente teria alguma oportunidade de capturar um novo companheiro para se juntar a Mudkip e Natu.

    Furtivamente, esgueirei-me pela mata densa, contudo não notara o barranco, e despenquei ladeira abaixo. Procurei proteger o rosto e me agarrar a algum galho, ou outro objeto que conseguisse suportar o meu peso. Interrompi em um baque seco e doído ao chão. Meu cotovelo direito ardia, o dorso latejava, mas de resto tudo bem.

    Os sons estavam mais perceptíveis e tentei me erguer para ver de onde vinham. Apesar da visão confusa e perturbada, consegui definir um furgão de aço em cores negras a minha frente. Ao lado um homem aparentando uns trinta e cinco anos, robusto, cabelos negros curto, queixo proeminente, olhos frios, cicatrizes marcantes dispostas pela face, uma aura tenebrosa, peregrinava por ali. Vestia um uniforme preto, em destaque um R vermelho em alto relevo no peitoral e botas de couro.

    Carregava uma arma de alto calibre, e por essa razão não atrevi a me aproximar.

    Aquele homem devia ser um caçador, já ouvira falar deles. Eram indivíduos desprezíveis que capturavam pokémons considerados de características perfeitas, e vendiam a pessoas poderosas e inescrupulosas.

    Ele estava coçando a cabeça quando entre as árvores uma bela mariposa em tom lilás, de asas cintilantes surgiu furiosa de encontro ao homem, contudo em um movimento rápido, ele se esquivou e apertou o gatilho. Um estalo explosivo e carcaças esvoaçantes foram ao ar.

    - Hum! – tapei a boca, estaria em sérios apuros se fosse descoberta. Não conseguia sentir medo, a alegria frequente, permitiu ao menos permanecer mentalmente calma. Fisiologicamente estava em estado de choque. A adrenalina percorria minhas terminações nervosas, eletrizante, tremulava e transpirava furiosamente, a respiração ofegante, os olhos arregalados diante de tamanha brutalidade.

    O barulho atrás do furgão se acentuou. Havia pokémons ali, com certeza. Tinha de fazer algo. Não conseguiria me perdoar se não tentasse alguma manobra de resgate.

    - Você conseguiu terminar? – uma voz chiada soou de sua cintura. O homem segurou o rádio de longo alcance.

    - Sim, estou apenas me divertindo um pouco. – disse sombriamente. Sua voz era grave, dura e levemente sarcástica. – É tão bom ver o sofrimento, o sangue, a dor, o ódio. Hahahaha! – ele riu malevolamente. – Vou em seguida.

    Era desprezível. Seu desejo sádico não se continha com as caçadas ao qual era contratado. Divertia-se montando sua espécie de caçada mortal, dizimando vidas como se não valessem nada. Um monstro em forma humana.

    - Não se atreva a me fazer esperar. – disse irada. – Odeio quando faz isso.

    - Certo, meu bem. – caçoou. Provavelmente falava com uma mulher.

    - Não me provoque. – a voz se enfureceu.

    Aproveitando que estava distraído, resolvi agir. Abri o compartimento da pulseira, digitando o código de emergência, em breve estariam ali, mas poderia ser tarde demais. Circundei pela mata verdejante, banhada em vermelho. Notei outras carcaças recém estraçalhadas enquanto caminhava. Naquele momento quase verti o que havia apreciado no restaurante. Lágrimas saíram de meus olhos, as emoções eram intensas demais, sufocando a alegria que insistia em se sobressair. Respirei fundo tentando me acalmar, mas o cheiro de sangue era forte demais me deixando mais nervosa do que já estava. Preocupei-me, poderia ter alucinações e apagar, perdendo a chance de salvá-los.

    Ficara de frente aos pokémons, era o momento certo de agir. Eu nunca havia visto nenhum daqueles pokémons, deveriam ser bem raros. O temor perceptível em suas faces gentis e inocentes trouxe mais ânimo e coragem para libertá-los. Apesar do perigo iminente, faria tudo que estivesse ao meu alcance para tirá-los dali em segurança.

    A porta aberta facilitaria a minha ação. As jaulas nas laterais não estavam fixadas, caso não conseguisse soltá-los, carregá-los-ia se necessário.

    Os pokémons perceberam minha presença, mas fiz um gesto para continuarem a agir da mesma forma. Primeiramente, tentei retorná-los com a safariball, entretanto as jaulas bloqueavam. Então tive de recorrer à segunda opção. Observei o homem, procurando o momento mais seguro para me aproximar do furgão sem ser notada.

    - Só mais um e já vou. – o homem dizia se afastando cada vez mais do furgão.

    Aquele era o momento mais oportuno. Intrépida, me coloquei rente ao lado direito, tentando me ocultar. Comecei a puxar a jaula mais externa para fora, mas uma pancada na região do quadril me jogou contra o furgão. A jaula foi de encontro ao chão e o pokémon em seu interior gritou amedrontado. Bati a lateral da cabeça no metal liberando um líquido quente e viscoso. Meu corpo enfraqueceu-se e acabei forçada a ajoelhar no chão; estava zonzeada, contudo segurei firmemente a uma das barras da jaula.

    A dor insuportável dificultava a respiração.

    - Sabe o que eu faço com moleques xeretas. – o homem estava furioso.

    Ele dispôs-se a minha frente mirando a arma em meu rosto. Apesar de seu ato, não me intimidei. Olhei diretamente em sua face, enfrentando-o.

    - Suma daqui! – Irritado, ele esmagou minha mão tentando fazer com que soltasse a jaula.

    - Crec. – meu pulso rompera, a dor fora imensa ao ponto de perder a força de minha voz para gritar, no entanto não desisti. Agora apesar de tudo, sentia-me feliz de fato de conseguir suportar seus ataques. Ele desferiu um chute em meu abdômen e uma bofetada em meu rosto, tentando forçar-me a largar, mas eu estava irredutível.

    - Você pretende morrer garota? – o homem disse sorridente. – Será um prazer acabar com você. Tudo por causa desses bichos que você nunca tinha visto? Idiota.

    Sentia um gosto metálico em minha boca, a saliva adocicada fluindo em meu queixo, respingando um líquido vermelho vivo na terra fofa. A visão escurecia à medida que meus músculos adormeciam, o corpo mole, estava prestes a perecer. Mesmo assim, não soltara a jaula. A mão estropiada permanecia obstante ao restante de meu corpo. Ele teria de arrancá-la de meu corpo se quisesse levar aquele pokémon.

    Estendi a mão direita para tentar acalmar o pequenino e inocente pokémon. Ele choramingava a todo instante.

    - Vai ficar tudo bem. – tossi gotas de saliva avermelhadas no chão. As palavras de Janine vieram a minha cabeça e resolvi repeti-las, me pareciam oportunas nesse momento. – Al...ma e coração! Um treinador se entrega de alma e coração para completar sua missão. Sempre!

    Mesmo naquelas condições consegui ouvir uma sirene se aproximando dali. Estávamos salvos.

    - Impertinente. – ele desferiu outro golpe contra meu crânio. O impacto embaralhou minha visão. – Acertaremos as contas em outra ocasião. E pode ter certeza, você pagará com a sua vida na próxima. – ele disse fechando a porta do furgão. O motor rugiu, e as rodas furiosas derraparam na terra úmida, afastando-se.

    Esgotada, apaguei. Mesmo assim, continuei agarrada a jaula, conseguia sentir.





    Abaixo um preview do próximo capítulo:


    Spoiler:


    *Sunomono vinagrete de pepino com algas

    *Karaage - Fritos de carne ao estilo japonês, geralmente carne de galinha condimentada com molho de soja. É apreciada e consumida pelos japoneses durante todo o ano. Consiste em pequenos pedaços de carne previamente marinados em molho de soja, alho e gengibre e posteriormente fritos em bastante óleo e acompanhados por um gomo de limão ou maionese

    *Anmitsu, uma sobremesa gelada feita à base de anko, pasta cremosa de azuki, o feijão japonês.



    Última edição por Mr. Mudkip em 14.11.12 21:40, editado 1 vez(es)
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    Pokémon Ree laii [14 +] Empty Re: Pokémon Ree laii [14 +]

    Mensagem por Mr. Mudkip 25.04.12 19:26

    Pokémon Ree laii [14 +] 1zce73t



    Olá a todos da shiny, lançando mais um capítulo de Pokémon Ree laii. Irei seguir por rumos diferentes a partir de agora em relação a história original. Decidi torná-la mais popular e com enredo mais dinâmico. Neste e nos próximos capítulos já com novos personagens inéditos e algumas mudanças. Comentem!


    Capítulo 006 – As rotas 15, 14, 13, 12 e 11


    ISIS GAST

    Caminhei sem rumo por entre os sândalos perfumados da arborizada cidade até me encontrar em uma singela praça, agradável e tranquila, contrário a minha mente, remoendo questões a se resolver, insegura e apreensiva não se continha de nenhuma forma. Havia apenas uma alternativa para isso, contudo...

    Como iriam reagir agora? Iriam me perdoar ou me condenariam pelo meu ato impensado?

    Meus pokémons, tudo que eu mais amava. Porque fiz algo tão ruim? Não merecia que me perdoassem. Abandonara-os em um laboratório por mais de um ano, e não dissera nem ao menos o motivo, ao qual nem eu me recordo mais. Graças a Julli, que por alguma razão inexplicável me fez lembrar o amor pelos pokémons, eu acordei, contudo seria possível reaver uma aproximação com eles?

    Devido a minha fixação pela história, acabei esquecendo de todo o resto. Por querer compartilhar o desejo de harmonizar a relação entre pokémons e seres humanos, compreendendo e aprendendo com os erros cometidos no passado, acabei me desconectando deste elo. Se eu não conseguia, como poderia pedir para que outro fizesse? Era deplorável. Minhas convicções me levaram a um caminho oposto ao qual eu buscava. Em algum ponto de minha jornada eu me perdi e agora eu desejava desesperadamente retornar.

    Chegava o momento de recuperar aquilo que sempre procurei para mim. Tomei coragem e coloquei três pokebolas alinhadas no ladrilho ametista. Cliquei uma vez em cada uma, expandindo-se. Novamente cliquei e três raios brilhantes moldaram-se em objetos sólidos no gramado aparado e aguado constantemente pelos sprinklers da praça.

    Pokémon Ree laii [14 +] 246

    - Larv! – um pequeno lagarto esverdeado de aspecto pedregoso evidenciou uma proeminência semelhante a um chifre sobre a cabeça ao espreguiçar-se. Para não se molhar com a constante ação dos sprinklers, ele saiu do gramado, observando-me com seus olhos carmim, intensos e pouco amigáveis continuado em uma faixa negra. Cutucou o abdômen onde havia três losangos carmim em listras horizontais e duas aberturas nas laterais com os membros curtos ausente de dedos, abanou sua cauda em formato de uma flor desabrochada, repousando-a no chão.

    Pokémon Ree laii [14 +] 216

    - Ted? – uma fofa ursinha de formas arredondadas em meio a trejeitos desengonçados espatifou-se no chão ao surgir. Com uma lua crescente castanho claro representado em sua testa, o pelo curto marrom cobrindo o corpo, os olhos circulares negros com íris de coloração verde prateado resplandecente, três garras nas patas dianteiras e duas em seus pés, se ergueu imediatamente a queda.

    Pokémon Ree laii [14 +] 133

    - Ee... – um miúdo quadrúpede elegante de pelo marrom com chumaços de pelo de coloração creme ao pescoço incandescentes contra a luz e de mesma coloração na ponta de sua cauda deu alguns passos no próprio eixo. Os olhos castanhos aguçados e vívidos, o nariz negro em um triângulo invertido, orelhas grandes e pontiagudas e os pés felinos, disposto em três dedos em cada pata, alinhado em todos os seus movimentos.

    - Larvitar, Teddiursa, Eevee, estou envergonhada do que eu fiz. – disse incapaz de encará-los. Ajoelhei-me a eles permissiva, esperando o pior.

    - Ee... – Eevee começou a me lamber carinhosamente.

    - Ted. – Teddiusa se debruçou sobre mim. Seu corpo macio e quente era como me lembrava.

    - Lar! – Larvitar deu uma batidinha amigável em meu ombro.

    Não acreditava naquilo. Devia estar sonhando. Preocupara-me de tal maneira que nunca esperaria essa reação cordial e amigável.

    Os puxei em um abraço caloroso. Larvitar não se sentiu confortável e logo se liberou. Eevee ficou um tempo considerável, já Teddiursa não se desgrudou. Era viciante tocá-la. Seu pelo macio era como uma droga, quanto mais se usava mais prendido a ela se tornava.

    Eles me olharam felizes, contudo percebi certa mágoa. Era mais do que natural. Eu me distanciara deles e nem dei satisfações, mas agora seria tudo diferente. Iria me concentrar em nosso presente.

    Mas e o nosso passado... Era inevitável tocar nele. E pensar como cada um deles surgiu a mim.

    Não os escolhera. Cada um deles se uniu a mim pelo acaso, ou até mesmo pelo destino. Três pokémons com características fascinantes que obtive em minha jornada por Johto.

    Encontrei Larvitar no Mt. Prateado quando estudava sua ligação a terra prateada de Johto, em uma expedição dificílima.

    Teddiursa, eu conheci nos arredores de Blackthorn, se me lembro bem, engolindo todo o honey que via pela frente. Eu estava em busca de respostas para a sua representação lunar, mas não encontrei relação entre as duas partes.

    Eevee, meu primeiro pokémon. Um presente concedido em Goldenrold por um famoso pesquisador no começo da minha jornada, o único pokémon que possui a capacidade de evoluir para formas das mais variadas. Um dia decisivo. As palavras de Bill alcançaram meu coração de uma forma inesperada. Foi ali, naquele momento que defini os meus objetivos e metas de vida.

    Minha mente retornou ali com eles com pensamentos de não me afastar deles nunca mais.

    - Quero que conheçam uma pessoa muito especial. – disse felicíssima. – Mas primeiro vamos nos curtir um pouco. Tão afim?!

    - Larv! – Larvitar grunhiu estrondosamente.

    - Teddiursa. – Teddiursa lambeu as patas para demonstrar sua alegria.

    - Ee. – Eevee consentiu alinhado.

    Corremos pelo parque banhado pelo sol da tarde, quente e revigorante, a procura de diversão, como nós fazíamos em épocas passadas. Boas recordações.

    ***

    O sol se ocultava por entre as flores dos sândalos as nossas costas. A luz laranja berrante intensificando a beleza rósea da região, uma bela paisagem de encher os olhos. A beira da praia, eu observava as ondas luminosas a minha frente expostas contra a luz, dançantes e correntes, fluindo gentilmente até a areia fofa e acastanhada. As pedras de granito incrustadas em pontos variados, algumas destruídas pelo Larvitar enquanto se divertia, formavam pequenas sombras, deixando tudo ainda mais belo.

    Estávamos exaustos. Após andarmos por toda a cidade, resolvemos descansar fazendo um de nossos passatempos favoritos; observar o pôr do sol. Eevee estava em meu colo, Larvitar escorado em minhas costas, Teddiursa relaxava na areia com o meu cafuné.

    Julliane iria adorar os meus pokémons, disso eu tinha certeza. Mudkip e Natu também iriam adorar novos amigos para fazer companhia. Agora minha jornada seria como eu gostaria. Amigos para compartilhar experiências, porque sem isso eu voltaria a me afogar em um passado que eu luto para esquecer.

    A calmaria fora interrompida por uma ligação confidencial em minha pokegear.

    - Alô. – disse observando um peixe branco e laranja com um chifre no topo da cabeça saltando pelas ondas.

    - Julliane foi atacada e está no hospital. – uma voz feminina soou pela outra linha. – Preciso que tome conta dela, pois não estarei presente por algum tempo e em hipótese alguma se afaste dela.

    - O quê? – quando percebi restara apenas toques repetidos sinalizando o fim da ligação. – Julli! – disse desesperada. Eevee, Teddiursa e Larvitar se afastaram com feições preocupadas em suas faces adoráveis – Mas como isso foi acontecer? Eu... Isso só pode ser um trote.

    - LAR! – Larvitar berrou me acalmando.

    - Obrigado Larvitar. – disse me sentindo culpada em deixar Julliane só, mas não esperava que algo assim acontecesse. – Vamos para o hospital. A pessoa que queria que conhecessem está ferida. Por favor, retornem. – disse procurando as pokebolas na mochila. – Depois eu...

    ***

    - Julliane Cerule, esta nesse hospital? – disse aflita. Já era o terceiro hospital que visitava e não conseguira encontrá-la.

    - Vou verificar. – a enfermeira disse solidária percebendo meu sofrimento. – Sim. – falou digitando algo no computador da recepção. – Está na UTI.

    Eu gelei nesse momento. Devia ser muito grave. Como isso acontecera.

    - Está falando sério? – disse tentando entender. Eu me ausentei por poucas horas e ela estava bem. Não a conhecia direito, mas me afeiçoara a ela de tal maneira, que sentia como se nos conhecêssemos a vida toda.

    - Sei que é difícil para uma jovem como você enfrentar essa situação, mas preciso da autorização do responsável. – disse o mais gentil que pôde.

    - Eu irei falar com o pai dela, mas agora será que eu poderia vê-la? – disse com lágrimas nos olhos.

    - Certo. – falou apontando o elevador. – Terceiro andar.

    - Obrigada. – sai agoniada até o elevador.

    Cada segundo que passava era uma tortura. Não podia acreditar. Eu que já sofrera tanto por perder pessoas queridas a minha volta. Seria uma maldição rondando os meus passos?

    Julliane acabara de surgir em meu caminho e nos tornamos amigas de imediato. Nunca fora tão fácil para mim. Sempre fora solitária. Será que seria seguro eu permanecer perto dela? A estranha ligação que recebi disse para que não me afastasse dela em nenhuma hipótese. Será que Julliane corria algum perigo. Não me parecia que estivesse com medo ou fugindo de alguma coisa.

    As portas do elevador se abriram e os letreiros fixados ao teto sinalizaram para onde deveria seguir. Corri. Minha ansiedade em encontrá-la era irrefreável. Como explicaria aos pais de Julli o que ocorreu.

    Escancarei a porta da UTI assustando as atendentes. Caminhando pelo corredor, pude observar pelo vidro diversas pessoas em estados preocupantes. No penúltimo leito vi longos cabelos azul aço espalhados no travesseiro envolto em ataduras.

    Lágrimas escorreram naquele momento. Os seus olhos fechados, a máscara de oxigênio em sua face serena e pálida, o braço direito imobilizado, inchado e de coloração púrpura. Aparentava ser grave. Resquícios de sangue seco pelo seu corpo, fios e agulhas dispostos para todo lado, diversas máquinas barulhentas desenhando linhas nos monitores, números e símbolos, agora sua vida dependia daqueles aparelhos. Era difícil acreditar.

    Percebi que próximo ao seu braço esquerdo havia um pequeno broto de coloração verde grama e verde floresta, a face amarela, os olhos negros em traço e com duas vinhas torcidas em sua cabeça. Estava bastante inquieta. Eu nunca havia visto aquele pokémon, que por suas características devia ser do tipo grama.

    - Não se preocupe. – uma voz amável e confiante se dirigiu a mim. – O estado dela é estável, apesar dos danos sofridos é uma garota forte e se recuperará bem.

    - Verdade? – disse um pouco desesperada.

    - Tenho certeza disso. – disse sorrindo para mim. – Já passei por muitos casos em minha longa carreira e essa garota tem muita vontade de viver. Não vai se entregar.

    O senhor de cabelos brancos curtos e desajustados, pele negra e enrugada, olhos amarelos fortuitos e graciosos e um sorriso abrasador me abraçou afetuosamente. Seu nome estava escrito em seu jaleco branco: Dr. Railer Teiki.

    - Obriga... – As emoções intensas me fizeram apagar ali mesmo.

    ***

    Acordei em um escritório com pouca luminosidade, deitada em uma espreguiçadeira extremamente confortável. O relógio de parede indicava três e vinte e sete da manhã. Dormira um longo tempo.

    Minha cabeça pesava e doía nas têmporas. Os olhos ardendo, a visão turva e embaralhada. Mesmo desacordada continuara a chorar, meu rosto estava encharcado. Ver Julli naquele estado não melhorou meus ânimos.

    - Se sente melhor? – alguém disse as minhas costas.

    - Sim. – falei com a voz fraca. – Ainda zonza.

    - Precisamos entrar em contato com os pais dela. – o homem se pôs a minha frente. Era o médico que conversara comigo antes de desmaiar. – Eu sei que não é um bom momento, mas ela é menor de idade e não podemos fazer os procedimentos sem autorização de um responsável.

    - Certo. – disse receosa, procurando palavras a serem ditas. – Eu não sei se consigo. Mas eu vou tentar.

    - Agradeço. – o homem se sentou atrás de seu gabinete com um ar preocupado.

    - O que houve? – comecei a me inquietar novamente. – Julli piorou?

    - Não. – disse se recostando na cadeira de couro acolchoada. – Estava recordando de alguns momentos que ocorreram há três anos.

    - E o que seria? – mesmo nesse momento meu desejo por conhecer sobre a história se sobressaía, apesar de que eu também queria evitar ao máximo o momento de noticiar a família de Julli o ocorrido.

    - A catástrofe que se abateu sob Viridian. – disse sombriamente.

    Naquele instante me arrependi de ter perguntado. Tinha péssimas recordações daquele dia. Meus pais faleceram naquele fatídico dia. Minha vida virou de ponta cabeça e muitas mudanças ocorreram. Tive de abrir mão de muita coisa para seguir em frente, e assim como milhares de pessoas que foram dizimadas por uma força desconhecida, também tiveram de fazer.

    - Lembro-me muito bem, pois ocorreu exatamente nesta mesma data. Eu estava realizando uma consulta nos arredores da cidade de uma senhora idosa, que havia sofrido uma queda e sentia fortes dores na lombar. Quando estava de saída, ao longe vi uma esfera luminosa se formando no entorno da cidade. A explosão foi num instante e não restava mais nada. Apressei-me, mas pouco pôde ser feito. Os poucos sobreviventes nada sabiam do que levara àquilo a acontecer. Desculpe-me. Você já está muito sensibilizada com o acontecido a sua amiga. Não deveria...

    - Não se preocupe. – disse consternada. – Agora tenho de fazer uma ligação.

    - Certo. – falou constrangido. – Os pertences dela estão aqui.

    Apesar de reavivar sentimentos que não gostaria isso me deu forças para conseguir falar com os pais de Julli. Eu sentira um aperto no coração quando meus pais morreram, mas só fui confirmada de suas mortes, semanas depois. Talvez os pais de Julli também tivessem algum pressentimento, e eu já senti na pele que ficar sem notícias era muito pior do que saber o que realmente ocorrera.

    - Alô? – disse apreensiva.

    - Sim? – disse uma voz forte, esbanjando sentimentos revolucionários. – Onde está minha filha? – ele imediatamente estranhara a ligação.

    - Ela sofreu um acidente, mas já está se recuperando. – disse apressadamente.

    - Como isso aconteceu? – falou incrédulo.

    - Eu ainda não sei, mas o hospital precisa da autorização de um responsável pra realizar os procedimentos necessários. – eu não sabia como dar nem mesmo uma notícia dessas, talvez ninguém soubesse.

    - Certo. – disse prontamente. – Me passe para um médico.

    - Sim. – chamei o médico com um gesto.

    Enquanto conversavam fui até Julli. Ainda estava da mesma forma que a encontrei.

    Segundo a pessoa que me telefonou, eu não deveria sair de perto dela. Algo aconteceu. Eu não fazia ideia do que poderia ser, mas eu não me importava.

    Neste momento fazia uma promessa, protegeria os meus amigos sejam lá o que os ameaçasse. Não permitiria mais que retirassem quem me fosse caro. Não mais.


    3 SEMANAS DEPOIS...

    JULLIANE CERULE

    - Você não vai se desgrudar de mim? – disse extremamente feliz de poder ter feito algo a ela. – Budew. Quando florescer você será ainda mais bela. – contemplei seu belo sorriso. – Ainda bem que consegui te livrar daquele homem malvado, não é?

    Pokémon Ree laii [14 +] 406

    - Bu, deeeeeeeeeewwwwww. – grunhiu alegremente ao jogá-la no ar.

    - Hahahahahaha! – eu ria toda vez que via a reação dela. – Você adora brincar assim, não é mesmo?

    - Julli, não exagere. – Isis sempre me repreendia, ainda estava preocupada comigo.

    - Eu vou ganhar alta hoje, Isis. – disse acariciando a face áspera de Budew. – Acho que posso me divertir um pouco.

    Isis sorriu para mim. Ela não conseguia ficar brava comigo. Eu ganhara uma grande amiga. Soube que ela permaneceu comigo todo o tempo, deve ter se preocupado de verdade comigo. Não queria nem que eu desse o depoimento para a oficial Jenny sobre o ocorrido na Zona do Sáfari. Janine que conseguiu convencê-la a cooperar.

    - Ainda não conseguiram capturar o caçador? – ela não gostava que eu tocasse nesse assunto.

    - Ainda não. – disse ressabiada. – Já disse que quando chegar notícias eu te conto.

    - Ahã. – olhei para Isis duvidosa. – Para onde partimos então?

    - Os ginásios mais próximos ficam em Vermilion e Celadon. – Isis disse observando no mapa da sua pokegear preto e branca. – Deixe me ver. Acho que se seguirmos as rotas quinze, quatorze, treze, doze e onze, será mais vantajoso. De Vermilion podemos pegar um navio até a ilha de Cinnabar. É um ótimo lugar.

    - Isso tudo? – disse contrariada. – Levaremos anos até passarmos por tantas rotas.

    - Será bom para treinar. – Isis levantou-se observando pela janela. Parecia esperar alguma coisa. – Depois disso, vejo que precisamos ficar mais fortes e como você ficou fora de atividade por três semanas, precisa recuperar o tempo perdido.

    - Tem razão! Estou muito empolgada. – bati palmas de excitação. – Quero ver do que Budew é capaz! Além disso, quero retomar o treinamento com Mudkip e Natu. Sem falar que Larvitar, Eevee e Teddiursa são umas fofuras, se deram muito bem conosco.

    - Budeeeeewwwww. – Budew pareceu concordar. Adorara Teddiursa.

    - Você tem toda razão. – Isis sorriu. – Espero que a partir de agora tudo fique melhor.

    - Eu adoraria. – disse contidamente.

    O período que permaneci desacordada foi um tormento. Os pesadelos se alternavam a água torrencial e o sangue quente e viscoso em um ambiente inóspito, composto de pedras de coloração marfim entre construções arqueadas. Não compreendi o que esses sonhos significam, contudo prevejo que os desejos de Isis não se cumprirão. Muitas provações surgiriam em meu caminho, e agora eu estaria preparada.

    Desta vez pude salvar Budew, mas gostaria de ter protegido todos os pokémons que estavam com aquele caçador. A sensação de derrota amargava em minha boca, e talvez fosse apenas os remédios, mas eu também sentia um incomodo em meu peito. Eu agora só tinha uma certeza, nunca mais iria deixar algo inacabado. Iria as últimas consequências para cumprir minhas promessas, mesmo que conquiste mais cicatrizes e fira os sentimentos de quem está a minha volta. Era uma escolha difícil, mas estava disposta a pagar o preço.

    ***

    Seguimos por entre as aglaias perfumadas nos afastando daquela cidade de coloração rósea. Fuchsia. Uma bela e estonteante cidade. Cobiçada por caçadores, indivíduos inescrupulosos que não mereciam sequer ser denominados de seres humanos. Verdadeiros monstros em busca de riquezas, ceifando vidas sem se importar com as implicações de seus atos.

    Eu iria me fortalecer e demonstrar a eles que suas ações podem ser combatidas. Não permitiria que fizessem mal a mais ninguém. Aquele homem. Da próxima vez que nos encontrarmos, e sei vamos nos encontrar novamente, acertaremos as contas. Ele me fez uma ameaça e eu lhe rogo uma promessa: irei detê-lo com as minhas próprias forças.

    - Julli? – alguém disse distante. – Está muito pensativa.

    - Estou apenas refletindo como será meu próximo pokémon. – forcei um sorriso. – Espero formar um grande grupo. Melhor. Uma família.

    - Melhor se concentrar no caminho, isso sim. – Isis disse alegremente. – Ainda está se recuperando, depois continuamos a jornada normalmente.

    - Eu vou seguir as recomendações prescritas, disso não tenha dúvidas. – disse replicando. – Eu não sinto dores. Na verdade, me sinto muito bem.

    - Isso é efeito dos medicamentos. – Isis disse preocupada. – Você teve um traumatismo craniano, ficou dois dias em coma induzido e quebrou o pulso, acha pouco? Você foi espancada cruelmente. Teve muita sorte.

    - Isis se acalme. – falei ficando a sua frente. – Eu não vou me exceder, e não pretendo me machucar novamente. – menti.

    - Vejo que já se recuperou? – uma voz irritantemente familiar surgiu. – Pena que continue a mesma balofa respondona de sempre.

    - Zackie. – grunhi raivosamente. – Pensei que não teria o desprazer de reencontrá-lo.

    - Ainda continua metida a falar difícil. – disse desdenhando. – Pelo menos sua companhia agora é bem mais agradável. – Isis enrubesceu. – O que foi? É tímida. Adoro garotas assim.

    - Sai fora. – disse me aproximando dele. – Isis é muito para você.

    - Eu não disse o contrário. – Zackie retrucou. – Uma bela garota como ela. É preciso se esforçar ao extremo para merecer sua atenção.

    Apesar de Zackie ser um imbecil, tinha de admitir que ele era um galanteador nato. Seus trejeitos simples e sedutores, os olhos atraentes, se não o odiasse profundamente poderia até achá-lo interessante.

    - Zackie, estamos de partida se puder ser breve. – disse tentando ser educada era difícil em se tratando dele.

    - Não tomarei o tempo precioso de vocês, se quer saber. – falou piscando para Isis. Ele era muito descarado. – Só quis me certificar de que estava bem. Fiquei sabendo do ocorrido e apesar de tudo, não desejo o mal a ninguém.

    - Agradeço a preocupação. – sorri instintivamente. – Agora temos de ir.

    - Até logo, Isis. – Zackie disse charmosamente. – É esse seu nome, né? Muito bonito.

    - Hãn, sim. – Isis estava extremamente envergonhada com tantos galanteios. – Obrigada.

    - Vamos! – agarrei Isis pelo braço, arrastando ela para longe dele. – Isis você merece alguém de verdade. Você deveria ter sido dura com ele.

    - Ele não me pareceu ser uma má pessoa. – Isis disse timidamente.

    - Vai por mim, ele não presta. – disse quase como um grito. – Você irá encontrar alguém a sua altura.

    Isis não respondeu. Acho que já era tarde. Ela ficara encantada por aquele garoto. Não iria me intrometer, exceto se ele fosse feri-la de alguma forma. Se ele fizesse isso, seria o seu fim.

    ***

    Seguíamos pela rota quinze, rejeitando todas as batalhas e desafios dos treinadores que encontrávamos. Isis estava me vigiando e seria impossível contrariá-la.

    Devido às constantes paradas para me obrigar a descansar, mesmo sem necessidade, estava nos atrasando. Pelas previsões de Isis, em dois dias chegaríamos a Vermilion para minha segunda batalha de ginásio, o que seria muito ruim. Já perdera muito tempo. Neste ritmo poderia ficar de fora da Liga Pokémon e eu estava ciente que se não fosse este imprevisto, eu poderia estar com minha terceira ou até mesmo a quarta insígnia.

    - Isis você não acha que está exagerando um pouquinho? – disse ao farejar uma nova parada.

    - Ordens médicas. – ela colocou a mochila no chão, retirando algumas tigelas e ração caseira. – E afinal é hora de um lanchinho.

    Isis despejou um pouco de ração de flocos amarelos em uma tigela, pegou mais uma tigela e colocou uma ração colorida e na outra uma ração de brilho prateado.

    - Certo. – peguei um pacote de ração para Mudkip e outra para Natu. – Agora você pode estar até certa. – quase me esquecera de Budew, mas corrigi o erro a tempo.

    Ela riu ao me ver finalmente concordando depois de tanta reclamação.

    - Você mesmo disse que precisávamos treinar. – despejei a ração, mas acabei derramando um pouco na grama. – Tem horas que eu não te entendo viu.

    - Julli, só achei melhor não forçar a barra. – ela me ajudou a recolher a bagunça que aprontei e me ofereceu uma barra de chocolate.

    Aceitei o pequeno mimo, lançando meus pequenos pokémons para a refrescante sombra da árvore.

    - Mud... – Mudkip balançou as barbatanas e foi direto comer.

    - Tuuu! – Natu saltou para um galho de árvore para descansar.

    - DEW. – Budew recolheu-se em meu colo, assim que me sentei.

    - Não estão com fome? – perguntei a Natu e Budew.

    Eles acenaram negativamente, no entanto, incentivei Budew a provar um pouco. Ela comeu a contragosto, e achei melhor desistir.

    - Seus pokémons não gostaram muito dessa comida né? – Isis sentou-se ao meu lado, observando Larvitar, Eevee e Teddiursa comerem. – Talvez devesse tentar algo diferente.

    - Olá mocinhas! – uma garota de aparência pomposa aproximou-se bastante desinibida, interrompendo nossa conversa.

    - Oi. – dissemos juntas.

    - Vocês estão afim de uma batalha? – enquanto ela nos desafiava, um outro treinador de porte refinado se juntou a ela.

    - Ela não expressou toda a nossa proposta. – ele balançou a cabeça. – Uma batalha em dupla, já que eu também gostaria de desafiá-las.

    - O que acha? – tentei convencê-la com um olhar pedinte.

    - Se prometer que não exagera. – Isis se sentiu acuada com tantos olhares voltados para ela.

    - Isso. – desabafei.

    - A propósito, ela não nos apresentou. – ele voltou a balançar a cabeça. – Sou Kurt e ela é a Penélope.

    - Isis e Julli. – Isis respondeu, já observando os seus pokémon. – Quem quer batalhar?

    Mudkip correu para nossa frente com a boca ainda cheia de comida, antecipando-se a todos.

    - Mudkip. – disse envergonhada. – Poderia ao menos terminar de mastigar?

    Todos riram.

    - Larv! – Larvitar aqueceu o clima de disputa.

    - Larvitar, que bom te ver tão animado. – Isis ficou orgulhosa de seu comportamento.

    - Podemos começar? – Kurt ajeitou a mochila no chão, já com uma pokebola pronta para ser lançada ao campo.

    - Quando quiserem. – disse enfim.

    Penélope rodopiou em volta de Kurt, ambos lançando as pokebolas.

    - Drow! – o brilho vistoso se transformou em um pokémon de olhar cansado. Tinha o corpo robusto e enrugado em algumas partes. O nariz em forma engraçada bufava delicadamente. A pelagem dourada resplandecia frente à luz do sol, evidenciando a cor ocre de suas pernas e de sua barriga.

    Pokémon Ree laii [14 +] 096

    - Cleff! – uma pequena estrela rosada deu o ar de sua graça. A orelha marrom tremulava docemente com a brisa quente da tarde. Os olhos miúdos e as maçãs do rosto coradas de vermelho aumentavam o grau de fofura.

    Pokémon Ree laii [14 +] 173

    - Ai, que lindinha. – não contive minha animação ao ver tão belo pokémon. – Deixe me ver. – apontei a pokedex para ela.

    Cleffa, pokémon pequena estrela. Ao ver estrelas cadentes, iniciam um ritual de dança que se estende até o amanhecer.

    Depois para o pokémon de aspecto estranho.

    Drowzee, pokémon anta. Prefere se alimentar dos sonhos das crianças por serem mais saborosos e suculentos. É dito que sentir uma coceira no nariz enquanto dorme, é um Drowzee se alimentando de seus sonhos.

    Calafrios percorreram minha nuca só de imaginar aquele pokémon tentando se alimentar de meus sonhos. Iriam causar-lhe indigestão, afinal, pesadelos insistem em permanecer na minha cabeça.

    - Podemos começar? – Penélope se apoiou em Kurt, e ele gentilmente a segurou em seus braços. Nós consentimos diante de sua pergunta, e Kurt iniciou a batalha. – Hipnosis, Drowzee no Larvitar.

    - Aqua Jet no Drowzee, Mudkip. – retruquei o ataque de Drowzee com um golpe baseado em força e rapidez.

    - Larvitar, bite no Drowzee. – Isis sorriu confiante por ter vantagem contra o adversário.

    - Cleffa, charm! – Penélope acariciou o rosto de Kurt, e ele retribuiu com um afago em seu cabelo.

    - Drow! – Drowzee ondulou seus braços em movimentos irregulares.

    - Mud! – o corpo de Mudkip envolto em água, voltou-se como um foguete contra Drowzee, impedindo-o de terminar seu ataque.

    - Cle. – Cleffa se insinuou para os nossos pokémon, deixando-os mais contidos.

    - Larrrr… - Larvitar abocanhou o braço de Drowzee, lançando-o longe.

    - Terá de fazer muito mais se quiser vencer. – Kurt nos advertiu com segurança. Drowzee realmente não sofrera grandes danos, era bem resistente. – Nasty plot.

    - Meu querido sempre confabulando contra os inimigos. – Penélope apertou a bochecha de Kurt, mas logo ordenou um novo movimento a Cleffa. – Vamos deixar as coisas mais doces, Cleffa. Sweet Kiss neste pequeno Mudkip.

    - Ataque a Cleffa com Tackle, Mudkip. – Talvez mudar o foco para a pequena Cleffa nos livrasse de um pokémon.

    - Larvitar, rock slide! – Isis foi enérgica.

    - Zeeee... Zeeee... – Drowzee parecia montar uma trama sinistra, deixando-me ressabiada do que estava por vir.

    - Cleffaaaa! – Cleffa lançou vários beijos em Mudkip, e ao acertá-lo deixou-o confuso.

    - Muuuu… - Mudkip cambaleou um pouco, mas seguiu firme uma investida contra Cleffa.

    - Tar! – Larvitar esmurrou o chão, arrancando pedras e lançando-as em Drowzee e Cleffa.

    - Drow! – Drowzee se colocou a frente de Cleffa, protegendo-a de maiores danos.

    - Você sempre cuidando de Cleffa, não é Drowzee? – ele concordou remexendo seu nariz. Penélope rodopiou com Kurt esbanjando alegria pela atitude de Drowzee. – Cleffa, solte sua bela voz, cante para o Larvitar. Sing!

    - Use Hipnosis no Mudkip, Drowzee. – Kurt balançou a cabeça novamente ao ver o ânimo exagerado de Penélope.

    - Mudkip, Mud-slap na Cleffa. – arrisquei outro movimento, mesmo pelas condições de Mudkip não serem favoráveis.

    - Larvitar, use Screech para balancearmos as forças. – Isis estava recuando, e Larvitar não parecia concordar, mas acabou acatando as ordens.

    - Cleee... Eee… E… Eêêfaaa… Fááááá´... Cleffa começou uma bela canção com sua voz angelical, deixando Larvitar sonolento.

    - Droww. – Drowzee voltou a ondular seus braços, e desta vez, induzindo Mudkip em um sono profundo.

    - Isso não é bom. – comentei com Isis. – Ao mesmo tempo, ficamos presas em uma armadilha.

    - Talvez possamos reverter, mas algo está errado aqui. – Isis respondeu em tom de preocupação. – A batalha já começou em grande desvantagem pra gente.

    - Hum, sinto muito garotas. Depois que alcançamos esse ponto, fica difícil nos parar. – Kurt e Penélope se vangloriaram de suas habilidades nas batalhas em dupla. Éramos estreantes, e por isso era esperado e também normal termos dificuldades, mas ali estávamos levando uma surra. – Nossa especialidade é infligir pesadelos aos nossos adversários. Preparem-se! Drowzee, Dream eater em Mudkip.

    - Cleffa nos mostre um pouco mais de sua bela voz. – Penélope olhava Kurt com extrema admiração, formavam uma dupla perigosa. – Ecoe sua voz em Larvitar. Echoed voice!

    - Drow. – Drowzee inspirou profundamente, sugando uma névoa esverdeada das narinas de Mudkip, até ele desfalecer.

    - Cleeeee… FAAAAAAAA! – Cleffa soltou um zunido estridente contra Larvitar.

    Eu estava fora da batalha e pelas condições de Larvitar talvez fosse melhor desistir. A probabilidade de reverter à situação era extremamente baixa.

    - Mudkip retorne. – disse a contragosto, apontando a pokebola para ele.

    - Vocês venceram. – Isis suspirou em desalento.

    - Vencemos, Kurt. – Penélope abraçou Kurt. – Nós vencemos novamente.

    Eevee roçou o corpo as pernas de Isis para animá-la. Natu saltou direto em minha cabeça, me deixando assustada.

    - Nem sempre podemos vencer. – afaguei as asas de Natu.

    Ao entrar em uma batalha, há sempre o risco inerente de perder e vencer. Desta vez foi o gosto amargo da derrota, ou talvez ainda fosse o gosto dos remédios ainda fazendo efeito em minha boca, mesmo com o chocolate que Isis me dera não consegui acabar com esse sabor intragável. A sensação de derrota me parece importante, mas fere o ego. Ainda mais quando fomos facilmente derrotadas.

    - Na próxima nós estaremos preparadas. – Isis estava séria. Ela também não apreciara a derrota. – Iremos treinar.






    Spoiler:


    Última edição por Mr. Mudkip em 20.12.12 19:36, editado 2 vez(es)
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    Mensagem por Mr. Mudkip 27.10.12 15:48

    Pokémon Ree laii [14 +] 1zce73t

    Conversando com o Coal-sama, me bateu uma empolgação pra postar este capítulo, vamos ver se não é algo momentâneo. Enfim, espero que curtam mais um capítulo de Pokémon Ree laii, e espero que em breve consiga postar Série Experimental - SE. Até qualquer hora.


    007 – Marcas e impressões

    - Até que enfim encontrei vocês. – um garoto de aspecto infantil se aproximou. – Penélope, porque me deixou sozinho, snif? Você sabe que não gosto de ficar sozinho.

    Ele era pequeno e gorducho. Andava desengonçadamente abraçando o seu macacão azul por cima de uma camisa branca. Carregava uma mochila e uma mamadeira nas mãos.

    - Esse é meu irmãozinho, Bernard. – Kurt balançou a cabeça. – Um fardo nessa jornada.

    - Não fale assim... – Penélope tapou os ouvidos de Bernard e mostrou a língua para Kurt em sinal de desaprovação.

    - Não acredito que perdemos pra eles. – Isis cochichou disfarçadamente.

    - Pois é. – respondi em tom de decepção.

    Enquanto os três discutiam, eu e Isis voltamos a comer. Tentamos convidá-los, mas eles não nos davam ouvidos.

    - Acho que devemos tirar alguns dias para treinar. Talvez algumas estratégias para as batalhas em dupla. – disse abocanhando um pouco mais de chocolate. – O que acha?

    - Acho uma ótima ideia. – Isis terminou de comer o biscoito e tomar um pouco de água. – Estou mais enferrujada do que eu pensava. Tanto tempo longe dos meus pokémons e voltar já perdendo. Mesmo eu não sendo muito boa em batalhas, doeu. Se fosse uma apresentação, quem sabe?

    - Ah é? – indaguei surpresa.

    - Me dou melhor em concursos pokémons. – ela disse acanhadamente. – Quando pequena, vivia num Ateliê fazendo várias apresentações, mais como uma forma de brincadeira, era divertido. Nunca levei a sério, sabe como é, mais por diversão, uma forma de passatempo.

    - Você disse concursos? – Penélope interrompeu-nos e se adiantou para Isis. – Não me diga que você é coordenadora? Peraí, mas eu nunca te vi em um concurso?

    - Eu nunca cheguei a participar. Quem sabe um dia? – Penélope esmoreceu com a resposta vaga e desanimada de Isis.

    - Eu estou doida pra me tornar uma top coordenadora, tipo assim né. – ela gesticulou como se estivesse no tapete vermelho, desfilando como uma celebridade. – Já tenho três fitas. Mais um pouco e posso participar do grande festival.

    - Que bom. – Isis a convidou para comer e ela se sentou com dificuldade abandonando a discussão incólume, tomando cuidado para não amassar o pomposo vestido. – Espero que consiga.

    - Estou curiosa sobre você. – ela aceitou as bolachas que eu lhe ofereci. – Poderia nos mostrar alguma apresentação. Ah não, me perdoe! Nós podemos ser rivais. Não seria justo, guarde para os concursos.

    - Bem, eu sou historiadora e arqueóloga pokémon, e no momento não estou tão interessada em concursos. – Isis não via problema, mas Penélope a impediu.

    - Vai por mim. Você é do tipo que entraria nessa pra arrasar. – Kurt e Bernard, após a pequena altercação, esfriaram os ânimos e também aproveitaram para comer e conversar.


    ***

    Passamos um período agradável e curioso com Penélope, Kurt e Bernard. Kurt nos contou que está no circuito de ginásios para conseguir entrar na Liga Pokémon de Kanto, enquanto Penélope frequenta os concursos para participar do grande festival e poder realizar seu sonho de ser uma top coordenadora. Bernard, por enquanto estuda em uma escola de batalhas pokémon, que no momento está no período de férias.

    - Espero vê-las novamente. – Penélope repousou as mãos delicadamente sobre os pomposos laços laterais e agradeceu a companhia.

    - Na batalha de volta. – Isis reforçou a voz como um trovão. Queria transparecer segurança, mas sua face amigável estragou a pose imperiosa.

    - Não vejo a hora pra isso, garotas. – Kurt cutucou Bernard, lembrando-o de acenar um breve e tímido adeus. – Até breve.

    - Boa sorte. – disse entre risos, observando os trejeitos de Bernard.

    Isis se prontificou em recolher suas pokebolas.

    - Julli. – os olhos enegrecidos de Isis esbraseavam como carvão em chamas. – Chega de brincadeiras.

    Me recolhi inquieta com o jeito decisivo de Isis.

    - É hora de por a mão na massa. – ela lançou as pokebolas no ar, aguardando o brilho incandescente se transformar em seus pokémons.

    ***

    Esferas de luz esverdeadas rodearam as garras sombrias, gerando um contraste nebuloso contra o pelo marrom. Em um rodopio de trezentos e sessenta graus, um anel ameaçador estabilizou-se em uma redoma protetora e destruidora.

    - Muito bem! – Isis gritou animadamente. – Teddiursa e Budew formam uma ótima dupla.

    - Você acha mesmo? – disse apreensiva.

    O anel se desfez evaporando-se no ar. Estávamos treinando há horas uma combinação entre nossos pokémons, pois queríamos sincronizar nossos movimentos de batalha, para sermos imbatíveis nas batalhas em dupla. Não engolimos a derrota tão placidamente.

    - Sinto que há muitos pontos falhos. – rodeei a campina empalidecida. – Temos de nos aperfeiçoar. Teddiursa e Budew ficam confinados dentro do anel, e isso limita os seus movimentos.

    - Julli se você acha isso. – Isis sorriu indo de encontro a Teddiursa. – Vamos modificá-la!

    - Tedd! – Teddiursa abraçou Isis carinhosamente.

    - Budew. – gritei para que se aproximasse. – Talvez mais tarde. – respondi a Isis.

    - Buuu. – coloquei Budew em meu ombro esquerdo enquanto acariciava suas ramas. Parecia gostar disso.

    - Natu e Larvitar estão em perfeita sincronia, mas ainda temos de melhorar com Eevee e Mudkip. – constatei.

    - Isso leva tempo. – Isis disse sentando- se na terra fofa. – Tivemos ótimos resultados para um primeiro treinamento. Kurt e Penélope devem ter demorado muito pra conseguir chegar naquele nível.

    - Você tem toda razão. – ficara exausta. – Acho melhor descansarmos. – senti a cabeça pesar e logo me prontifiquei a sentar.

    - Julli? – Isis apressou-se a me socorrer. – Eu sou muito teimosa. Os médicos disseram...

    - Não importa o que os médicos disseram. – gritei meio fracamente.

    - Buu... – Budew encolheu-se temerosa.

    - Julli, eu sei que você disse pra não falar mais nisso, só que... – Isis sequer se moveu diante de minha reação.

    - Eu sei. – sorri. Não queria que elas se culpassem ou se preocupassem demais comigo. Agoniava-me deixá-las naquele estado de nervos, elas já se tornaram deveras importantes para mim.

    - Isis, não acha que está exagerando?! – disse descontraidamente.

    - Ah? – seus movimentos demonstravam certo constrangimento. – Você pode me perdoar por isso?

    - Não seja boba. – disse. – Amigos se preocupam com o bem estar um dos outros, mas você às vezes extrapola.

    - Certo. – Isis se ergueu. – Tentarei reprimir isso daqui em diante. Eu prometo.

    Suas palavras não convenceram. Ela era do tipo sentimental. Nesse sentido era idêntica a minha mãe. Eu não poderia dizer muito. Percebia que era mais parecida com a minha mãe do que eu imaginava.

    - Vamos voltar para o nosso cantinho improvisado? – Isis tentou mudar de assunto.

    - Porque não? – levantei com o apoio de Isis.

    Havíamos conseguido nos instalar em um singelo casebre de uma fazenda próximo a costa. O senhor Montblanc nos acolheu e fora muito gentil disponibilizando um lugar para passarmos a noite. Ele viera de Johto, montando uma nova fazenda de criação de pokémons ovelhas. Sua esposa, a senhora Montblanc, nos recebeu tão calorosamente. Sentimo-nos realmente acolhidas em seu lar.

    - Apesar de terem nos convidado para jantar em sua casa, não sei se devemos. – não queria abusar da hospitalidade do gentil casal.

    - Mas mesmo assim teremos de passar lá para dizermos que não poderemos comer. Isso não vai dar nem um pouco certo. – Isis tinha razão. Eles não iriam permitir que fizéssemos alguma desfeita em seu convite. – Além disso, o cheiro está maravilhoso. – O aroma já era perceptível aquela distância.

    Um odor leve extasiante invadiu minhas narinas. Se o sabor fosse tão bom quanto o aroma iríamos tirar a sorte grande. Meu estômago roncou vorazmente. Isis deu uma risada contida, me fazendo enrubescer.

    - Hora do jantar! – disse já me contradizendo.

    - Hahaha! – Isis estendeu a mão para um cumprimento. – É isso aí garota.

    ***

    Nuvens de fumaça surgiam da chaminé de tijolos avermelhados, desaparecendo no céu enegrecido, repleto de pontos brilhantes e luminosos. As estrelas eram bem mais visíveis em locais com pouca luminosidade, demonstrando toda a beleza e brilho de sua luz.

    Pelo caminho estendiam-se fileiras de flores de diversas formas e cores que se complementavam e se harmonizavam. Uma escada improvisada fora construída, a partir de troncos presos no terreno, facilitando à subida. O gramado a perder de vista era de um verde vivo como os olhos daquele garoto desconhecido da estância. A casa de campo, simples em sua formação, tinha um charme e romantismo enriquecedor.

    A porta da frente personalizada com flores talhadas a mão, a tinta fosca e detalhes de ouro em alto relevo. As janelas arqueadas, venezianas de madeira branca, fixadas a parede de forro delineado na horizontal. O telhado vermelho carmesim rendado combinando com a cerca de carvalho envernizado construída para o interior, resguardava a criação pokémon do doce casal.

    Havia dois cães pastoreios que se alternavam nas guardas. As diurnas eram encarregadas por um exemplar dócil de pelo rajado e creme e as noturnas por um intimidador e feroz cão negro com características cadavéricas. Podia se notar os roncos tranquilos do guarda diurno na casinha de cachorro lateral, e em constante vigilância no pasto trepidante ao vento com um aglomerado de lã repousante na região central, o guarda do turno da noite. Apontei a pokédex para ele, e instantaneamente se virou rosnando. Assustei-me com sua atitude descomplacente, contudo as informações começaram a ser ditas.

    Pokémon Ree laii [14 +] 228

    Houndour, pokémon cão noturno. Costumam andar em bandos para caçar, contudo as matilhas possuem um sistema de comando complexo e cruel. Os líderes do grupo são definidos em combates violentos e bárbaros, com a deserção ou morte dos derrotados.

    - Julli, não enrola. – Isis se pôs contra a porta, dando três batidinhas leves. – Vem...

    De súbito a porta se abriu, revelando um gentil senhor. As rugas bem demarcadas pela face, os olhos negros e cintilantes ocultadas pelas sobrancelhas grisalhas, mas em compensação a falta de cabelo, a barba longa enchendo as maças do rosto, a pele clara e vívida as orelhas enormes e as unhas corroídas e por fazer. Vestia um casaco de lã creme, a camiseta preta dentro da calça jeans larga e botinas de couro.

    - Recebemos uma grata surpresa hoje. – o homem disse alegremente. Seu tom de voz grave era doce e gentil. A barba movimentava indicando que o senhor Montblanc estava falando, era a única forma de saber. – Minha netinha veio nos fazer uma visita. Estamos muito felizes em encher nossa casa de juventude. Então entrem, entrem!

    - Obrigada. – disse timidamente.

    - Ah! – Isis falou com um sorriso estampado. – Que bom. Devem estar realmente contentes que sua neta veio visitá-los.

    - Muito mesmo. – o senhor apontou para que entrássemos sem cerimônia.

    - Olá moças! – a doce senhora segurou em nossas mãos de maneira amorosa. Sua voz era melodiosa, extremamente agradável. – Nossa! Suas mãos estão frias, está mesmo um tempo horrível lá fora. Não podem pegar friagem, ficar no sereno faz muito mal.

    Ela tinha a cor dos olhos entre a prata e o jade, indescritível; iam se alternando magicamente, era o que poderia dizer. O cabelo curto grisalho em ondas elegantes, as rugas levemente aderidas ao pescoço, os lábios pintados de rosa claro, resplandecendo o tom de sua pele negra. As unhas bem feitas, embora não estivessem esmaltadas. Os contornos de sua face, suaves e delicados demonstravam sua beleza natural. Usava uma blusa rendada em laranja, a saia linho, com formas geométricas de hexágonos nas laterais em diferentes cores e tamanhos e uma sandália branca de bico arredondado.

    - Prometo que irei seguir suas recomendações. – disse seriamente. Isis levou à mão a cabeça.

    - Bem. – ela não conseguiu compreender a minha reação desconexa, mas deixou de lado. – Venham conhecer minha netinha. Ela é um amor!

    - Vovó! – uma voz energizante e empolgante veio do cômodo dos fundos. – Já pedi que não faça esse tipo de comentário. Pega muito mal.

    Pelo corredor, uma moça não muito mais velha que eu e Isis surgiu impactando. Ela andava quase dançando, daí notei os fones de ouvido. O cabelo afoito e rebelde, em estilo black power, os lábios carnudos em tom dourado, os olhos negros em uma sombra laranja e a pele negra lisa e sem imperfeições, até aí tudo bem. O que ocorre são os excessos, a começar a coloração amarelo berrante do cabelo, a intenção era ficar semelhante a trovões, mas exagerou nos efeitos. As roupas não eram ruins, mas abusavam da combinação de cores fortes. A mini saia estilo colegial xadrez rosa choque e amarelo, a blusa verde água com desenhos infantis e escandalosos, a bota vermelha, uma explosão de colorações vivas e intensas, que chegavam a incomodar a visão. Apesar disso, nada poderia negar a sua beleza avassaladora.

    - Olá. – ela era bastante rápida. Em poucos milésimos de segundo já estava a minha frente. Seus movimentos sincronizavam-se instintivamente. – Me chamo Li.

    - Julliane, mas pode chamá-la de Julli. – Isis interrompeu-me. – Eu me chamo Isis.

    - Isis! – disse fazendo cara feia para ela. Não gostava que se antepusessem a mim.

    - Você precisa ficar mais informal. – Isis resolveu falar com seus botões. – Não precisa ser tão séria. Se solta. – disse jogando o seu corpo carinhosamente contra o meu.

    - Isis, já chega! – estava envergonhada.

    - Vamos comer já que estávamos esperando apenas vocês chegarem. – o senhor disse acalmando os ânimos. – Essa juventude de hoje que não tem horário pra nada. Vive procurando por novas aventuras ao bel prazer, sem se preocupar com mais nada. Hohoho! – até sua risada era briosa. – Me lembro de minha jornada, bons momentos, mas deixemos disso. Vamos aproveitar este momento com alegria.

    - Está certíssimo. – disse enchendo meus pulmões com o aroma delicioso que se espalhava no ar. Queria tirar o foco de mim. Não queria entrar em detalhes da minha falta de habilidade para as relações sociais.

    - Escapou dessa, mas depois... – Isis balançou o dedo indicador vigorosamente.

    Eu sabia que Isis iria continuar a me cutucar para ser mais comunicativa e ter um comportamento digamos mais “normal”, próximo do comum. Até que gostaria disso, mas a educação que foi dada pelos meus pais foge a regra, e isso já foi impregnado em meu ser, fazia parte de mim.

    Caminhamos pelo corredor até chegarmos à sala de jantar. O papel de parede com estampas de bambus dava à sensação de estarmos mais próximos a natureza, a lareira fumegante, aquecendo toda a casa e sobre ela, um conjunto de louça fino e requintado e um quadro pintado assinado pela amável senhora Montblanc demonstrando a elegância e bom gosto do casal para decoração. A mesa abarrotada de comida forrada por um caminho de mesa bordado a mão de coloração verde. Estava impressionada com a fartura e o visual dos alimentos, poderia ser servido para dez a doze pessoas, e ainda poderia sobrar, mas o aroma, o aspecto e a aparência abriram meu apetite e sentia que poderia comer tudo que se encontrava ali.

    - Que lindo! – Isis disse maravilhada ao se sentar. – Vocês sabem mesmo como preparar uma boa comida. Estão de parabéns.

    - Então aproveitem! – o senhor disse entregando um prato a Isis.

    Isis colocava porções generosas de cada travessa, e no final mal conseguia segurar o seu prato devido ao peso. Eu não consegui conter uma risada tímida, que passou imperceptível por todos. O senhor passou outro prato para mim, e fui servindo porções mais modestas. Sentei-me ao lado de Li, que já estava com seu prato feito.

    - A comida dos meus avós é a melhor que irão provar, tenho certeza disso. – Li disse abocanhando um pedaço de carne com shoyu. – É di-vi-no. – falou pausadamente.

    - Não exagere. – a senhora estava ficando encabulada com os elogios.

    Ao provar um pouco de aspargos, senti um misto de sabores incríveis, que iam sendo reconhecidas pelas minhas papilas gustativas e a cada experiência, ia ficando mais deslumbrada.

    - Você tem toda a razão. – Isis disse antes de mim. Desta vez ela não tentou expor a sua maneira o que eu sentia.

    - Senhora, você deveria abrir um restaurante. – disse contidamente. – É realmente delicioso.

    A doce senhora não sabia o que dizer diante de tantos elogios. Apenas conseguiu sorrir, um sorriso de orelha a orelha.

    - Então, minha neta, continue o que estava contando. – o senhor falou limpando o bigode.

    - Ah, sim. – disse animadamente. – Eu vim hoje aqui especialmente para contar uma novidade incrível.

    - Diga então. – a senhora estava ansiosa para saber. Não poderia negar que também ficara curiosa.

    - Fui convidada pela Liga Pokémon a ser a nova líder de ginásio de Vermilion. – fiquei abismada e chocada de estar jantando tranquilamente com minha próxima adversária, que acabei engasgando sem querer. – Os boatos de que o antigo líder fazia contrabandos de pokémons se confirmaram, infelizmente. Nesse momento estão fazendo uma avaliação de todos os meus pokémons. Em breve irei ser apresentada oficialmente.

    - Que maravilhoso. – a senhora foi de encontro à Li para um abraço amoroso.

    Latidos ferozes soaram do quintal e um estrondo poderoso estragaram o momento.

    - De novo não. – o senhor disse levantando-se rapidamente e dirigindo-se para os fundos.

    - O que aconteceu? – disse seguindo-o.

    - Mareep! – ele disse calidamente. – Há alguns dias recebi um novo lote e é comum alguns deles estranharem o local e ficarem arredios e irrequietos por algum tempo, mas uma delas não deu sossego. Não sei mais o que posso fazer. Eu sei que não é culpa dela. Cada ser vivo possui uma personalidade que a determina. E não é responsabilidade dela se não consegue controlar seus impulsos e se sente deslocada.

    - Será que não tem nada a ser feito? – disse incomodada. Não sabia de onde viera aquele sentimento tão forte, somente queria ajudar, mesmo que eu nada pudesse fazer.

    - Não se preocupe com isso. – o homem disse sorrindo. Apesar de suas palavras meu coração não se aquietou. – É quase impossível mudar o jeito de alguém. A personalidade é algo que nos torna únicos, e dificilmente mudamos. Na maioria das vezes os traços que estavam adormecidos afloram e pensamos que estamos diferentes, mas apenas aceitamos como realmente somos. Aquela Mareep não pertence a esse ambiente e não há nada de errado nisso, sua personalidade não permite se encaixar nesse clima calmo e ameno. Apenas isso.

    - Eu gostaria de fazer algo. – estava preocupada com o destino que ele poderia dar aquele pokémon.

    - Isso é admirável. – os olhos dele brilharam. – Nunca mude isso.

    - Modificar o quê? – disse sem entender.

    - Nada. – ele sorriu e continuou a caminhar. – Um dia você perceberá.

    - Espere. – disse apreensiva.

    - Julli, faça aquilo que tem vontade. – Li apareceu ao meu lado. – Não espere que façam algo por você. Se acha que deve ajudar vá.

    Resolvi seguir meu coração e as recomendações de Li, então fui em frente. Ao chegarmos ao gramado, o vento frio e congelante adentrou pelos meus ossos fazendo-me gemer de frio.

    - Julli, cuidado! – Isis gritou desesperada.

    Quando percebi um relâmpago atravessou meu corpo, em uma sensação eletrizante. O calor inundou-me, contudo as descargas elétricas afetaram minhas terminações nervosas, forçando a emissão de neurotransmissores em meus músculos travando-os e alterando meus movimentos, tornando-os descoordenados. Minha visão sumiu em um clarão e voltou embaralhada e confusa.

    - Julli, você está bem? – ela tentou me tocar, mas levou um choque. – Julli!

    - O que eu disse pra você mais cedo? – falei olhando nos olhos da Mareep que liberou aquela descarga. Apesar de não conseguir definir as formas daquele pokémon, percebi algo em especial. Um fulgor, uma conexão inexplicável se formou entre nós.

    - Certo. – Isis entendeu o recado e se retirou quase que inconformada. Ela não aceitava muito bem as minhas atitudes impensadas e inconsequentes.

    - Reeeeep... – a fofa ovelha elétrica aquietou-se ao perceber que me acertara.

    O seu olhar era semelhante ao meu, ao menos era o que parecia naquele momento. Procurando algo que pudesse corrigir um vazio dilacerante, sem realmente saber o que se busca apenas querendo encontrar.

    - Acho que isso resolve. – o senhor pegou uma garrafa de coloração amarela e borrifou em mim, relaxando meus músculos, permitindo me movimentar normalmente. – Parlyz heal. É um item essencial quando se trabalha com pokémons elétricos. Hohoho!

    - É verdade. – comecei a rir, ainda observando aquela Mareep. – Hihihihi. – como o gentil senhor acabara de dizer, dificilmente mudamos apenas expomos aquilo que éramos na realidade. Eu estava começando a me tornar aquilo que tentaram conter. Uma garota decidida, medrosa, mas decidida.


    ***

    - Você parece que tem um imã para confusão. – Isis estava na parte superior do beliche refletindo sobre os últimos acontecimentos que se abateram a minha pessoa. – Mal saiu de uma e já se meteu em outra situação arriscada e perigosa.

    - Não é minha culpa. – disse com a cabeça cheia de preocupações. Tentei focalizar em um em especial, mais iminente. – Você poderia me falar o que sabe sobre o ginásio de Vermilion? – Naquele momento precisava de informações, mesmo que fossem antigas, sentia que me acalmariam.

    - Posso contar uma história? – Isis falou animadamente.

    - Vai em frente. – adorava quando ela me contava sobre o passado da região de Kanto, distraía-me dos problemas.

    - Em um tempo onde as mulheres eram submissas e obedientes as ordens dos homens, uma revolução se levantou e formou-se o início de um novo ciclo. – Isis conseguia narrar de uma maneira lúdica e envolvente. – No ano sete abutre, uma época muito tortuosa em meio a embates mortais em defesa de suas vilas, os senhores da noite tiveram de passar por diversas provações, dentre elas, a aceitação de uma exímia guerreira e seu pokémon, o guardião do movimento, que estavam se destacando na defesa de uma pequeno vilarejo da costa. Naquela época era uma afronta uma mulher ocupar uma posição de comando, e foi ainda mais grave quando elas se infiltraram no posto mais alto possível, o de um senhor da noite.

    Estava maravilhada com o que Isis estava me contando. Sequer imaginava que ela iria transpor uma pergunta inocente em um acontecimento formidável ocorrido em eras passadas. Minha amiga era incrível.

    - De início ela fora proibida de frequentar as reuniões realizadas a cada lua cheia. Tinha de ficar aguardando que um representante reportasse o que havia sido discutido e não era permitida que ela tomasse a palavra ao seu representante. A maneira que ela encontrou para ser respeitada e tratada como igual entre os senhores da noite foi desafiá-los em uma batalha de reconhecimento de valores. Estes desafios eram propostos quando alguém queria provar a sua força diante de suas vilas. Foi desta maneira que ela se tornou o senhor da noite em seu vilarejo devido a essa abertura, já que homens e mulheres poderiam solicitar de tal artimanha para ganharem vantagens e benefícios importantes. Os senhores da noite não se sentiram ameaçados diante da provocação e concordaram em batalhar. Ela viajou a cada um dos vilarejos derrotando cada um deles de maneira justa e honrosa. Ela encontrou maiores dificuldades quando teve de lutar contra o guardião da cabeça da morte, considerado um predador poderoso do movimento, mas mesmo assim o derrotou.

    - Como assim? – disse curiosa.

    - Atualmente definimos as resistências e fraquezas considerando o tipo que o pokémon apresenta. Isso nos auxilia na hora de montarmos uma estratégia de batalha. Naquela época funcionava de outra maneira, mas com os mesmo princípios que utilizamos hoje, considerando como treze predadores naquela época: cana, ocelote, águia, abutre, movimento, faca de sílex, chuva, flor, crocodilo, vento, casa, lagarto, serpente, cabeça da morte, veado, coelho, água, cão, macaco e erva, o que hoje já foi confirmado ser dezessete tipos: água, fogo, gelo, terrestre, dragão, venenoso, noturno, metálico, pedra, lutador, psíquico, voador, normal, planta, inseto, elétrico e fantasma. Eles entendiam que havia pokémons que eram mais perigosos, e esses foram chamados de predadores. Para que houvesse um nivelamento, cada senhor da noite deveria ter um predador que pudesse ameaçar o seu posto e mantê-lo contido quanto a sua sede de poder. Claro que mesmo com essas precauções, muitas tentativas de golpes se sucederam. Daí entrava o líder dos senhores da noite para controlar a situação. Ele era o único senhor da noite que não modificava o seu guardião, sendo sempre representado pelo vento, considerado o maior predador do continente de Kanto.

    - Então com a ameaça imposta pelo senhor da noite do guardião do movimento, ele teve de exercer sua função. – continuei o seu raciocínio.

    - Correto. – Isis deu uma risada singela, mas continuou logo em seguida. – Contudo ele havia sido informado de uma tentativa de golpe, sendo enganado pelos senhores da noite que se sentiram despeitados e irados por perderem uma batalha para uma reles mulher. Mas o líder dos senhores da noite era reconhecido por seu senso de justiça e guiado por ele, conseguiu descobrir a verdade por trás do complô formado pelos outros senhores da noite, orquestrado, claro, pelo guardião da serpente. Como ele ainda não chegara a conhecer o senhor da noite do guardião do movimento, resolveu investigar. Esse desencontro entre eles se deu no período em que ela se tornou o novo senhor da noite, isso porque o líder dos guardiões da noite não estava comparecendo as reuniões e se ausentou por um longo período por estar em missões diplomáticas para tentar acabar com os constantes massacres que assolavam a região.

    - Então ele tinha de confirmar pessoalmente com quem ele estava lidando. – não consegui segurar o raciocínio apenas em meus pensamentos.

    - E para isso, ele se disfarçou de um simples aldeão e ouviu do povo que vivia no vilarejo do senhor da noite do guardião do movimento e constatou que na realidade ela queria ser respeitada como igual diante dos outros senhores da noite e também descobriu que pela sua liderança eles se sentiam mais resguardados do perigo e que a qualidade de vida daquela população estava melhorando a cada dia. Ele resolveu se apresentar para o senhor da noite do guardião do movimento e colocá-la a par dos últimos acontecimentos, o que ele não esperava era o que se sucederia ao conhecê-la.

    - O quê? – disse agoniada pela curiosidade crescente. – Não faz suspense.

    - Hahaha! – ela não conteve o riso. – Isso deixa as coisas mais emocionantes.

    - Anda logo. – saiu quase como um grito.

    - Tá bom. – ela pigarreou um pouco insatisfeita, mas continuou. – Ao ver a beleza magnífica do senhor da noite do guardião do movimento ele se apaixonou instantaneamente. Ela já o admirava, por conhecer muitos de seus feitos heróicos e altruístas, e foi quase inevitável que esse sentimento também se transformasse em amor. Apesar do sentimento recíproco ambos se calaram.

    - Mas por quê? – não compreendera o que levaria a tal atitude.

    - A revelação de um possível romance entre os dois confirmaria a derrocada do senhor da noite do guardião do movimento. – Isis continuou sem se importar com minhas interrupções. – Os outros senhores da noite poderiam alegar que ela enfeitiçou o líder dos senhores da noite para agir sob seus comandos malévolos, o que desencadearia em morte imediata.

    - Que crueldade. – aquilo não era justo.

    - Por saberem disso preferiram reprimir suas emoções concentrando-se no bem estar um do outro. Além disso, a única forma do senhor da noite do guardião do movimento ser aceito como igual perante os outros seria pela palavra do senhor da noite do guardião do vento. – Isis disse com a voz doída, conseguia transparecer uma tristeza sufocante. – Na próxima lua cheia o líder dos senhores da noite pronunciou seu veredito final. “Em frente aos senhores disponho o senhor da noite do guardião do movimento os meus cumprimentos e alegria em recebê-la como a primeira senhora da noite. Seja bem vinda.” Alterar uma simples palavra fez toda a diferença diante dos senhores da noite. A colocação feita pelo líder dos senhores da noite obrigou que ela fosse aceita como a primeira senhora da noite eleita e reconhecida como tal. A partir daquele momento as mulheres começaram a ganhar espaço e serem aceitas em outros locais antes restritos e o líder dos senhores da noite e a senhora da noite do guardião do movimento nunca expuseram seus sentimentos um ao outro, permanecendo assim intocável. Pelo menos, assim dizem os manuscritos da época.

    - Isso deve ter sido tão doloroso. – disse inconformada. Apesar de isso ter ocorrido em um período tão distante de mim, senti um aperto desgastante em meu peito. – Não poder sequer expor aquilo se sente.

    - Espero que isso ajude em sua próxima batalha de ginásio. – Isis disse bocejante.

    - Tenho certeza que sim. – deveria ser corajosa como à senhora da noite do guardião do movimento e não esperar a aprovação de ninguém sem sofrer as consequências pelos meus atos.

    O cansaço me fez adormecer, contudo percebi que a história que acabara de ouvir servira a mim e não necessariamente algo relacionado ao ginásio de Vermilion. Isis sempre sabia me animar.

    ***

    - Eu gostaria de agradecer pela hospitalidade. – disse sorridente.

    - Eu que agradeço a presença de moças tão simpáticas em minha humilde residência. – o senhor segurou nossas mãos em sinal de despedida.

    - Aproveitei para preparar um lanchinho para vocês no caminho. – a senhora entregou um pacote embrulhado em um pano de seda azul marinho. – Espero que gostem.

    - Não precisava se preocupar. – Isis disse recebendo o embrulho. – Muito obrigada.

    - Como poderemos devolver depois? – falei quase como um sussurro.

    - Quando passarem por Vermilion vão ao ginásio, e aí podemos aproveitar para batalharmos. – Li sorriu. – O que acham?

    - Seria ótimo. – disse nervosa.

    - Seria uma satisfação terem vocês como minhas primeiras desafiantes. – ela continuava a sorrir.

    - Espero corresponder à expectativa. – disse afastando-me, acenando para eles.

    - Tenho certeza de que irá. – aos poucos eles desapareçam no horizonte.

    Sorri para Isis e ela correspondeu. Seguiríamos agora pela rota doze, banhada pela costa leste de Kanto. A jornada finalmente avançava.



    Abaixo mais um breve resumo do próximo capítulo e também explicações referentes a esse capítulo.

    Spoiler:


    Última edição por Mr. Mudkip em 09.02.13 20:58, editado 3 vez(es)
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    Mensagem por Mr. Evil 28.10.12 5:03

    Opa õ/
    Um dos seus fãs aqui, Mudkip õ/
    Você owna cara, sério õ/
    A maioria não escreve um décimo do que você cria ...
    Espero que agora deslanche tudo, tranquilo e tudo mais, quero recuperar o tempo perdido, em que não li sua fics e talz õ/
    Parabéns again, e até õ/

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    Mensagem por Mr. Mudkip 02.11.12 12:48

    Pokémon Ree laii [14 +] 1zce73t


    Vlw aê Mr. Evil. Que bom que voltou. Espero que curta o capitulo. Comentem!!!


    Capítulo 008 – Teia de conspirações


    Ao desenlaçar os nós do finíssimo tecido azul de seda pura, me surpreendi com o que repousava na superfície da embalagem de nosso almoço. Duas passagens de embarque em um luxuoso cruzeiro pela costa de Kanto, com paradas em Cinnabar e nas ilhas de Seafoam e uma em especial nunca antes feita com o S. S. Marinun.

    - Isis, você não vai acreditar! – disse incrédula.

    - Não diz que perdemos nosso almoço. – Isis estava se refrescando com boas goladas de água de seu cantil. O calor estava quase insuportável devido à proximidade com Vermilion, aquecendo o clima e nos fazendo desejar a temperatura amena das rotas 15 e 14. Aproximávamos-nos da ponte do silêncio, um alento aos meus pés cansados, pois dali teríamos mais um dia de caminhada, somente mais um.

    - Acho que iremos participar de um luxuoso cruzeiro. – notei que junto aos bilhetes havia uma carta gentilmente dobrada e selada.

    - O que? – Isis provavelmente imaginou que o sol escaldante fritara meus miolos, e que começara a imaginar coisas.

    - Os Montblanc por alguma razão nos deram um empurrãozinho para chegarmos até Cinnabar, e em grande estilo eu diria. – um pouco afobada, acabei rasgando o lacre e levando consigo uma parte considerável de papel.

    - Julli tome cuidado. – ela se pôs ao meu lado, esperando ansiosamente o motivo que levara a tal atitude do gentil casal. – Pode começar a ler, rápido, rápido.

    - Acalme-se. – o adesivo que lacrava o envelope insistia em continuar nos meus dedos, e Isis impaciente retirou-o por mim.

    Dei uma risada tímida antes de iniciar a leitura. A caligrafia era excepcionalmente pomposa e floreada, e tive certeza de que pertencia a Li. Até a sua maneira de escrever era exagerada. Senti um cutucão em minhas costas. Nem notara que estava enrolando para começar. Pigarreei tentando melhorar a voz e fui desvendando o que aqueles excessos de traços significavam.

    - Em nome de meus avós, gostaria de oferecer-lhes um presente de despedida. – disse lentamente procurando decifrar a mensagem – Durante o jantar vocês mencionaram que estavam a caminho da ilha de Cinnabar e com isso eles se lembraram que em comemoração as bodas de ouro de seu casamento, os seus filhos lhes deram passagens para um cruzeiro pela costa de Kanto. Por não poderem se ausentar da fazenda e não quererem magoar os filhos, eles decidiram doá-los a vocês, pedindo em troca que tirem fotos dos locais que visitarem e repassassem para eles, para terem como mostrar aos filhos as fotos do cruzeiro. Eles pediram que aceitassem de bom grado e aproveitassem essa experiência ao máximo. Atenciosamente. Os Montblanc.

    - Julli, o embarque é para daqui três dias. – Isis apontou para as letras miúdas no canto esquerdo das passagens. – Precisamos correr para conseguirmos viajar.

    - Não sei se devemos aceitar. – disse esperando a confirmação por parte de Isis.

    - Deixa disso, Julli. – Isis esbanjava entusiasmo. – Pense só. É um cruzeiro. Deve ser o máximo!

    - Hum... – eu sentia um pouco pelos Montblanc, mas a ideia de um cruzeiro mexia comigo. – Tá bom. – me rendi às tentações.

    Isis soltou um gritinho estridente de excitação.

    - Nunca fui a um cruzeiro. – Isis não conseguia se conter de tanta felicidade. – Assim não vai dar tempo.

    - Tempo pra quê? – disse meio sem entender.

    - As compras, claro. – ainda não entendia. – Julli, pense bem... Você tem biquíni, canga?

    - Tenho sim. – disse com tranquilidade. – Sou de Cerulean, adoro água... Na verdade. – vi como Isis se ressentiu com minhas palavras e resolvi contornar a situação. – Mas posso te acompanhar.

    - Vou adorar. – ela sorriu para mim e bebeu mais um pouco de água.

    - Ah! Esqueci-me de comprar ração. – disse de súbito.

    - Eu tenho bastante de reserva. – Isis retirou uma sacola de plástico de sua mochila e começou a distribuir doses controladas de ração em três tigelas de plástico amarelo ouro sem se importar com meu devaneio. Ela já estava se acostumando. – Pode pegar. – Ela ofereceu-me e tive de aceitar. Não iria deixar minha cabeça avoada prejudicar o almoço de meus adoráveis pokémons.

    - Depois eu compenso. – disse retirando as tigelas metalizadas em tinta fosca e uma recém-adquirida pokebola. – Acho que já é hora de dar a notícia mesmo. – respondi a Isis. – Espero que se deem bem.

    Respirei fundo clicando uma vez, a pokebola expandiu-se, cliquei novamente e lancei-a no ar, liberando um jato brilhante conformando-se em formas algodonosas e arredondadas.

    Pokémon Ree laii [14 +] 179

    - Reeeeeeeeepppp. – Sua lã era luminosa e de coloração creme recobrindo todo o corpo e a superfície da cabeça, o rosto e as patas em azul, os chifres e a cauda em listras amarelas e negras, e na ponta de sua cauda uma esfera de tonalidade alaranjada. Os olhos negros delineados brilharam intensamente ao perceber que estava em um ambiente diferente do que estava acostumada.

    O entusiasmo dela a fez correr em minha direção, derrubando-me. Ela começou a me lamber intensamente, demonstrando seu carinho, mas devido à textura lisa e úmida de sua língua, iniciei um ataque de risos com as constantes cócegas em meu rosto e pescoço.

    - Julli precisa de ajuda? – fiz que não com a cabeça e passei a acariciar sua lã macia e viciante.

    Aos poucos ela se retirou, mas continuou a demonstrar sua alegria correndo pelo campo.

    - Mareep? – gritei procurando chamar sua atenção ao me levantar. – Olá?! Acho que já entendeu que agora viajará comigo, não é?! – ela continuava correndo sem me ouvir. Oi?

    - Mare. – ela derrapou suas patas na grama curta ao parar bruscamente. Mareep tinha uma personalidade tempestuosa e agitada, semelhante a uma chuva forte entre relâmpagos.

    Isis se antecipou deixando suas pokebolas em seu colo, aguardando embaixo da sombra de uma nogueira.

    - Mareep, gostaria que você conhecesse alguns amigos meus. – disse calmamente. – Você quer?

    - Mareep! – ela pareceu consentir, contudo ainda poderia ser resquícios entusiasmados da notícia que acabara de receber.

    Mareep desabou seu corpo no chão amortecendo-o com sua lã. Retirei de minha mochila três pokebolas lançando-as no ar.

    - Todos vocês, façam as honras. – disse vigorosamente.

    Três raios brilhantes moldaram-se em três miúdas formas.

    - Natu... – Natu focalizou sua atenção nas tigelas enfileiradas rodeando uma rocha incrustada na terra.

    - Buu! – ao me ver, Budew correu em minha direção com um sorriso estampado e pedindo colo. Como já estava se tornando um hábito, coloquei-a em meu ombro acariciando suas ramas.

    - Mud. – Mudkip enciumou-se com a minha relação afetuosa com Budew, mas rapidamente fingiu não se importar.

    - Isis é sua vez. – Isis lançou suas pokébolas no ar.

    - Tedd? – Teddiursa surgiu cambaleante, mas desta vez não chegou a cair. Assim que Budew a viu pulou de meus ombros, e instintivamente Teddiursa a abraçou carinhosamente. Começava a deduzir que a atração imediata que Budew sentia por Teddiursa, tinha a ver com o aroma adocicado que ela exalava, já que seu pelo vive lambuzado de honey, uma guloseima muito apreciada por pokémons planta e inseto.

    - Mud... – percebi que Mudkip ficou feliz com a cena, mas como ele fingi que nem notara sua reação enciumada.

    - Larv! – Larvitar surgiu espreguiçando seu corpo pedregoso indo em direção as tigelas de ração.

    - Larvitar! – Isis o repreendeu.

    Inconformado, Larvitar sentou-se no chão com claros sinais de birra.

    - Ee... – Eevee com seu porte aristocrático, posicionou-se de maneira elegante como uma escultura em exposição em um museu de arte. Ele logo percebeu a presença de Mareep e se dispôs a cumprimentá-la.

    - Como Eevee já percebeu, temos uma nova companheira. – disse alegremente. – Quero que conheçam Mareep. – apontei Mareep e todos voltaram sua atenção a ela. – Mareep, estes são Mudkip, Natu, Budew, Eevee, Larvitar e Teddiursa. – disse apontando cada um deles.

    - Mud. – Mudkip cumprimentou-a apenas mexendo a cabeça veementemente. Ele era realmente preguiçoso às vezes.

    - Na... – Natu saltou sobre a lã de Mareep, sem aviso prévio, felizmente não a assustou, o que poderia acarretar em descargas elétricas nada agradáveis e armar uma confusão generalizada. Com suas garras, começou a massagear a lã de Mareep, fazendo-a relaxar com os seus movimentos ritmados. A reação de Natu me surpreendeu de certa forma. Foi a primeira vez que demonstrou iniciativa em alguma coisa, e principalmente por se dar bem logo de cara com um pokémon que possuía um tipo incompatível ao seu e que poderia afastá-los, mas ainda bem que eu me enganei.

    - Dew? – Budew saltitou até Mareep esfregando seu corpo de textura áspera, mas inexplicavelmente reconfortante em suas bochechas e como retribuição Mareep lambeu suas ramas, fazendo Budew rir.

    - Larv! – Larvitar acenou de forma rígida para Mareep.

    - Maree... – ela baliu com vigor respondendo a Larvitar. Ele a encarou ferozmente, sentindo-se intimidado com a presença de Mareep. Pressentimentos de que uma pequena guerra de egos se formou entre os dois assolaram meus pensamentos.

    - Tedd! – Teddiursa abraçou a lã de Mareep e não desgrudou-se.

    - Mareep. – ela também adorara a textura do pelo de Teddiursa.

    - Agora que todos se conhecem, podem comer. – Isis disse especialmente para Larvitar.

    Todos foram em direção às tigelas, exceto Mudkip que não moveu um músculo.

    - Mudkip, pode vir aqui? – Mudkip fingiu não ouvir. Agora que repassava mentalmente, não estava dando atenção alguma a ele. Era certo que Budew, por ser um filhote ainda precisava de maiores cuidados, mas não era justificativa para deixá-lo em segundo plano.

    Já que Mudkip não iria até mim, fui até ele. Ajoelhei-me a sua frente, segurando seu miúdo corpo e depositando em meu colo. Ele continuou a me ignorar solenemente. Decidi jogar sujo com ele. Passei a massagear seu dorso, passando para suas patas e sua barriga. Eu sabia que ele adorava aquilo. A textura de sua pele era lisa, úmida e escorregadia, extremamente agradável. Ele começou a relaxar instantaneamente. Aos poucos as barreiras entre nós ruíram. Naquele momento senti uma tristeza profunda como se tivessem retirado algo muito precioso de mim.

    - Me perdoe. – uma lágrima escorreu de meus olhos cor de água e respigaram em Mudkip. Percebi seu olhar de culpa em me fazer chorar, mas ainda não entendia de onde aqueles sentimentos surgiram. Não me pareciam legítimos, de certa forma. – A última coisa que queria era magoá-lo, Mudkip. Eu vou tentar melhorar.

    - Mud. – Mudkip lambeu minhas mãos procurando se desculpar.

    Todos estavam ocupados comendo e nem perceberam o que acabara de ocorrer. Abracei Mudkip e o soltei para se juntar aos outros pokémons. Depois fiquei ao lado de Isis e Eevee, aproveitando o saboroso almoço preparado pela senhora Montblanc, mas com a cabeça a mil.

    ***

    - Finalmente estamos chegando. – Isis alongou as pernas cansadas de um dia inteiro de caminhada. – Já era noite quando conseguimos chegar aos arredores da cidade de Vermilion. – Se não tivesse parado para batalhar com aquele pescador de Magikarps, teríamos chegado ainda durante o dia.

    - Eu preciso treinar para a batalha de ginásio. – procurei me justificar. – Não posso falhar miseravelmente. Li me desafiou, tenho de corresponder as suas expectativas.

    - Tenho certeza de que vai conseguir. – Isis procurou levantar meu moral.

    Aos poucos era possível identificar uma ponte que levava ao porto da cidade. Uma placa fixada a beirada da trilha indicava o caminho da direita para a caverna dos digletts, o esquerdo para o porto de Vermilion e a frente a cidade sulista banhada pelo sol de coloração laranja, Vermilion.

    - Digletts, são aquelas adoráveis minhoquinhas? – perguntei apontando para o chão.

    - Sim. – Isis disse segurando para não rir. – É a principal ligação hoje pra Pewter, já que não conseguiram conectar Pallet a floresta de Viridian. A cidade de Rútilo está se tornando por conta disso o principal foco de reformas para reconectar o circuito da liga pokémon.

    - Eu quase não tenho informações do infortúnio que se abateu sobre Viridian. – o vento salso e úmido do mar transpassou meu corpo. Estes ambientes litorâneos estavam se tornando frequentes em minha jornada.

    - Na verdade não há muitas informações a respeito. – Isis contorceu o cenho, ela parecia ocultar sentimentos dolorosos em seu interior quando falava disso.

    - Finalmente encontrei algo que você conhece pouco. – tentei descontraí-la e retirá-la de suas recordações.

    - Engraçadinha. – Isis deu um tapinha de leve em minha cabeça e ficou a observar os barcos e navios flutuando nas ondas calmas do mar. – Vamos ver se conseguimos vaga no centro pokémon.

    - Claro! – sai correndo pela trilha a minha frente. – Quem chegar primeiro fica com o beliche de cima.

    - Ei! – Isis gritou desolada. – Não vale. Você está roubando.

    ***

    Corremos pela trilha até chegarmos a uma estrada de tijolos em granito compressados na terra alaranjada e fofa da região. Os postes de luz iluminavam intensamente e meus olhos precisaram de um tempo considerável para se acostumar com tamanha claridade. A praia a poucos passos de nós chegava a respingar gotas mornas de água em mim. As casas em sua maioria de coloração alaranjada destacavam ainda mais a luminosidade.

    - Essas luzes incomodam. – disse esfregando as vistas.

    - Você tem toda razão. – Isis colocou um óculos escuros e daí lembrei que também estava carregando um. – Pelo menos não está tão quente.

    - Verdade. – disse sorridente. – O centro pokémon deve ficar aonde.

    - Estou vendo ele bem ali. – Isis mostrou uma placa vermelha em forma de P próximo a uma praça.

    Caminhamos vagarosamente observando a cidade luminosa e as pessoas estranhando eu e Isis de óculos escuros durante a noite.

    Na praça havia alguns flamboyants bem afastados um do outro intensificando as cores da cidade, trazendo um pouco de vida ao excesso de luz. As flores laranja de colorido forte, a copa extensa, lembrando um guarda-chuva, o tronco forte e retorcido de coloração quase negra acalmou minha visão perturbada pela claridade. O gramado verde, com pedras espalhadas em toda a extensão, retirava a uniformidade do terreno. Bancos de madeira distribuídos por entre as vielas retorcidas, desviando das pedras me atraiam para descansar meus pobres pés.

    A porta do centro pokémon retiramos os óculos, e adentramos ainda em tempo de fechar. Havia uma quantidade considerável de pessoas na entrada, sentados nos sofás e cochichando.

    - Julli? – uma voz extremamente familiar acelerou as batidas de meu coração. – É você mesmo?

    - Adele? – quase não acreditara quando vi.

    Pelas minhas contas ela tinha quinze anos agora. Estava lindíssima. Os olhos acobreados resguardados por um óculos de armação com suporte em fios de náilon e aros retangulares, o rosto quadrangular suavizando-se em seu queixo duplo, o cabelo castanho de um brilho vistoso moldado linearmente em um coque estilizado. Usava um terno feminino em corte italiano extremamente sexy, sem parecer vulgar, destacando suas formas voluptuosas. Carregava uma pasta de mão em couro, com detalhes em dourado, e bordado no canto esquerdo, “Adele Portman”.

    - Há quantos anos não nos vemos garota. – Ela colocou sua pasta na beira do balcão e me abraçou afetuosamente. – Você está um espetáculo. E parece que conseguiu dobrar sua mãe para conseguir estar aqui, ou está fazendo uma visitinha a alguns parentes?

    - Primeira opção... Ihhhh! Olha quem fala? – disse observando-a de cima a baixo. – Meu pai quem conseguiu operar esse milagre. Graças a ele amanhã poderei tentar minha segunda insígnia. Nem acredito, Adele que saudades. Isis essa é Adele Portman, uma grande amiga de infância. – falei tão apressadamente o que vinha a minha cabeça que sequer me preocupara se iam entender.

    - Olá. – Isis cumprimentou-a com um aperto de mão solene. – Me chamo Isis Gast. – Isis como sempre contornando a situação. Ao menos Adele conhecia minhas nuances.

    - Oi. – ela olhou bem para Isis. – Você também é muito linda.

    - Ah. – Isis enrubesceu. – Obrigada.

    - Isis, a Adele foi à única amiga que meus pais permitiram eu ter. – disse ofegante. – Era o “bom exemplo” a seguir. Essa garota foi e é muito importante. Nossos pais trabalhavam juntos em Cerulean, mas há cinco anos ela teve que se mudar, porque seu pai conseguiu uma boa proposta em Unova. Eu fiquei arrasada, mas eu acabei superando. Lembro que você era fissurada com pokémons lagartos, queria um Charmander de qualquer maneira.

    - Eu ainda, veja bem, não consegui um Charmander, mas consegui um bom pokémon lagarto do tipo planta. Minha preciosa Serperior. – ela disse nostalgicamente. – Pena que quando estou a trabalho não carrego meus pokémons comigo. Adoraria que visse eles. São adoráveis.

    - Hã, que pena mesmo. – estava realmente emocionada em reencontrá-la. – O que você anda fazendo aqui?

    - Eu vim em nome da Liga Pokémon para ratificar a entrada do novo líder de ginásio da cidade de Vermilion. – com ares de superioridade, Adele não economizou nas palavras. – Já que sou a secretária pessoal do presidente das relações internacionais da Liga Pokémon. – Adele disse calmamente.

    - Como você conseguiu isso, garota? – estava impressionada com Adele.

    - Nos mudamos para a cidade de Castelia na região de Unova e lá eu comecei a trabalhar na Companhia de Batalha. – a voz de Adele era harmoniosa e apurada, uma dádiva aos ouvidos. – Como a Liga Pokémon estava sendo reformulada eu fui indicada pelo presidente para ocupar o cargo e fui aceita e agora estou aqui, representando o presidente das relações internacionais da Liga Pokémon, já que ele não pôde comparecer.

    - Isso é incrível. – não conseguia acreditar que minha amiga de infância estava ficando tão importante. – Eu nunca imaginaria.

    Adele se aproximou em um abraço gentil, repousando a cabeça em meus ombros.

    - Julli, não se engane. – Adele sussurrou disfarçando. – Estou em um ninho de cobras. Uma teia de conspirações sórdidas. Tome cuidado.

    - Adele? – senti um calafrio em minha espinha subindo por minhas vértebras gelando minha cabeça. – O quê?

    - Então para mantermos contato, acho que isso resolve. – Adele continuou como se não tivesse dito nada demais. Isis notara minha reação, mas conhecendo as minhas estranhezas, não levou muito a sério. – Xtransceiver. A mais alta tecnologia disponível em comunicação da região de Unova. Por agora só tenho nessas cores.

    Ela segurava uma espécie de relógio de alta tecnologia em cada uma das mãos, o da esquerda era de cor branca e o da direita de cor negra.* Eu e Isis nos olhamos e decidimos visualmente com qual cada uma ficaria. Tentei me manter natural, afinal, ela poderia estar sendo vigiada. Eu escolhi o branco e Isis ficou com o negro, como era esperado, já que a cor favorita de Isis era aquela.

    - Julli agora tenho uma reunião com a enfermeira Joy do centro pokémon daqui, eu tenho mesmo que ir. – Adele me abraçou outra vez e sussurrou novamente. – Note as diferenças. – ela me liberou com um sorriso radiante. – Daqui eu já irei embora direto, mas foi muito bom reencontrá-la, Julli e conhecê-la também Isis. Queria que conhecesse minha namorada, talvez em outra oportunidade.

    - Seus pais aceitaram. – disse feliz por ela. – Estava torcendo muito por você.

    - Foi meio que aos trancos e barrancos, mas apesar disso consegui sim. – Adele sorriu discretamente.

    - Que bom! – falei apressando-me – Agora poderemos nos comunicar, então até. – apontei o Xtransceiver meio culpada em poder atrasá-la.

    - Até. – Adele despediu-se de nós, pegou a maleta sobre a bancada e adentrou a portaria.

    - Boa viagem. – Isis acenou sorridente.

    - Boa viagem. – disse estupefata e preocupada com o bem estar de Adele. Minha amiga se envolvera em algo muito arriscado e perigoso. O que poderia acontecer? O que pode ser?

    ***

    Estava preparada para tudo, qualquer teoria mirabolante que pudesse acalmar meu coração apertado. Mal dormira após ouvir o que Adele disse. Eu e Isis ficamos discutindo horas, bolando hipóteses, mas não conseguíamos perceber anormalidades com a Liga Pokémon.

    Quais seriam as diferenças? Só conseguiria notá-las investigando as instalações controladas pela Liga Pokémon. E como já estava em meus planos, segui rumo ao ginásio da cidade junto a Isis.

    - Preparada? – ela repousou seu olhar solidário em mim.

    - Não muito... – fitei o meio fio, desenhando a estratégia que bolamos juntas. – Mas como já estamos aqui.

    Em frente ao ginásio de Vermilion não me senti intimidada, e sim insegura. Apenas estranhei o ginásio ficar em uma instalação do exército. Daí recordei-me de que Li comentara que o antigo líder era um tenente e conectei as informações.

    - Preparada? – Isis reforçou a questão colocando as mãos em meus ombros tentando me animar.

    - Sim. – disse tentando transparecer confiança.

    Ao adentrar pelo salão escuro e embolorado com sinais claros de abandono e desleixo pude ver atrás do campo de batalha sentado à cadeira, Li com um sorriso radiante. Tinha o mesmo cabelo escandaloso, mas hoje vestia roupas menos extravagantes. Estava com um minishort jeans preto, presos em um cinto de couro de cobra amendoado, uma blusinha regata de algodão amarelo ouro, um colete preto e uma bota de cano alto toda em couro.

    - Julliane e Isis, como é bom revê-las. – Li levantou-se em movimentos rápidos e já estava a minha frente. – Vamos começar? O juiz ditará as regras.

    Percebi que havia um homem utilizando um uniforme verde e preto com o emblema da Liga pokémon, segurando uma bandeira vermelha na mão esquerda e uma verde na direita.

    - O oponente tem direito a troca em qualquer momento da batalha, serão três contra três em uma batalha sem limite de tempo. – o homem disse sem demonstrar qualquer emoção.

    - Está de acordo? – Li ajeitou os fones de ouvido.

    - Sim. – me sentia segura como nunca antes estivera.

    - Boa sorte Julli. – Isis gritou animadamente e sorri em retribuição.

    - Então iremos começar. – eu não percebera quando Li pegou sua pokebola. Ela era realmente veloz em suas movimentações. – Pipiri, a batalha!

    - Chu! - Um fofo e pequenino roedor de pelagem amarelo-pálida, cauda negra e miúda e de orelhas em losango enormes rolou pelo chão demonstrando um gás formidável. Suas bochechas com esferas rosadas lampejaram estática, iluminando levemente o local.

    Apontei a pokédex para coletar informações sobre aquele pokémon.

    Pokémon Ree laii [14 +] 172

    Pichu, pokémon pequeno roedor. Ainda não é hábil em armazenar energia, devido a sua pouca idade. Oscilações de humor podem causar acidentes com liberação de descargas poderosas.

    - Certo. – já que ela jogara um bebê em campo, iria retrucar com a mesma moeda. – Budew, faça as honras!

    - Dew! – Budew liberou suas ramas a procura de luz, demonstrando dois botões em flor, um azul e outro vermelho.

    - Budew, use growth. – O corpo de Budew foi envolvido por uma energia cósmica, aumentando de tamanho.

    - Pipiri, use sweet Kiss. – Pichu rodopiou pelo campo lançando um beijo em Budew.

    Budew ficou desorientada, balançando de um lado ao outro.

    - Budew? – ela parecia confusa. Não esperava por aquilo. Pensei que seria forçada a me proteger apenas da paralisia. Novamente um líder de ginásio me surpreendia. – Tente usar mega drain!

    - Pipiri hora de thunder wave. – Pichu começou a liberar ondas eletromagnéticas no campo, paralisando os movimentos de Budew.

    - Não! – Estava encurralada. Budew estava confusa e paralisada, ótima maneira de iniciar uma batalha. Resolvi recuar. – Budew retorne.

    - Mal começamos. – Li coçou a cabeça um pouco chateada.

    - Mudkip faça as honras. – lancei outra pokébola no ar. Era uma escolha arriscada, mas Mudkip apesar de tudo tinha seus trunfos sobre um ginásio elétrico. – Mud-slap!

    - Não mesmo. – Li não estava para brincadeiras. – Pipiri, use thunder shock.

    Pichu forçou suas bochechas, lançando uma descarga elétrica potente clareando tudo por onde passava e logo em seguida ele já estava dando cambalhotas.

    - Mudkip evasiva e Mud-slap. – Mudkip por pouco não recebeu a descarga. Então se adiantou lançando uma rajada de terra diretamente em Pichu.

    Ele rodopiou pelo campo e desmaiou.

    - Pichu está fora de combate, o desafiante venceu. – o juiz levantou a bandeira verde.

    - Isso aí, Mudkip. – Isis fez um sinal de positivo a ele.

    - Mud! – Mudkip alegrou-se com a vitória.

    - Continue assim. – disse transmitindo toda minha confiança a Mudkip.

    - Pipiri, você foi muito bem. – Li sorriu para mim. – Como eu esperava de você, Julli. Contudo, não pense que já está com a vitória garantida. Elekid, a batalha.

    Li lançou outra pokebola, surgindo um pokémon muito parecido com um plug de uma tomada. Seu olhar era ameaçador e nada convidativo. Seu corpo amarelo e ovalado, disposto com listras negras e um raio estilizado em seu abdômen, os pés desproporcionais aos seus enormes braços, que também continham listras negras e garras cortantes.

    Resolvi colher algumas informações sobre aquele estranho pokémon.

    Pokémon Ree laii [14 +] 239

    Elekid, pokémon elétrico. Ele rodopia os braços para produzir energia, contudo ele não consegue produzir grandes quantidades por se cansar rapidamente.

    - Kidddddd, kidddddd! – Elekid começou a rodopiar os braços liberando pequenas descargas de seus chifres em forma de tomada.

    - Mudkip, mud-slap. – continuei na mesma estratégia.

    - Elekid, quick attack. – Num piscar de olhos, Elekid desapareceu do campo, reaparecendo ao golpear Mudkip com um soco de direita.

    - Mud! – Mudkip absorveu o impacto do golpe e lançou uma rajada de terra com o auxílio da cauda em Elekid, apesar da violência do ataque, ele resistiu bem.

    - Tackle! – disse empolgada.

    - Elekid, low kick. – Li ajeitou os fones de ouvido ao ordenar o ataque.

    - Eeee. – Mudkip tentou jogar seu corpo de encontro a Elekid, mas foi surpreendido por uma rasteira, derrubando-o no chão.

    - Termine com um thundershock. – Li disse confiante.

    - Mudkip levante-se. – gritei preocupada. Seria difícil ele resistir ao impacto.

    - Eleeeeeeeeeeeeee... – Elekid rodopiou os braços e lançou uma descarga elétrica diretamente em Mudkip. Ele não resistiu, como o previsto.

    - Mudkip está fora de combate. – o juiz levantou a bandeira vermelha. – A líder do ginásio venceu.

    Estremeci ao ver o pequenino corpo de Mudkip inerte. Retornei-o a pokebola, não conseguiria continuar vê-lo naquele estado lastimável.

    - Você foi incrível. – disse antes de guardar a pokebola na mochila e pegar a próxima. Meu coração estava batendo com tamanha força, que sentia que iria explodir a qualquer instante.

    - Não esperava que Mudkip pudesse suportar por tanto tempo. – os olhos de Li brilharam. – Está me proporcionando uma ótima batalha.

    - Obrigada. – disse confiante. – Seus pokémons são extraordinários. Está sendo um grande aprendizado para mim, apesar disso não irei perder hoje.

    - Espero que consiga seu objetivo. – Li soltou os fones de ouvido e ajeitou o cabelo Black Power.

    - Certamente. – lancei meu próximo pokémon ao campo. – Budew, faça as honras.

    - Buuu... – Budew não conseguia se movimentar devido à estática que Pichu produziu.

    - Sleep powder, Budew. – Budew lançou um pó brilhante de suas ramas em direção a Elekid.

    - Elekid, Double team. – Li não se sentiu ameaçada pela nuvem brilhante que se abateu em Elekid.

    O ataque de Budew não surtiu efeito algum, frustrando-me.

    - A habilidade de Elekid pode surpreender às vezes. – Li começou a falar visto que percebeu o meu espanto. – Diferente da grande maioria, o meu Elekid nunca poderá ser afetado por ataques de adormecer. Ele possui um espírito vibrante, um vital spirit que nunca o deixará adormecer.

    - Interessante. – ela já bolara uma estratégia visto que já havia visto meus pokémons. Li era realmente formidável. – Mas Budew possui uma pequena surpresa devastadora.

    - Hum... – a sobrancelha de Li arqueou-se intensamente, demonstrando sua curiosidade e interesse em descobrir o que poderia ser.

    - Vai nessa Budew! – Isis gritou com entusiasmo por já saber do que se tratava.




    * As cores do Xtransceiver foram propositalmente branco (white) e preto (black), referindo-se aos jogos da região de Unova, Pokémon Black e White.




    Abaixo um resumo do próximo capítulo. Está bem próximo do original (não achei necessário alterá-la):

    Spoiler:


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    Pokémon Ree laii [14 +] Empty Re: Pokémon Ree laii [14 +]

    Mensagem por Mr. Evil 08.11.12 1:04

    (dividindo o texto em dois posts)

    Alguns comentarios e apontamentos em relação aos caps 1, 2, 3, 4 e 5:

    """- Olá enfermeira. – disse animada. – Gostaria de me inscrever na liga pokémon.

    - É só me passar a pokédex. – el falou gentilmente"""

    Só faltou um a no "el" hahaha. Pokémon Ree laii [14 +] 936


    """- Nossa? – ela enrugou a testa. – Você fala de um modo tão estranho. Muito formal. """

    Não seria melhor um ponto de exclamação ou reticências ao invés do ponto de interrogação ? Ficou meio, estranho acho hahaha.

    """- É que meus estudos foram muito extenuantes. – procurei explicar este pequeno detalhe. – Minha mãe cobrava extrema dedicação em todas as atividades, e meu pai sempre me inspirei a ser como ele. Sua sabedoria, seu bom senso e inteligência encantam-me profundamente."""

    A parte do pai ficou confusa ... "... e meu pai sempre me inspirei a ser como ele ..."


    """- Isis poderia me auxiliar. – olhei todas aqueles botões e entradas sem saber o que fazer.

    - Certo. – Isis já previra que eu precisaria de sua ajuda. """

    Não entendi se "-Isis poderia me auxiliar" foi uma afirmação ou uma pergunta ...

    /\ /\ /\ /\ /\ /\ /\ /\ /\ /\
    alguns apontamentos, que diga-se de passagem, são incrívelmente raros õ/õ/õ/

    Agora sobre o conteúdo:::

    Fiquei um pouco confuso, com uma dúvida ao ler sobre os guardiões ...
    e acho que tive essa mesma duvida da outra vez hahaha ...
    o guardião do lagarto ... simbolizado pelo charizard ...
    representaria qual ginásio/cidade ?
    Não consegui associa-lo a nenhum, e senti falta de um representante do ginasio da cidade de Saffron ... pois não faz alusão nem a um tipo psiquico ou a um tipo lutador (o dojo da cidade de saffron era o ginasio oficial antigamente - pela historia "oficial" - e talz)
    Espero que não seja muito impertinente a pergunta, que você já tenha respondido, que eu já te perguntado sobre ela antes hahaha.


    Cara, eu ainda vou imprimir tudo, montar uma capa com o Banner e ir juntando tudo em uma pasta Pokémon Ree laii [14 +] 936
    Personagens muito fodas õ/ Consigo me conectar bastante com a Isis e a Jullia (mesmo sendo mainstream, mas não ligo hahaha), sinto certa leveza e profundidade na fic õ/ Pokémon Ree laii [14 +] 936

    Essa fic é muito boa cara, eu mesmo fico meio chateado ao ver poucos comments hahaha Material de Primeira Qualidade õ/
    Espero que isso aqui fique cada vez mais animado XDD

    Accio capítulo 9 õ/ õ/ õ/ õ/ õ/ õ/
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    Mensagem por Mr. Mudkip 09.11.12 20:13

    Vlw M.r Evil por acompanhar essa fic, fico muito grato mesmo. Irei corrigir assim que possível os trechos destacados, ok. E agora... Me apertou.

    Mr. Evil escreveu:
    Agora sobre o conteúdo:::

    Fiquei um pouco confuso, com uma dúvida ao ler sobre os guardiões ...
    e acho que tive essa mesma duvida da outra vez hahaha ...
    o guardião do lagarto ... simbolizado pelo charizard ...
    representaria qual ginásio/cidade ?
    Não consegui associa-lo a nenhum, e senti falta de um representante do ginasio da cidade de Saffron ... pois não faz alusão nem a um tipo psiquico ou a um tipo lutador (o dojo da cidade de saffron era o ginasio oficial antigamente - pela historia "oficial" - e talz)
    Espero que não seja muito impertinente a pergunta, que você já tenha respondido, que eu já te perguntado sobre ela antes hahaha.


    Cara, eu ainda vou imprimir tudo, montar uma capa com o Banner e ir juntando tudo em uma pasta Pokémon Ree laii [14 +] 936
    Personagens muito fodas õ/ Consigo me conectar bastante com a Isis e a Jullia (mesmo sendo mainstream, mas não ligo hahaha), sinto certa leveza e profundidade na fic õ/ Pokémon Ree laii [14 +] 936

    Essa fic é muito boa cara, eu mesmo fico meio chateado ao ver poucos comments hahaha Material de Primeira Qualidade õ/
    Espero que isso aqui fique cada vez mais animado XDD

    Accio capítulo 9 õ/ õ/ õ/ õ/ õ/ õ/


    A magia ainda não vai funcionar porque no momento estou sem tempo pra postar o capítulo, vou viajar daqui a pouco... então na semana que vem eu posto, ok.

    Sobre a questão do ginásio, sua percepção não está falha, realmente não citei alguns detalhes, exatamente porque é uma parte importante do enredo da fic.

    Quando chegarmos em Saffron eu te explico o porque disso e do que se trata o guardião do lagarto. Pode ser? (vai demorar... kkkkkk)

    Porém, entretanto, todavia, não obstante, eu não disse que não havia mais guardiões, apenas citei os mais importantes do período do abutre, período compreendido no livro que Ísis mostrou a Julli, então fica a dica. Há mais coisa por vir aí.

    Julli não é mainstream, talvez tenha passado essa impressão, porque ela é um personagem ainda em construção (desconstrução, sei lá, vai saber). Um personagem pra mim extremamente difícil de criar e por essa razão de forte potencial.

    Meu personagem preferido só apareceria no capítulo em que ia postar quando parei, só que com essas mudanças que planejei, muita água vai rolar antes dele aparecer (buáááá).

    Só saiba de uma coisa Evil, o próximo a cair na malha fina de Serie experimental é (tamtamtam)

    ...vc. Espere e vejaaaaaaa!!!! ahuahauhauahuah
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    Mensagem por Mr. Mudkip 21.11.12 18:24

    Pokémon Ree laii [14 +] 1zce73t


    Finalmente mais um capítulo de Pokémon Ree laii, o meu preferido na minha opinião. Por enquanto vou focar apenas nessa fic pra desenrolar um pouco a minha preguiça. Se não me cobrarem eu me acomodo. Então, até a próxima. Agradecer a quem acompanha e comentem é claro.


    Capítulo 009 – Pôr do sol


    - Budew, leaf storm! – mirei os olhos de Isis e ela retribuiu com um sinal positivo.

    Segundos de silêncio se transformavam em míseros gemidos, tilintando fracamente do pequeno vulto a minha frente até que uma brisa tímida surgisse. A visibilidade era baixa, mas tudo se iluminou com o brilho verdejante de Budew.

    - Buuuu... – Budew comprimiu seu corpo e num estalo liberou uma tempestade de folhas descontroladas e talhantes pelo ginásio.

    - Como?! – Li sorriu encantada com a dança de folhas impulsivas que se formava no campo de batalha. – Isso é fabuloso!

    - Elee... – Elekid permanecia imóvel aguardando as ordens de Li. Ele não se intimidou com a força do ataque, pelo contrário. Em sinal de provocação, emitiu faíscas lampejantes de seus chifres em formato de plug, atiçando o desejo de vitória de Budew.

    - Double team. – Li disse de súbito, recuperando-se do êxtase momentâneo.

    Elekid parecia se multiplicar pelo campo, confundindo-nos, entretanto a tempestade de folhas tomava conta do ginásio e foi inevitável o impacto que se abateu sobre ele.

    - Ele! – O verdadeiro Elekid foi encoberto pelo turbilhão de folhas, sendo carregado até o teto caindo fora dos limites do campo e ali permaneceu.

    - A vitória é do desafiante. – novamente o juiz levantou a bandeira verde confirmando o resultado.

    - Dew... – Budew suspirou aliviada. Ela ficou exausta ao utilizar o ataque, e combinado à limitação de seus movimentos que a incomodava, talvez fosse o momento de deixá-la descansar.

    - Elekid você foi muito bem, descanse. – quando percebi Li já estava com outra pokebola em mãos e preparada para mais uma batalha. – Jolteon eu conto com você.

    Um pokémon semelhante a uma raposa eriçou seus pelos espinhosos ao entrar em campo. Seu pelo amarelo e branco estático, semelhante a espinhos pontiagudos, soltavam faíscas nas pontas. Os olhos negros amendoados transmitiam boas vibrações, e confiei em suas intenções. Se ainda não havia me decidido se Budew deveria continuar, por alguma razão ainda inexplicável senti que deveria permanecer com ela em batalha.

    - Vamos ver então. – disse coletando informações daquele pokémon com minha pokedex.

    Pokémon Ree laii [14 +] 135

    Jolteon, pokémon luz. Acumula elétrons do meio, produzindo até 10 mil volts de eletricidade. O pelo eriçado é resultante da carga acumulada.

    - Parece difícil... – matutei alguma investida inicial com a pokedex ainda em mãos. – O que acha Budew? Podemos ir?

    - DEW! – ela ainda estava motivada, mesmo cansada.

    Li aguardou até me decidir com certa impaciência, isso é verdade, mas esperou. Eu estava tentando ganhar tempo para criar uma estratégia, mas nenhuma possibilidade me parecia muito confiável de ser bem sucedida. No final, consenti para o início de mais uma batalha.

    - Jolteon, use pin missile. – Li voltou a colocar os fones de ouvido, animando-se novamente.

    - Joooo... – Jolteon eriçou seus pelos ao máximo, liberando revoadas de espinhos que foram lançados contra Budew.

    - Budew, esquive-se. – os músculos de Budew paralisaram impedindo seus movimentos.

    Não conseguia olhar. Meus instintos pela primeira vez não se confirmaram. Fechei os olhos e implorei para que não ouvisse os gritos de sofrimento de Budew.

    - Bu! – os gritos de Budew eram como lanças afiadas invadindo minha mente, dilacerando-me.

    Fora insuportável para mim. Minha cabeça pesou em meus ombros e meus pés não conseguiram suportar meu corpo forçando-me a ajoelhar e apoiar a cabeça no chão. Respirei profundamente, procurando me acalmar, contudo a poeira invadiu minhas narinas, dificultando a respiração, deixando-me mais nervosa. O suor escorreu pela minha nuca, Vermilion tinha um clima realmente quente ou eram as respostas biológicas de meu corpo? Tentei me concentrar na história que Isis me contara. A senhora da noite, que enfrentara grandes dificuldades em sua vida e as superou. O que eu passava ali não chegava nem perto de seu sofrimento, no entanto... Porque tudo isso parecia tão terrível?

    Ao recobrar minhas forças abri os olhos; por um segundo pensei ter visto um piso de mármore branco recoberto por água límpida e translúcida. Ao piscar observei que era o revestimento empoeirado do ginásio.

    - Você está bem? – ouvi uma voz distante de mim. – Consegue continuar?

    - Sim, eu... – agora percebia alguém segurando minhas mãos com firmeza. Ao levantar a cabeça, vejo os olhos puramente negros de Isis preocupados e abalados.

    - Julli, o que houve? – sua voz saiu estremecida.

    - Acho que tive uma queda de pressão. – não queria preocupá-la com minhas alucinações. Eu tinha muito medo de ter alguma doença mental grave, e eu sabia no que isso poderia acarretar, e como eu sabia. – Vou ficar bem.

    - Tem certeza? – Isis procurou algum sinal de hesitação ou dúvida em meu olhar.

    - Tenho. – disse confiante.

    Ela levantou e me puxou em seguida.

    - Então boa sorte. – Isis sorriu. – Sei que consegue.

    - Obrigada. – O apoio de Isis me fortalecia, bloqueando os meus medos e receios.

    - Acha que consegue prosseguir? – Li reforçou a questão enquanto ajeitava os fones.

    - Sim e me desculpe por isso. – disse envergonhada. Ao vasculhar o local percebo que Budew continuava caída. – Budew, volte. – disse retornando-a a pokebola. – Você foi muito bem e me desculpe por causar esse sofrimento a você. – cochichei.

    Restavam Natu e Mareep. Jolteon era poderoso, apesar de confiar nas habilidades de Natu, não acreditava que ele conseguiria avançar muito em uma batalha contra ele sem se machucar, afinal o tipo de Jolteon era muito perigoso para meu pequeno pássaro verde. Ainda não sabia do que Mareep era capaz, mas iria arriscar todas minhas fichas nela.

    - Mareep, faça as honras. – lancei a pokebola ao ar, liberando um jato cintilante seguido de uma ovelha adorável. A escuridão atenuou-se com o brilho alaranjado da cauda de Mareep.

    - Mareeeeeeeee... – ela bateu as patas no chão demonstrando extrema vontade de batalhar.

    - Wow, wow, Mareep! – Isis gritou animadamente.

    - Cotton spore para começarmos. – falei com a voz ainda inerme. Logo em seguida, intuí que Jolteon estava enfraquecendo, algo o incomodava.

    - Mareep. – Mareep sacudiu sua lã liberando esferas brancas e luminosas pelo campo.

    - Pretende ganhar tempo, mas isso não será o suficiente. – Li disse confiante ao notar o que se passava ali. – Double kick!

    - Budew deixou uma contribuição muito significativa para Mareep e não irei desperdiçar. – falei observando que Jolteon já estava mais lento, devido à dificuldade de locomoção imposta pelo cotton spore.

    - Não pense que um mero envenenamento irá parar meu Jolteon. – Li disse sem rodeios.

    - Você tocou no ponto. – disse animada com a vitalidade recuperada. – O poison point de Budew é uma habilidade que pode surpreender. Mas por agora, Mareep evasiva.

    - Jol. – Jolteon aproximou-se de Mareep lançando dois chutes contra ela.

    Mareep jogou seus resistentes chifres contra as patas de Jolteon, diminuindo o dano recebido. Apesar da dificuldade de movimentação, Jolteon continuava extremamente rápido, mas o mais importante não fora isso. Percebi ali que Mareep tinha um estilo de batalha próprio.

    - Jolteon, pin missile. – Li iria tentar outra abordagem visto que o Double kick não atingiu o resultado esperado.

    - Joooo... – Jolteon eriçou seus pelos ao máximo, lançando rajadas de espinhos em Mareep.

    Mareep usou sua lã para amortecer o impacto dos espinhos. Ela estava me surpreendendo. Conseguia usar de alguns artifícios importantes para permanecer sem grandes avarias já que ela não era muito rápida. Agora notara que dificilmente conseguiria se esquivar dos ataques. Seu corpo não era tão flexível a esse ponto.

    - Mareep é agora! – iria testar se sua estratégia abrangeria não apenas a defesa. – Body slam.

    Mareep aproveitou que Jolteon estava próximo e jogou seu corpo sobre sua cabeça. Os pelos espinhentos de Jolteon poderiam ser um problema, mas Mareep já se antecipara a isso.

    - Isso aí. – Isis bateu palmas de excitação. – Vamos nessa Mareep!

    - Jolteon, quick attack. – Jolteon ainda parecia disposto a batalhar. Realmente ele estava resistindo bem.

    - Mareep, body slam novamente. – Estava limitada, já que ataques elétricos não causariam danos consideráveis em Jolteon, então eu tinha apenas um ataque para utilizar. Thunder wave não causaria efeitos, visto que ele já estava envenenado e thunder shock seria pouco efetivo.

    Jolteon desapareceu misteriosamente, e num instante surgiu golpeando Mareep.

    - Reeeep! – ela bufou enfurecida. Correu o mais rápido que pôde, acertando Jolteon em um impacto forte. Ele caiu bastante debilitado.

    - Jolteon você consegue! – Li disse procurando reanimá-lo.

    - Mareeeeppp... – Mareep já estava extremamente cansada. Ela não aguentaria mais um ataque.

    - Jol. – Jolteon ergueu-se com dificuldade, mas preparado para a rodada final. Ele deu alguns passos em frente tocando nas esferas. Respirava com dificuldade. Jolteon deu um passo em falso e caiu, o veneno fez seu último efeito.

    - É isso aí. – Isis gritou antes da confirmação do juiz.

    - A vitória é do desafiante. – o juiz ergueu a bandeira verde por um tempo considerável antes de pronunciar algumas palavras. – Em nome da Liga Pokémon confirmo que o ginásio de Vermilion entrega o símbolo da vitória a Julliane Cerule. A insígnia do trovão.

    - Você foi demais Mareep! – gritei emocionada, correndo para abraçar meu fofíssimo pokémon ovelha.

    - Mareee... – Mareep empolgou-se e acabou me derrubando passando a me lamber.

    - Para, isso faz cócegas. – disse rindo.

    - Meus parabéns. – Li falou ajeitando os fones de ouvido.

    - Obrigada, hahaha! – Mareep não se desgrudava de mim. – Espera um pouco Mareep. Ai! Hahaha!

    Procurei afastar meu animado pokémon por algum tempo.

    - Agora sim. – disse ajeitando-me.

    - Como a líder do ginásio de Vermilion eu tenho o prazer de lhe entregar a insígnia do trovão. – Li colocou uma medalha brilhante em forma de um sol de oito pontas amarelas com o centro laranja em alto relevo em minhas mãos. Seu brilho reluzente se destacava na escuridão do ginásio.

    Pokémon Ree laii [14 +] 83374740

    As luzes do ginásio acenderam num instante, fazendo meus olhos arderem com a iluminação forte já acostumados ao breu do campo de batalha.

    - Vejo que finalmente os eletricistas conseguiram reaver a energia. – Li disse alegremente. – Esse lugar está uma espelunca. Demorarei semanas até impor minha personalidade por aqui. Além de tentar trazer a confiança da população de Vermilion a mim. Enfim...

    - Hum. – Li teria de trabalhar bastante para recuperar o respeito perdido com o antigo líder do ginásio. – Você com certeza já têm o meu respeito.

    - Eu... – Li ficou emocionada com minhas singelas palavras. – Agradeço pelo que disse. E a propósito, meus avós pediram para entregar isso. – de acordo com Ísis que me contara depois aquela era uma câmera digital prata, de alta resolução, gravadora e filmadora bem conservada ao qual ela segurava em suas mãos. Não percebera em que momento ela a pegou, Li sempre tão ágil, rítmica, fantástica.

    - Não posso aceitar. – disse receosa.

    - Não seja boba, é um presente. – Li colocou em minhas mãos. – O navio parte amanhã. Meus avós ficarão muito bravos se não forem.

    - Hum. – estava em uma encruzilhada.

    - Melhor não contrariar. – no final acabei aceitando o presente dos Montblanc.

    - Certo. – disse finalmente.

    - Julli e Mareep. – Isis aproximou-se de nós vagarosamente. – Eu estou orgulhosa de vocês.

    Observei a felicidade de Mareep em conseguir aquela vitória e o sorriso de Isis altivo pela minha conquista e preocupado com minha saúde. Senti um misto de sentimentos opostos ali, assim como Ísis, eu demonstrava essa dualidade, e isso me causava pânico.

    Uma hora isso iria acontecer. Eu estava perdida sem um caminho definido a seguir. Não conseguia lidar com a dor de meus pokémons e muito menos com meus delírios. Tudo isso era tão forte e intenso, doloroso demais.

    Será que meu caminho seria a de uma treinadora pokémon? As dúvidas me consumiam aos poucos e o que era pior, eu não estava disposta a responder essa pergunta agora.

    Nesse momento pensei em como Augustus estava. Será que ele conseguiria superar o que quer que o esteja afligindo? A única certeza em meu coração era a de que onde eu estivesse, ficaria ao lado de meus pokémons, amigos e de minha família. Era a única coisa que me resguardava de minhas inquietações, o que parecia ser diferente para ele.

    ***

    Eu estava feliz. Parcialmente, mas feliz. Meus pokémons se recuperariam bem, consegui mais uma insígnia, uma amiga maravilhosa, pokémons incríveis, contudo as preocupações não paravam de me atormentar. Tentei descobrir algo com o pingo de coragem em meu peito procurando em minha mochila a única recordação de meus pais enquanto treinadores para tentar entender o que se passava com eles e comigo.

    Adele havia me mostrado o álbum de sua família quando éramos pequenas e para minha surpresa, havia uma foto no porto de Vermilion com meu pai, minha mãe, o pai de Adele, Donatan e uma garota misteriosa. Meus pais haviam se livrado de todas as fotos daquela época, mal tocavam no assunto quando eu perguntava. Aquele era o ultimo resquício de um período que gostaria de conhecer. Eles pareciam tão felizes ali.

    - Julli, vamos comemorar? – Isis puxou as cobertas para chamar minha atenção. – A enfermeira Joy já terminou de... – ela percebeu que estava entristecida. – O que houve?

    - É que... – fiquei envergonhada em falar de sentimentos tão doídos com Isis, mas precisava desabafar. – É difícil acreditar que minha mãe andava por essas ruas, feliz e radiante como nessa foto.

    - Ela morava aqui? – Isis sentou-se ao meu lado.

    - Sim. – disse com lágrimas nos olhos. – Ela nasceu aqui. Já meu pai vem de uma família tradicional de Cerulean. – pigarreei grosseiramente – Eu lembro que ele tocou no assunto no único dos aniversários de casamento que esteve presente em casa. Ele estava curioso em conhecer o famoso pôr do sol da cidade ensolarada de Kanto. – ri meio piegas ao dizer isso. – Disse que foi a paisagem mais bonita que já teve o prazer de apreciar, além de uma bela garota que teve a oportunidade de conhecer. Segundo ele, o porto de Vermilion era o lugar preferido de minha mãe. Ele comentou que ao vê-la banhada pelos raios de sol dourados, se apaixonou. Esses cabelos esvoaçantes, o sorriso radiante, esse brilho nos olhos, algo que nunca cheguei a presenciar nela. – as lágrimas foram desenhando linhas úmidas em minhas bochechas. Pigarreei novamente e sorri, enxugando as órbitas. – Ela sempre teve um olhar triste e resignado. Nem parece a moça desta foto.

    - Quem são esses? – Isis tentou mudar o foco da conversa, continuar naquilo não estava me fazendo bem.

    - Esses aqui são os meus pais. – disse apontando um rapaz com cerca de dezesseis anos, de cabelo azul meia noite bem comportados, os olhos castanhos a procura de revolução, abraçado a uma bela moça de mesma idade; cabelo castanho liso e iluminado, os olhos vívidos e esperançosos, o sorriso expressando felicidade absoluta. – Estes são os pokémons de meu pai: Starmie, o seu primeiro pokémon, Golduck, presente de minha tia e Lapras, o xodó de meu pai. Foi graças a Lapras que meu pai começou a se interessar pelas pesquisas científicas e hoje se tornou um pesquisador pokémon. Ele adora contar como a conheceu e como todo o mistério e encanto da Lapras o mudaram. Não nego, realmente é um pokémon apaixonante. – Próximo a eles, uma estrela de coloração violeta de dez pontas, com uma pedra carmim vistosa incrustada ao centro posava para a foto enquanto um pato azulado em poses marrentas atormentava um enorme pokémon de feições dóceis.

    - Que legal. – Isis já percebia uma melhora visível em mim. – Lapras é realmente um pokémon fascinante. Tantas histórias. – ela balançou a cabeça em nostalgia total.

    - Eu os vi duas vezes. – disse mordendo o lábio. – Meus pais não queriam que eu tivesse contato com pokémons. Nunca entendi isso, mas enfim continuando. – apontei a uma fofíssima bolinha rosa de meigos olhos vermelhos e um pequeno redemoinho em sua testa no colo de minha mãe. – Eu sempre quis saber que pokémon era esse. Fui descobrir pela Adele que se tratava de um Igglybuff, o que é difícil de imaginar... – suspirei reunindo forças pra continuar. – que minha mãe tomasse conta dela, visto que ela jamais citou a existência de algum pokémon em sua vida. Na verdade ela não os suporta.

    - Você nunca perguntou nada? – Isis me olhou meio culpada em se aprofundar em minhas dores.

    - Nunca tive coragem. – eu fitei novamente a foto e continuei. – e também duvidava que me contasse algo, mas eu não terminei de apresentá-los, não é mesmo? Esse aqui é o pai de Adele. O doutor Donatan Portman, o melhor amigo de meu pai, e padrinho de casamento deles.

    - Então ele é quase da família. – Isis me olhou, e tive a sensação de que ela queria me dizer algo, entretanto nesse momento eu precisava falar.

    - Pode se dizer que sim. – seus olhos acobreados ocultados pelos óculos, o queixo duplo, idênticos a Adele. O cabelo loiro platinado, sardas espalhadas pela face era o que diferia pai e filha. Ao seu lado um pokémon amarelado carregando colheres, de enormes bigodes e uma espécie de armadura cor terra a aparência serena, meditava. – Já este Alakazam era como um guarda costas de Adele. Nós vivíamos tentando fugir dele, mas ele sempre nos encontrava.

    - Pokémons psíquicos tem habilidades bem incomuns. – Isis sorriu. – E essa garota?

    - Não a conheço. – apesar de não saber de quem se tratava, sempre me senti próxima a ela. Como se tivéssemos algum tipo de ligação. Ela tinha os cabelos azul-prata encaracolados na altura dos ombros, o olhar misterioso, a pele pálida e delgada, um sorriso sarcástico, os contornos sensuais e as suas roupas provocantes. – Adele também não sabia de quem se tratava.

    - Ela não me é estranha. – Isis tentou puxar em sua memória, mas pareceu não se lembrar de onde a conhecia. – Talvez a tenha visto em algum lugar, mas onde?

    - Esses dois pokémons aqui são dela. – apontei para um Eevee com cara de poucos amigos e um pokémon bulbo azul de duas patas, de olhos vermelhos e arredondados e cinco folhas brotando do topo de sua cabeça. Não parecia nada satisfeito com a luz do dia. – Ajudou?

    - Não muito. – nós rimos juntas. – Sabe de uma coisa?

    - Hum... – disse mais tranqüila.

    - Vamos comemorar? – Isis levantou-se e estendeu a sua mão para mim. – Deixemos um pouco de lado nossos problemas.

    - Ok. – guardei a foto em minha mochila, seguindo para o banheiro. – Só vou lavar o rosto e já vamos.

    ***

    Isis estava lendo um folheto no sofá da recepção do centro pokémon, enquanto eu observava pela janela as pessoas se locomovendo embaixo do sol escaldante. Ainda bem que havia ar condicionado ali, porque mal conseguimos aproveitar o passeio pela cidade, com o calor que estava fazendo. Nossos pokémons não quiseram ir a praia se refrescar, na verdade Larvitar berrou escandalosamente ao ouvir a palavra água e foi o suficiente para invalidarmos tal possibilidade.

    Mesmo sem ter nenhuma novidade em relação aos meus lapsos de realidade, desabafar com Isis atenuou meu sofrimento. Eu sei que não seria educado passar por Vermilion e não visitar meus parentes maternos, mas eu tinha algo mais importante a fazer naquele momento. Eu prometera a minha mãe que iria, mas eu havia decidido enfim o que me era prioritário.

    - Isis, eu vou sair. – disse determinada.

    - Espera. – Isis levantou-se de sobressalto. – Onde pensa que vai?

    - Gostaria muito de ir ver o pôr do sol no porto. – não estava muito disposta a fazer isso anteriormente, mesmo com o incentivo de Isis, mas não queria me arrepender mais tarde. – Eu tenho que ir.

    - Muito bem então, eu vou com você. – Isis guardou o panfleto em sua mochila.

    - Não quero te atrapalhar. – disse culpada em tirar Isis de seus passatempos. – Pode ficar.

    - Não! – Isis meio que gritou, assustando a quem estava na recepção. Ela abaixou o rosto envergonhada. – É que... – Isis estava estranha. – Tenho de começar a fazer coisas diferentes, né.

    - Está bem. – disse sem entender sua reação exagerada. – Vamos então?

    Ao sair pela porta do centro pokémon, tive o desprazer de dar de frente com Zackie. Continuava com o mesmo jeito malicioso e rude. Os cabelos azul petróleo bem delineados ao seu rosto, o sorriso irônico e as sobrancelhas arqueadas em descontentamento por me ver.

    - Olá Isis e você. – Zackie deu uma piscadela a Isis deixando-a enrubescida. – Para onde estão indo?

    - Oi Zackie. – disse tentando manter-me calma, não por ele e sim por Isis.

    - Olá. – Isis sorriu timidamente. – Vamos ao porto de Vermilion agora ver o pôr do sol.

    - Eu soube que o pôr do sol desta região é realmente magnífico. – Zackie ainda guardava certa arrogância em sua voz, mas estava longe de se comportar como no dia em que o conheci.

    - Se quiser vir? – disse torcendo para dizer que não.

    - Claro. – ele sorriu maliciosamente para mim. – Já resolvi tudo que tinha de fazer por hoje.

    - Que ótimo. – Isis disse sem notar minha cara de indignação.

    ***

    A minha pokegear marcava seis e quarenta quando chegamos ao porto. Estava repleto de embarcações bloqueando a visão do mar, mas por entre as frestas, alguns raios incandescentes se propagavam. Guindastes colossais de aço maciço grafitado em vermelho e azul alegravam a acinzentada plataforma. Contêineres de diversas cores estavam agrupados de acordo com as especificações de cada empresa prestadora de serviço. Marinheiros descansavam nas tavernas próximas, após um longo dia de serviço ou de viagem, não me importava, queria apenas ver aquele pôr do sol que me permitiu existir. No antepenúltimo terminal de desembarque havia um clarão de tonalidade dourada me atraindo a ele.

    - Vou indo na frente. – disse ao doce casal as minhas costas.

    Isis e Zackie estavam conversando melosamente desde o momento que saímos do centro pokémon. Apesar de não terem tido nenhum contato físico ainda, pareciam um casal apaixonadíssimo. Confesso que senti uma pontada de ciúme em Isis conseguir alguém. Eu ainda era extremamente inexperiente nessa área devido a minha exclusão social sofrida na minha infância. Na verdade era um fracasso em qualquer tipo de relação social.

    Gostaria de compartilhar esse momento com alguém especial. O pôr do sol que foi responsável em unir meus pais era muito importante para mim. Tanto que cheguei a fugir desse momento.

    Ao chegar ao clarão, senti uma energia abrasadora atravessar meu corpo inteiro e aderir as minhas células. Uma imensa esfera dourada emitia as mais belas luzes que meus olhos eram possibilitados de compreender. O calor acalentador e ardente avançou as batidas do meu coração. Realmente era o mais belo pôr do sol em que já tivera a oportunidade de presenciar.

    - Façam as honras meus queridos! – disse emocionada. Percebi uma movimentação em seguida. Um garoto sentado à pilastra apreciava aquela arrebatadora paisagem cedida pela natureza. Não o notara antes tamanha a minha inquietação.

    As pokebolas liberaram quatro raios na plataforma.

    - Muuuuuud... – Mudkip ficou boquiaberto com tamanha beleza.

    - Naaaa... – Natu pousou sobre as costas de Mareep antes de concentrar seu olhar ao pôr do sol.

    - Budew! – Budew deu pulos de satisfação ao sentir os raios de sol inundar seu miúdo corpo. Adorava a luz do sol, diferentemente do pequeno bulbo azulado daquela foto. Pokémons planta podem ser tão diferentes assim? Parece que sim...

    - Mareee... – seus olhos cintilaram intensamente ao mesmo tempo em que relaxava com a massagem feita pelas garras de Natu.

    - Aproveitem. – segurei Mudkip que estava estático e coloquei em meu colo, sentando-me na pilastra oposta ao do garoto.

    O fitei discretamente, mas as luzes intensas não permitiram defini-lo muito bem. Virei-me e vi Isis abraçada a Zackie enquanto admirava a romântica paisagem. Larvitar estava bem afastado do deque, mas não escondia sua perplexidade em observar tal presente aos olhos. Teddiursa estava agarrada às pernas de Isis, maravilhada. O pelo de Eevee brilhava intensamente, o seu porte requintado não se abatia de nenhuma forma. O adorável Squirtle de Zackie teve a mesma reação boba de Mudkip, o estranho foi perceber que Zubat não estava ali. Provavelmente não devia ser muito fã da luz do dia, uma pena, estava perdendo uma grande oportunidade.

    Ao voltar minha atenção à paisagem, o sol já está em contato com o oceano. A água refletindo e se misturando as cores fortes, azul, verde, laranja, vermelho, uma explosão de cores.

    - Já está na minha hora. – o garoto ao meu lado se levantou. Sua voz era desafiadora, mas num tom responsável. Ao observá-lo melhor, vi que seus olhos se destacavam com o cabelo desarrumado, era um garoto bonito. – Foi um prazer Julli.

    Ele caminhou vagarosamente com as mãos nos bolsos da camiseta, indo-se embora.

    O tempo passou; a luminosidade diminuindo gradativamente dando lugar ao brilho suave da noite. Retornei meus pokémons às pokebolas, extremamente grata de existir uma beleza tão fascinante quanto a que acabei de presenciar. Agora compreendia o que meus pais sentiram aqui. Meus pais estiveram neste local e se apaixonaram. Um amor tão abrasador como o sol que foi bloqueado por alguma coisa que eu desconheço.

    - Espera um pouco. – repassei mentalmente algumas informações, e percebi que não troquei nenhuma palavra com aquele garoto. Como ele sabia meu nome?

    Sai correndo na mesma direção a dele.

    - Julli, o que houve? – Isis gritou ao passar por mim.

    - Tenho de me certificar de uma coisa. – percebi que Isis foi a meu encalço.

    - Até logo gatinha. – Zackie acenou para Isis.

    - Até. – Isis levantou a mão como forma de despedida.

    ***

    - Ainda não entendi o porquê daquilo, Julli. – Isis ficara chateada comigo. Não queria contar a ela o motivo de ter saído correndo por aí.

    - Eu já disse que não gosto do Zackie. – menti o real motivo para ela, sem realmente mentir uma informação. Não me simpatizava por ele, isso era uma verdade incontestável. – Só queria ir embora.

    - E ficar perambulando por aí?! – Isis não estava acreditando muito em mim. – Parecia que estava à procura de algo.

    Estávamos brigando na fila de embarque para o cruzeiro do S. S. Marinun. As pessoas já estavam comentando sobre nosso desentendimento.

    - Isis, nós conversaremos depois. – disse indicando o descontentamento das pessoas a nossa volta.

    - Bem. – Isis riu. – Vamos esquecer isso, é melhor. Vamos aproveitar a viagem, isso sim.

    - Isso aí garota. – disse ao subir a escada do gigantesco navio. – Cinnabar, aí vamos nós. – Isis pegou a câmera e tirou fotos cheias de poses e caretas antes do embarque.




    Abaixo um resumo do próximo capítulo.

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    Mensagem por Mr. Mudkip 22.11.12 18:37

    Pokémon Ree laii [14 +] 1zce73t

    Mais um capítulo de Pokémon Ree laii. Finalmente voltou a fluir as minhas ideias. Espero que curtam o capítulo e até a próxima. Comentem, please!!!


    Capítulo 010 – Reflexões em alto mar


    - Duas insígnias... – eu me sentia tão próxima de alcançar todas elas, como se no simples ato de esticar os braços eu as conseguiria. Mesmo sabendo que não chegara nem a metade desse desafio até as competições da Liga, um caminho longo e árduo, eu queria mais. Mais dessa sensação magnífica de segurá-las em minhas mãos e almejava continuar até obter todas elas. Nessas horas minhas dúvidas se tornavam pequenas, mas permanecia um incômodo. Não poderia escolher isso sem ao menos ver outras possibilidades e ter certeza de que me sentiria completa como treinadora. – Foi graças aos meus pokémons...

    - Não mesmo. – Isis aproveitava a todo o momento para observar o denso oceano. Segurava-se nas grades de proteção, esticando o pescoço para tentar ver entre o horizonte algum pedaço de terra. – Não se rebaixe desse jeito, viu minha amiga. – ela segurou em minhas mãos, me puxando para acompanhá-la naquela tentativa impossível. – O treinador tem seus méritos na batalha. Você treinou duro para consegui-las.

    - Mas no final foram eles que fizeram todo o trabalho. – eu não conseguia ver de outra forma.

    - Você e essa cabeça dura, pior do que a de Larvitar. – ri com a comparação. – Se consigo dobrá-lo, posso fazer o mesmo com você. – ela piscou maliciosamente. – Olhe como isso é lindo! Perfeito! Olhe!

    Isis já estava na ponta dos pés em cima da terceira grade, e por prudência a puxei de volta.

    - Às vezes você precisa medir os riscos das coisas. – disse entre dedos. Eu não gostava de repreender ninguém, me chateava, mas dessa vez fora necessário.

    - Tenho esse defeito, mas você também. – ela me jogou meio acusatoriamente a verdade, mesmo assim não me ofendi. – Várias vezes me meti em problemas por não saber quando parar. Já tive expedições bem turbulentas por causa disso, mas a gente aprende com os erros.

    - Fala sério? – não conseguia vê-la como uma pessoa descuidada. Essa pessoa era eu. – Até agora só eu dei trabalho aqui. – continuava a minha mania de seguir ideias desconexas. – Ei! Como você me aguentou até agora? – ri de minhas perguntas bobas.

    - Muito difícil... – Isis entoou as palavras em tom grave e pesado. – Muito difícil. – rimos juntas e depois de algum tempo fomos conhecer nossas cabines custando a carregar nossas mochilas cheias das compras exageradas de Isis. Acabei entrando nesse entusiasmo e gastei quase todo o dinheiro da minha conta com roupas e acessórios que eu não precisava. Não resisti ao maiô de escamas de Goldeen, eu confesso. Não resisti a outras coisas também, mas não convém falar sobre isso. Já sinto uma culpa enorme por conta disso, é o bastante para mim.

    Estávamos felizes, mais que felizes. Radiantes, essa era a palavra. Estar em um navio luxuoso em alto mar era uma experiência única e indescritível. O S. S. Marinun guarda um charme e requinte intocável. E não era para menos. Fora todo construído com materiais nobres, evidenciado pelo carpete grená com pregas douradas, a madeira envernizada pintada em entretons perolados, as belas estatuetas de alguma criatura enevoante e alinhada construída em mármore e fixada às colunas de pedra amarela, os castiçais de formas delicadas e tudo o mais nesse navio. Quem o projetou pensou em cada detalhe, tudo parecia perfeito. E realmente era.

    Descemos as escadas de acesso aos corredores passando por um salão central aberto e espaçoso, com uma iluminação esplendorosa, repleta de luzes laterais e ao centro um maravilhoso lustre de cristal de fulgor prateado. Havia várias entradas para o interior do navio; placas sinalizavam os intervalos dos números das cabines e seguimos pelo corredor com certa dificuldade, isso porque ainda estavam apinhados de gente procurando suas cabines com o auxílio dos funcionários contratados da empresa de turismo. A maioria, casais jovens ou mais experientes e alguns poucos treinadores aqui ou ali. Mergulhamos no mar de gente a nossa volta, e felizmente encontramos nossa cabine sem grandes problemas. Era pequena, minúscula, bem menor do que imaginávamos. A porta de aço pesou, mas conseguimos fechá-la ao entrarmos para abafar o som de burburinhos do corredor. Tudo parecia ainda mais apertado com o quarto fechado mesmo sem saber se isso era possível de acontecer.

    A cabine em resumo, era um pequeno cubículo de um metro quadrado e um banheiro ainda menor com menos de meio metro quadrado. Havia uma janela redonda pintada de branco em cada um dos cômodos, dois colchões fixados à parede, bem confortáveis por sinal, um espelho platinado em formas amplas, resguardado por uma tela de proteção de plástico bruto e um pequenino armário embutido de madeira de castanheira e alças de aço banhados em ouro.

    - Hum... – nos entreolhamos um pouco assustadas. – É só por algum tempo... Dormir, trocar de roupa... – mesmo com o desânimo por estar num quarto minúsculo, nada seria capaz de estragar esse momento.

    - Ficaremos o tempo todo lá fora. – Isis foi categórica. – Vamos pra piscina? – consenti com um aceno e então começamos a nos trocar.

    ***

    Observei meu reflexo na água por alguns instantes. Em certos momentos achei que meu cabelo se misturava ao azul da piscina, mas eu sabia que eram os meus olhos me pregando uma peça.

    - Julli! – Isis havia acabado de sair de um mergulho. – Não vai entrar?

    - Só um minuto. – mirei o céu azul pincelado de leves nuvens. O sol brilhava intensamente fazendo minha pele queimar com os fortes raios de sol.

    Não havia muitas pessoas na piscina. Elas preferiam se deitar nas espreguiçadeiras para se bronzear, ler um livro embaixo de uma agradável sombra de um guarda sol, e até mesmo tomar um refresco. O clima quente não os convenceu a se refrescarem.

    Como eles, eu queria apenas relaxar. Eu me sentia tão confortável a beira da piscina deitada sobre a minha toalha estampada com Corsolas brincando próximos aos corais, brinde exclusivo para quem comprasse cinco peças de moda praia, só que Isis insistia a toda hora para acompanhá-la. Eu adorava água, mas ultimamente com essas alucinações, eu passei há temer um pouco essa aproximação.

    - Não seja estraga prazeres. – ela borrifou um pouco de água em minhas pernas.

    A provocação fora o bastante para me convencer.

    - Ah é? – rolei até a piscina, e devido ao contato rápido com a água meu corpo se encolheu pelo frio repentino, mas logo se acostumou. – Você mexeu com a pessoa errada.

    Eu não queria me gabar, embora Isis nadasse bem, não se comparava a mim. Eu sou uma Cerule, nasci e cresci na cidade de Cerulean, o berço dos pokémons aquáticos, e só por essa razão ela já não teria chances contra mim dentro d’água.

    Mesmo com as proibições de minha mãe, insistindo em me manter presa em casa ou sob sua supervisão, meu pai foi enfático em sua decisão para que eu tivesse aulas de natação. Era inadmissível um Cerule não saber nadar, era o que ele me dizia. Uma das poucas exceções e um dos maiores presentes dados por ele desde que recebi o meu pequenino e inconstante Mudkip.

    Ela tentou fugir, mas rapidamente a interceptei e comecei a “torturá-la” com cócegas pelo corpo. Ela se rendeu de imediato.

    - Nunca mais me provoque. – ri ao tentar ajeitar o cabelo molhado por detrás das orelhas.

    - Assim não vale. – Isis procurou se recompor de meus mal feitos. – Não foi uma disputa justa.

    - Nessas horas vale tudo. – retruquei.

    Ela deu de ombros já me propondo uma competição.

    - Quanto tempo você consegue segurar a respiração? – Isis arqueou as sobrancelhas.

    - Veremos! – disse em tom provocante.

    Continuamos a nadar, brincar e armar competições até os dedos ficarem totalmente enrugados. Depois que eu me aventurava dentro d’água era difícil sair. Isis já havia desistido e resolveu fazer um lanche, mas eu poderia ficar ali por horas a fio.

    - Estarei no restaurante. – foi o que ouvi.

    Agora o sol se escondia em meio às nuvens densas e acinzentadas atenuando o calor e a claridade típica da região de Vermilion. Estávamos nos afastando rapidamente da terra natal de minha mãe e de certa forma me aliviava sair dessa pressão envolvendo o passado de minha família. Contudo, minha mãe iria despejar toneladas de reclamações por não ter feito uma visita de cortesia aos parentes. Tentei me ausentar desses incômodos e finalmente relaxar. Deixei o corpo boiando suavemente pela superfície da água, e meio que apaguei. A água fluía em minha pele, o corpo praticamente imóvel, o pensamento longe.

    O silêncio não vinha. Um barulho mínimo e insistente perturbava os meus ouvidos. Batidas leves foram se transformando, elevando-se em passos alarmados e inconstantes, e junto disso o som da chuva a cair no piso de pedras traziam angústia para o meu coração palpitante.

    Tinha receio de me entregar a esses ensejos, mas a curiosidade sobressaiu.

    Os passos continuavam fortes, aflitos, desesperados por ajuda. Corria, hesitava, recuava, no entanto acabava cedendo ao objetivo cercado de perigos e continuava.

    - Ai! Me desculpe. – alguém acabou esbarrando em mim, interrompendo meus devaneios.

    Abri os olhos um pouco assustada por me deixar levar dessa maneira leviana. Jamais imaginei que eu pudesse chegar a cruzar a linha do bom senso por vontade própria.

    - Não se preocupe com isso. – tranquilizei a mulher do ocorrido e nadei até a beirada da piscina, ainda tentando me recuperar desses atos irresponsáveis.

    Notei um certo rebuliço no nível superior com uma mulher berrando aterrorizada. Sai da piscina enxugando-me com a toalha e discretamente tentando ver o que se passava.

    - Mareee! – uma bola de algodão rolou pelas escadas espatifando-se próxima aos meus pés.

    - Mareep? – disse alarmada.

    A cauda e a cabeça de Mareep surgiram no amontoado de lã luminosa de cor creme.

    - Buu! – Budew saltitava de um lado ao outro, fugindo de um dos marinheiros do navio.

    - O que está acontecendo aqui? – fui consumida em um estado de fúria ao subir as escadas e ver o estrago deixado por meus pokémons.


    ***

    - Huhu... – disse procurando um tom austero. – Vocês têm de se comportar!

    - Buuu! – Budew saltitava na cama da minúscula cabine, quase alcançando o teto, sem prestar a menor atenção em mim.

    - Isso serve para você também. – agarrei-a enquanto estava no ar, repousando-a ao lado de Mareep. Cortava-me o coração ter de fazer isso com ela.

    - Dew! – ela se irritou vorazmente. Percebi ali que Budew estava ficando mimada. Era hora de impor alguns limites a ela antes que fosse tarde.

    - Mud. – percebi um sorriso malicioso se formar no rosto de Mudkip. Ele ainda não conseguira superar os ciúmes de Budew.

    - Não pense que você sairá ileso por isso, Mudkip. – disse olhando diretamente em seus adoráveis olhos castanhos. A falta de união entre eles me chateava.

    - Kip. – ele bufou raivosamente, mas conteve-se ao meu olhar autoritário.

    - Ok. – disse relembrando meu discurso pré preparado. – Nós estamos em um local em que não serão toleradas más criações, ou seja, comportem-se bem e não seremos expulsos.

    Ficara extremamente envergonhada com o resultado desastroso de nosso passeio pela piscina do navio e a fuga de meus pokémons. Natu comportou-se exemplarmente bem e por isso não estava ali ouvindo minhas recomendações futuras de comportamento.

    - Se vocês seguirem o exemplo do Natu, eu não terei de repreendê-los novamente. – olhei para os causadores de tamanha estapafúrdia, e não conseguia acreditar que eles tivessem feito aquilo. – Vocês conseguiram até incendiar o cabelo daquela senhora. Não sei como conseguiram isso e nem quero saber. Eu só não tenho palavras para descrever minha indignação. – levei às mãos a cabeça massageando as têmporas para aliviar a pressão, andando de um lado para o outro – Não acredito que meus pokémons foram capazes disso. Não só. – parei de súbito. – Infelizmente teremos uma extensa lista de prejuízos para pagarmos, além de não ter mais coragem de colocar a cara fora dessa cabine. Todos os passageiros devem estar revoltadíssimos.

    - Buuu... – Budew começou a debulhar-se em lágrimas. Percebi certa falsidade em sua reação; Fake tears? Seria um novo golpe? A pokedex teria apitado se realmente houvesse um novo ataque em sua lista.

    - Mud. – Mudkip escondeu o rosto em suas fofas patinhas. Ele sim demonstrava constrangimento por seus atos.

    - Reep. – Mareep não pareceu se importar. Ao menos não tentou fingir como Budew.

    - Mudkip pode sair. – disse chocada com a naturalidade em dissimular de Budew. – Mareep, você ficará de castigo por uma semana pensando no que você fez. Eu respeito seu espírito livre, mas passar por cima dos limites não será tolerado.

    - Mareeee... – ela olhou diretamente em meus olhos, percebendo que eu não estava para brincadeiras, acatando as ordens de imediato. Mudkip saiu em passos lentos e arrastados pela porta de aço.

    - Retorne. – falei extremamente chateada por Mareep não compreender o que ela causou. – Agora... – procurei uma postura altiva para não fraquejar diante de Budew, prosseguindo a massagem em meu crânio. Precisava aliviar a tensão – Você me espanta.

    - Buuu... – Budew tentou simular que não estava entendendo o que se passava ali.

    - Não me venha com essa, Budew. – não admitiria esse tipo de comportamento. – Ficará a viagem inteira em sua pokebola. Quer saber. – disse com a cabeça quente. – Ficará no Box. – talvez fosse demais o castigo, mas tinha algo em mente quanto a isso.

    - Budew! – ela berrou exasperada.

    - Retorne. – disse extremamente chateada.

    A pokebola permaneceu palpitante em minhas mãos, sua fúria transpassando o metal, queimando meu despedaçado coração. Sentei-me a beirada da cama, esperando até que ela se acalmasse.

    - Que bela treinadora eu sou. – desabei no colchão rindo dolorosamente. Já estava farta de chorar. – O que farei agora? – disse doidamente observando a pokebola de Budew. – Do que me adianta duas insígnias se o resultado é esse?

    ***

    Vi o rostinho fofo de Mudkip no momento em que o vi pela primeira vez. Em um instante, estava dividindo algumas raízes com Natu, muito saborosas e suculentas. O doce sorriso de Budew, quando abri os olhos naquela cama de hospital. A alegria de Mareep ao descobrir que iria sair da pacata fazenda dos Montblanc. A visão começou a embaçar e não conseguia mais definir o que se passava.

    - Gostaria que ficasse com isso. – imagens distorcidas moldaram-se no rosto bondoso do Senhor Montblanc.

    - Mas por quê? – ele depositou em minhas mãos a pokebola de Mareep. A sensação era de estar em uma versão mal produzida de minha vida. Um filme distorcido e atemporal. – Eu...

    - Você tem algo de especial. – ele disse sorrindo.

    - Você pretende morrer garota?! – a feição daquele gentil senhor transformou-se em um homem carrancudo com cicatrizes dispostas em seu rosto malévolo. – o sorriso medonho dele foi o estopim; a dor rompeu-se em meu corpo, concentrando-se em meu pulso.

    Reviver aquele momento, mesmo em sonho machucava profundamente.

    A ligação dos olhos cor de água aos verdes campos, um lago translúcido unia-se a natureza verdejante acalmando minha mente por um mísero momento.

    - Acha mesmo que se comunicará com ele? – uma voz grave afincou-se em meus tímpanos, torturando-me.

    - Pare com isso! – gritei suplicante. – Eu não quero continuar. – cada memória que surgia agora arrancava um bom sentimento de mim. Não compreendia o porquê disso?

    Os cabelos ruivos de Augustus alongaram-se em fios dourados e luminosos.

    - Foi um prazer Julli. – a luz em meio às sombras, um contraste nebuloso modificou o porto de Vermilion em meu pior pesadelo. A chuva respingava em minha pele ao piso marfim gelado.

    - Quando fora isso? – O frio penetrava em minhas terminações nervosas bloqueando a sensibilidade de minhas mãos. – Sangue? – diluindo-se na água límpida, um líquido escarlate liberado de meus braços estraçalhados esboçava uma figura indefinida. – Será que eu já vivi esse momento?! Mas quando? – a dúvida era cruel, mas preferia que não fosse respondida.

    - Você é especial. – a voz doce adentrou meu coração desatando meu sofrimento e expondo a ferida ainda aberta, que eu lutava para esconder. Algo impossível de deter.

    - Mamãe? – a inocente criança clamava por respostas. – Você me ama?

    A senhora apertou os dedos contra o corpo, tremulou os lábios, mas nenhum som foi emitido. O silêncio corroeu cada resquício de sanidade que lutava em permanecer.

    - Por quê? – a menina expurgou um sorriso e desapareceu em meio às trevas.

    - Por favor. – disse aos prantos. – Não consigo mais. – um turbilhão de imagens foi se misturando a minha frente, feito negativos de um filme antigo. Aquelas memórias não correspondiam mais a mim, era só isso que eu tinha certeza agora.

    O calor úmido invadiu todo o meu corpo. O som das ondas de encontro à praia e percebi ali uma energia maligna surgir. O céu límpido e acolhedor não combinavam com o clima pesado da cena em que eu parecia uma mera espectadora.

    - Finalmente nos reencontramos. – aquela voz masculina, grave, rouca, entre dentes me era familiar, mas de onde?

    - Quem é você? – disse inutilmente. Fora totalmente ignorada.

    - Não posso dizer o mesmo. – aquela voz.

    - Pai? – eu só conseguia definir borrões em formas humanas. Seria realmente meu pai. O que estava acontecendo. Era um sonho ou?

    Num estante, um enorme borrão avançou sobre o homem de más vibrações. Pausa. A cena congelou-se e assim permaneceu. Acabara. Meus olhos abriram e miraram o teto da cabine.

    - O que foi isso? – senti a pokebola de Budew em minhas mãos. – Será realmente um sonho? – ao olhar para o relógio da pokegear eu confirmara. – Um minuto. – não poderia ser. – Mas o que seria então? Eu apaguei totalmente em um período de tempo tão curto.

    Levantei tranquilamente. Apesar da recente experiência estava bem. Sentia como se um manto protetor resguardasse não só a minha mente, mas meu corpo também. Abri a porta da cabine onde Isis aguardava no corredor. Mudkip estava ao seu lado com os olhos tristonhos e culpados. Eles não notaram nenhuma anormalidade, então preferi me calar.

    - Poderia colocá-la no Box? – disse sem ter certeza de que seria realmente o melhor para Budew. – Você sabe que não consigo manipular equipamentos eletrônicos. Poderia mandá-la para o lugar errado.

    - Você tem certeza disso? – Isis percebeu minhas dúvidas.

    Fiz uma pausa, recordando o que já se passara em minha jornada até essa experiência aterradora.

    - Tenho sim. – disse finalmente. – Eu preciso repensar os meus objetivos.

    - Está bem. – Isis segurou a pokebola e me puxou em um abraço solidário. – Volto em seguida.

    - Ok. – disse sentando-me ao lado de Mudkip. – Vou falar com o comandante também.

    - Ah, sim. – ela acenou e continuou a caminhar pelo corredor.

    Esperei Isis subir as escadas revestidas em resina branca, forradas ao centro com carpetes grená prensados com cilindros dourados para terminar minha conversa com Mudkip.

    - Mud. – Mudkip me olhou de perfil.

    - Não se preocupe. – falei procurando sorrir. – Eu vou melhorar. Por agora é o que eu posso dizer.

    - Kip. – ele levantou e lambeu meus dedos tentando me animar.

    - Obrigado. – disse abraçando seu miúdo corpo. – Agora tenho de me desculpar com o capitão do navio.

    - Mud! – ele saltou no chão decidido a me acompanhar.

    - Você quer ir comigo é. – sorri. Ao menos não era um total fracasso como treinadora. Talvez tivesse alguma chance. Levantei e segui com Mudkip ao meu lado.

    Agora percebia que aquelas duas insígnias que ganhei, apesar de toda a dificuldade, não representavam a realidade de um treinador. Treinar um pokémon vai muito além de vencer uma batalha. O objetivo maior era se harmonizar com seus pokémons. E isso infelizmente não estava acontecendo conosco.

    - Muito bem. – disse indo em direção a ponte de comando.

    ***

    - Não se incomode com essas bobagens. – o homem de bochechas rosadas disse descontraidamente. – às vezes as brincadeiras podem sair de controle. Tenho certeza de que seus pokémons não queriam que aquilo acontecesse.

    - Você tem certeza? – eu esperava ter de pagar por todos os prejuízos que meus pokémons causaram no navio. – Eu não terei de pagar nada?

    - O objetivo de nossa empresa é trazer entretenimento de qualidade aos nossos passageiros. – o homem surpreendeu-se com minha persistência. – Claro que acontecem alguns acidentes como esse. Mas mesmo assim queremos que nossos passageiros não tenham preocupações durante sua viagem em nosso cruzeiro.

    - Mud. – Mudkip ficou extremamente feliz com a notícia. Agora ele se sentia menos culpado com suas ações inconsequentes.

    - Não pense que se livrou do seu castigo mocinho. – disse imperiosa.

    - Hahaha! – o homem riu estrondosamente – Você não é de brincadeira.

    Eu corei e para que ele não percebesse fingi observar a vista do mar. Distante, uma ponte sustentada por vigas metálicas acobreadas, com o tráfego constante de ciclistas se destacou.

    - Não me diga que essa é a ponte dos bicicleteiros? – disse pasma com a coincidência, escancarando para o capitão meu rosto avermelhado. – Passei por aqui há pouco tempo.

    - É sim. – o capitão confirmou, ajeitando o quepe em sua cabeça. – Já passamos pela primeira. Esta foi construída há pouco tempo para ligar a cidade de Pallet a Fuchsia.

    - É ainda mais linda vista por esse ângulo. – disse admirando o desenho que as vigas de aço criavam.

    - Mud! – Mudkip mordeu meu calcanhar carinhosamente para que eu o ergue-se.

    - Desculpe. – segurei seu miúdo corpo, ajeitando-o em um cruzar de braços.

    - Espero que se divirtam pelo restante da viagem. – o comandante sentou-se em sua cadeira, bebendo boas goladas de sua caneca. – Os outros passageiros entenderam a situação. Tudo não passou de um infeliz mal entendido.


    DOIS DIAS DEPOIS...


    - O desembarque em Cinnabar será por três dias, aproveitem a estadia. – as caixas de som espalhadas pelo navio deixavam a mensagem mais esperada por mim. – Dentro de trinta minutos, os barcos estarão disponíveis para levá-los até a ilha.

    - Finalmente. – disse bebendo um drink tropical na espreguiçadeira.

    - Apesar de todas as galerias, festas, eventos e atividades a se fazer nesse cruzeiro, eu também não via à hora de chegar. – a mochila de Isis estava lotada de quinquilharias que ela foi comprando compulsivamente. Se eu não desse um puxão de orelha, ela estaria sem nenhum centavo.

    - Sei? – disse cutucando.

    - Tá bom. – ela colocou o envelhecido livro de lado e mostrou a língua para mim. – Eu confesso que eu torrei quase todo o meu dinheiro, mas você não pode me censurar não. Acha que eu não vi todas aquelas roupas e bijuterias.

    - Melhor eu ficar calada. – tentei me esconder detrás de meus óculos escuros.

    - Melhor irmos nos arrumar. – Isis levantou-se tomando cuidado com seu frágil livro. – Não podemos enrolar.

    - Uma dúvida Isis. – disse procurando uma posição mais confortável.

    - Sim? – ela voltou a sentar na espreguiçadeira.

    - Como consegue carregar tantos livros? – somente no navio eu a tinha visto com uns vinte cinco livros diferentes.

    - Eu não carrego. – ela disse como se a resposta fosse obvia. Como percebera o meu desentendimento, tentou explicar. – É tudo via correio. Enquanto eu estou em uma cidade, por exemplo, em Vermilion eu já enviei um pacote com cerca de trinta livros para o centro pokémon de Cinnabar.

    - Por isso aqueles selos de correio. – eu havia pensado que ela fazia coleção, e preferi não contar esse fora.

    - Eu também recebo muitos trabalhos dessa maneira. – ela disse apontando para a pokegear. – Ultimamente tenho recebido muitas fotos de inscrições antigas do museu de Pewter. É uma boa grana, que está me mantendo bem. – apesar de Isis gastar descontroladamente, ela conseguia repor o rombo de sua conta facilmente, o que não se aplicava a mim.

    - Falando nisso, eu não batalho há dias. – meu saldo deveria estar quase no zero, ou pior negativo. – Como vou conseguir me manter se estou em crise profissional. Não sei se ser uma treinadora é a melhor escolha. – apertei as mãos com força, tentando extravasar. – Me sinto uma inútil e ainda por cima estou aqui de “férias”. – sinalizei um gesto de aspas no ar.

    - Eu te empresto e também, quer saber... Você pode ter certeza que está trilhando um bom caminho. – Isis segurou em minha mão. – Eu não disse nada antes, mas o problema é que você trata seus pokémons como bebês. Eu não queria me meter, mas acho que você precisa de alguma ajuda.

    - Agora que você disse. – era lógico. – Budew foi quem mais se prejudicou. Eu sempre tratei Natu considerando sua independência. Mudkip eu acabei deixando de lado para cuidar de Budew, faria qualquer coisa por um pouco de atenção, já Mareep está há pouco tempo comigo e ainda não sofreu minha influência, ela só se deixa levar pelas situações, mesmo nas que não deveria.

    - Acho que não preciso dizer mais nada. – Isis ergueu-se novamente.

    - Devia ter me dito antes, isso sim. – disse em um misto de alívio e raiva. – Eu estava quebrando a cabeça para conseguir descobrir o que se passava.

    - Julli, não é hora para isso. – ela desamarrou os nós da tanga, ajeitando o biquíni preto. – Vamos nos arrumar? Cinnabar nos espera.





    Um resumo do próximo capítulo:

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    Mensagem por Luffy 23.11.12 15:00

    To curtindo bastante até agr >.<
    parabéns ótima fic, ta me inspirando Pokémon Ree laii [14 +] 534588
    louco pelo cap 11
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    Mensagem por Mr. Mudkip 23.11.12 20:54

    Pokémon Ree laii [14 +] 1zce73t


    Que bom a minha fic ajudá-lo a se inspirar, Kira, muito feliz em saber disso. Não sei se comentei, mas está de parabéns pela sua fic A espada de Sakra (estou acompanhando). Bom, mais um capítulo de Pokémon Ree laii para vocês.

    Empolguei-me novamente com o desenvolvimento e enredo dessa fic, a toda hora pensando em novos elementos para torná-la mais atrativa e agradável a vocês. Pensei em retirar a participação especial de Marina, mas infelizmente não consegui... Enfim, espero que curtam e comentem, please!



    Capítulo 11 – Marina


    O desembarque foi um pouco tumultuado, contudo conseguimos ser uma das primeiras a seguir caminho até a ilha de Cinnabar. Os botes comportavam apenas vinte passageiros sentados, fato que gerou certo tumulto e pequenos desentendimentos entre as pessoas mais irritadiças e impacientes. Todos os passageiros estavam doidos para chegar à terra firme, espremendo-se uns nos outros para ver quem conseguia a sua vaga.

    Em meio à confusão, pude ter uma visão entre sombras da parede rubra cortando o céu azul. Daquela distância já era visível o famoso vulcão que a cerca de dois anos causou estragos a ponto de evacuar toda a população da cidade e destruir até mesmo o ginásio local. Pelo o que soube, o líder do ginásio chegou a montar uma base temporária em uma ilha próxima daqui, no entanto ele a desativou há cerca de alguns meses, e às vezes ele volta à cidade para aceitar alguns desafiantes a insígnia do Vulcão.

    - Isis, o que você poderia me contar de especial sobre Cinnabar? – ela dizia que só transmitiria seus conhecimentos históricos ao termos a oportunidade de presenciá-la pessoalmente. Fazia isso somente para me irritar, disso eu tinha certeza.

    - Talvez depois. – ela apontou para vários globos azuis com duas esferas vermelhas submergindo da água.

    - Não se preocupe. – disse animada em ver pokémons aquáticos em seu habitat natural, ao menos sobre eles eu detinha certo conhecimento. – É apenas um Tentacool. São praticamente inofensivos.

    - Não é isso! – Isis deu um tapinha em minha cabeça. – É pra você ver. Se distrair. Sei que gosta de pokémons aquáticos e por essa razão te mostrei. – ela revirou as órbitas ao lembrar que estava conversando comigo, uma garota meio fora dos padrões. – Esquece. – Isis sorriu e continuou olhando Tentacool com tamanha atenção que me senti tentada a perguntar o porquê de tanto interesse.

    - Ah, sim. – aproveitei para coletar informações sobre ele. – Quem sabe eu me surpreendo com novas informações, não é mesmo?

    Pokémon Ree laii [14 +] 072

    Tentacool, pokémon água-viva. Ele vagueia a deriva nas ondas. Seu corpo é quase todo composto de água, o que dificulta sua visualização em ambientes aquáticos.

    - Ele é muito misterioso. – Isis ficou observando-o até ele desaparecer no denso oceano. – Os mistérios me encantam. São sempre fascinantes. O que há dentro dessa massa gigantesca de água?

    - Por acaso tem alguma coisa para me falar? – tentei sondar algo, mas estranhamente ela não se mostrou disposta a falar. Ela adorava tocar nesses assuntos ligados a sua profissão, lhe dava satisfação saber que existiam aqueles que se interessavam por seu trabalho, apenas estranhei.

    Isis detinha astúcia a todo o momento, mas hoje estava absorta ao ver as ondas do mar irem de um lado para o outro. Deixei minha amiga se deixar levar junto às ondas para ver a ilha cada vez mais próxima.

    Ao nos aproximarmos mais, vi bandeirinhas de diversas cores amarradas a barbantes regozijando a entrada da cidade. Jatos de fogo eram lançados para o alto, músicas dançantes, barraquinhas, e mais uma infinidade de coisas ainda indefiníveis aquela distância.

    - Cinnabar parece ser uma cidade de muita festa. – disse observando as bandeirinhas tremulantes presas ao cais.

    - É uma cidade turística. – Isis explicou. – Fica sempre agitada, além de todas as lembrancinhas típicas e itens regionais. – Isis estava quase babando de excitação, retornando ao estado normal de superconsumismo. – Estou louca para experimentar as fontes termais e ver os escombros da antiga mansão da cidade.

    - Vai com calma. – disse sabendo que o mesmo se aplicava a mim. – Mansão? – me interessei de imediato.

    - Em outra hora eu te conto ok. – Isis pegou um espelho compacto em sua mochila, ressaltando seu visual com um gloss rosado.

    - Está bem. – peguei uma pokebola lançando-a no ar. – Natu, faça as honras. – disse baixinho.

    - Tu... – Natu focou sua atenção em um senhor a nossa frente de camiseta floral vermelha e branca, com pouco contraste em sua pele queimada de sol.

    - Vamos nos divertir um pouquinho na ilha de Cinnabar? – perguntei ao meu companheiro de farra do cruzeiro. Os outros estavam barrados até segunda ordem.

    - Natu. – Natu pipitou alegremente.

    - Mas com moderação, viu Natu. – Isis lembrou-me da escassez de recursos.

    - Sim. – disse desanimando. – Tinha que ficar me lembrando?

    - Achei necessário reforçar. – ela riu com minha cara de nojo para o último comentário.

    ***

    - Sejam bem vindos a ilha de Cinnabar. – duas mulheres vestidas com roupas havaianas nos receberam com abraços e saudações revigorantes no deque enfeitado.

    - Muito obrigada. – disse contidamente.

    - Naaa... – Natu concentrou seu olhar nas bandeirinhas coloridas tremulantes ao vento forte da ilha.

    O clima da ilha era agradável exalando uma sensação acalentadora e tropical. Cinnabar com suas formações rochosas singulares de aspecto vítreo, granulação fina, cor avermelhada e de consistência rígida, com ausência de vegetação alta, apenas uns poucos arbustos espalhados davam um charme único a essa ilha de terra rubra. Localizado provavelmente ao centro da ilha, o vulcão destacava-se pelo seu tamanho monstruoso. Estremeci ao imaginar uma possível erupção que poderia acontecer a qualquer momento.

    Tirando-me desse pensamento assustador, passei a notar a circulação de pessoas e pokémons sempre constantes e em altas proporções. A todo o momento, sacolas e caixas de compras iam sendo embarcadas e desembarcadas por pokémons de músculos poderosos.

    Pokémon Ree laii [14 +] 067

    O comércio local realmente pegava fogo. Os clientes não pareciam incomodados com tantos barracos improvisados montados de qualquer maneira, pelo contrário, estavam ávidos pelos itens raros, incomuns e peculiares comercializados. As barraquinhas de comida eram as mais disputadas, seguida pela de jogos. As poucas lojas dali estavam lotadas, dificultando a circulação de pessoas, um verdadeiro caos. Apesar da desordem, eles apresentavam um compasso, em que tudo funcionava. Um caos organizado.

    - Vamos às compras! – Isis saiu correndo de barraquinha em barraquinha, lojas, parecia um tufão carregando tudo que podia consigo.

    Acompanhando o ritmo alucinante de Isis com as compras pela cidade, percebi que muitas casas estavam ainda em construção. Os estragos causados pela última erupção ao menos foram materiais, soube que a ilha foi evacuada a tempo de uma tragédia. Considerando o comércio aquecido da região, o risco-benefício compensava. Mesmo com a constante iminência de erupção, a população demonstrava felicidade em cada sorriso, gesto, ação, o que me motivava a tentar ser mais alegre e feliz; o que impulsionava o desejo de se dar um presente também. Eu estava resistindo à tentação do consumo, mas era difícil. Tantas pessoas se esbaldando em uma infinidade de produtos e eu tendo de me regrar até as pequenas coisas.

    O pouco dinheiro que ainda me restava foi gasto com sabedoria. Comprei um lanche para satisfazer a fome de Natu e a minha, um estoque de ração pokémon para duas semanas, e um lindo par de brincos. Hum, talvez não tenha muita sabedoria, afinal ainda sou muito jovem.

    - O que você acha, Julli? – Isis estava vestida com uma espécie de saiote verde limão. Parecia um guarda-chuva humano. – São roupas tradicionais dos refugiados da época. – não acreditava que as pessoas naquela época usassem roupas de tamanho mau gosto. Isis era a especialista em culturas antigas, mas achei que na empolgação dela, a vendedora tentou engambelá-la.

    - Sei não. – preferi não expressar minha real opinião, sinalizando sutilmente que ela estava ridícula naquilo.

    - Acho que não vou levar – Isis entendeu meu recado e rapidamente foi ao provador retirar aquela traquitana.

    - Não querem olhar mais alguma coisa? – a vendedora queria nos prender na loja a todo custo.

    - Em outra ocasião. – falei educadamente e saímos com certa dificuldade. A quantidade de pessoas era algo incômodo.

    - Tu... – Natu não estava nada satisfeito de ser esbarrado a todo o momento.

    - Já estamos acabando. – disse procurando acalmá-lo.

    - Fale por você. – Isis estava descontrolada diante de tantas opções para comprar. – Mas por Natu, podemos fazer uma pausa.

    - Sério que você vai fazer isso? – disse ironicamente.

    - Podemos ver os escombros da mansão agora. – ela ignorou o meu deboche e observou o mapa na pokegear. – Tenho certeza que irão gostar. Vi algumas fotos e fiquei seduzida com o valor histórico daquele lugar.

    - Vocês estão falando da antiga mansão? – uma senhora de pele enrugada, rosto fino e delicado, olhos castanhos e miúdos, nos interrompeu sem cerimônias por ouvir nossa conversa e resolveu se intrometer.

    - Sim. – confirmei.

    Ela suspirou tristemente, como se guardasse péssimas memórias desse acontecimento.

    - A polícia isolou a entrada da mansão desde o primeiro incidente. É proibido o acesso de turistas num raio de um quilômetro em redor dele. – ela disse meio sombriamente.

    - Sério mesmo? – eu estava meio aliviada de não ter que ir até os escombros da mansão. A reação da mulher espantou minha curiosidade.

    - Bem eu tentei, mas como não tem jeito. – Isis deu de ombros. – Infelizmente vamos ter de voltar às compras.

    Natu e eu esmorecemos com a notícia. Para poupá-lo, o retornei a pokébola para não irritá-lo ainda mais. A senhora se despediu e entrou em um cassino.

    Ao sairmos de mais uma loja, uma movimentação mais expressiva se destacou na praça central. Um palco foi erguido ali e as pessoas gritavam escandalosamente. A música rolava em batidas compassadas ao toque do DJ e ao nos aproximarmos vi o letreiro eletrônico informando sobre o tradicional torneio que aconteceria a partir de amanhã.

    - Septuagésimo sexto campeonato da lótus vermelha. Já li sobre esse torneio. – Isis disse em tom emocionado. – Vamos lá ver. Vamos!*

    - Ok. – falei com vontade de ir para um lugar mais pacato. Estava farta de tanta gente. Natu certamente concordaria comigo agora. – Até quando?

    - ...abrindo o festival em comemoração a Inu Guren, o tradicional torneio que reúne treinadores de todo o mundo em batalhas explosivas. – uma voz enérgica e vibrante ecoava pela praça. Infelizmente a agitação das pessoas não permitia ver quem estava no palco – Participem! São sessenta e quatro vagas divididas em duas chaves, com várias premiações em especial ao pódio. Para o terceiro lugar, charcoal, um item que fortalece os ataques do tipo fogo de seu pokémon. Uma bela pedida para os treinadores que querem literalmente, mostrar poder de fogo. Ao segundo, a Firestone, o item essencial para evolução de vários pokémons fogo. Item raro e desejado por uma infinidade de treinadores que desejam ser mais fortes em batalha ou se destacar nos concursos. Porque não? – vários gritos voltaram a ser emitidos fortemente. – E ao primeiro lugar, um misterioso ovo pokémon. Qual pokémon se esconde por detrás desta casca? A única forma de descobrir, é claro... Participando para descobrir!

    - Acho que não vou participar. – gritei o máximo que pude para Isis conseguir me ouvir.

    Ela consentiu. Ficaríamos em Cinnabar por três dias, queríamos aproveitar ao máximo o que a cidade tinha a oferecer. Um torneio pokémon não estava em nossos planos de entretenimento.

    - Linda! – os berros escandalosos perturbavam meus ouvidos. – Te amo! – não estava compreendendo toda aquela agitação que de fato era muito exagerada.

    - E não se esqueçam dos prêmios em dinheiro. – aquilo foi o mote para que eu participasse. Precisava de um extra para continuar em minha jornada e precisava treinar. Duas oportunidades de ouro em minhas mãos. Isis entenderia. Ela poderia continuar suas compras tranquilamente sem a minha presença. Eu não podia compra nada mesmo.

    - Vamos nos inscrever antes que as vagas sejam preenchidas. – olhei onde era o balcão de inscrição. – Ai. – recebi uma cotovelada impactante em minhas costas.

    Ao me virar, dou de cara com um rapaz. Os cabelos rastafári negros com dreads estilizados voltados para trás, a camiseta laranja cavada de gola em v com um capuz, deixando a mostra seus braços rígidos e robustos. Os olhos amarelo-ouro, a pele morena, as feições gentis e um pequeno alargador preto na orelha direita.

    - Desculpa aê. – o garoto abriu um largo sorriso. – Foi mal gatinha.

    - Tudo bem. – ele acenou e foi em direção ao balcão de inscrições. Isis e eu fomos ao seu encalço.

    - Marina*, eu te amo. – ao ouvir este nome eu paralisei. Seria mesmo ela? Somente ela poderia deixar um público nesse alvoroço sem precedentes, isso era incontestável.

    As várias declarações de amor eram destinadas a ela? O maior ídolo pokémon de todos os tempos. Marina, a top coordenadora mais famosa e conhecida dos torneios já realizados pelo mundo. Eu era fã incondicional dela. Meu sonho era conhecê-la e por coincidência ela estava bem ali a poucos metros de mim.

    - O que foi? – Isis falou bem próximo ao meu ouvido.

    - Ahhhhh! – comecei uma crise histérica acompanhando o restante do público.

    - Julli! – Isis não estava entendendo o que se passava. Aquela reação era anormal até mesmo para mim. Ela estava começando a se preocupar comigo.

    - Marina, eu não acredito. – tentei me espremer por entre as pessoas para chegar o mais próximo possível dela.

    O cabelo azul claro começou a se destacar no palco. Lindos, sedosos e de um brilho invejável. A pele lisa, sem imperfeições, o tom naturalmente rosado. Os olhos verde água, muito parecidos com os meus, ao menos eu achava. Os fãs ardorosos que não ouvissem isso. Eles seriam capazes de arrancar meus olhos sem o mínimo pudor se ouvissem tal comentário de possível comparação. Marina era incomparável. O corpo delgado em formas generosas cobertas por uma minissaia branca com uma listra negra na barra deixando expostas suas pernas atléticas, uma blusinha de algodão rosa solta no corpo, uma sandália bege, simples e impecável.

    - Obrigado pelo carinho. – além de linda, o carisma de Marina era contagiante. – Amo vocês também. – um brado coletivo se instaurou. – Agora irei escolher alguém desta platéia maravilhosa para me ajudar em uma apresentação. – ela começou a observar pela multidão. Eu comecei a torcer para ser a escolhida, levantando os braços para que ela me notasse. – Que tal você?

    Ela apontou em minha direção. Não poderia ser. Eu fora escolhida?

    - Você de cabelo preto. – quando ela disse isso minhas esperanças foram aniquiladas.

    - Eu? – Isis estava ao meu lado.

    Ela gesticulou um pouco surpresa.

    - Isso mesmo. – Marina acenou para que se aproximasse.

    - Vai lá, Isis. – eu gritei entusiasmada. Ao menos uma de nós iria ter tamanho privilégio.

    Ela foi se apertando por entre a multidão com todas aquelas sacolas de compras até conseguir chegar ao palco e ser erguida pelos seguranças.

    - Qual o seu nome? – Marina estava com um microfone nas mãos.

    - Isis. – a voz de dela estava estremecida. Demonstrava um nervosismo conflitante.

    - Lindo nome. – Marina sorriu docemente; o que foi motivo de comoção. – Gostaria que você ficasse...

    - Marina. – Isis a interrompeu.

    - Sim. – ela sorriu novamente e novos gritos surgiram.

    - Eu poderia fazer uma apresentação solo? – Isis disse timidamente. – Acho que não se arrependerá.

    - Claro. Ai, que sorte! Encontrar uma coordenadora no meio da multidão é sempre motivo de muita alegria para mim. – Marina saltitou com graciosidade e abraçou Isis. – Sabia que você tinha algo de diferente. Eu sinto essas coisas, sabe! – Marina falava com Isis como se estivessem no corredor do supermercado comentando sobre os preços dos produtos. – Não foi só o seu estilo que me chamou a atenção, sabia que você tinha algo de especial. – Marina fez uma reverência indicando que o palco era todo de Isis. – Arrasa garota.

    - Obrigado. – Isis colocou as sacolas no canto do palco, depositando a mochila na bancada do DJ, tendo uma breve conversa com ele.

    Isis abriu a mochila retirando uma espécie de cápsula azul e encaixou-a em sua pokebola, se posicionando ao centro do palco. Ela sinalizou algo para o DJ e uma música extremamente picante começou a rolar.

    - Conto com você Teddiursa! – Isis lançou a pokébola de Teddiursa ao ar enquanto começou uma coreografia provocante e lasciva.

    - Tedd. – a pokebola de Teddiursa liberou luzes vermelhas moldando-se em corações e explodindo no ar. Teddiursa surgiu, desequilibrou-se e caiu desastradamente no palco. O silêncio se instaurou, a música e a platéia aquietaram-se.

    Num estante a música recomeçou e Isis deu passos sensuais até próximo a Teddiursa.

    - Ursa. – a música alterou-se instantaneamente em uma batida mais doce. Seus olhos verdes e prateados comoveram todos os presentes. A doçura de Teddiursa era descomunal. Ela levou à pata esquerda a boca, deixando todos encantados.

    - Teddiursa, seed bomb. – Isis disse assim que a música parou novamente.

    Teddiursa ergueu-se e começou a rodopiar no próprio eixo, acompanhando a batida da música. Sementes explosivas foram lançadas em espiral, acertando o palco explodindo em fogos de artifício. Isis seguia cada fagulha lançada, fazendo poses provocantes enquanto Teddiursa mostrava toda sua graça e fofura. Uma curiosa combinação que chamou a atenção até mesmo de Marina, acostumada a apresentações impecáveis.

    - Ohhh! – a platéia ficara hipnotizada com a coreografia perfeitamente sincronizada entre eles.

    Ao fim dos fogos lançados, Isis abraçou Teddiursa terminando sua apresentação.

    - Isso foi extraordinário. – Marina apareceu batendo palmas para Isis.

    - Isis! Teddiursa! – os nomes delas eram bradados pela platéia a plenos pulmões. – Isis! Teddiursa! Isis!

    A comoção de Isis fora tamanha que a levou as lágrimas.

    - Fico muito grata. – Isis mal conseguia falar. – Devo tudo a Teddiursa. – Marina a abraçou carinhosamente.

    Eu já considerava Isis uma grande amiga e depois daquele show eu me senti extremamente orgulhosa e privilegiada de poder ter a oportunidade de conviver com uma pessoa tão maravilhosa.

    ***

    - Eu gostaria de fazer minha inscrição. – disse temerosa de não ter mais vagas disponíveis.

    - Hã? – a mulher da recepção estava encantada com a Teddiursa de Isis e a Little Miss de Marina que nem prestou atenção em mim. Uma saraivada de raios elétricos liberados do corpo fantasmagórico de Misdreavus conectados as garras metálicas de Teddiursa liberaram uma claridade espantosamente gentil e ameaçadora. Descargas de volts poderosas concentraram-se nas pontas e um chiado harmônico se instaurou. A platéia ficou em alvoroço com o resultado da combinação de ataques entre elas, aquela era uma bela apresentação, imperdível.

    Eu adoraria ficar assistindo ao show, mas eu não podia perder o prêmio em dinheiro. Tinha de correr para me inscrever.

    - Qual seu nome? – a mulher posicionou-se para anotar.

    - Julliane Cerule, Julliane com dois l. – a corrigi quando percebi que estava escrevendo meu nome de maneira incorreta.

    - Ok. – a mulher rasurou a folha escrevendo novamente à frente. – Você pode inscrever dois pokémons para utilizar durante o torneio. Grande parte das batalhas será disputada amanhã. Os pokémons podem não suportar tamanho esforço, por isso você poderá alterná-los a cada batalha.

    - Hum... – Natu era o único pokémon que não se encontrava de castigo, e automaticamente fora escolhido. Pensando estrategicamente, Mudkip apresentava fraquezas semelhantes às de Natu, então a escolha se restringiria a Mareep ou Budew. Como Budew ficaria no Box até o final do cruzeiro, restou Mareep. – Mareep e Natu. – disse enfim.

    - Muito bem. – a mulher anotou na folha algumas informações, anexando alguns adesivos e carimbos. – Amanhã as batalhas se iniciarão após o sorteio das chaves. – a mulher me entregou um papel com a imagem de um cão lançando chamas pela boca. – Seu comprovante de inscrição e o regulamento. Sem ele você estará desclassificada e também o boleto de pagamento. Recomendo que leia e qualquer dúvida nos procure.

    Observei o valor da inscrição, 100 pokédolar. Razoável para maioria das pessoas, uma fortuna para mim. Novamente teria de pedir um empréstimo para Isis.

    - Oi. – senti uma pontada em minha barriga.

    - Isis, assim você me assusta. – o coração disparando no peito.

    - Desculpa. – Isis escorou no balcão de inscrição esperando que eu dissesse algo.

    - Eu nunca imaginaria que você fosse capaz de fazer aquilo. – disse finalmente. – Escondeu o jogo de mim, né? Fez uma apresentação perfeita, espetacular. Impressionou até a Marina, meus parabéns. Quando você disse que gostava de fazer algumas apresentações, não achei que fosse nesse nível de profissionalismo.

    - Eu não vejo isso de forma tão séria, nós encarávamos tudo como uma grande brincadeira. – falou ofegando. – Mas qualquer hora eu conto como isso começou. Mas eu já te contei do ateliê, então já sabe alguma coisa.

    - Olha o mistério. – disse curiosa.

    - Hihihi! – Isis gracejou e virou-se para o balcão. – Quero me inscrever no torneio.

    Isis me surpreendeu. Já me acostumara com seu apoio, que nem me liguei que ela também pudesse querer batalhar. Nessa decisão tomada por ela,eu tinha apenas uma certeza. Arrumara uma concorrente forte neste torneio.

    - Eu irei com Eevee e Larvitar. – Isis recebeu o comprovante de inscrição e o boleto.

    - Espero você na final. – disse expondo a mão em um cumprimento sincero. – Não irei pegar leve só porque você é minha amiga.

    - Muito menos eu. – Isis segurou minhas mãos liberando-se em seguida. – Ah! – ela balançou as mãos violentamente. – Não vou conseguir guardar segredo.

    - O que? – comecei a ficar desconfiada do seu comportamento.

    - Adivinha quem nos chamou para um jantar? – Isis estava deslumbrada.

    - Não me diga que... – será que Isis conseguiu o que eu estava imaginando.

    - Marina me convidou para jantar e disse que eu poderia levar quem eu quisesse. – Isis esperou minha reação. – Quem será que eu levo?

    - Quem né? – falei sarcasticamente. – Se não me levar, você vai se arrepender.

    - Ai que medo. – Isis tremulou as mãos pateticamente.

    Enquanto conversávamos, pensei sobre como Isis seria um páreo duro para se enfrentar. Não só pela forte concorrência, e sim devido à amizade que tínhamos conquistado até aqui. Seria estranho para as duas essa experiência, mas não menos empolgante e desafiadora.






    * O nome original japonês da cidade de Cinnabar, origina-se da lótus vermelha de Crinsom, que representa a pureza e espiritualidade.

    * Marina, (Crystal) a personagem feminina de Pokémon Crystal, que no anime principal e spin-off de pokémon é conhecida por ser um ídolo pokémon e mais adiante uma top coordenadora.


    Abaixo, um resumo do próximo capítulo:

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    Mensagem por Mr. Mudkip 02.12.12 17:54

    Pokémon Ree laii [14 +] Arcad


    Mais um capítulo, esse especialmente feito em homenagem a Arcanine, um de meus pokémons favoritos, por isso troquei o banner dessa vez. Além disso esse capítulo eu considero um dos essenciais para entendimento do enredo da fic. Espero que curtam e comentem. Até a próxima.


    Capítulo 12 – O fiel e o encantador de cavalos


    - Cotton spore, Mareep! Como combinamos, ok. – procurei relembrá-la da estratégia traçada.

    - Reep! – Mareep lançou esferas algodonosas no ar, espalhadas igualitariamente a sua volta. Aquilo me lembrava dos campos de algodão nos arredores da rota 11. Exalavam o mesmo cheiro de relva.

    O vento forte da ilha carregou os balões de algodão pelo céu espiralando-se até estourarem num barulho fraco e desmancharem em fiapos brancos.

    - Você foi ótima nessa Mareep. – ela baliu com menos vigor do que de costume.

    Percebi que ela estava exausta após tamanho esforço, mas valera à pena. Já estávamos treinando por um tempo bastante considerável e os resultados superaram todas as minhas expectativas. Com Natu fizera grandes avanços também. Night shade estava assustador. Todas aquelas sombras negras medonhas em estado de decomposição, só de lembrar me gelavam a nuca.

    Enfim, decidi treinar durante o pouco que ainda restava até o inicio do torneio, pois é bem provável que as batalhas sejam contra treinadores experientes e eu não passo de uma novata atrapalhada, irresponsável, que não consegue impor os mínimos limites aos meus pokémons. Precisava ganhar de qualquer maneira, nem queria pensar no que poderia se suceder se continuasse sem dinheiro. Um desastre estava prestes a acontecer, e agora eu só poderia tentar evitar essa catástrofe. E por isso, acreditar em mim e principalmente em meus pokémons era o que me dava esperança de que ocorresse o impossível. Vencer.

    Foi difícil achar esse lugar, e, diga-se de passagem, é um ótimo lugar. Isolado e bastante sereno, díspar ao fluxo acalorado de Cinnabar, é um local perfeito para quem procura sossego para treinar. Mais uma vez alguém se intrometeu nas minhas conversas com Isis, embora essa interrupção tenha valido a pena. A dica do comerciante foi sensacional. As pedras rubras e planas funcionavam como um campo de batalha primoroso com suas características rústicas.

    Isis até estava preocupada em treinar nesse momento, mas isso incluía um porém, antes ela iria terminar sua maratona de compras pela cidade. Seu consumismo exagerado impelia-se frente às outras necessidades. Nada que ela ainda não pudesse controlar.

    Sem outra opção, ela teve de gentilmente pagar minha inscrição, fora minha salvação como em outras ocasiões, e esse era um hábito que eu precisava cortar com urgência. Não tive coragem de pedir um empréstimo para os meus pais, embora depender constantemente de Isis também me desagradasse. Eu iria saldar minhas dívidas custe o que custasse por meus méritos e era estritamente necessário minha vitória no torneio da lótus vermelha.

    - Muito bem, Mareep. – disse carinhosamente. – Pode descansar. Fez um trabalho magnífico.

    - Reeep. – Acariciei sua cabeça, retornando-a a pokebola.

    Dei alguns passos rumo à região costeira somente para observar. Esse lugar ficava em um ponto mais elevado da ilha e bem próximo ao vulcão, permitindo ver quase tudo o que acontecia em Cinnabar. Evitei o aglomerado de pessoas no contorno da zona portuária, onde com toda a certeza haveria centenas delas se espremendo pelas lojas e barraquinhas. Concentrei-me em locais mais amenos, e com isso notei que uma praia artificial estava sendo montada em uma região mais afastada da ilha. Os morros de areia fina foram depositados em locais estratégicos da costa, aos quais eram derrubados por alguns pokémons musculosos, iguais aos que levavam as mercadorias quando chegamos.

    - Como é mesmo que eles se chamam? Mac... É, hum... – estava na ponta da língua, mas não saía nada.

    Algumas pessoas também trabalhavam ali carregando e espalhando a areia. Percebia-se o empenho de todos para realizar aquela tarefa árdua. Devia ser bem cansativo trabalhar sem algumas máquinas para facilitar o serviço. De certo, seria difícil trazê-las para uma ilha tão distante de Kanto. E também, perder equipamentos tão caros para um vulcão seria desagradável, o custo benefício não compensava.

    - Que delícia. – a brisa transpassou meus cabelos, e me deixei levar pelo clima tranquilo do lugar. Fechei os olhos e agucei meus sentidos para escutar o som do vento. Um chiar leve, salpicado de energia, contida é verdade, mas carregada de um calor tão próprio que de repente me nasceu o palpite de que essa sensação única vinha do vulcão.

    Só poderia ser isso. As pessoas eram atraídas mesmo que inconscientemente para essa sensação acalorada, carregada de uma emoção indescritivelmente cálida. Nem mesmo o risco iminente de uma erupção conseguia frear essa necessidade de saborear os encantos da ilha de Cinnabar.

    - PAHHH! – o choque das rochas me sobressaltou.

    Devido ao susto me virei quase de imediato para ver. Um magnífico cavalo em chamas ardentes batia os cascos na terra rubra sem levantar um grão de poeira. Ele estava exaltado.

    Emitia labaredas brilhantes de sua aquilina com o intuito de me amedrontar, só que sua beleza incomum teve o efeito contrário, encantou-me a ponto de me paralisar. Ele saltou no terreno íngreme, trotando com fúria em minha direção. Se não me movesse estaria em sérios apuros. De forma brusca fui empurrada contra as pedras duras.

    - Ai! – senti a pele dos joelhos esfacelarem na rocha rubra.

    - Grrrr... – o relinchar feroz indicou que ainda havia perigo.

    - Fica de boa aí gatinha. – ao observar melhor, percebi que se tratava do jovem de cabelo rastafári que encontrara na praça da cidade mais cedo. – Eu resolvo.

    - Sim. – mesmo sem fôlego consegui responder com clareza.

    Ainda estava concentrada no recente ferimento, preocupada com o estado de meus joelhos. Olhei de lado e vi que foram apenas alguns arranhões nas laterais. Poderiam estar piores, pensei. Em um momento de crise, e eu mais preocupada com coisas irrelevantes para o momento.

    Ao voltar minha atenção para o garoto, que no momento deveria ser naquilo ao qual uma pessoa normal estaria fazendo, percebo que ele estava estranhamente encantador. Seus olhos dourados carregavam o ímpeto firmemente, apontando-os para o belo cavalo de pelo lobuno dourado. O cavalo marchava furiosamente em círculos procurando nos cercar. – O que faremos? – disse alarmada.

    - Eu disse que você pode ficar de boa gatinha. – ele ergueu-se vagarosamente acompanhando os movimentos do belo cavalo em chamas. – Eu tiro a gente dessa enrascada. Pode confiar. – por alguma razão não duvidei de que ele pudesse fazer algo quanto ao furioso pokémon.

    O garoto fixou seus olhos dourados aos olhos carmim do cavalo estabelecendo uma ligação quase espiritual. O nobre cavalo agora me parecia quase como um unicórnio devido ao chifre em sua cabeça, reminiscência de uma criatura mítica rodeada de lendas surpreendentes. Tratava-se de um unicórnio ou um cavalo? Não saberia dizer, alternavam-se entre extremos, a realidade vivida ali e a ficção dos contos de fadas contados pelo meu pai quando pequena. A cada passo, olhar, respiração, atitude; o ambiente adquiria um elemento transcendente a esse plano. Instintivamente o imitei. Braços voltados para trás, olhar baixo, passos curtos, respiração leve. Tudo se sincronizava perfeitamente. O vento uníssono aumentava a sensação de que aquilo fosse um ritual de encantamento em que um simples olhar poderia nos salvar de uma nova ofensiva.

    Quando dei por mim, nós estávamos ao lado do agora pacífico cavalo.

    - Boa garota. – o jovem acariciou a dianteira do pokémon. – Você só estava assustada, não é mesmo?

    - Isso foi... – não sabia o que dizer.

    - Está tudo bem agora. – o garoto sorriu para mim e indicou para que eu me aproximasse.

    - Ah, obrigada. – disse aproximando-me deles cautelosamente. – A propósito eu me chamo Julli.

    - Riuji. – ele continuou voltado a sua atenção ao belo cavalo.

    - Como você fez isso? – estava estupefata.

    - Nada demais gatinha. – seu olhar forte me sobrepujou.

    - Eu não diria isso. – me atrevi a acariciar a face do belo quadrúpede. – Não consigo nem descrever o que foi essa experiência. Foi algo...

    - Mágico? – ele completou. – Não tenho nada com isso. Agradeça aos Blaine, foram eles que criaram esta técnica para domar cavalos selvagens.

    - Blaine? – já ouvira aquele nome, mas de onde?

    - Uma das primeiras famílias a povoar esta ilha há muito tempo. – disse ajeitando os dreads. – Eles são bem conhecidos por serem encantadores de cavalos. Graças a eles, esta terra pode ser habitada por seres humanos. Você já deve ter ouvido falar disso nessas histórias que os pais contam pra gente antes de dormir, bem foi assim que soube disso e vim pra cá.

    - Na verdade, nunca soube disso. – eu não fazia ideia de que houvesse algo como aquilo.

    - Através de contato visual é possível se conectar com alguns pokémons, e os Blaine perceberam que isso funcionava muito bem com cavalos, simples assim gatinha. – ele mordeu o lábio e virou-se para mim com a fisionomia culpada. – Foi mal aí, só que eu não posso ficar de papo gatinha. Se perceberem que ela sumiu, eles me chutam na hora. Preciso voltar pro Haras.

    - Você que me perdoe pelo trabalho e obrigado mesmo por me ajudar. – disse envergonhada de prendê-lo ali. – Só posso perguntar mais uma coisa?

    - Claro. – ele riu ao perceber minha insistência.

    - Você irá participar da competição amanhã? – perguntei como se não quisesse nada.

    - Claro que vou. – ao analisá-lo melhor vi que tinha o corpo robusto e atlético. Deveria malhar bastante. Eu me senti uma sedentária ao seu lado, apesar de estar me esforçando para o contrário, principalmente depois que Zackie insinuou que eu estava acima do peso. Sabia que ele tinha dito aquilo para me irritar, mas jamais se deve dizer isso a uma garota, mesmo que não seja verdade. Por essa razão, eu iria deixá-lo no chão. Senti a cabeça fervilhar só de pensar naquele idiota. – É um dos principais eventos de Cinnabar.

    - Certo. – estava constrangida, contudo não resisti em pegar a pokédex e coletar informações.

    Pokémon Ree laii [14 +] 078

    Rapidash, pokémon corcel. Quando galopa, sua aquilina abrasadora se ilumina, reforçando sua bela aparência.

    - Até amanhã no torneio gatinha. – ele acenou ao longe. – Vai ser show se puder batalhar com você.

    - A... – ele era perspicaz. – Até. – ele descobrira que eu também participaria do campeonato. Por alguma razão, queria desafiá-lo. Riuji parecia ser um oponente formidável.

    ***

    - Isis, onde você está? – disse receosa de quebrar o Xtransceiver.

    - Na hospedaria esperando você para irmos às termas. – a voz de Isis saiu um pouco robótica.

    - Já estou chegando. – disse correndo pela viela. Meus joelhos ainda ardiam, mesmo depois de lavá-los com água e desinfetar com álcool.

    - Ok. – Isis desligou.

    O tráfego de pessoas e pokémons ainda eram altos, mesmo agora quando escurecia. Acostumara-me com a calmaria há pouco experimentada, que fiquei tentada a retornar. Não era adepta daquela explosão de movimento. Parecia que nunca parava.

    Cheguei à entrada de uma casa incrustada entre as pedras, uma queda d’água a lateral com uma modesta placa indicando a Hospedaria. Ao adentrar o recinto, sou invadida por uma calmaria reconfortante. Um aquário substituíra a parede, na verdade, observando bem, dava a sensação de que estávamos submersos no oceano. Os pokémons aquáticos nadavam tranquilamente sem se importar de estar tão próximos a terra firme. O lustre de vidro opalinado transmitia uma boa sensação, o formato circular uniformizando a luz no ambiente, o piso de madeira rangia a cada passo, provavelmente devido à umidade que se formava ali. O balcão simples em mogno destoava-se do extravagante lugar.

    - Posso ajudá-la? – uma senhora de olhos cerrados, bochechas salientes comparados ao restante de seu rosto, depositou as mãos sobre o caderno de anotações.

    - Isis, por favor. – disse sorridente.

    - Está na área de convivência. – disse apontando para o corredor esquerdo.

    - Obrigada. – falei observando um Tentacool imóvel na água.

    Caminhei até encontrar um salão circular, com uma escada para o andar superior e outra para o inferior.

    - Julli, até que enfim. – Isis avistou-me. – Pensei que não chegaria mais.

    - Desculpe o atraso. – sentei no sofá, espreguiçando-me.

    - Você está precisando relaxar? – Isis me puxou, caminhando rumo às escadas. – Faça isso dentro d’água.

    - Você que manda. – disse sem pestanejar.

    ***

    - Hum. – perdera a noção do tempo. Sabia que estava há bastante tempo ali, apenas porque meus dedos estavam enrugados. A sensação de estar dentro d’água era sempre maravilhosa para mim, exceto em um momento que não convém agora dizer.

    Isis soprava bolhas com a boca, a face serena, aproveitando o poder medicinal das águas minerais energizantes. Outras mulheres também se deliciavam com os efeitos benéficos daquela terapia que parecia mais uma sessão de lazer, que um tratamento relaxante.

    - Temos de fazer isso mais vezes. – Isis submergiu a cabeça da água levando as mãos ao alto.

    - Quantas pudermos. – disse com a cabeça recostada nas pedras.

    - Ainda bem que os refugiados encontraram esta ilha e a povoaram. – já estava a um tempo considerável com Isis, e aquela pequena introdução significava que mais uma bela história seria contada. – Gostaria de saber sobre Inu Guren, ou melhor, o senhor da noite do guardião do cão?

    - Claro. – disse posicionando-me para ouvi-la melhor. – Não imaginava que se tratava de um senhor da noite.

    - Para conhecer sobre este exemplo de ser humano, que recebeu o título mais nobre conhecido pela história precisamos voltar a um tempo anterior, de trevas e tirania. – Isis criava uma atmosfera romanesca ao narrar. – Kanto era uma região considerada vazia, que servia como um exílio para os piores criminosos das terras ocupadas por Johto e Hoenn, contudo essa estrutura mudou com o declínio dos três grandes impérios. Um período de recessão econômica se abateu sobre toda a população, e uma nova era dava-se início. – aos poucos os cochichos diminuíam, até sobrar somente à voz de Isis. – Procurando uma maneira de sobreviver à crise e erguer-se, a solução fora procurar uma oportunidade em novas terras.

    As mulheres em volta começaram a se interessar pelo que Isis dizia e timidamente aglomeraram-se a sua volta.

    - Grandes grupos se deslocaram para diferentes pontos desta terra inexplorada e recheada de perigos, esperançosos de que ali teriam o que perderam em sua terra natal ou de ter uma oportunidade de ser aquilo que não eram. Só que logo quando desembarcaram, a noite vinha como o terror. Eles eram atacados cruelmente por verdadeiros monstros em forma humana, os exilados que há tempos foram expulsos começavam a se vingar. Os sobreviventes junto com seus pokémons montavam guardas para proteger-se do perigo durantes as extensas noites. Daí começou a surgir às lendas de Kanto. Alguns desses valorosos sobreviventes se destacaram seja pela liderança, ou pela habilidade inata em batalha, ficando conhecidos de norte a sul e de leste a oeste, como os senhores da noite, protetores de suas tribos. Seus companheiros pokémons simbolizavam os atributos de cada tribo, dentre os que se destacaram estão os de Cerulean, a redoma de água, límpida e misteriosa, Pewter, a faca de sílex, talhante e devastadora, Viridian, a cabeça da morte, impiedosa e mortal, Fuchsia, a serpente, desleal e pérfida, Vermilion, o movimento, veloz e inconstante, Saffron, o lagarto, malévolo e letal, Celadon, a flor, bela e inebriante e Cinnabar, o cão, leal e verdadeiro.

    - Alguns não eram nada convidativos. – comentei.

    - E os que se diziam mais violentos, eram o principal foco dos ataques. – Isis estava ficando acanhada com o público que passou a escutá-la. – A ofensiva era como uma provocação por parte dos exilados desdenhando os títulos que popularmente as tribos recebiam. Mesmo com os problemas as tribos permaneciam, e os primeiros descendentes da terra de Kanto nasciam e cresciam, seguindo o exemplo de luta de seus antecessores, transformando-se agora em aldeias organizadas e protegidas do perigo que se escondia na noite. Uma pequena aldeia ao sul, abrigada por entre a mata se desenvolvia, inocentes, não possuíam guerreiros ou qualquer tipo de arma para se protegerem, não necessitavam pra dizer o correto. Dois jovens amigos viviam naquela terra pacífica, afastada dos conflitos que assolavam a região. Venets Levi e Inu Guren, companheiros inseparáveis até uma infeliz ocasião. Um ataque mortífero foi o estopim para se afastarem. Apesar de estarem em uma região isolada, alguns membros desgarrados da noite surgiram na pequena aldeia, causando destruição e morte. Inu Guren sobreviveu ileso e seguiu junto a seus pais para uma nova aldeia de refugiados que se formava em uma ilha ao sul de Kanto, Cinnabar, batizada devido à cor vermelha das rochas de cinábrio. Já Venets Levi tornara-se órfão neste ataque e este período de sua vida não possui nenhum relato, um tempo obscuro sobre sua história.

    - Levi não seria? – não poderia.

    - Pode ter certeza que sim. – Isis continuou. – Inu Guren apesar do enorme trauma sofrido se encantara ao chegar à ilha vulcânica habitada por cavalos de fogo. Um detalhe importante a se destacar é que a ilha só pôde ser habitada após os Blaine, uma família especialista em pokémons tipo fogo terem domado os cavalos através de uma técnica secreta de sua família, conhecida como o encanto ocular. – há pouco eu presenciara o fato agora narrado por Isis de tempos mais antigos do que eu possa calcular. – Os primeiros senhores da noite dessa região eram representados e mais conhecidos pelo guardião do ocelote, mas Inu Guren fizera algo extraordinário, acrescido do descontentamento da população quanto à administração deficiente dos Blaine, tornaram-no digno de ser o novo protetor dos refugiados e ter o seu companheiro como novo guardião. Ele salvara a todos de uma estrondosa erupção que destruíra a aldeia, graças aos sentidos aguçados de seu valoroso pokémon, Arcanine. Seus feitos altruístas se espalhavam, incomodando os antigos senhores da noite que ainda permaneciam no poder. Os senhores da noite do guardião da serpente, Kakusu Hebi e da cabeça da morte, Atama, associaram-se aos inimigos procurando derrubá-lo na próxima reunião dos senhores da noite, ocorridas sempre a lua cheia. Sua inexperiência e coração puro, não permitiram perceber o que se passava ali. – eu estava encantada como Isis encaixava tudo perfeitamente. – Graças há um antigo e valoroso amigo que surgiu assim como desapareceu misteriosamente, ele fora salvo. Venets Levi, um heroi anônimo, viajava como um nômade por entre as aldeias livrando-as do perigo. Junto ao mítico dragão do vento, um poderoso e raro pokémon, eles rapidamente foram nomeados pelo alcunha de senhor da noite do guardião do vento no cerimônia do Fogo novo, tornando-se o líder dos senhores da noite, com decisão quase unânime, apresentando Kanto como estado federativo.

    - Então Johto e Hoenn agora perdiam suas terras. – sabia um pouco sobre a história de Kanto, um conhecimento modesto, mas razoável. – Contudo, eles não deixariam isso barato.

    - Correto. – Isis agradeceu com um balançar de mãos discreto, percebi que ela precisava de apoio. Acho que nunca formara uma platéia para ouvi-la. Ela não se intimidara ao dançar lascivamente para uma multidão ensandecida, mas falar era mais difícil para ela. – Johto e Hoenn passariam a financiar os descendentes dos exilados de suas terras, para tentar destruir a tênue união das aldeias. Venets apoiado por seu amigo Inu avançaram por noites a fio durante as reuniões feitas a lua cheia, procurando unir as aldeias. Infelizmente, alguns deles não estavam interessados ou permaneciam na neutralidade. Os massacres começaram a ser frequentes nas aldeias do senhor da noite do guardião do lagarto e da flor, as duas maiores aldeias da região, graças é claro ao financiamento de armas das regiões de Johto e Hoenn. Venets se ausentou das reuniões para ajudar essas aldeias a se reerguerem dos ataques, e foi nesse período a nomeação da primeira senhora da noite. Meredith Kirabiyakana, a senhora da noite do guardião do movimento, da cidade de Vermilion, uma exímia treinadora, conhecida como a flor solar de oito pontas.

    Isis respirou profundamente, silenciando-se por alguns segundos, retomando a mesma linha de pensamento.

    - Rumores contavam que sua beleza e talento inato em batalha, junto ao seu cabelo dourado ainda incomum em Kanto, a fez ascender ao mais alto posto através de um artifício permitido pelo reconhecimento de valores e um pequeno auxílio de sua popularidade. – percebendo o desentendimento em relação ao primeiro termo citado, Isis explicou. – O reconhecimento de valores era um desafio feito entre treinadores pokémon, para adquirir benefícios e vantagens. Pode se dizer que essas foram as primeiras batalhas pokémon da região de Kanto seguindo regras e normas específicas, até então feitas por cada aldeia e posteriormente pela Liga Pokémon.

    As mulheres cochichavam elogios entre elas, ficaram encantadas de que uma menina tão jovem abarca-se tanto conhecimento.

    - Nenhum senhor da noite ficou satisfeito com a presença de uma mulher, mesmo sendo tão bela durante as reuniões, forçando-a a não participar enquanto não demonstrasse a eles sua capacidade como guerreira. – todas ficaram indignadas com a dificuldade imposta na época. – Ela teve de viajar por todas as vilas derrotando os senhores da noite com seu poderoso Raichu para demonstrar a sua força, mas não fora o bastante. A volta de Venets é que mudaria tudo. Os desentendimentos separaram os senhores da noite, cumprindo o objetivo de enfraquecer Kanto para Johto e Hoenn recuperarem suas terras. Inu Guren apoiou Venets, assim como Meredith o fez mais tarde. Os três ficariam conhecidos futuramente como a Tríade de Kanto, uma alcunha merecida. Já os senhores da noite do guardião da água e da faca de sílex ficaram neutros, enquanto os senhores da noite da serpente e da cabeça da morte se associaram secretamente aos inimigos para derrubar a liderança forte de Venets. Os senhores da noite do guardião da flor e do lagarto, como principais alvos, ficaram receosos e desconfiados de todos, permanecendo arredios a qualquer apoio. O que viria depois seria o auto-sacrifício de Inu Guren, quanto a uma promessa feita aos refugiados de Cinnabar. Ele garantira a segurança de sua aldeia a qualquer custo, mas como Vermilion seria o próximo alvo dos ataques após a derrocada das defesas de Celadon, ele e Arcanine decidiram lutar contra uma horda de pokémons e exilados fortemente armados à entrada da cidade o que comoveu os refugiados de Cinnabar. Vermilion estava com fortes baixas devido à constante contribuição voluntária ao exército de Celadon. A população organizou-se seguindo rumo à costa da aldeia de Vermilion, preparando-se para proteger seu senhor da noite. Uma batalha mortal se instaurou, ali Inu Guren usou todas as suas forças para cumprir a sua promessa, e ao lado de Arcanine, deram suas vidas em combate. Não houvera nenhuma baixa por parte dos refugiados, um feito incrível. A partir deste dia, Arcanine ganhara a alcunha de um pokémon lendário, devido a coragem demonstrada em batalha.

    - Eu não sabia disso. – a definição de um pokémon lendário é referida a existência de apenas um espécime em todo o mundo.

    - Meredith ficara eternamente grata a sua ação, declamando em seu funeral, “Aqui o homem e o pokémon, acima de tudo fieis a sua palavra e ao seu povo. Honraram-se em batalha com seu próprio sangue, inflamando sua vontade contra o inimigo”. – uma lágrima escorrera de meus olhos. Ficara emocionada com a homenagem feita a Inu Guren. – Ao saber da morte de seu grande amigo, Venets Levi decidiu dar um fim aquele sofrimento. Convenceu Roiyaruti, o senhor da noite do guardião da flor, que possuía influência sobre os senhores da noite da água e da faca de sílex a cooperarem. O sacrifício de Inu Guren mexera com toda Kanto, organizando-se para a batalha final. A aldeia de Numachi, senhor da noite do guardião do lagarto seria o local onde tudo terminaria. A guerra estendeu-se durante semanas, Saffron decaiu, mas ainda seguia-se o derramamento de sangue humano e pokémon. Rumando-se para as montanhas próximas ao Rock tunnel, se tornaria o cemitério de todas as almas que lutaram por Kanto. Conhecida hoje como Lavender, fora o palco de encerramento de um período negro para Kanto. Infelizmente, não acabaria assim. Os remanescentes se reorganizariam futuramente, criando em conjunto com rebeldes de Johto uma organização terrorista conhecida como Equipe Rocket.

    - Isso é tão triste. – disse consternada.

    - Kanto uniu-se, mas custou o sacrifício de duas existências merecedoras de uma longa vida. – Isis abaixou a cabeça e gotas respingaram a água quente formando pequenas ondas circulares e desaparecendo em seguida. – Amanhã teremos uma homenagem feita a esses grandes herois de Kanto, Inu Guren e Arcanine: O Campeonato da lótus vermelha, representando fielmente as suas imagens de pureza e elevação espiritual, assim poderíamos defini-los.

    As mulheres aplaudiram aos brados, emocionadas com a bela história contada.

    Graças a todas essas personalidades, Kanto seguiu até ser o que é atualmente, permitindo a liberdade e a felicidade de nosso povo. Naquele momento, o torneio da lótus vermelha adquirira outro significado para mim.

    ***

    - Ainda não acredito que iremos jantar com a Marina. – disse em êxtase. Hoje fora um dia excepcionalmente magnífico e iria terminar de forma ainda mais especial.

    - Julli, é aqui. – Isis estava à porta de um hotel.

    - Ah! – quase dei um grito histérico, mas me contive.

    - Pois, não. – um distinto senhor com óculos de aro fino e elegante traje de noite indagou sobre nossa presença.

    - Somos convidadas de Marina. – Isis disse tranquilamente.

    - Podem me acompanhar, senhoritas. – ele indicou com extrema gentileza o restaurante do hotel. Sua voz era reservada e convidativa. – Ela as aguarda.

    - Claro. – falamos imediatamente.

    O salão central era magnífico. Havia uma estátua de um Rapidash de porte imponente posicionada ao centro, portais em madeira, sofás e poltronas em tecido malhado, o piso em granito perolado, a recepção com duas belas moças em um uniforme preto discreto, escadas para o hall superior e janelas em vidro temperado, permitindo a vista da piscina. Nada mais que um hotel luxuoso e pomposo.

    Ao adentrar o restaurante, Marina se encontrava só em uma mesa ao fundo. Com um vestido rosa justo ao corpo ela esbanjava elegância e sofisticação. Já eu e Isis estávamos com as nossas roupas comuns de viagem. Eu com minha calça de linho de coloração creme, uma blusa verde água sobreposta ao colete preto e um tênis extremamente confortável. Amarrara o cabelo, já Isis deixara o seu solto sem adornos. Isis estava com sua camiseta social branca, de mangas três quartos e botões de coloração negra, um short jeans preto curto com alças cinza ardósia escuro e um tênis em fibra de carbono.

    - Olá queridas. – Marina disse simpaticamente. – Desculpem por isso. – ela apontou para o deserto restaurante. – O dono do hotel fez questão de fechar o restaurante para mim. Foi uma grande gentileza, mas não achava que era necessário. Ele não me ouviu, se vocês perceberem. – apontou novamente para o local.

    - Olá Marina. – Isis disse tranquilamente. – Está é Julli a amiga que te falei.

    - Oi. – minhas mãos tremiam de excitação. Estava conversando normalmente com meu ídolo. Mal conseguia acreditar.

    - Oi Julli, é um prazer conhecê-la. – Marina sorriu. – Sentem-se.

    - Marina. – se não fizesse agora não teria mais coragem. – Pode me dar um autógrafo? – disse de supetão.

    - Será um prazer minha linda. – Marina pegou uma caneta em seus pertences. Marina era uma celebridade, devia dar autógrafos a todo o momento, mas mesmo assim achei que estava sendo inconveniente.

    Procurei algo em minha mochila que fosse importante para receber aquele presente e vi algo em meio à bagunça que se encontrava ali. Repassei a ela uma antiga foto muito bem conservada.

    - Para Julli, com amor. Marina. – ela esperou a minha confirmação de que poderia escrever aquilo. Acenei concordando.

    - Eu sei que todos dizem a mesma coisa, mas eu sou sua maior fã. – disse mais aliviada.

    - Obrigada, aprecio muito o seu carinho e de todos meus fãs. – Marina era muito carismática. – Posso? – ela apontou para a foto.

    - Claro. – provavelmente ela reconheceria meu pai. Percebera que ele era bastante famoso, não tanto quanto Marina, mas o suficiente.

    - Não acredito. – Marina ficara fascinada. Como eu previra. – Esta é a Karen.

    - O que? – disse sem entender. – Quem?

    Ela apontou para a moça misteriosa de cabelos azul-prata, de olhar misterioso, a pele pálida e delgada. Aquele sorriso sarcástico acrescentado aos contornos sensuais e suas roupas provocantes que me eram tão familiares, e não sabia o motivo.

    - Karen, da Elite dos quatro. – Marina percebeu que eu não sabia de quem se tratava.

    - Como não percebi?! – Isis confirmou. – É ela mesma. Sabia que já tinha visto.

    - Ela está bem jovem aqui, no entanto é a Karen. – Marina disse animadamente, observando os outros componentes da foto. – Quem são esses?

    - ... – estava chateada em não saber quem poderia ser aquela mulher que por estar na Elite dos quatro, com certeza deveria se tratar de alguém realmente importante. Eu era tão ignorante quanto a conhecer sobre o mundo pokémon. Um tema que eu amava e que tinha tanto a aprender. Depois perguntaria mais detalhes a Isis, não queria passar por um vexame.

    - São os pais dela. – Isis disse por mim. Ela me olhou procurando entender porque ignorara a pergunta de Marina.

    - O Dr. Cerule é seu pai? – Marina apontou para o jovem de cabelo azul meia-noite. Eu confirmei com a cabeça. – Ele já avaliou meus pokémons. Ele é um amor de pessoa. Disse a mim e ao Wani-wani que nunca vira um pokémon aquático em melhores condições que a dele. Fiquei lisonjeadíssima com seu elogio. Afinal, o maior especialista em pokémons aquáticos te dizer isso, faz bem pro ego. Não vou mentir.

    Aproveitei a deixa dada por ela e segui por esse caminho.

    - Será que eu poderia conhecer os seus pokémons? – disse o mais calmamente possível. Isis pedira que eu fosse reservada.

    - Não vejo nenhum empecilho. – Marina pegou três pokebolas em sua bolsa liberando-os. – Saiam meus amores.

    - Grrr! – um crocodilo de enormes proporções, poderoso e intimidador; surgiu ocupando grande parte do lugar. Suas escamas azuis e vermelhas lustrosas demonstravam o tratamento que Marina dava ao seu pokémon. A mandíbula saliente, demonstrando suas poderosas presas sobressaltou meu coração.

    - Jiggly? – uma esfera rosada com a consistência de um balão de plástico flutuou pelo ar. Os enormes olhos verdes, dóceis e graciosos, as orelhas retangulares, os membros compactos e circulares, um topete encaracolado no topo da cabeça, a voz delicada e inebriante me deixaram estática.

    - Misss. – o corpo fantasmagórico, ondulante e trepidante, dava um mistério à pequena figura a minha frente. Seus olhos hipnotizantes, vermelhos, combinando com uma gargantilha adornada ao pescoço, pareciam sugar o espanto que levara de Feraligatr.

    - Estes são meus companheiros, a minha vida. – Marina disse enquanto Jigglypuff repousava em seu colo. – Wani-wani, Little Miss e Little Pink. Agora é a vez de vocês. Adoro conhecer novos pokémons.

    Apontei minha pokedex para eles para coletar algumas informações.

    Pokémon Ree laii [14 +] 160

    Feraligatr, pokémon crocodilo. Não consegue suportar seu peso fora d’água, permanecendo com a postura encurvada. Move-se lentamente, mas ataca rapidamente com sua forte mordida.

    Pokémon Ree laii [14 +] 039

    Jigglypuff, pokémon balão. Olhando para os seus bonitos olhos, faz com que ele cante uma melodia relaxante, induzindo os seus inimigos para dormir.

    Pokémon Ree laii [14 +] 200

    Misdreavus, pokémon gritante. Gosta de assustar as pessoas no meio da noite. Ela alimenta-se do medo das pessoas a sua volta.


    - Hum, certo. – disse encantada com os pokémons de Marina. Não chegaria nem perto do seu nível, no entanto seria um prazer que ela conhecesse os meus adoráveis amigos pokémon. – Pessoal, façam as honras.

    - Maaaarreeee... – Mareep baliu alegremente cumprimentando a todos.

    - Mud! – Mudkip espreguiçou-se deixando sua cauda arrebitada.

    - Naa... – Natu pipitou um cumprimento retraído, pousando sobre a lã macia de Mareep. Ela relaxou a face desabando no chão para a sessão de massagem.

    - Estes são Mareep, Natu e Mudkip. – disse surpresa com a polidez de Mareep e a falta dela em Mudkip.

    - Muito fofos. – Marina disse observando Mudkip. – Eles me lembram a época em que comecei minha jornada. Boas lembranças.

    - Agora os meus. – Isis disse lançando suas pokébolas.

    - Larv! – Larvitar berrou ao surgir assustando Jigglypuff, escondendo-se nos braços de Marina.

    - Teddiursa. – assim que apareceu ela esbarrou em uma cadeira derrubando tudo no chão.

    - Ee... – Eevee sempre com seu porte altivo e magnificente afagou as pernas de Isis e em retribuição ganhou um cafuné.

    - Teddiursa, mais cuidado da próxima vez está bem. – Isis disse sorridente. No fundo deveria estar muito brava. – E Larvitar contenha-se, isso não é lugar para isso.

    - Não se preocupe. – Marina riu do acontecido.

    O jantar não se estendeu até muito tarde. O torneio começaria logo pela manhã, e seria muito desgastante, mas cada momento passado ali foi mágico, como tudo o que aconteceu hoje. Gostaria de mais dias como esse. Dias mágicos como conhecer técnicas de encanto tão singulares como um olhar, da força vinda da fidelidade a sua palavra, de um passado repleto de lutas para um futuro melhor, tudo isso era mágico. Tão mágico quanto a minha amizade com Isis, assim como todas as experiências boas e ruins vividas até agora nessa jornada.

    ***

    Assim que chegamos à hospedaria ontem a noite eu desabei na cama. Se não fosse a sessão relaxante e enriquecedora nas termas ontem, eu estaria um caco.

    Eu e Isis estávamos na concentração dos vestiários para a competição. No televisor, assistíamos Marina dar início ao Septuagésimo sexto campeonato da lótus vermelha. Em volta, vários treinadores repassavam as últimas estratégias mentalmente, outros estavam desencanados, apenas esperando serem chamados para batalhar.

    Eu estava um poço de nervos. Isis tentava tranquilizar-me sem sucesso.

    - Agora vamos receber os competidores deste ano. – Marina anunciou pelo televisor.

    Um dos organizadores do evento indicou para que todos adentrassem o estádio. Repórteres filmavam a movimentação, lançavam flashes pelas câmeras confundindo um pouco minha visão, à platéia gritava ensandecida, muito mais pela presença de Marina do que dos competidores, os telões espalhados em pontos estratégicos, e uma placa texturizada simples de cor branca com duas chaves dispostas dos números um a sessenta e quatro, com um símbolo desconhecido detrás de Marina.

    Pokémon Ree laii [14 +] 15403162

    - Sejam bem vindos competidores. – Marina disse com o seu carisma cativante. – Agora iremos sortear as chaves do torneio, seguindo o tradicional modelo implantado desde a primeira versão. Boa sorte a todos. Vamos ao sorteio!

    Observando meus prováveis competidores, dois se destacavam. Riuji a uma distância considerável, que ao perceber-me, acenou e Isis minha grande amiga, que a cada dia mostrava novas facetas. Seria um dia atribulado para dizer o mínimo.




    No próximo capítulo:

    Spoiler:
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    Pokémon Ree laii [14 +] Empty Re: Pokémon Ree laii [14 +]

    Mensagem por Mr. Evil 10.12.12 0:46

    Eu penso que fiquei mais emocionado com a história de Iru Guren do que nunca !!!
    Uma corrente elétrica passou pelo meu corpo, muitos arrepios XD
    A parte mais emocionante foi o tributo da Guardiã do Movimento no funeral dele *o*
    Arrepios e mais arrepios hahaha
    Cinnabar é uma parte da historia especialmente bonita, tocante e especial pra mim,
    junto da parte da Julli com o treinador do Riolu Pokémon Ree laii [14 +] 936
    (shipps e -sahusahusahsauhasush)

    No aguardo do próximo cap Mr. Mudkip õ/
    Periodo de vestibulares, junto de médio + técnico, além de eu mesmo ter meus "bicos" de prof particular me impedem de ser mais ativo, mas sua fic é totalmente incrível !!!
    Merece mil elogios XD

    E ahhh, Banner lindo *O*

    Gogogo cap12 - Transformação õ/

    Até õ/
    Mr. Evil





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    Pokémon Ree laii [14 +] Empty Re: Pokémon Ree laii [14 +]

    Mensagem por Mr. Mudkip 15.12.12 17:32

    Pokémon Ree laii [14 +] 1zce73t


    Vlw aê, Mr. Evil. Agradeço por acompanhar e pelos comentários. Cinnabar, Cerulean, Celadon e Saffron são os locais que me inspiram muito a escrever por ter vários aspectos a serem abordados. Esta parte de Inu Guren é realmente uma das mais emocionantes, mas aguarde mais surpresas daqui pra frente. Por agora, capítulo 013 de mais ação e repleto de batalhas, espero que curtam. Próximo capítulo inédito, ok. Até a próxima e comentem!!!



    Capítulo 13 – Transformação


    - Número oito, Isis Gast. – Marina confirmou o resultado demonstrado pela atendente.

    Algum tempo depois ouvira o nome de Riuji, inscrito com o número vinte um.

    - E finalmente, Julliane Cerule, número sessenta e quatro. – Marina disse enfim. – dentro de alguns instantes iremos iniciar a primeira rodada do septuagésimo sexto Campeonato da lótus vermelha. Não percam! Batalhas incríveis os aguardam.

    A multidão gritou em uníssono, transmitindo boas energias a todos os competidores. Estavam entusiasmados com o que viria a seguir. Enquanto isso, voltamos para os vestiários aguardando a apresentação do grupo de teatro musical “Folha verde”.* Bailarinos atores em vestimentas brilhantes mimetizando o fogo saltavam pelo campo de rochas rubras, cantavam a história de Inu Guren em um espetáculo primoroso. Um cão de pelo rajado caminhou por entre os bailarinos utilizando flame wheels formando uma flor de lótus de fogo, deixando a todos impressionados.

    - Após esta belíssima apresentação, iremos dar início ao tradicional torneio de Cinnabar, em conformidade com os requisitos da Liga Pokémon de Kanto. – Marina era extremamente natural no palco. Era o ambiente ao qual ela dominava. Ao citar a Liga Pokémon, lembrei-me de Adele, estava preocupada com o que poderia acontecer a ela. Estava se arriscando demais. – Nossos competidores que conseguirem chegar às finais terão a oportunidade de ganhar prêmios maravilhosos, mas o objetivo maior deste torneio é homenagear dois grandes exemplos de nossa sociedade, Inu Guren e Arcanine! Lutaram por essa ilha e por seu povo, por Kanto. Este campeonato é uma singela forma de relembrarmos seus feitos em mais de dois séculos atrás.

    - É isso aí! – muitos gritavam e assobiavam a todo o momento. – Marina, eu te amo!

    Algumas garotas surgiram carregando os prêmios que seriam distribuídos no torneio. Três cheques em tamanhos gigantes, um pedaço de carvão sob uma almofada violeta, uma pedra bruta de coloração dourada com detalhes em laranja e uma redoma de vidro acolchoada com um ovo protegido em seu interior.

    - Para o terceiro lugar, mil pokedolars e um item para aqueles treinadores que querem aumentar seu poder de fogo, charcoal. – os telões destacavam os prêmios à medida que Marina os apresentava. – O segundo lugar, cinco mil pokedolars e um item raríssimo, fire stone. Muitos treinadores querem evoluir seus pokémons para ficarem mais fortes e terão uma grande oportunidade aqui. E para o primeiro lugar, dez mil pokedolars e um misterioso ovo pokémon. Qual pokémon nascerá deste ovo? Quem será o felizardo ou felizarda a receber estes prêmios? Acompanhem-nos para descobrir as respostas.

    Marina foi para os bastidores, enquanto isso, um grupo de dança local entretinha a plateia.

    - Olá Julli. – uma linda moça de olhos cor de avelã, cabelo loiro encaracolado se aproximou de mim. – Seremos as últimas a batalhar na primeira rodada de hoje.

    - Moira? – ela continuava mascando chiclete vorazmente. – Há quanto tempo.

    - E novamente iremos nos enfrentar. – Moira sorriu – Sou a número sessenta e três. Será minha revanche contra você. Só que agora estou muito mais forte. Acredito que você também esteja.

    - Sério? – ficara surpresa com a coincidência. Meu primeiro torneio seria com a primeira treinadora com a qual batalhei. – Espero fazer uma boa batalha e corresponder as suas expectativas.

    - Tenho certeza de que irá. – ela fez um sinal de positivo, afastando-se de mim.

    - Quem era ela? – Isis ficara curiosa.

    - Acho que tenho mais uma rival neste torneio. – senti um formigamento nas pernas inquietante. – Não posso fraquejar. Tenho de dar o meu melhor.

    - Vai nessa garota. – Isis riu da minha tensão pré torneio.

    ***

    - Ichiru e Isis ao campo! – Marina anunciou mais uma batalha da sacada com visão privilegiada do campo. – Boa sorte aos dois.

    Nos pontos extremos do estádio surgiram duas pessoas. Ao norte, Isis caminhava tranquilamente, e ao sul em passos tímidos um jovem garoto de cabelos verdes. A câmera focou o rosto de ambos, e em seguida o do juiz autorizando o início da batalha.

    - Eevee, hora do show. – Isis lançou a pokebola para o alto liberando escritas antigas que moldaram-se as formas de Eevee.

    - Eeeee! – ele sempre se comportava com elegância e apuro, contudo eu nunca o vira em uma batalha de verdade. O que aconteceria a partir dali?

    Pokémon Ree laii [14 +] 027

    - Sandshrew eu conto com você. – o garoto lançou sua pokebola fazendo surgir um pequeno tatu de pelagem tijolada cor de areia com o ventre branco. Sua cauda balançava levemente de um lado ao outro. Os olhos negros de formato elíptico se contorciam em nervosismo. Temi pelas garras curtas acertarem o pelo vívido de Eevee, e deixá-lo em farrapos.

    - Eevee, shadow ball agora. – Isis sinalizou ao garoto que a batalha não se estenderia.

    - Use dig, Sandshrew. – o garoto gritou raivosamente. Sentira-se ofendido com o gesto de Isis.

    Uma esfera negra ameaçadora criada por Eevee seguiu em direção a Sandshrew acertando-o em cheio em uma explosão soturna. Ele não resistiu ao golpe. A diferença de nível entre eles era imensa. Isis percebera que Ichiru não passava de um novato.

    - Sandshrew está fora de combate. – o juiz proferiu. – Eevee é o vencedor. Isis segue para a próxima fase.

    - Isso foi... – Marina tentava encontrar uma palavra mais reconfortante. – Rápido. – não encontrara.

    O garoto saiu correndo de onde viera, escondendo o rosto em vão abandonando seu pokémon. Suas lágrimas criavam uma trilha dolorosa e humilhante rumo à saída. Isis correu em sua direção carregando o tatu desfalecido em suas costas abandonando o estádio. Marina achou melhor seguir com a programação do torneio para evitar mais transtornos.

    - Isis, não é sua culpa. – pensei em voz alta.

    - Ela deveria ter pegado leve com o garoto. – Riuji sentou-se ao meu lado apoiando os braços nas pernas abertas. – Mas também é bom pra ele aprender. A gente precisa apanhar um pouco pra crescer.

    - Você tem toda razão, só que ela não o deixaria sozinho nisso. – disse do fundo do coração. – Pelo o que eu conheço de Isis, ela vai compensá-lo de alguma forma. Aprender por meio de sofrimento e humilhação só atrai desespero. Devemos procurar um jeito melhor de nos aprimorar com os erros que cometemos.

    - Você por acaso é uma filósofa pokémon? – Riuji balançou os dreads piscando para mim em seguida. – Não sou papo cabeça gatinha. Mas se você diz isso, quer dizer... Essa garota deve ser uma boa amiga.

    - A melhor. – senti orgulho em poder dizer isso.

    - É bom ter pessoas assim por perto. – ele balançou a cabeça levemente em minha direção e sorriu. – Vai me explicar essa sua teoria ou não?

    - Acho que falei demais. – não queria falar com ele sobre sofrimento, eu queria alegria, ter mais momentos felizes do que os ocorridos nos últimos tempos. – Já passei por mais coisas do que eu gostaria. Só queria esquecer um pouco disso.

    - Sei bem como é. – seu olhar tornou-se inquietante por um momento. O brilho dourado de seus olhos desapareceu de imediato. Senti-me culpada por trazer lembranças ruins a ele. – Nem sempre temos uma jornada tranquila.

    - Não é isso não, meu caro Riuji. – disfarcei, percorrendo um caminho menos doloroso de se seguir. – Eu só estou repassando a mensagem que este campeonato quer transmitir.

    - Você é doida, né?! – ele sorriu. – Só pode. O que isso tem a ver?

    - Você tem razão. – disse tranquilamente. – Não tem nada a ver. Devo estar surtando por conta de ser o meu primeiro torneio. – ri debilmente. – Deveria prestar mais atenção ao que se passa a sua volta. – sinalizei para a batalha que se passava no monitor, enquanto pigarreava ocultando um soluço de choro.

    Uma garota ao meu lado riu da situação sem pé nem cabeça que eu consegui criar. Tudo para fugir de assuntos mais delicados.

    - Garotas... – Riuji ficou sem entender. – Ruim com elas, pior sem elas.

    - Não sabia que você utilizava de frases feitas. – ele ficou constrangido. – Nenhuma garota cai nessa Romeu.

    - Vou me lembrar na próxima. – disse em tom de deboche.

    - Não vai ter próxima. – falei secamente. Era melhor ser ríspida e terminar logo com conversas difíceis, mesmo que dessa forma tenha de magoá-lo.

    - Você quem sabe... – Riuji era perspicaz. Entendeu o meu recado, disso eu tinha certeza. – Fugir não resolve nada.

    As pessoas olhavam intrometidamente para a cena lastimável em que me envolvera.

    ***

    Isis não retornara ao estádio, ela tinha de se apressar senão iria perder por WO. Percebera que só poderia enfrentá-la na final devido à conformação das chaves, assim como Riuji que derrotara seu adversário facilmente com seu poderoso Elekid. Se chegasse a enfrentá-lo, já teria uma estratégia de vantagens e desvantagens em relação aos pokémons a serem utilizados.

    - Recebam agora Moira e Julliane para a última batalha desta rodada. – Marina anunciou para a plateia.

    Ao ouvir meu nome, segui caminhando pelo túnel até ultrapassar um portal que dava acesso ao campo de batalha. Fiquei intimidada com o número de pessoas concentradas nas arquibancadas, todas esperando que mais uma batalha emocionante ocorresse. Moira caminhava calmamente até o ponto indicado do campo, aguardando ali a autorização do juiz para iniciarmos a batalha.

    O juiz levantou as bandeiras verde e vermelha autorizando que a batalha tivesse começo.

    - Vai nessa Persian. – Moira lançou sua pokébola ao campo.

    - Mareep, faça as honras! – disse um pouco nervosa.

    Pokémon Ree laii [14 +] 053

    - Miaa... – Um gato de luxo com ares de arrogância e indiferença surgiu no campo, lembrando muito Meowth que enfrentara há um tempo. Usava braceletes de ouro em suas patas com uma gema rubra incrustada em sua testa. Seu pelo brilhava intensamente contra a luz, os bigodes bem aparados, os olhos vermelhos continuados em seu nariz triangular, a cauda encaracolada é que me fizera confirmar que fosse o mesmo pokémon de minha primeira batalha pokémon. Ele evoluíra, sofrera uma transformação que eu ainda não presenciara. Como ela dissera nos vestiários; estavam mais forte, ela e seus pokémons mudaram, cresceram e evoluíram.

    - Mareeee! – minha adorável ovelha baliu com vigor ao aparecer.

    - Persian, fake out! – Moira disse sorridente.

    - Mareep, thunder wave! – falei confiante de que Mareep pudesse ganhar.

    Mareep preparou-se para liberar suas ondas eletromagnéticas sobre Persian, mas foi interrompido por uma lufada de ar, fazendo-a recuar.

    - Persian, work up agora! – Moira ordenou com firmeza.

    - Mareep, tente thunder wave novamente. – minha estratégia baseava-se em paralisar meus oponentes primeiramente. Persian era extremamente veloz, tinha de pará-lo de alguma forma.

    - Aaaauuuu! – Persian miou ferozmente, iniciando uma sessão de exercícios aeróbicos para se fortalecer.

    Mareep voltou a lançar suas ondas eletromagnéticas pelo campo. Persian seguiu caminhando tranquilamente sem sentir qualquer efeito do ataque.

    - Só pra constar, Persian não pode ser paralisado. – Moira sorriu. – Limber é uma habilidade muito útil, não acha? Taunt agora.

    - Não. – eu estava encrencada, todos os ataques dela fundamentavam-se nesta condição. – Mareep body slam! Body slam! – disse um pouco desesperada. Ainda havia uma maneira de parar Persian, só que fora retirada temporariamente

    Mareep correu rumando o corpo de Persian, mas sua rapidez permitiu esquivar-se com facilidade. Teria de esperar para poder utilizar cotton spore e ter alguma chance em ataques diretos. Thundershock era o único ataque que poderia me dar uma resposta satisfatória no momento.

    - Thundershock Mareep! – era hora de medir forças.

    - Persian use power gem! – Moira não recusou o desafio.

    A jóia na testa de Persian brilhou intensamente lançando um raio brilhante como pedras preciosas em Mareep.

    A descarga elétrica de Mareep foi transpassada pelo raio luminoso de Persian acertando-a em cheio. Também não funcionara. Estava totalmente bloqueada.

    - Reeep! – Mareep não suportou a força do raio sendo arrastada pelo campo com a brutalidade do ataque recebido.

    - Parece que Julliane foi encurralada por Moira. – Marina anunciou. – Será que ela conseguirá se recuperar?

    - Droga! – o que Isis faria nesse momento? Seria melhor desistir? Não queria que Mareep se prejudicasse por minha inexperiência. – O que eu faço?

    - Vamos acabar com isso Persian! – Moira não omitia sua satisfação em quebrar minha estratégia. – Power gem!

    - Mareep rebata com sua cauda. – gritei assim que pensara em algo. Mareep me dera a ideia. Sempre utilizava seu corpo de maneira eficiente nas batalhas, era hora de me render ao estilo de Mareep, tão próprio.

    - Reeepp... – a esfera laranja na extremidade da cauda de Mareep refletiu o raio sobre o muro do estádio.

    - Isso foi surpreendente pessoal. – Marina empolgara-se assim como a plateia. – Será que Julliane ainda terá chances de reverter esse quadro?

    - Persian novamente. – Moira irritara-se. – Power gem!

    O raio viera rápido demais extinguindo qualquer chance de defesa, lançando Mareep violentamente para longe.

    - Mareep! – gritei agoniada. Minha cabeça começou a rodar, as vistas escureciam. Eu lutava para permanecer alerta. Mareep precisava de mim, não podia me acovardar. Não me deixaria cair por aquelas alucinações ou seja lá o que fossem. – Agora não!

    - Julli, você está bem? – Moira ficara preocupada ao observar minha face angustiada.

    - Estou, haha! – tentei rir para indicar que estava tudo bem. – Mareep consegue continuar?

    - Mareeeeee... – baliu demonstrando força.

    - Estamos chegando a um momento crítico pessoal. – Marina anunciou.

    - Power gem Persian! – Moira ordenou.

    - Mareep! – o estádio converteu-se em uma chuva torrencial, os portais arqueados, a multidão fugindo aflita por entre eles. Uma garotinha choramingava amedrontada ao chão de pedras marfim. Tentei ajudá-la, mas não conseguia me mover. Procurei me convencer de aquilo era uma miragem, irreal, não existia. – Agora não! – Mareep precisava de mim, tinha de fazer algo urgentemente. – EVASIVA MAREEP! – berrei fortemente.

    Meus olhos voltaram-se de novo ao campo de batalha no momento em que Mareep rolava pelas rochas rubras para fugir do ataque de Persian. Moira sentira-se acuada com minha determinação. A plateia ficara alvoroçada com minha atitude extrema. Não sabiam o que se passava exatamente comigo. Não poderia culpá-los.

    - Julliane está levando realmente a sério! – Marina começava a desconfiar de que algo estivesse errado comigo. Eu sentia isso em sua voz estremecida. – Vamos ver como isso termina.

    - Mareep proteja-se com sua cauda! – apesar de receber parte do dano, Mareep era bastante resistente. Acreditava que pudéssemos permanecer até o efeito de taunt acabar.

    - Mareep, thundershock. – disse extenuada mentalmente. Gastei todas as minhas forças para vencer essas alucinações e manter o foco em Mareep. Budew já pagou por minha hesitação e não queria isso novamente. Eu só queria ter uma jornada comum, mas eu sabia que não seria possível por enquanto.

    - Persian, power gem para terminarmos. – Moira estava determinada a vencer.

    - Reeeeep! – Mareep lançou uma descarga poderosa contra Persian, correspondendo a minha determinação em permanecer ali.

    O raio brilhante chocou-se com a trovoada gerando uma explosão intensa lançando os dois pokémons aos pontos laterais do campo. Empate, melhor que a alternativa anterior.

    - Miaaa! – Persian correu velozmente em direção a Mareep para o acerto de contas.

    - Persian, power gem! – Moira se adiantara como sempre. Persian era muito veloz, não tinha chances contra sua velocidade. Ela percebera que o efeito de Taunt acabara, chegara o momento da virada.

    - Mareep, cotton spore. – Mareep estava exausta. O que eu temia acontecera. Mareep fora forçada a dar tudo de si logo na primeira batalha. Ainda teríamos um longo caminho pela frente no torneio se passássemos dali.

    - Marrr... – Mareep lançou a ponta de sua cauda contra o raio, conseguindo refleti-lo novamente com sucesso. Aproveitando a aproximação entre eles, Mareep jogou esferas algodonosas focalizando todas em sua direção diminuindo suas chances de evasão.

    - Miaaa! – Persian miou exasperado.

    - Persian! – Moira começava a se preocupar com sua possível derrota.

    - Mareep thundershock! – com Persian preso, Mareep lançou uma descara elétrica diretamente sobre ele.

    - Miaaa!!! – Persian mal conseguia se mover com as esferas presas ao seu corpo.

    - Estoure as bolhas com suas garras Persian. – Persian expôs suas garras poderosas avançando contra as esferas flutuantes, eliminando-as.

    - Não vou perder esta oportunidade. – disse olhando diretamente para Moira. – Mareep body slam!

    Mareep correu em direção a Persian, acertando seu dorso em cheio. Persian guinchou e caiu.

    - Persian está fora de combate. – o juiz proferiu. – Mareep é a vencedora. Julliane passa para a próxima fase.

    - Espetacular! – Marina aplaudiu e toda a plateia a acompanhou. – Reviravolta surpreendente pessoal. Teremos muito mais emoções pela frente. Então aguardem que a segunda rodada está para começar. Septuagésimo sexto Campeonato da lótus vermelha está só começando.

    - Ótima batalha Julli. – Moira mascava seu chiclete ritmadamente. – Boa sorte no torneio. – disse retirando-se.

    - Obrigada. – disse agradecida, indo brincar com Mareep.

    ***

    - Isis. – disse alegremente ao vê-la adentrando os vestiários.

    - Passou por um sufoco pesado. – Isis sorriu. – Até achei que não fosse conseguir. Pena que só pude ver só o finalzinho.

    - Foi mesmo. – minha cabeça latejava intensamente. – Em alguns momentos pensei em desistir. E sobre aquilo... – disse com o olhar preocupado.

    - Eu já resolvi aquele incidente, não se preocupe. – eu estava prestes a desabafar. Retirar toda aquela angústia de dentro de mim, contudo não era o momento e talvez nunca fosse. Era melhor guardar minhas alucinações para comigo. – Deveria ter sido mais sensível com a situação.

    - Isis poderia me acompanhar? – um dos organizadores interrompeu nossa conversa. – Você será a próxima.

    - Ok – Isis deu uma batidinha carinhosa em minhas costas e seguiu rumo ao campo de batalha.

    - Boa sorte! – desejei que se saísse bem.

    - Valeu. – disse ao ultrapassar a porta.

    Talvez algumas potions pudessem recuperar a vitalidade de Mareep, para continuarmos, mas talvez fosse melhor desistir. Voltei minha atenção para o telão, onde a batalha terminara com uma bela garota e uma gosma rosa com o rosto esquisito agradecendo o carinho do público.

    - O que eu faço? – disse preocupada.

    - Se saiu muito bem. – Riuji parou ao meu lado. – Mareep sabe como rebater. – ele simulou uma tacada de beisebol.

    - Ela é incrível. – fiquei aliviada por Riuji ter entendido minha reação.

    - Agora recebam Isis e Neil para mais uma batalha emocionante. – Marina noticiou.

    Isis seguiu até sua posição, sorridente, aguardando até o juiz autorizar o combate. Riuji queria me dizer algo, eu pressenti isso devido ao seu jeito meio travado, mas acabamos ficando em silêncio para prestar atenção na batalha. Alguns segundos após e o juiz ergueu as bandeiras.

    - Larvitar, hora do show! – Isis lançou sua pokebola para o alto, espalhando uma modesta tempestade de areia até o campo.

    - Larv! – ele desfez o efeito desértico com vigor.

    Pokémon Ree laii [14 +] 074

    - Geodude ao campo. – um pokémon pedregoso e levitante com dois braços longos e robustos surgiu esmurrando o chão procurando intimidar.

    - Será uma batalha de pokémons pedra. – Marina comentou. – Vamos ver quem é o mais durão.

    - Larvitar, dragon dance. – Isis disse elegantemente.

    - Lar... – Larvitar fechou os olhos e iniciou uma dança em que mais parecia um ritual. A cada novo elemento seu corpo tornava-se mais forte e rápido. Elementos místicos de trevas rubras uniram-se a forma de um símbolo enigmático.

    - Rock smash, Geodude. – Neil simulou o ataque ao qual Geodude deveria fazer.

    - Geo... – seu punho enrijeceu-se completamente rumando à face de Larvitar.

    - Larvitar, força! – Isis não se alarmou com o ataque ser efetivo contra pokémons do tipo pedra.

    - Larv! – um baque seco atingiu a cabeça de Larvitar em cheio, mas ele permaneceu imóvel amortecendo o impacto do potente soco de Geodude.

    - Larvitar é realmente cabeça dura. – Marina comentou.

    - Screech Larvitar. – Larvitar inspirou todo o ar em seu corpo.

    - Geodude, rock smash novamente! – Neil continuava a demonstrar a Geodude como ele deveria batalhar.

    - Rrrrrrrrrrrrrrrrrrr! – um berro ensurdecedor e agonizante espalhou-se pela arquibancada, forçando a todos taparem os ouvidos para atenuar o silvo irritante e intenso.

    Geodude ficou desestabilizado, contudo acertou outro golpe em Larvitar. O impacto assemelhava-se a pedras sendo estilhaçadas, apesar disso Larvitar continuava inabalável em sua posição.

    - Bite, Larvitar. – Isis ordenou.

    - Geodude use defense curl. – Neil mimetizou o que Geodude deveria fazer.

    - Larv! – Larvitar avançou contra Geodude, engalfinhando-se as costas dele, destoando fortes mordidas contra seu resistente corpo. Isis caminhava em grande vantagem naquele momento. Ela conseguira um combo de ataque e velocidade para Larvitar somada às defesas diminuídas de Geodude, resultado: um ataque poderia ser mortal.

    - Vejamos o que acontecerá? – Marina animava a plateia a todo o momento. – Quem passará para as oitavas de final? Neil ou Isis? Façam suas apostas.

    - Duuuu. – Geodude guinchava de dor. Rodopiaram no ar alguns segundos. Geodude debatendo-se no chão e assim permaneceu imóvel. Larvitar saltou contra as rochas rubras arrastando terra e levantando uma nuvem de poeira consigo. A poeira assentou-se e aos poucos ficava perceptível um ferimento em sua testa. O telão focou a cena intensa.

    - Geodude está fora de combate. – o juiz dera seu veredito. – Larvitar é o vencedor. Isis está classificada para as oitavas de final.

    Sorri para Riuji e ele retribuiu.

    - Muito bom meu querido! – Isis abraçou Larvitar, cumprimentou seu adversário e voltou rapidamente para os vestiários.

    - A competição está acirrada. – Marina demonstrou em que estado encontravam-se as chaves do torneio. – Só os melhores permanecerão. A cada batalha vai se afunilando e diminuindo as chances de se chegar às finais. Quem receberá os fabulosos prêmios oferecidos no Campeonato da lótus vermelha? Já tem o seu favorito? Acompanhem o que acontecerá.

    Pokémon Ree laii [14 +] Campeonatolotusparcial

    ***

    Riuji derrotara seu adversário sem expor muito o seu estilo de batalha, preservando suas estratégias para um momento mais oportuno do campeonato. Caso eu soubesse da existência de Magby, teria escolhido Mudkip para o campeonato, mesmo com a ameaça de Elekid. Magby demonstrou ser um oponente formidável e experiente. Teria sérios problemas se tivesse de enfrentá-lo agora no nível em que me encontro. Não me esquecera da crítica de Zackie ao batalhar contra seu fofíssimo Squirtle, de que quem sofreria por meus atos descompensados seriam os pokémons e não seu treinador e que só por eu ser uma garota, não significava que pegariam leve comigo.

    - Julliane e Koda agora competirão à última vaga das oitavas de final. – a deixa de Marina para adentrarmos o campo de batalha. – Acompanhem.

    À medida que me aproximava do campo pude definir meu adversário com maior precisão. Os olhos baixos em tonalidade sépia, os cabelos arrepiados de coloração caramelada, trejeitos marotos e contidos. A camisa modelo gola em v, listrada em cardo e branco e a calça jeans azul combinaram perfeitamente.

    - Espero que se saia bem. – o garoto disse polidamente.

    - Desejo o mesmo. – respondi com mesma amabilidade.

    O juiz autorizou que começássemos a batalha.

    - Poliwhirl conto com você. – Koda lançou sua pokébola ao campo.

    Pokémon Ree laii [14 +] 061

    - Pol! – um girino azulado de olhos arredondados no topo de sua cabeça e narinas dilatadas, chamou a atenção pela espiral negra em sentido anti-horário em seu ventre. Sua pele lisa e úmida assemelhava-se a de Mudkip, exceto pelo aspecto oleoso. Utilizava luvas brancas enormes em comparação aos seus pequenos pés.

    - Natu faça as honras! – disse ao lançar sua pokebola.

    - Na... – Natu focou sua atenção as espirais de Poliwhirl.

    - Empregue de hypnosis Poliwhirl. – Koda detinha um vocabulário rebuscado bem próximo do meu.

    - Natu utilize peck. – disse com o nervosismo a flor da pele.

    O bico amarelado de Natu adquiriu um brilho esbranquiçado, saltando assim contra Poliwhirl.

    - Poli! – o redemoinho no abdômen de Poliwhirl adquiriu movimentos ritmados hipnotizando Natu, deixando-o sonolento. Ele fechou seus olhos e dormiu.

    - Parece que alguém parou para uma soneca. – Marina brincou.

    - Poliwhirl! – Koda percebeu que seu pokémon também dormira.

    - Natu adora passar sua condição ao adversário. – procurei explicar, já que todos os meus oponentes faziam o mesmo. – Syncronize é uma habilidade perigosa.

    - Droga. – Koda ficara frustrado.

    - Quem despertará primeiro? – Marina jogou a pergunta para a público.

    - KODA! JULLI! – a torcida estava equilibrada entre nós.

    - Na... – Natu acordou um pouco desorientado. Poliwhirl ainda ressonava tranquilamente.

    - Muito bom Natu. – disse agradecida. – Use night shade!

    Os olhos de Natu brilharam de lilás ressoando uma nuvem negra entre relâmpagos sobre o corpo inerte de Poliwhirl.

    - Poliwhirl acorde! – Koda suplicava.

    - Natu, peck! – fortes bicadas acertaram o corpo de Poliwhirl.

    - Poli. – finalmente acordara.

    - Doubleslap Poliwhirl! – Koda teria de correr contra o tempo perdido. Poliwhirl ficara bastante debilitado com os ataques constantes.

    - Natu night shade! – a nuvem ilusória criada por Natu confundiu e machucou a mente de Poliwhirl impedindo seu ataque.

    - Whirl – Poliwhirl acertou alguns passos em falso e caiu desacordado ao chão.

    - Poliwhirl está fora de combate. – o juiz confirmou o fim da batalha. – Natu é o vencedor. Julliane está classificada para as oitavas de final.

    - Natu você foi incrível. – corri para abraçá-lo.

    - ...então não percam! – Marina anunciava. – Faremos uma pausa, mas voltaremos com muito mais emoções para vocês.

    - Foi uma ótima batalha! – Koda cumprimentou-me pela vitória. – Espero que consiga o seu objetivo.

    - Obrigada. – disse felicíssima.

    - Tutu. – Natu pipilou festivamente.


    ***

    - Eevee hora do show! – Isis lançou sua pokebola ao campo.

    - Ee... – Eevee era sempre extremamente alinhado. Cada movimento era preciso e calculado.

    Naquele momento grande parte dos competidores já havia alternado entre pokémons, o que já permitia moldar as táticas de batalha ao possível pokémon do adversário. Mas Isis pegara um osso duro de roer. Lass possuía um Ditto, um pokémon que transformava-se no pokémon de seu adversário. E apesar de ser uma cópia, Lass conseguia que seu pokémon copiador fosse melhor que o original. Apesar de seus trejeitos dóceis e gentis, ela era uma exímia treinadora, disfarçando-se em seu vestido curto com um laço ao peito e uma flor em seu cabelo castanho.

    - Roseli mostre suas qualidades! – Lass beijou a pokebola e lançou ao campo em movimentos complexos e estranhamente coordenados.

    Pokémon Ree laii [14 +] 132

    - Diiiitto! – uma gosma rosa de face caricata remexeu-se no campo.

    O juiz ergueu as bandeiras dando início à batalha.

    - Roseli, use transform! – disse de imediato, com as feições infantis em contraste.

    - Não mesmo! – Isis fora contundente assustando Lass. – Eevee, quick attack!

    - Eev... – Eevee desapareceu por um instante surgindo novamente golpeando aquele estranho pokémon.

    - Diiii. – Ditto cambaleou um pouco, mas conseguiu se transformar em um Eevee, adquirindo sua constituição em batalha, moldando suas células para um novo corpo. Um pokémon com uma característica terrível ao adversário.

    Lass avaliou sua pokedex para escolher os ataques que poderia utilizar.

    - Roseli use synchronoise. – ondas psíquicas propagaram-se pelo campo.

    - Eevee também utilize synchronoise. – as ondas psíquicas produzidas por Eevee chocaram-se com as de Ditto criando uma nébula pulsante. A massa instável desintegrou-se liberando um chiado agudo e pouco perceptível.

    - Eevee use quick attack! – Eevee rodopiou e sumiu em pleno ar reaparecendo pressionando suas patas dianteiras contra o outro Eevee. Seu corpo voltou-se a forma original. A gosma amoleceu até desfalecer aos pés de Eevee.

    - Roseli! – Lass não esperava que Eevee fosse tão rápido e poderoso.

    - Ditto está fora de combate. – o juiz anunciou. – Eevee é o vencedor. Isis está classificada para as quartas de final.

    - Não. – Lass começou a espernear, montando uma cena desagradável apenas para ela.

    - Julli? – ouvira uma voz culpada.

    - Sim, Riuji. – disse secamente.

    - Só queria pedir desculpas por aquilo lá. – ele sinalizou com as mãos. – Foi mal.

    - Não guardei mágoas. – disse sinceramente. – Achei até um pouco engraçado.

    - Garotas... – Riuji não entendera minha reação dúbia dessa vez. – Nunca tente entender.

    - Hahaha! – não segurei o riso. – Quem sabe eu te passo um manual de instruções.

    - Ajudaria muito. – Riuji ficara frustrado com minhas atitudes. Eu vivia fora do compasso, meio alheia a tudo. Coisa que ele não sabia, ao menos ainda não. – Esquece... Só queria saber se queria ir para o Haras mais tarde, chame a sua amiga se quiser...

    - Certo, agradeço o convite. – eu suspeitava de que Riuji queria algo mais do que isso. Tinha de deixar claro para ele que tudo seria uma relação de amizade. – Bom ter novos amigos, não é mesmo?

    Com essa deixa, ele percebera que tudo ficaria nos campos da amizade. Ele era bonito, mas não fazia o meu tipo. E também algo em meu coração não deixaria.

    ***

    - Mankey acaba com ela. – o garoto disse em tom ameaçador.

    - Toki acalme-se. – falei o mais serenamente possível.

    - Cala a boca! – Mareep estava com a vantagem no momento, o que enfureceu meu adversário, deixando-o fora de si, o que foi transmitido ao seu pokémon. – Assurance agora!

    - Man! – Mankey tentou se movimentar, contudo seus músculos paralisaram-se.

    - Idiota. – era possível ver os nervos da cabeça do garoto latejar. – Vai se fuder, garota.

    - Eu não vou aceitar insultos gratuitamente. – disse firmemente. – Mareep use thundershock. Se você não escuta pela razão talvez escute pela força.

    - A situação fugiu do controle. – Marina disse preocupada. – Toki pode ser desclassificado por ofender seu oponente.

    - Mareep! – descargas elétricas foram lançadas da lã de Mareep golpeando Mankey.

    No início da batalha ele era um macaco gracioso e gentil em forma de uma esfera felpuda balançando sua cauda de um lado ao outro, mas seu pavio curto o transformou em uma besta furiosa. Seu treinador não ajudava muito a melhorar seu temperamento, deixando-me em uma situação ainda mais difícil.

    Pokémon Ree laii [14 +] 056

    Seu pelo amendoado desgrenhado e mal cuidado refletiam o desleixo de seu treinador com ele. O seu fofo nariz agora arfava violentamente, os olhos ainda mais vermelhos e incontroláveis, as patas de coloração marrom sela debatendo-se furiosamente contra o chão e descoordenadas devido a paralisia muscular, partia-me o coração que aquele pokémon tivesse um treinador como Toki. Mesmo que a natureza de Mankey fosse agressiva, o papel de um treinador seria o de instruir e controlar o que causasse malefícios ao seu pokémon, e Toki fizera exatamente o contrário.

    - Keeeeeeeee... – a descarga elétrica percorreu o corpo de Mankey, mas ele continuava a debater-se descontroladamente.

    - Pare, Mankey! – implorei. Não suportava vê-lo naquele estado.

    Ele já estava desacordado, no entanto seu corpo continuava a agir movido pela fúria. Corri em sua direção, imobilizando seu corpo. Lágrimas escorriam de meus olhos umedecendo seus pelos fétidos.

    - Saia de perto do meu Mankey. – o garoto não via o que se passava. Ele aproximou-se de nós empurrando-me para soltar Mankey. Ao observar o seu estado ele ajoelhou escondendo o rosto.

    - Parece que a batalha terminou. – Marina disse ao perceber todos em silêncio absoluto, apenas observando aquela lastimável cena.

    - Mankey está fora de combate. – o juiz confirmou o resultado passado por Marina. – Mareep é a vencedora. Julliane está classificada para as quartas de final.

    - Eu espero que de agora em diante você mude seu comportamento. – retornei Mareep a sua pokébola e segui para os vestiários.

    Não havia o que comemorar agora. Eu poderia não ser uma das melhores treinadoras, mas aquilo fora cruel demais. O campeonato deveria ser uma homenagem a Inu Guren e Arcanine, grandes herois de Kanto, uma grande festa, divertida e despretensiosa, só que o que realmente acontecia na prática eram batalhas até o limite do pokémon. Eu estava aprendendo do pior jeito, que eu não acreditava naquele tipo de treinador pokémon.

    Eu não saberia dizer se a situação poderia piorar daqui em diante, ou se os treinadores restantes respeitavam seus pokémons acima de tudo. Senti um aperto no peito ao olhar pela última vez aquele pobre pokémon que foi levado até as últimas consequências. Eu jamais faria aquilo, jamais.

    ***

    - Larvitar hora do show! – a pokebola cercada por órbitas de pedras fincaram-se ao chão até Larvitar aparecer poderosamente.

    - Larv! – sua testa ainda estava extremamente ferida, apesar dos cuidados de Isis. A batalha contra Geodude fora mais intensa do que eu imaginara.

    - Butterfree é sua hora de brilhar. – o garoto disse realizando uma coreografia bem ensaiada.

    Pokémon Ree laii [14 +] 012

    - Freeee... – uma linda borboleta violácea, com belos olhos esquadrinhados em milhares de pentágonos vermelhos, as asas esbranquiçadas exuberantes desenhadas em linhas negras, os pés arredondados e achatados cobertos de finos pelos azuis, assim como seus modestos braços, semelhantes a uma flor de três pontas e sua boca com duas discretas presas surgiu esvoaçante ao campo de batalha. Suas asas liberavam um pó dourado que destacava a beleza de Butterfree.

    - Mais que coisa linda. – os olhos de Marina brilharam de excitação ao ver aquela bela entrada. – Isis sabe mesmo como se apresentar em batalha. Afonse, bem... Não fica atrás quanto a esse quesito, mas esta luta não será medida pela melhor apresentação e sim pela força, estratégia e habilidades em combate.

    - Eu não aprovei aquela coisa deplorável que você fez na praça. – Afonse começara a esnobar Isis. – Marina e seus fãs não mereciam. Foi de um mau gosto tremendo.

    - Acho que isso depende. – Isis deixara algo subtendido. – Cada um tem sua opção.

    - Nem vou me dignar a responder. – Afonse sentira-se ofendido.

    - Que tal começarmos. – Isis estava impaciente. – Estou exausta. Foi um dia longo.

    - Não se preocupe. – Afonse era extremamente arrogante. – Você poderá descansar. Não precisará vir mais, pois você termina sua participação neste grandioso evento hoje.

    - É o que veremos. – ela iria demonstrar em batalha com quem ele estava lidando.

    - Butterfree, mostre todo o seu brilho com silver wind. – ele ergueu os braços tentando chamar toda a atenção para si.

    - Acabe com isso Larvitar. – Isis bocejou. – Rock s...lide!

    - Freee... – um vento prateado produzido pelas asas de Butterfree estendeu-se pelo campo golpeando Larvitar.

    - Lar! – Larvitar não se intimidou e esmurrou o chão deixando algumas pedras soltas. Em seguida, lançou-as contra Butterfree.

    - Evasiva! – Butterfree conseguiu desviar de algumas pedras, mas não fora habilidoso o suficiente para escapar de todas as investidas. – Não. Minha linda Butterfree! Como ousa.

    - Eu poderia explicar. – Isis parecia entediada. – Mas agora eu tenho alguns assuntos pendentes e não posso me atrasar. Por isso, Larvitar use rock slide e vamos embora.

    - Lar... – Larvitar voltou a lançar mais pedras contra Butterfree até ela cair inconsciente.

    - Butterfree está fora de combate! – o juiz disse quase rindo. – Larvitar é o vencedor. Isis está classificada para as semifinais.

    - Isso é impossível. – Afonse estava atônito. – Eu guardei minha Butterfree para mostrar a você o que é uma verdadeira apresentação pokémon.

    - Deveria estudar um pouco mais antes de entrar em uma batalha. – Isis não se comportava daquela forma. Algo que Afonse fizera ou dissera deixara Isis enfurecida. – Não lido com amadores que querem aparecer mais que seu pokémon e transformá-lo em um enfeite. – ela voltou sua atenção a Larvitar. – Larvitar você esteve ótimo. Vamos cuidar deste ferimento no centro pokémon?

    - Tar! – Larvitar saltou nos braços de Isis, transbordando de felicidade.

    - Isis é a primeira classificada desta rodada. – Marina a observou deixando o estádio, antes de continuar. – Ela demonstrou sua experiência e conhecimento desde o início e para muitos não é surpresa que ela chegou tão longe. Aguardem, pois a próxima batalha definirá seu adversário. Como ele lidará com o favoritismo que está se formando ao nome de Isis?

    ***

    - Jill e Julliane ao campo. – a voz de Marina ressoou pelo corredor de entrada, doce e empolgante. – A última vaga para as semifinais do campeonato da lótus vermelha será disputada agora. Isis, Riuji e Shin já garantiram suas vagas. Quem levará a melhor e pegar a última vaga disponível para as semifinais?

    Caminhando rumo ao campo, deparo-me com meu oponente. Ele era um pouco mais velho que a média dos competidores. Alto, contornos fortes e bem delineados me lembraram um pouco o porte físico de Riuji. Os olhos amarelo ouro, a pele morena, jurava que poderia ser ele. A boina xadrez escondendo o cabelo curto, o colete e a calça em risca de giz sobre a camisa social lilás era o que distinguia os dois. Poderiam ser parentes talvez.

    - Natu faça as honras. – Mareep ainda estava debilitado com a batalha desgastante contra Persian e Mankey que decidi assim por Natu.

    - Tu... – Natu voltou sua atenção para Marina ao alto de sua sacada. Ela realmente se destacava, mesmo em meio à multidão eu não duvidaria que fosse notada.

    - Nidorino está na hora! – sua voz era grave e harmoniosa.

    Pokémon Ree laii [14 +] 033

    - Nido! – um quadrúpede espinhoso apareceu rastelando as patas na terra rubra do campo desgastado após tantas batalhas. A textura escamosa de coloração malva combinava com sua face carrancuda, e sua boca repleta de dentes fortes e perigosos.

    O juiz autorizou que iniciássemos enfim a última luta do dia. Era pouco mais de meio dia, o sol escaldante em nossas cabeças, mas o cansaço era como se estivéssemos ao fim de um longo dia de treinamento.

    - Natu, night shade! – eu particularmente adorava utilizar night shade, pois a todo o momento modificava-se em algo maior e mais forte.

    - Horn attack, Nidorino. – Shin disse avaliando a postura de ataque de Natu.

    - Na! – os olhos de Natu intensificaram-se em um brilho róseo produzindo arcos em pleno ar.

    - Não! – ouvi uma voz infantil entre temores invadir minha mente. Não era o momento para alucinações, se é que há um momento adequado.

    - Nido! – Nidorino correu em direção a Natu, apontando o chifre no topo de sua cabeça contra ele.

    Arcos incendiados em fogo negro chocaram-se em Nidorino, contudo ele permaneceu seu trajeto de ataque.

    - Natu evasiva. – disse um pouco incomodada com o calor intenso.

    - Tu... – Natu saltou para a lateral direita do campo, evitando o ataque de Nidorino.

    - Poison tail, Nidorino. – Jill dissera tranquilamente.

    - Natu, peck agora! – observei a cauda de Nidorino adquirir um brilho escarlate e bolhas de material tóxico.

    O bico de Natu brilhou intensamente voltando-se contra o dorso espinhento de Nidorino, porém ele fora mais veloz. A cauda de Nidorino rebateu em Natu como se estivéssemos em um jogo de beisebol, ao lançar a bola contra o taco. Acabei me lembrando de Riuji quando conversamos nos bastidores.

    - Natu! – ele rodopiou em pleno ar, abriu as asas permitindo planar. Do nada, ele desapareceu, surgindo ao lado de Nidorino, lançando bicadas fortes em seu abdômen.

    A pokedex apitou antes de falar a mensagem.

    Golpe aprendido: Teleport


    - Legal! – disse animada. – Vamos ver o que podemos fazer com isso. Natu você é demais.

    - Return! – Jill era contido em batalha. Não era de falar muito.

    - Nido! – Nidorino jogou o corpo em Natu, mas ele fora astuto. Teleportara-se para o outro extremo do campo.

    - Jill está tendo problemas com o teleport de Natu. – Marina fez piruetas da sacada, demonstrando sua empolgação.

    - Night shade Natu! – era hora de finalizarmos a batalha. Nidorino recebera muitos danos, não aguentaria continuar por muito mais tempo.

    - Tu... – Natu recusou-se a utilizar o ataque ao qual ordenei. Saltou objetivando aproximar-se de Nidorino com seu bico brilhando intensamente.

    - Poison tail Nidorino! – sua cauda produzia substâncias nocivas aguardando a chegada de Natu.

    - Natu o que está fazendo? – não estava acreditando que Natu me desobedecera daquela maneira. Estávamos com a vantagem e ele fazia aquilo.

    - Parece que temos um pokémon se rebelando. – Marina anunciou. – Será que isso poderá prejudicar Julliane?

    Novas bicadas acertaram Nidorino, levando-o ao chão. Nidorino felizmente não tivera a oportunidade de utilizar sua poderosa cauda. Não suportou as bicadas de Natu.

    - Nidorino está fora de combate. – o juiz confirmou. – Natu é o vencedor. Julliane está classificada para as semifinais.

    - Apesar da insubordinação de Natu, Julliane conseguiu a última vaga para as semifinais. Parabéns a todos os que participaram e amanhã as finais do torneio. – disse acenando para seus fãs.

    - Na... – Natu estava de costas para mim, mas mesmo assim senti tristeza em seu olhar. Algo não estava certo.

    - Então definimos os quatro possíveis vencedores do septuagésimo sexto campeonato da lótus vermelha: Isis contra Riuji e Shin contra Julliane. – Marina mostrou às fotos no telão correspondendo às chaves finais do torneio. – Amanhã voltaremos para as emoções finais deste empolgante campeonato.

    - Natu retorne. – ele estava me evitando. Deixaria assim por enquanto.




    * O teatro musical Folha verde, representa o jogo pokémon leaf green, reversão do clássico pokémon green, lançado para game boy advanced.



    No próximo capítulo:

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    Mensagem por Mr. Evil 19.12.12 6:57

    Esse Afonse ... mt tenso ele ...
    Adoro detestar personagens kkkk

    Fico nervoso com algumas conversas da Julli ...
    as com o Riuji por exemplo kkk

    Larvitar e o Natu são incriveis haha XD
    Adorei a dragon dance, e night shade, são golpes muito intensos pra mim pela execução, sl haha õ/

    EEE prox cap inédito ? õ/
    Mansão de Cinnabar *o*
    Muito bom Pokémon Ree laii [14 +] 936

    14 *O*

    õ/

    No aguardo aqui õ/
    Congratz e Thanks ae õ/ Essa fic é importante haha XD

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    Mensagem por Mr. Mudkip 22.12.12 16:08

    Pokémon Ree laii [14 +] 1zce73t


    Capítulo inédito, espero que curtam. Mansão de Cinnabar apresentando alguns detalhes sem mostrar muita coisa. Comentem e até a próxima. A partir de agora focarei exclusivamente em Pokémon Ree laii, ok

    Ps.: Evil, Julli não consegue manter qualquer tipo de conversa normal. Pelo menos por enquanto... Faz menção a uma parte importante do enredo que eu estou guardando mais para frente.


    Capítulo 014 – Caprichos


    - O que pensa em fazer com Natu? – Isis fazia alguns ajustes em seu xtransceiver. – Achei o comportamento dele muito estranho. Ele sempre foi tão comportado.

    As outras competidoras já haviam deixado os vestiários ao primeiro toque. Como tinha marcado de encontrar com Riuji aqui, resolvi esperar. Enquanto isso conversava com Isis sobre a inesperada indisciplina de Natu, algo que iria esperar. Deixá-lo-ia descansar por algumas horas antes de encará-lo. Seria uma conversa difícil afinal de contas.

    - Sinceramente... – mordi o lábio. – Ainda não sei. É difícil me comunicar com ele. Difícil demais.

    Isis riu e eu apenas dei de ombros.

    - Ainda não tive oportunidade de te contar. – tirei a mochila do armário e coloquei as alças sobre os ombros. – Um amigo nos chamou para conhecer um Haras.

    - Hum, legal. – a reação de Isis foi menos contagiante que o esperado.

    - O que foi? – sentei no banco e alonguei os pés. Doíam no calcanhar por ter ficado muito tempo em pé hoje.

    - Não consigo tirar da cabeça... Os escombros, a mansão, deve ter alguma coisa interessante pra se ver lá. – os olhos de Isis perdiam o fulgor negro nos olhos, ganhando contornos mais vivos. Jamais vira ela tão afoita. Nessas horas eu presenciava o fascínio e a insensatez de Isis por esse universo antigo e repleto de segredos a serem desvendados. Como ela já me disse uma vez, tais atitudes impensadas já trouxeram muitas dores de cabeça para ela e nossa jornada já teve tantas passagens turbulentas que queria evitar novos problemas. – Deve ter algo pra descobrirmos lá.

    Ela falava com entusiasmo, tamanha era a intensidade com que se agarrara e se envolvera a isso. A importância que Isis trazia a história e a outros pontos envolvidos era perigosamente alto. Preocupava-me.

    - Mas você ouviu aquela mulher não é mesmo? – tentei argumentar. – Está interditado e tudo mais.

    - Julli? – Riuji chamou atrás da porta.

    - Pode entrar. – disse ajeitando o cabelo no espelho.

    Os dreads de Riuji caíram por cima da orelha ao inclinar a cabeça pela fresta da porta e os voltou com a mão. Parecia meio desconfiado em entrar no vestiário feminino

    - Podemos ir? – Riuji cumprimentou Isis com um aceno.

    - Sim, mas eu queria perguntar só uma coisinha. – Isis vivia me falando para tomar cuidado e não me meter em encrenca, só que desta vez era ela quem estava atrás de confusão. – Poderia nos levar em outro lugar primeiro?

    ***

    - Bem gatinhas, quem falou com vocês, contou só metade do problema. – Riuji estava fazendo a vontade de Isis, mesmo alertando sobre os perigos. – Tem tanto tempo que a mansão foi largada. Aqueles lados foram abandonados e ninguém se atreve a chegar muito perto, fora alguns treinadores mais corajosos.

    - Por quê? – joguei a pergunta com temor.

    - Tem muitos pokémons selvagens e realmente perigosos vivendo por lá. Há risco de desmoronamento, essas coisas, sacou? – Riuji esgueirou-se pelas pedras brutas até o cume em um instante. Agachou-se e passou a analisar o noroeste da ilha. – Parece tudo tranquilo... – tentei segui-lo, mas mal conseguia segurar naquela pedra porosa. Riuji estendeu o braço em sinal de solidariedade. Agarrei-o com delicadeza, usando os pés para diminuir o peso. Isis veio em seguida.

    O campo de visão era razoável. Permitiam ver as planícies, escapando de nós as regiões baixas. Mais ao norte, uma construção desfeita em duas erguia-se em meio a torres de pedras pontiagudas. A entrada da mansão fora consumida em escombros, e com o passar do tempo o resto ia sendo engolido pela ação do tempo. Fitas amarelas despedaçadas se entrelaçavam nos entulhos e nos blocos rochosos. O terreno repartido escoou a lava, agora endurecida feito pedra para longe dos destroços onde há muito uma mansão fora erguida.

    - Que lugar horrível. – disse com franqueza.

    - Incrível! – Isis saltou da pedra escura me ignorando, caminhando para a mansão escavacada.

    - Isis, humph! – bufei raivosa. – Isso que dá ceder aos caprichos de Isis. – Riuji esmurrou de leve o meu ombro e sorriu.

    Isis tirou um pequeno caderno de sua mochila, fazendo pequenas anotações aqui e ali.

    - Melhor irmos então. – Riuji riu de minha fúria. – Senão ela deixará a gente pra trás.

    - Certo. – escorreguei pela pedra até sentir o chão sobre meus pés. Espanei a calça meio empoeirada e segui Isis pela trilha revolvida, onde certamente era o jardim de entrada anteriormente.

    Uma janela soltara-se parcialmente da parede. Bambeava intermitentemente com um ranger assustador. Móveis corroídos pelo tempo estavam expostos entre as rachaduras da parede, como se em algum momento os donos fossem voltar das longas férias. Algo assustadoramente inquietante. Senti meu estômago se revolver contra o ventre ao ver tais coisas. Quanto mais nos aproximávamos, sentia um peso se formar em minha testa, pressionando minhas têmporas até sentir pequenas pontadas.

    - Estou com um mau pressentimento. – disse a Riuji.

    Ele tocou minha mão.

    - Está gelada. Você está bem, Julli? Podemos voltar. – ele estava prestes a chamar Isis e me prontifiquei a impedir.

    - Não. – sorri fracamente. – É apenas um pressentimento.

    - Não sou de deixar passar esse tipo de coisa gatinha. – Riuji me olhou com certa preocupação, mas acabou cedendo.

    Eu não sabia o que era. Só sabia, havia algo por trás daqueles escombros. Algo assustador e perigoso, embora eu soubesse de alguma forma, o quer que fosse aconteceu em outros tempos. Não corríamos perigo agora. Era o suficiente, ao menos para mim.

    - Isis sabe o que faz... – ela fuçava em alguns objetos onde antes fora o primeiro andar. – Confio plenamente nela.

    - Disso eu já não tenho certeza. – Riuji observava no terceiro andar um armário de brinquedos. – Nunca curti muito esses lados da ilha. – Riuji aproximou-se de Isis, garantindo-me que não tocaria no recente assunto.

    Enquanto eles conversavam, eu passei por um buraco que dava acesso a um escritório. Estava um pouco escuro, mas era possível ver livros jogados no chão, uma mesa de escritório tombada, faltando uma perna, as gavetas jogadas. Uma bagunça.

    Vi alguns papéis jogados pelo tapete sujo de mofo. Recolhi as folhas, manchadas e empoeiradas próximo à porta. Foram arrancadas de um caderno, pois as laterais foram rasgadas. Era escrita a mão, uma letra firme e de traço simples.

    “Hoje papai também não veio. Ele me prometeu que viria. Afinal, é meu aniversário. Sou filho dele oras. Estou com raiva. Muita raiva. Não podia ter feito isso comigo. Não hoje. E fiquei com mais raiva ainda quando me olhei no espelho de manhã. E tudo por quê? Porque estou igual a ele. Mamãe não cansa de repetir isso. Talvez de tanto falar eu acabei aceitando. Mas isso não importa. Tudo que importa pra ele é aquele trabalho idiota. E eu? Sou só o filho dele. Nada mais.”

    ”Hoje conheci uma garota perto da costa. Ela me disse que era treinadora e não foi só isso. Um pokémon que nunca tinha visto apareceu. Era bonito. Muito bonito mesmo. Cuspia fogo pela boca. Ela o capturou. Contei a mamãe, ela disse que é perigoso sair assim sozinho. Por isso me prometeu um pokémon só meu. Eu fiquei feliz, mesmo não acreditando mais em promessas.”

    “Papai esteve aqui de madrugada. Me olhou dormir por alguns minutos e foi embora, ao menos foi isso que Lanette me disse. Mamãe disse que ele não quis me acordar. Pediu desculpas... Mesmo assim ainda estou com raiva. Me trouxe um presente, um pokeboneco. Eu não sou mais criança, mas eu gostei. Ao menos me trouxe algo. Falando em presentes... Já tem uma semana que mamãe me prometeu um pokémon.”

    “Hoje faz um mês. Um mês que não vejo o papai. Mamãe disse que estão terminando um projeto. Algo grande. Não ligo. Quero apenas meu pokémon. Porque tudo que me prometem não passam disso?! Promessas. Quero jamais precisar fazer uma promessa a alguém.”

    “Mamãe saiu. Ainda não voltou. Não gosto de ficar sozinho com Lanette. Ela só sabe puxar minha orelha. Dói. Parece pegar fogo. Ela verá quando eu tiver meu pokémon Ela é quem pegará fogo!”

    “Mamãe voltou com um pacote. Ainda não sei o que é. Tomara que seja meu pokémon. Contei para mamãe sobre Lanette. Mamãe gritou com ela. Bem feito por ficar puxando minha orelha. Está vermelha e inchada. Papai ainda não voltou. Mamãe não diz, mas está preocupada com ele, vejo nos olhos dela. Mas eu, eu nem ligo. Devo estar ficando igual a ele, como mamãe disse.”

    “Hoje irei pra cidade. Aqui não tem nada pra fazer, já Cinnabar... Lanette vai me levar, mamãe está ocupada. Papai mandou um telegrama para ela. Eu nem ligo. Quero apenas meu pokémon.”


    À medida que lia aquelas passagens sentia um incômodo percorrer meu estômago. Quem quer que tenha escrito isso, era egoísta. Extremamente egoísta.

    “Eu ganhei, ganhei! Meu primeiro pokémon. Mamãe não é como o papai. Ela prometeu e cumpriu. Lanette ficou assustada com a notícia. Mamãe fez prometer que não faria nada... Minha primeira promessa. Mas antes disso ela me contou uma história. Era sobre a nossa família. Sobre o meu pokémon. Ela me contou sobre Cinnabar, como tudo começou. Me contou sobre os cavalos de fogo. O meu cavalo de fogo. Quis galopar com ele, mas mamãe não deixou. Disse que antes preciso ganhar sua confiança. Ele pode ser perigoso. Como farei isso eu não sei. Mamãe não é como o papai, e eu não ligava para ele, então eu não era como ele, mesmo mamãe repetindo que éramos iguais.”

    ”Hoje Ponyta me queimou. Tentei escová-lo, mas ele me queimou. Fiquei com raiva, mas mamãe me avisou. Então a raiva passou. Também não queria fazer mais nada com Lanette. Agora queria apenas galopar com Ponyta. Iria ganhar sua confiança, demorasse o tempo que fosse.”

    “Minhas mãos ardem muito, mas não desisti. Quero galopar com Ponyta. Mamãe tentou me impedir de ir, mas no fim me deixou vê-lo. Disse mais uma vez que eu era igual ao papai. Fiz cara feia e ela riu de mim. Não ligo para o papai, não sou igual a ele, porque eu. Eu cumpro minhas promessas, assim como mamãe cumpre as dela. Só papai não sabe fazer isso.”


    - Acabou? – procurei mais papéis pelo chão. – Nada. Droga! – esbravejei.

    - Julli? – Isis entrou com cuidado e me olhou desconfiada. – O que achou?

    - Nada demais... – entreguei para ela os papéis e tentei empurrar a porta, mas estava emperrada. – Humph! Acho que encontrei um diário. Achei meio perturbador.

    Isis começou a ler e concordou.

    - Quem quer que seja não gostava muito do pai. – Isis procurou outros papéis enquanto eu tentava abrir a porta.

    - Isis! – ao forçar a porta a parede começou a tremer. – Vamos sair daqui!

    A porta caiu levantando poeira e fortes tremores tomaram conta da estrutura. Ficamos paralisadas aguardando tudo parar. Os tremores cessaram e ficamos aliviadas por nada de pior ter acontecido.

    - Julli! Isis! – Riuji gritou. – Estão bem gatinhas?

    - Tudo bem. – Isis respondeu calmamente. – Foi apenas um susto, né Julli! – ela me fuzilou com os olhos diante de meus atos impensados.

    - Isso. – respondi quase inaudível.

    A poeira começou a assentar e conseguimos enxergar mais do que uma nuvem de areia a nossa frente. Curiosa, passei por depois da porta onde havia um salão grande, um enorme corredor cercado por estátuas medonhas. Pelas frestas, a luz conseguia penetrar e trazer um pouco de visibilidade. As paredes ainda preservavam um pouco do papel de parede rubi oleado contra os tijolos, fios e encanamentos expostos. O piso sujo levantava poeira a cada passo nosso, silenciando nossos passos. O lugar emanava um cheiro insuportavelmente azedo devido à umidade. Riuji surgiu ao meu lado vasculhando um cômodo que bloqueava o banheiro.

    - As escadas desabaram há anos, droga! – Isis empurrou alguns escombros para entrar em um quarto. – Queria acessar os outros andares. Deixe me ver... Não consigo achar uma escada.

    - Fiquem ligadas. Pode ter pokémons por aí. Nunca se sabe. Julli... – Riuji olhava uma fenda entre algumas pedras. – Acho que encontrei alguma coisa.

    Tentei ver, mas estava escuro. Peguei a lanterna e iluminei pelo lado de cima. Uma antiga pasta chamuscada fora prensada entre os escombros.

    - New... Pro... Ject? – tentei puxar a pedra em vão. Era muito pesado. – New Project. Acho que Isis não vai se interessar por isso. Ah! – uma ideia surgiu na minha cabeça e lancei direto para Riuji. – Riuji, você sabe quem morava aqui? – tentei puxar o papel só que estava preso entre os tijolos e a fragilidade fez com que se despedaçassem. Acabei desistindo.

    - Pelo o que eu soube. Um pesquisador. – Riuji forçou a gaveta até perceber que estava trancada. – Há muitos anos, antes da grande erupção, esse lugar era chamado de mansão pokémon. Teve um incêndio, um tipo de explosão e foi isolada. Depois disso passou a ser vigiado dia e noite. Agora, este lugar está abandonado e virou lar de vários pokémons.

    - Explosão? – queria encontrar mais partes daquele diário, saber quem esteve aqui. A quem pertencia. Eu começava a experimentar a paixão de Isis pela história e era algo extremamente encantador.

    - Ouvi falar de um vazamento de gás. – não havia marcas de incêndio nesse lugar, de certo, aconteceu em outro ponto da mansão. – Pode ser a parte da mansão que foi ao chão. Poossh! – Riuji simulou uma explosão. – Dizem que o negócio foi feio.

    Anui ao que Riuji me contou.

    - Onde está Isis? – ela havia desaparecido. – Isis!

    - Estou aqui. – ela carregava um caderno de capa azul com algumas figurinhas pregadas. – Não encontrei nada por aqui. Será que não tem mesmo como subir?

    - Acho que não. – Riuji deu de ombros. – E há muitos pokémons lá em cima. Não tô afim de passar a tarde toda aqui não. Se quiserem conhecer o Haras gatinhas, vamos ter de correr.

    - Certo. – Isis consentiu. – Estou satisfeita por enquanto, então podemos ir. Mas antes. Julli trouxe para você.

    - O que é isso? – segurei o caderno

    - O diário do garoto. – Isis sorriu arqueando uma sobrancelha.

    - Fala sério! – Riuji surpreendeu-se por um garoto ter um diário.

    Folheei o diário, faltavam outras partes, muitas páginas em branco, mas havia alguns trechos ainda.

    - Não se importam de eu ler mais um pouco? – Isis deu de ombros. Riuji deixou a decisão para mim. – Aposto que fez isso só para ganhar um tempo né?! – voltei-me para Isis.

    - Você me conhece... – Isis piscou e continuou sua expedição, desaparecendo no interior da antiga mansão.

    Riuji sorriu, fora vencido por nós mais uma vez. Não poderia fazer nada além de esperar. Ele sentou-se em uma velha almofada de linho listrada e ficou apenas observando com aqueles olhos dourados e astutos.

    Voltei aos primeiros trechos do diário com mais entusiasmo do que eu achava necessário.

    ”Papai trouxe esse diário pra mim. Disse que seria bom escrever pra lembrar de cada dia aqui na nova casa. Disse que ficaríamos muito tempo dessa vez. Mamãe ficou feliz com a mansão. Lanette como sempre, reclamou de todo o serviço que vai ter. Eu, eu ainda não sei. Não sei nem o que escrever aqui.”

    “Lanette encontrou o diário embaixo de uma almofada. Papai ficou nervoso. Disse que era importante escrever. Eu não entendi. Vou fazer o que ele quer, mesmo sem entender. Fazer o que?”

    “Hoje... Acordei bem cedo. Comi umas bolachas que Lanette tinha acabado de assar. Mamãe me passou a lição e saímos pra brincar no jardim. Foi divertido. Brincamos de correr e esconder. Papai ficou no escritório o dia todo, vi pela janela. Parecia cansado.”

    “Mamãe me levou para conhecer Cinnabar. Papai não podia ir. Tinha que trabalhar. Tinha muita gente lá. Gente demais. Ganhei um cavalo de brinquedo e doces. Mamãe comprou vários vestidos, comida e recebeu um pacote grande de um homem estranho. Usava roupas pretas e o encontramos fora da cidade. Parecia se esconder, mas todos os amigos do papai eram como aquele. Todos gostavam de se esconder, dizia a mamãe. Não achava que gostassem de brincar de esconder, pelo menos não gostavam de brincar comigo. Eles eram todos estranhos.”


    - Tem coisa errada aqui... – cochichei abismada.

    - O que? – Riuji sobressaltou-se.

    - Nada. – lancei um sorriso ameno e retornei a leitura do diário.

    “Ontem eu me esqueci de escrever no diário. Tomara que o papai não descubra. Não quero que ele grite comigo de novo. Ele nunca tem tempo mesmo... Ouvi mamãe conversando com Lanette sobre meu aniversário. Ela saiu hoje sozinha. O que será? Não posso esperar.”

    “Papai foi viajar. Pediu para continuar escrevendo. Disse que era importante. Ele não me disse o motivo. Odeio escrever nesse diário. Não disse nada porque ele parecia cansado. Quem sabe quando ele voltar possa brincar um pouco? Desde que mudamos pra cá ele não brincou mais comigo.”

    “Vi uma foto esquisita no escritório do papai. Tinha um bicho desenhado nela. Lanette foi limpar o escritório e entrei quando ela não estava olhando. Papai não gostava que eu fosse lá, por isso Lanette me expulsou de lá antes que pudesse fazer qualquer coisa. Era como se ele não gostasse mais de nada na verdade. Estava com muita raiva dele, mas não tinha coragem de dizer. Depois que viemos pra essa mansão ele mudou muito. Estava sempre cansado e nunca sorria. Tinha raiva do trabalho dele. Depois que começou a trabalhar nisso ele não tem mais tempo pra mim.”

    “Amanha é meu aniversário e nem sinal do papai. Ele prometeu que viria. Onde ele está? Mamãe fala que ele vai vir, mas não fala quando. Lanette fez mais biscoitos, mas eu estava com raiva demais pra comer. Mamãe disse que eu estava ficando igual ao papai. Eu fiquei com mais raiva ainda. Todo dia sinto raiva... Que raiva!”


    Não havia mais nada escrito, exceto um cartão de aniversário no final do diário.


    “Para o meu pequeno herói, feliz aniversário. Pai.”

    - Pronto. – respirei profundamente segurando uma lágrima irritante. – Vamos?

    Meu peito doía friamente. Pulsações cortantes guinchavam em meus pulsos e senti certo arrependimento em terminar aquele diário sem maiores respostas. Riuji continuava a me encarar com aqueles olhos tão invasivos. Incomodava-me de certa forma o seu jeito.

    Isis reapareceu agora guardando o caderno de anotações.

    - Satisfeitas? – Riuji levantou-se num salto.

    - Muito. – Isis estava em êxtase.

    Permaneci calada. Ainda não havia resposta para aquela pergunta, assim como o diário que não apresentava um desfecho eu ainda não concluíra o que eu sentia.




    No próximo capítulo:

    Spoiler:
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    Mensagem por Mr. Mudkip 23.12.12 13:54

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    Mais um capítulo pra vocês espero que gostem. Comentem!


    Capítulo 15 – Teiki



    RIUJI TEIKI

    - Há muito, muito tempo mesmo... – Kate sempre contava histórias no abrigo. Fizesse sol ou caísse uma tempestade, ela estava aqui para nos contar mais uma fantástica história. Kate era voluntária e fizera disso um hábito. Aquela velhinha de caminhar sereno aparecia no tilintar da terceira badalada da tarde pela porta dos fundos e colocava os sapatos de algodão na velha sapateira com tamanha dificuldade que passei a fazer isso por ela e todas as vezes correspondia com um sorriso curioso para os meus olhos dourados. – Havia uma família de peregrinos corajosos, verdadeiramente corajosos.

    Viridian sempre foi uma cidade pacata. Não havia muito a se fazer nesse lugar, mas no meio desse marasmo, Kate transformava o vazio de nossas perdas em aventuras inacreditáveis.

    - Tinham justiça e valentia em seus corações. – sua voz meiga ganhava novos ares, robustos para uma senhora. – Percorriam léguas atrás de léguas a procura de um lugar para chamar de lar. E em uma dessas andanças, essa família foi parar em alto mar. Passaram dias difíceis em meio à fome, miséria, tempestades, calor, doenças... Perderam-se alguns durante esse período, e quase sem esperanças avistaram uma ilha. Atracaram em uma ilha de terra vermelha com uma enorme parede de terra fumegante. Tão vermelha como a lava lançada pelo gigante furioso, o grande vulcão.

    Eu ficava hipnotizado ouvindo as histórias de Kate. Ela lia para todos, mas percebia em mim um entusiasmo a frente dos outros meninos. Uma vez ela me disse: “Você tem a alma de um aventureiro.” Sorri com o comentário gentil.

    - Esta ilha era habitada por cavalos selvagens. Magníficos! – ela riu em plena satisfação. – Eles diziam que esses cavalos galopavam sobre as rochas quentes para saborear o vento, a velocidade, zooommm! – a velha senhora fez um chio com os lábios finos. – Mas estes não eram cavalos comuns, não, não... Lançavam fogo do corpo, atiçando o brilho do pelo e dos olhos vermelhos. – ela apontou o dedo como se fosse dar uma bronca. – Essa família aprendeu rápido... Estes cavalos podiam ser bonitos, mas também eram perigosos. Afinal, sempre foram os donos da ilha. E como donos tinham de proteger suas terras. Mas assim como os cavalos, essa valente família se pôs a proteger os seus. Em pouco tempo descobriram o segredo para a paz. Confiança!

    Não que confiança não fosse algo fundamental, mas naquela época eu achava de pouca importância.

    - Através dos anos, essa família foi aclamada por tornar habitável uma ilha ardilosa como o fogo. – ela entrecruzou os dedos e se aquietou. – O nome deles se confunde a fundação da cidade de Cinnabar, que ganhou esse nome pelas rochas de cinábrio, que dão a cor vermelha desta ilha. Lembrem-se desse nome. Blaine, uma família de bravos peregrinos capazes de domar cavalos de fogo.

    - Eu quero ver isso com os meus olhos. – disse para o meu companheiro de quarto pouco depois das luzes se apagarem.

    - Os Blaine? – ele perguntou meio sonolento.

    - Os cavalos de fogo! – respondi imaginando como eles seriam.

    ***

    - Riuji! – o velhote berrava exasperado. – Não faça isso!

    Encarei Ponyta, com seus olhos dóceis e amáveis agarrando sua aquilina em chamas. Eu sentia os dedos queimarem feito brasa em fogueira nova, mas não a soltei. Ela relinchou feroz, tentando me empurrar para longe.

    - Pare já com isso! – o senhor estava alarmado com a situação.

    - Pode mandar tudo! – gritei meio sem fôlego. – Eu aguento!

    Ponyta queria recuar, mas eu a puxava para mim. Face a face. Queria apenas uma coisa. Confiança. Nada além disso.

    - Você está louco? – o homem não tinha o atrevimento de se colocar contra mim e Ponyta. Olhava-nos com espanto.

    - Vamos garoto! – Ponyta rastelou as patas na areia tentando fugir, mas eu continuava firme. – Vai ficar tudo bem Ponyta.

    As chamas de Ponyta continuavam quentes, só que agora não me queimavam, ainda sim permaneci atado a ele. Ponyta desistiu de lutar, deixou-se cair na arena totalmente entregue ao meu ímpeto. Ajoelhei-me e repousei a cabeça em seu pescoço, já exaurido.

    - Esse garoto, shishishi! – Outro velhote postou-se no arqueado do portal do cercado balançando uma bengala de madeira velha. Os óculos escuros brilhavam no reflexo das chamas de Ponyta, enquanto retirava um chapéu invocado a tampar a sua careca. – É mesmo um idiota.


    JULLIANE CERULE


    - O Haras é magnífico Riuji. – disse estupefata.

    O Haras era dividido em pavilhões. A área correspondente às baias ao qual nos encontrávamos onde os pokémons permaneciam em belas acomodações, espaçosas e bem higienizadas. A selaria na lateral com todos os materiais para montaria: selas, cabrestos, barrigueiras, arreios, dentre outros, todos armazenados em suspensão por vigas de madeira presas na parede. O duchódromo para a limpeza e cuidado dos pokémons. Um bar para confraternização, próximo à área de eventos aos quais os pokémons se apresentavam. Lugar ideal para relaxar e admirar a beleza dos corcéis de fogo. O logo do Haras, dois semicírculos opostos, fixados a uma cruz de ferro ao arco de entrada, a placa abaixo “Haras Cinábri”.

    - Deve ser muito gratificante trabalhar aqui. – Isis observava o trepidar das chamas dos pôneis e cavalos confinados em suas baias.

    - É louco demais. – Isis riu enquanto Riuji acariciava o pelo de um dos pôneis. – Como vai garoto? – ela relinchou alegremente.

    Apontei a pokedex para o pequeno espécime ao qual desconhecia.

    Pokémon Ree laii [14 +] 077

    Ponyta, pokémon pônei. Seu casco é dez vezes mais resistente que o diamante, permitindo cavalgar em vários terrenos.

    - Que coisa fofa. – ele aproximou-se de mim, acariciando minha mão com seu pelo cálido e macio.

    - Vai na boa Julli. – Riuji observou Ponyta rapidamente e autorizou retribuir o carinho. – Esse Ponyta ainda não tem um controle preciso das chamas e pode virar uma bagunça. Ele é muito guiado pelas emoções, por isso fique calma que não vamos ter problemas

    - Rrrrrr... – Ponyta relinchou bondosamente. Gostara do afago.

    - Certo. – disse agradecendo a recomendação.

    Ele começou em seguida a preparar uma sela de montaria. Eu gelei ao entender o que ele almejava fazer. – Toda hora recebemos alguns pokémons para serem domados. Depois disso, fazemos alguns treinamentos de montaria. Com o tempo eles ganham confiança e deixam ser montados sem ganhar algumas queimaduras de brinde.

    - Mas por que quer esse tipo de contato perigoso? – Isis ficara curiosa.

    - Eu quero me tornar um pokémon ranger. – ele disse com o pensamento longe. – E pra isso eu preciso estar próximo aos pokémons, conhecê-los, senti-los, sermos um. É difícil domá-los, mas o resultado final é especial. Pokémons do tipo fogo são criaturas hostis e ariscas na maioria das vezes. Quando um deles adquire confiança em você, faz tudo valer à pena. – os olhos de Riuji brilharam intensamente ao falar sobre o seu sonho. – Certo gatinhas, estão preparadas?

    - Isso é muito legal e tal, mas eu não vou montar. – fui categórica, interrompendo a conversa dos dois. – Não mesmo.

    - Porque não? – Riuji ficara desapontado. – É uma ótima sensação. Tenho certeza de que vai achar o máximo.

    - Não tive boas experiências com Rapidashs. – relembrar aquele lindo cavalo ou unicórnio saltando desembestado em minha direção não era nada agradável. – Não vou.

    - Você não me disse nada. – Isis enrugou o cenho e acabei por explicar o ocorrido a ela. Nessa hora eu lembrei que ainda tinha uma conversa pendente com Natu a se resolver, mas iríamos ao centro pokémon somente mais tarde, lá resolveria tudo. A imprevista expedição a mansão abandonada demorara demais. – Mas você parece que chama confusão hein garota. Credo! Precisa fazer alguma coisa pra sair disso.

    - Acho que você tem razão. – no meu pouco tempo de jornada já passara por alguns momentos arriscados. Talvez meus pais estivessem certos em não aprovarem minha vontade de sair em jornada. Sem mencionar que minhas alucinações pioravam tudo. – Só que não sou totalmente responsável por isso. – disse a mim mesma.

    - Mas você vai montar então? – Riuji tentou continuar a conversa.

    - Claro. – Isis não se intimidava facilmente.

    - Prefere cavalgar em um Ponyta ou em um Rapidash. – Riuji apontou para um pequeno cavalo de olhos adoráveis, semelhante ao vistoso corcel ao seu lado. – Quer emoção ou apenas um passeio? – falou à linguagem que Isis queria saber.

    - Emoção, lógico. – Isis fora categórica.

    - Acho que fico com o passeio despretensioso. – decidi no final que seria bom passar por novas experiências, só que menos intensas. Afinal, já que saíra em jornada tinha de aproveitar.

    - Beleza. – ele preparou os cavalos levando-os para o campo de provas. – Como eu disse, os pokémons são guiados pelas emoções. Eu escolhi alguns bem experientes, que não trarão qualquer perigo a vocês. Mas evitem sentimentos fortes, por precaução. Certo gatinhas...

    - Olá Riuji! – um senhor de bigodes esbranquiçados em forma de v invertido, os óculos escuros de armação arredondada, congruente a sua fisionomia, um chapéu branco, com uma faixa carmesim escondendo a ausente cabeleira, ou apenas protegendo-se do sol forte; confiaria mais na primeira opção, ele parecia ser bastante vaidoso, adentrou a arena de eventos bradando em alto e bom som seu contentamento balançando sua bengala personalizada. Seu colete de sarja branco sobreposto a camisa social carmesim, a calça de linho feldspato, roupas até muito comuns para um senhor de mais idade. Não via nada demais, exceto uma pontada que senti na boca do estômago ao vê-lo. – Vim parabenizá-lo pelo seu desempenho magnífico no campeonato. Ouvi vários comentários elogiando sua atuação. Um orgulho para um mestre é ver seu discípulo crescer.

    - Sr. Blaine, valeu mesmo! – os olhos de Riuji encheram-se de lágrimas pela satisfação em ser tão elogiado pelo senhor. Engraçado era que já ouvira aquele nome, mas não ligava as informações. – Ouvir isso do senhor é muito bom.

    - Desculpe garotas, mas eu queria falar com este rapazinho a sós. – ele puxou Riuji para a área das baias, enquanto eu e Isis permanecíamos montadas aos pokémons de fogo. – Devolvo ele rapidinho, shishishi!

    Consentimos com seu pedido, permanecendo montadas sobre os pokémons. Eu gostaria de ter descido enquanto Riuji estivesse longe. Não queria dar oportunidades para que algo de ruim acontecesse.

    - Julli. – Isis falou baixinho. – Você sabe quem é ele?

    - O nome dele não me é estranho, mas... – cocei a cabeça, como se isso fosse ajudar a me lembrar de quem se tratava.

    - É o líder do ginásio de Cinnabar. – Isis respondeu como se fosse óbvio. – Soube que é muito difícil de encontrá-lo no ginásio. Você tem uma oportunidade de ouro nas mãos.

    - Hã. – disse sem emoção. – Isis, acho que... – era difícil dizer aquelas palavras. – Não quero mais participar da Liga e muito menos batalhar contra líderes de ginásio.

    - O quê? – Isis espantara-se, mas manterá o volume de sua voz inalterado. – Por quê?

    - Eu não me identifiquei. – inventei algo que Isis engolisse. – Eu preciso rever o que eu quero pra mim.

    - Ok. – Isis não estava convencida. Saiu trotando percebendo que a eu não mudaria de ideia.

    Nem mesmo eu ainda entendera o que me levou a tal atitude. Procurei apoio às nuvens do céu. Elas sim não tinham com o que se preocupar. Flutuando tranquilamente pelo passar dos dias, algumas delas tirando uma folga, afinal até as nuvens tem seu dia de descanso. Tinha de me controlar, Riuji dissera para permanecermos calmas. Eu sentia um turbilhão de sentimentos em meu peito querendo se formar.

    - Iiiihhhh. – a voz infantil voltou a minha mente, alarmada e insegura. Em um mísero segundo, meu coração disparou inquietante, voltando à normalidade.

    - Grrrr! – Ponyta disparou. Suas chamas inflamaram-se em minha pele.

    - Ponyta acalme-se, ai! – falei o mais serenamente possível procurando acalmá-lo, mas de nada adiantou. – Minha pele ardia e queimava sendo dilacerada pelas chamas de Ponyta.

    - JULLI! – Isis saltou de Rapidash correndo em minha direção. Vi Riuji ao seu lado vindo me salvar como quando nos conhecemos. Desta vez parecia que eu não teria a mesma sorte de ser salva pelo encantador de cavalos, nem pela bela contadora de histórias. Ponyta empinou tentando me jogar ao chão. Conseguira. O espaço de tempo entre o meu corpo e o solo fora aterrador. Entre as chamas descontroladas de Ponyta, um brilho róseo viajou pelo céu, ingênuo e puro.

    - O... – desabei na areia fofa em um impacto violento. Desacordada.


    ***

    - Eevee está fora de combate. – ouvi o juiz dizer algo que eu custei a acreditar. – Elekid é o vencedor. Riuji está classificado para as finais.

    - Riuji está nas finais?! – ouvi Marina anunciar o que eu também acreditava ser impossível. Isis perdera. Eu estava feliz em poder ter a oportunidade em batalhar contra minha querida amiga. Se fosse para perder para alguém que fosse para Isis, mas infelizmente eu não previra que Riuji pudesse ser tão forte ou será que o recente ocorrido abalou seu desempenho? Não me perdoaria se fosse esse o motivo. – Acabamos de definir o primeiro nome da final do septuagésimo sexto campeonato da lótus vermelha. Riuji Teiki! Uma grande surpresa, já que Isis era considerada favorita a levar o primeiro lugar. – um dos organizadores do evento sinalizou que chegara a hora. – Mas agora recebam Shin e Julliane, para definirmos as chaves da grande final! Quem seguirá rumo à grande final para enfrentar Riuji, que convenhamos desbancou o favoritismo absoluto sobre Isis?

    Levantei com certa dificuldade. Estava com o corpo muito dolorido, coberta de ataduras, escondendo minha pele carbonizada de minhas mãos e pernas e as lesões púrpuras em minhas costas.

    - O que aconteceu? – ao ver meu estado, Marina fez a pergunta que todos queriam saber. Naquele momento eu iria me concentrar ali, na minha batalha. Tive a sorte de acordar a tempo do campeonato, apesar de Isis tentar me impedir, eu iria terminar aquilo. Tinha que terminar este campeonato. A homenagem feita a Inu Guren e Arcanine não importava para grande parte dos treinadores que ali estavam. No início, eu também estava mais interessada pelos prêmios e pagar minhas dívidas do que qualquer outra coisa, mas depois de ouvir os sacrifícios feitos por eles, não iria permitir de maneira alguma, que seus sacrifícios fossem manchados por disputas individuais e ganhos pessoais. Como prometera a mim mesma, eu iria as últimas consequências em meus objetivos preservando meus pokémons de minha escolha radical, apesar de serem objetivos opostos eu os cumpriria de alguma forma.

    O juiz ergueu as bandeiras autorizando o início da batalha.

    - Natu faça as honras. – disse com dificuldade. Meus pulmões arfavam fracamente frente à dor latejante em meu corpo. Não tivera a oportunidade de falar com Natu sobre o ocorrido, mas eu confiava nele apesar de tudo.

    - Pidgeottto mostre a que veio. – Shin lançou sua pokebola para o alto.

    Pokémon Ree laii [14 +] 017

    - Pidgeôôôô! – um pássaro amarelo pálido, com detalhe marrom em seu dorso e um rajado preto em seus olhos e o topete vermelho apagado, assim como as penas de sua cauda alternadas ao amarelo escancarou suas garras levantando voo demonstrando sua destreza e velocidade.

    - Na... – Natu ficara surpreso com meu estado, e pela primeira vez focou sua atenção a mim. Seus olhos negros arredondados penetravam em meu interior escaneando minha alma. Sua feição transpareceu uma angústia apavorante. Sentira medo em descobrir o que poderia ser tão pavoroso a se ocultar em mim.

    - Concentre-se na batalha, Natu. – disse arfante. – Luck chant!

    - Tuuu... – ele entendeu o recado rebelando-se desta vez contra o adversário. Natu começou a gorjear suavemente para os céus, misteriosos e inalcançáveis um belo canto de proteção.

    - Que bela melodia! – Marina fechou os olhos para envolver-se inteiramente ao canto de Natu. – Uma bela batalha entre pássaros irá começar!

    - Pidgeotto, use air cutter! – Pidgeotto abanou suas asas violentamente gerando rajadas de vento talhantes.

    - Na! – As rajadas foram de encontro a Natu, criando pequenos cortes em seu corpo esférico.

    Minha visão embaçou e agora via rajadas de vento dilacerando Natu. Pus-me a frente dos ataques recebendo todas as ofensivas, mas já era tarde. – Natu vai ficar tudo bem! – Natu não sobrevivera. Não conseguia manter a calma com aquela cena aterradora. Voltei para a realidade em fúria.

    - Natu revide com peck. – procurei ser forte. Não poderia alucinar todas as vezes que meus pokémons fossem atacados. Percebia que minha mente ficava momentaneamente fragilizada e susceptível a isso. O que estava me resguardando era minha determinação em cumprir meu objetivo.

    - Twister agora! – Shin demonstrava um sorriso malicioso e brincalhão. Estava se divertindo em nossa batalha, e apesar de tudo eu também. Não seria aquilo que iria me abalar. Não agora. Pelo menos eu gostaria de acreditar assim.

    - Julliane mudou sua postura de batalha. – Marina sempre fazia alguns comentários. – Shin será páreo para ela? Não mexeria com essa garota nesse estado! Hahahaha!

    - Natuuuuu... – Natu saltou o mais alto que eu já tinha presenciado alcançando Pidgeotto nos céus recém despertos pelo sol da manhã. Fortes bicadas golpearam-no dificultando o voo, forçando a pousar no chão.

    Natu desapareceu surgindo atrás de Pidgeotto. Ele assustou-se. Tentou voar para fugir do ataque, mas foi impedido por novas bicadas. Natu estava furioso em me ver tão machucada. Será que se sentia culpado pelo ocorrido de ontem e achava que era o responsável?

    - Eu... – levantei a braço direito com o punho pressionado, forçando um pouco as lesões deixando-as ainda mais doloridas. Como sempre, eu fazia tudo errado.

    - Pidgeotto está fora de combate! – o juiz proferiu. – Natu é o vencedor. Julliane e Riuji serão os competidores da grande final do septuagésimo sexto campeonato da lótus vermelha.

    Eu ficara atônita. Iria pedir desistência, mas fora tarde para isso. Eu precisava fugir de tudo aquilo, correr choramingando até meus pais como uma criança indefesa, a procura de conforto e proteção nos seus braços. Estava aflita como nunca estive. Não era uma alucinação, desta vez não. Natu sabia de algo que eu nunca quis descobrir, e agora eu começava a entender sua reação na última batalha. O medo destruía qualquer pretensão de desvendar o que ocorria comigo.

    - Então não percam. – Marina mostrou a placa com as chaves todas riscada em vermelho. Ao centro escrito em um modesto quadro “Riuji X Julliane”. – Iremos definir o terceiro lugar com Shin contra Isis e então a grande final, tão inesperada entre Riuji Teiki e Julliane Cerule!

    Pokémon Ree laii [14 +] Campeonatolotusfinal

    Observei o símbolo desconhecido tentando me desvencilhar do desespero. Não iria mergulhar em meu passado, precisava nadar contra a corrente que me puxava para o fundo, frio, escuro e solitário. Lembrei-me dos grandes olhos verdes dos campos mais belos que se pode imaginar, a serenidade invadindo meu pobre coração atormentado, ocultando o que Natu viu.

    - Foi uma ótima batalha! – Shin aproximou-se de mim com seu sorriso radiante. Os olhos puros, sem grandes inquietações, só pensando em insígnias, pokémons a se capturar e conhecer, lugares incríveis a explorar, vencer a Liga e tornar-se uma das grandes lendas da história. Eu o invejei. Gostaria de ter uma jornada despreocupada e tranquila como a dele...

    - Foi mesmo. – disse forçando um sorriso. – Se não fosse pelo Natu. – evitei seus olhos assinalando para que se aproximasse.

    - Tu... – ele saltou, pousando suavemente em meu ombro. Brincou com meus cabelos sujos de areia da arena do Haras, desistindo em seguida. Estava caindo areia em seus olhos.

    - Desculpa Natu. – disse brincando. – Seria bom tomar um banho. – me arrependera em seguida. Shin ouvira o que eu disse.

    - Às vezes a correria não deixa. – ele corrigiu minha gafe em tempo.

    - Verdade. – estava mais calma, mais até quando. Algo me dizia que tudo viria à tona em breve; será que eu conseguiria suportar?

    - Natuuuuu. – pipitou como se estivesse afirmando. Ficara intrigada. Seria possível ele ler meus pensamentos?

    ***

    - Já confirmamos o terceiro lugar. – Marina dizia enquanto eu e Riuji adentrávamos para o campo de batalha. – Isis Gast conseguiu permanecer no pódio e já garantiu o seu prêmio. Agora saberemos quem receberá o grito de campeão. Será Riuji? – várias pessoas gritaram confiantes, eu me enquadraria ali. – Ou será Julliane? – outra parte da platéia acreditava que eu conseguiria derrotar aquele que desbancou minha habilidosa amiga. Agradeci o apoio, apesar de nem eu mesma acreditar que pudesse ganhar.

    Ao observar Riuji, vi seus olhos culpados com o meu acidente. Seus movimentos receosos e arredios confirmavam minhas suspeitas. Ele iria desistir. Não conseguiria batalhar com a culpa pesando em sua consciência.

    - Não sabia que você se acovardava assim. – disse tentando ser forte e incentivá-lo a batalhar. – Achei que seria uma batalha emocionante, mas acho que você não está com o espírito de luta aceso.

    - Eu... – ele sorriu. – Você tem toda razão. Se for o que você quer.

    - Parece que a rivalidade entre os dois será posta a prova agora. – Marina queria uma batalha intensa. – Riuji contra Julliane, a grande final. Acompanhem!

    - Certamente que sim. – peguei minha pokebola, e lancei para o alto. – Mareep faça as honras!

    - Mareeee... – Mareep baliu vigorosamente fincando as patas contra o chão.

    - Magby vai! – Riuji estralou os ombros antes de lançar a pokebola ao campo.

    Pokémon Ree laii [14 +] 240

    - Gby! – um pato de coloração caramelo com as garras pequenas e coniformes, cuspiu fogo de seu bico ao surgir. Usava um anel preto em seu pescoço, combinando com seus olhos grandes e chamativos. Os tufos na cabeça causavam uma desproporção com seu corpo, deixando com um aspecto engraçado. Sua cauda ereta, imóvel acompanhando o desenho de seu ventre de cor creme.

    A temperatura no campo subira consideravelmente. Magby era realmente quente. Tinha de tomar cuidado para não mantermos contato físico. Poderia ser perigoso.

    - Mareep, thunder wave! – continuava com minha estratégia inicial de paralisar o oponente primeiramente.

    - Barrier agora! – Magby estendeu os braços produzindo uma barreira vítrea entre nós.

    - Reeeeep. – Mareep chacoalhou sua lã liberando ondas eletromagnéticas no campo. A barreira fora inútil para protegê-lo da paralisia. Talvez a barreira funcionasse de outra maneira.

    - Mareep, thunder shock! – provavelmente a barreira iria bloquear a descarga elétrica.

    - Magby, fire punch! – Riuji ainda não estava entregue ao ritmo da batalha. Estava hesitante.

    - Maaaa... – Magby recebeu a descarga elétrica sem nenhum envolvimento da barreira produzida. – By! – Ele suportou bem o ataque e seguiu com seu punho em chamas em Mareep.

    - Reeep. – Mareep usou os chifres para se proteger, diminuindo os danos, mas a força de Magby a lançou alguns passos para trás.

    - Mareep você está bem? – disse um pouco zonza, devido ao efeito dos medicamentos.

    - Reep! – Mareep sacudiu sua lã erguendo-se furiosa.

    - Mach punch, Magby! – Magby suportou as alterações nas sinapses sensoriais de seu corpo, voltando um soco em alta velocidade contra a face de Mareep.

    - Mareep evasiva! – o soco a atingiu em cheio, jogando Mareep contra o muro do estádio. Ela caiu ao chão quase desmaiando. Ainda não apareceram alucinações, por enquanto.

    - Reeep! – ergueu-se com dificuldade balindo furiosamente para Magby.

    - Magby é realmente muito forte! – Marina disse impressionada.

    - Thunder shock novamente. – apesar de estar bastante debilitada, Mareep conseguiu lançar outra descarga em Magby.

    - Evasiva agora e em seguida use faint attack, Magby. – os músculos de Magby paralisaram impedindo seus movimentos.

    Magby recebeu a descarga elétrica cambaleando desajeitadamente sem maiores danos.

    - Reep. – Mareep começou a brilhar intensamente, uma luz belíssima acalentando meus olhos eliminando todas as trevas de meu interior, moldando seu corpo a uma nova forma.

    - Mareep? – perguntei intrigada. Não parecia ser um novo ataque.

    - Parece que Mareep está evoluindo para Flaaffy. – Marina retirara minha dúvida.

    - Fla?? – uma adorável ovelha cor de rosa bípede foi o resultado da transformação. Sua lã agora se concentrava em sua cabeça e ombros, os chifres alternados entre o preto e o rosa, e sua cauda, que modificou a cor da esfera na extremidade da cauda de laranja para azul. Os braços pequenos e arredondados, assim como sua face meiga e doce. Mareep, quer dizer Flaaffy estranhou seu novo corpo, mas ainda continuava sendo ela. Minha ovelinha enérgica estava crescendo, estávamos há tão pouco tempo juntas e ela já mudara. Fora rápido demais.

    - Que coisa fofa. – disse com os olhos cintilando.

    Pokémon Ree laii [14 +] 180

    Flaaffy, pokémon ovelha. Apesar de diminuir a quantidade de lã em seu corpo, é mais eficiente em armazenar energia do que sua pré-evolução.

    A pokedex assinalou involuntariamente.

    - Vamos ver como Riuji reagirá a essa reviravolta. – Marina disse alegremente. A platéia estava em alvoroço em presenciar uma evolução. Não era um acontecimento muito comum. Eu mesma nunca havia visto uma evolução de perto.

    - Magby, mach punch. – Riuji não se alterou ao ver a evolução de Mareep. Continuava em uma frequência diferente da minha, não sintonizávamos nossos espíritos de batalha.

    - Gby... – Magby novamente ficou paralisado com o efeito do thunder wave.

    - Flaaffy, vamos ver do que você é capaz! – disse em uma mistura sentimentos. Estava feliz com a evolução de Mareep e triste em ter tido tão pouco com ela naquela forma. – Thunder shock!

    - Ffyyyy... – Flaaffy ainda estava conhecendo sua nova forma, acostumada a utilizar seu corpo de maneira tão eficiente, ela começaria praticamente do zero com seu estilo de batalha. Engraçado dizer que quem estava se moldando ao estilo de batalha era eu, a treinadora e não Flaaffy, minha nova e linda pokémon. O preço da minha inexperiência.

    Ela liberou uma descarga elétrica bem mais potente do que quando era Mareep, deixando-me impressionada com os resultados que uma evolução poderia trazer a um pokémon.

    - Gbyyy. – Magby resistiu novamente. Ele era realmente poderoso, mas já se encontrava exausto após tantas investidas.

    - Magby fire punch! – Riuji ordenou secamente.

    - Gbyy! – Magby inflamou seu punho, indo de encontro a Flaaffy.

    - Flaa... – Flaaffy posicionou-se para receber o impacto do ataque.

    - Não faça isso Flaaffy, esquive-se. – ela não conseguiria resistir, Magby era muito forte.

    O contato entre os dois gerou uma explosão, lançando os dois a lados opostos do campo. Flaaffy ainda permanecia de pé. Extremamente cansado e debilitado, mas ainda de pé. Magby encontrava-se caído na lateral direita do campo.

    - Magby está fora de combate. – o juiz proferiu o que eu nunca acreditaria ser verdade. – Flaaffy é a vencedora. Julliane Cerule é a grande campeã deste ano.

    - Que batalha incrível pessoal. – Marina descia as escadas de acesso ao campo. – Julliane conseguiu pouco a pouco conquistar posições e dar um show.

    - Flaaffy, você é... – a felicidade explodia em meu peito. Eu conseguira cumprir meu objetivo, apesar de todos os percalços. – ESPETACULAR!!!

    ***

    - Recebam agora os aplausos de todos porque vocês mereceram. – Marina disse a todos da platéia, enquanto eu namorava minha primeira medalha de um torneio. – Isis Gast, terceiro lugar recebendo charcoal e mil pokedollars. Riuji Teiki, segundo lugar, com uma valiosa fire stone e cinco mil pokedollars. E Julliane Cerule, a grande vitoriosa do torneio que levará uma bolada de dez mil pokedollars e um misterioso e raro ovo pokémon para casa.

    Uma chuva de papel picado tomou conta do estádio ao recebermos nossos prêmios.

    - Julli meus parabéns. – Isis subiu ao meu pódio e me abraçou suavemente, com medo de me machucar. – Conseguir derrotar dois membros da família Teiki em um torneio não é pra qualquer treinadora.

    - Teiki? – eu ouvira que aquele era o sobrenome de Riuji, mas não imaginava que houvesse algo por trás. – Eu deveria saber de algo?

    - Depois eu conto. – Isis acenou para todos, emocionada de estar ali. – Você irá valorizar ainda mais essa vitória.

    - Isis antes de ir gostaria que você ficasse com um presentinho. – Marina estava escondendo algo entre suas pernas. Ela desviou-se mostrando o que era.

    Pokémon Ree laii [14 +] 037

    - Vul... – uma pequena raposa de pelo chocolate com as patas cor de café caminhou timidamente em nossa direção. Seus olhos castanhos brilhante eram reconfortantes, o nariz negro destoando-se da harmonia de sua figura, sua cauda marrom avermelhada em espiral combinava perfeitamente com seu topete. O ventre cor creme suavizava suas cores fortes, além de criar uma vontade louca de afagá-la. Era muito fofa.

    - Ahhhh... – eu e Isis nos derretemos ao ver tão belo pokémon.

    - Gostaria de te dar esse filhote de Vulpix. – Marina apontou para o suntuoso pokémon. – São pokémons muito utilizados em concursos pokémon, e que até ficaram no ostracismo, mas com você, eu tenho certeza que teremos apresentações muito originais daqui em diante. Como conversamos anteriormente eu acredito que você tenha muito futuro como coordenadora pokémon e você poderia conciliar muito bem com a sua paixão pela história.

    - Marina muito obrigada. – Isis segurou Vulpix em suas mãos. A altura assustou Vulpix deixando-a irrequieta. Começou a esganiçar e virar a orelha para baixo, ficando ainda mais graciosa. – Hããã! Desculpe. – Isis voltou à amedrontada raposa ao chão, sentando-se ao seu lado para que se conhecessem.

    - Também quero te dar meus parabéns, Julliane. – Marina segurou minhas mãos com delicadeza, observando os curativos em toda a extensão do antebraço. – Você me lembra muito a mim quando mais jovem. Não pela personalidade, porque nisso somos muito diferentes. – ela sorriu gentilmente. – Digo fisicamente. Eu não sei o que houve, mas eu gostaria de pedir que tomasse cuidado. As feridas da alma apesar de ficarem ocultas em nosso interior machucam muito mais do que as feridas do corpo, mas sempre é melhor evitá-las. Gostaria que se lembrasse sempre disso.

    - Marina, eu... – queria mudar de assunto. – Você deve saber de alguém que esteja precisando, então, poderia doar isso para mim. – entreguei o cheque com o valor do prêmio – Eu não sei quem eu poderia ajudar e acho que você seria a pessoa ideal para descobrir. Hahaha!

    - Julli... – Marina sorriu novamente, entendendo que não era o momento para aquela conversa. – É um gesto muito bonito. Inu Guren ficaria muito orgulhoso disso.

    - Obrigada. – disse sem jeito. – Eu vou me lembrar sempre de suas palavras. – respondi a ela.

    - Você deveria ver... – Marina mordeu o lábio interrompendo o que falava ao observar um de seus assessores a apressando. – Bom eu tenho que ir agora. Preciso gravar o novo comercial da Companhia Pokétch em Sinnoh. Será uma longa viagem até lá. Tenho de cumprir a agenda, né. Foi um prazer conhecer todos vocês. – disse acenando para cada um dos vencedores do torneio. – Isis, Riuji, Julliane. Até breve.

    - Até! – dissemos juntos.

    Marina caminhou rumo aos bastidores acenando para todos os seus fãs. Gostaria muito de vê-la em breve, ela era realmente incrível.



    No próximo capítulo:

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    Mensagem por Mr. Evil 26.12.12 17:46

    Nossa ...
    O cap 14, o da mansão, foi bem intenso ... bem forte ...
    Você conseguiu passar bem a angustia tanto da Julli quanto do garoto do diario ...
    Fiquei tenso do começo ao fim, nussss kk

    Os personagens estão ficando cada vez mais bem trabalhados, mais interessantes Pokémon Ree laii [14 +] 936
    Parabéns e obrigado por isso kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

    O ovo de novo õ/
    E o vulpix Pokémon Ree laii [14 +] 936 Julli e Isis com os melhores pokemon, sempre u_u
    uashsauhasuashushasusa
    Pokémon Ree laii [14 +] 936

    Foram presentaços de Natal esses caps, muito bom msm *o*

    Falar que eu estou no aguardo seria um pleonamos até, mas dane-se hahaha
    No agardo dos proximos Pokémon Ree laii [14 +] 936 õ/
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    Mensagem por Mr. Mudkip 19.01.13 18:36

    Pokémon Ree laii [14 +] 1zce73t

    Olá a todos. Após um período sabático, eu estou de volta com muitas ideias para o roteiro de Pokémon Ree Laii. Estou acrescentando a história de Riuji por meio de relatos, porque não encontrei outra forma de encaixá-lo por enquanto. O primeiro grande clímax está chegando, com mudanças... muito importantes! Comentem!!!

    Vlw os coments aê Mr. Evil. Sobre o ovo, não houve alteração quanto ao pokémon que escolhi, assim como todos os pokémons escolhidos para cada personagem, pois nenhum personagem do roteiro foi escolhido a toa. Muitos irão aparecer outras vezes, por isso o cuidado em montar os times e tal. As vezes me perco em tantas pastas que fiz pra guardar os times, mas estou indo. O time de Julli é uma porcaria na minha opinião, sempre acho q estou colocando pokémons medianos pra ela, nunca um muito forte, ao contrário de Isis, que só pega os melhores, mas vc ainda não viu o melhor time... Espero q curta mais um caps e em breve estou de volta com novidades!!! Resolvi esquentar a história ainda mais que no original nos próximos caps. Até breve!


    Capítulo 16 – O canto do pássaro


    JULLIANE CERULE

    - Acho que está na hora de nos despedirmos. – apenas acenei de dentro do bote. Meu corpo ainda mal se movia. Estava esgotada. – Espero revê-lo em breve. – olhei para aqueles olhos dourados, duas órbitas incandescentes agarradas ao negro profundo. Mesmo não gostando da sensação eu insisti em vê-los mais uma vez.

    - Eu também. – Riuji sorriu e acenou bondosamente. – Boa sorte e melhoras, gatinha. – ele voltou sua atenção para Isis. – Até a próxima Isis. Cuida bem dessa aí.

    - Pode deixar. – Isis falou assim que o bote saiu do cais para o navio S. S. Marinun.

    - Até que tive bons momentos aqui em Cinnabar. – disse nostalgicamente, observando a figura de Riuji se apequenar no horizonte. – Espero voltar aqui em breve, mas agora preciso dormir. – sentia todos os músculos latejarem.

    - Acho que terá mesmo. – Isis soltou um desabafo aborrecido em meios aos roncos do motor.

    - Porque diz isso assim com tanta certeza? – percebi que ela ainda estava chateada com minha teimosia.

    - Caso não tenha percebido, Natu não está te obedecendo e nem quero falar sobre o que houve no Haras. – ela pegou o livreto da Liga Pokémon de Kanto nas páginas destinadas às insígnias com os dedos meio trêmulos. Sentia nela falta de autocontrole. – Uma das maneiras mais eficientes de um pokémon lhe obedecer é através das insígnias de ginásio. Você simplesmente jogou fora essa grande oportunidade quando encontramos com Blaine. Você nem pensou nisso! Pra dizer a verdade, a maioria das vezes você não pensa. – Isis suspirou aliviada ao falar tudo que estava engasgado. – E eu só não quero ver você fazendo mais escolhas erradas. Eu só...

    - Preciso dormir. – não consegui conter um longo bocejo, o que fez Isis rir. – Eu vou pelos outros meios então! – disse fracamente. Minha voz não saíra como o planejado. – Acho que vou dormir uma semana inteira naquele navio. E quer saber do que mais... Estou exausta e você terá que ficar de olho nesse ovo. – disse acalantando a redoma de vidro. – E não pense que esqueci sobre o que me falou em relação aos Teiki. E por último, se quiser brigar comigo brigue quando estiver acordada. – mal movia a boca para falar e com isso não tive tanta certeza de que Isis me ouviu direito, mas pelo sorriso bobo dela, acho que entendeu. – Aquelas camas mega confortáveis estão precisando de mim.

    - Acho que é o contrário. – Isis brincou. Ela não conseguia ficar brava comigo. – Julli, às vezes eu quero... – ela pressionou o s punhos e guinchou algo para o alto.

    - Hãããããã... – bocejei longamente. – Pode ser.

    ***

    - Em três horas chegaremos às ilhas de Seafoam. – as caixas de som espalhadas pelo navio repassaram a mensagem. – Ancoraremos e permaneceremos até a manhã seguinte as costas da ilha para aproveitarem à bela e famosa paisagem noturna das ilhas de Seafoam.

    - Hum, que delícia. – disse me jogando na cama, embrulhando-me no edredom branco com flores bordadas ignorando a chamada para a próxima parada.

    - Acho que você não vai ter ânimo para passear. – Isis comentou antes que eu apagasse.

    ***

    Estava frio, desconfortavelmente frio e carregado de coisas sombrias. Eu conseguia sentir calafrios percorrerem meus ossos, os músculos arrepiarem contra o meu ventre, deixando-me meio nauseada. Abri os olhos para fugir da escuridão. Em vão. O negro era mais intenso, além do que eu conseguia definir.

    - O quê? – cordões estavam amarrados em meu corpo estranhamente frágil. Senti-me coordenada como um ventríloquo; no alto, mãos hábeis puxavam as cordas a me controlar. Sentia-me usada. Um boneco facilmente manipulável. Um brinquedo, um joguete em mãos perigosas.

    Em meio à escuridão, uma luz rósea translúcida relampejou trazendo uma esfera esverdeada para o negrume.

    - Tuuuu... – Natu apareceu a minha frente. Esboçou um olhar preocupado para mim e lançou fagulhas de fúria para o alto.

    - Natu saia daqui! – a voz furiosa vinha das mãos hábeis a me controlar. Tinha a minha voz, furiosa e em descontrole, mas tinha a minha voz.

    - Quem é você? – disse amedrontada.

    - Você não gostaria de saber, não é mesmo? O medo te paralisa e te acovarda para que faça algo. – ela disse simplesmente. – Eu sei disso, porque eu sou você e você não é nada além de um joguete em minhas mãos.

    - Eu não... – tentava me mover, mas eu não mantinha o controle de meus movimentos. – Natu não queria que visse isso. Não queria que visse como sou fraca. Uma inútil. – lágrimas rolaram pela minha face, caindo no infinito abaixo de nós. – Tsc! Hu... Hu...

    - Na! – os olhos de Natu brilharam em tom róseo despedaçando os cordões em mil pedaços.

    - Ah. – desabei no chão escuro, sem fim. Não tinha nada ali, era o infinito, mas eu pousara em algo frio, vítreo e tenebroso. Imaginei ter visto o meu reflexo do outro lado, mas logo após vi apenas o que realmente ali estava; o vazio.

    - Isso só adia o que está por vir. – a voz disse antes de desaparecer na escuridão o que eu sabia ser a verdade. Aquilo estava vindo e eu nada poderia fazer.

    - Tu... – Ele pousou a minha frente concentrando sua mente em minha alma, atingindo o ponto mais profundo em que ele poderia chegar com o seu nível atual, atravessando o espelho que separava as duas peças principais do tabuleiro.

    - Você pode se perder e nunca retornar. – falei tentando retirá-lo de meu interior. – Eu não posso permitir que ela faça isso com você. Ninguém encostará em meus pokémons. Ninguém! – eu não queria que ele visse aquelas visões ou se perdesse em minha mente confusa.

    O véu mágico que me resguardava começou a ruir como as traças destruindo tudo pelo seu caminho. Natu foi expulso por forças ocultas que tentando me dominar, prosseguiram com os tormentos iniciados após minha briga com Budew. Sentimentos tenebrosos que foram impedidos de se aproximar, agora adentravam em meu corpo, esmigalhando mente e coração.

    - Eu estou chegando em breve. – uma voz infantil aos prantos me garantiu. – Eu irei te ajudar a passar por isso. Eu prometo.

    A menina de minha última visão estava vindo ao meu encontro. Quem seria ela? O que ela poderia fazer para acabar com esse martírio.

    - Tu... – Natu iniciou uma consonância delicada. Ele não iria esperar o pior acontecer. Notas agudas em meados tomaram conta do ambiente e apesar de não haver os céus ali, Natu cantou além daquele lugar, implorando para trazer proteção através do canto do pássaro.

    Cada nota de sua serena melodia afastava aqueles seres malévolos de mim. Eu fora novamente salva, agora pelo meu pequeno pokémon.

    - Mas o que está acontecendo afinal?! – ainda tinha receio em descobrir, no entanto a força e coragem de Natu me contagiaram. – Natu... – disse assustada. Notei sua angústia, entristecido com minha situação. Vê-lo assim destruía-me, muito mais do que aqueles seres tenebrosos.

    Tentei reconfortá-lo, mas cai já sem forças, inconsciente.


    ISIS GAST


    - Julli? – estava brava em ter sido ignorada. Não poderia culpá-la. Ela devia estar muito cansada. Passar por tantos perrengues assim, não sei se eu aguentaria. Julli é uma boa garota e não merecia tanto sofrimento. Eu sinto que tem algo de errado acontecendo, mas eu nem sei o que é. Havia tantas perguntas a serem feitas, mas quem poderia respondê-las?

    Não havia realmente a quem eu pudesse recorrer, a não ser o pai dela e infelizmente para mim, ele estava em algum lugar inóspito em Hoenn, impossibilitado de se comunicar. E estamos em Kanto, muito longe. Longe de casa, longe demais e ao mesmo tempo tão perto. Aqui em Kanto, nesse pouco tempo ao lado de Julli, ela me fez esquecer de certas coisas ruins. Gostaria de fazer o mesmo por ela. Evitar que ela sofresse e tivesse a oportunidade de ter uma jornada tranquila. Eu gostaria de saber o que acontece com ela, e principalmente queria uma resposta para aquele misterioso telefonema.

    - Trim, trim. – minha pokegear me fez voltar pra realidade.

    - Isis Gast, assessoria. – disse com todo o profissionalismo.

    - Olá. – reconheci a voz do curador do museu de Pewter, Sr. Murder. Sempre me esquecia de observar o identificador de chamadas, apesar de que no dia daquela ligação eu o tivesse feito. – É que recebi algumas gemas do monte da lua, gostaria que as avaliasse para mim. Saber se tem algum valor histórico ou arqueológico para o museu.

    - Claro. – disse animada. Adorava meu trabalho, sempre me entusiasmava, apesar de tudo. – Será o preço do valor da tabela de itens mensuráveis. Será por fotos como andamos fazendo, ou prefere me mandar já que se trata de uma mercadoria leve?

    - Vou lhe enviar. – o homem disse. – Para qual cidade?

    - Para a ilha Knot, das ilhas Sevii. – disse observando rapidamente o mapa da pokegear. – No centro pokémon, como sempre?

    - Sim, sim. – o percebi remexendo em algumas folhas. – Agradeço muito sua ajuda.

    - Nada. – disse encabulada. – É o meu trabalho.

    - Um trabalho magnífico. – disse desligando.

    Guardei a pokegear na mochila, observando Julli dormir serenamente.

    - Será que posso deixá-la aqui sozinha? – disse preocupada. – Acho que não. – naquele dia, pediram que não me afastasse dela, apesar de já ter feito isso, nada acontecera. Bom, Riuji a salvara da Rapidash desembestada, mas mesmo ao seu lado eu nada pude fazer no Haras. Eu não sabia o que poderia fazer em momentos assim. Ahhhhh! Eu nunca tive a oportunidade de ir as Ilhas de Seafoam. O paraíso da arqueologia subaquática em Kanto, eu precisava ir. Ela não acordaria tão cedo. Poderia ir e voltar e ela nem sentiria minha falta. Por precaução. – Eevee hora do show!

    - Eee... – Eevee apareceu sobre a cama superior. Não resistindo à maciez do colchão, deitou-se elegantemente.

    - Vou te deixar um trabalho muito difícil. – Eevee me olhou com atenção. – Quero que fique de olho na Julli e em seu ovo pokémon. – disse contundentemente. – Não saía de perto deles em nenhum momento. Qualquer coisa você me aciona pelo Xtransceiver. – retirei o relógio tecnológico de meu pulso, colocando ao lado de Eevee. – Sei que você fará um ótimo trabalho.

    - Eeee. – ele agradeceu a confiança depositada nele.

    - Volto pela manhã. – iria fazer uma pequena expedição durante a noite. Apesar de ficar grande parte da noite anterior acordada esperando notícias no Hospital sobre o estado de saúde de Julli, eu estava acostumada. Os Gast trabalhavam melhor sobre a luz do luar. A razão eu não saberia dizer.


    ***

    Permaneci no deque até avistar a ilha que tanto almejava surgir no horizonte. Era uma ilha pequena, e poderia ser simplória se não fosse pelos minérios azulados que pendiam ao centro refletindo o gelo para o alto.

    Quanto mais nos aproximávamos, mais frio ficava e por isso decidi vestir algumas roupas de inverno. A noite também chegava revigorando-me, atraindo um pouco de energia ao meu corpo fatigado. A lua cheia iluminando o céu enegrecido inibindo a luz das estrelas destacavam sua imponência. Lembrei-me da véspera da última lua cheia ao qual eu conheci Julli no centro pokémon de Fuchsia, da última lua cheia em que estive sozinha em minha jornada.

    Tirei algumas fotos daquela maravilhosa vista para enviar aos Montblanc. Se dependesse da Julli não teríamos tirado nenhuma foto. Mais avoada do que ela não existia, mas também melhor amiga não há.

    Minha pokegear tocou novamente, fazendo-me voltar à realidade.

    - Olá mocinha! – a doçura na voz me levou diretamente a imagem de Penélope.

    - Como vai Penélope?! – disse meio sem jeito.

    - Mal, muito mal. – ela bufou raivosamente, fazendo um chio incômodo em meu ouvido. – Pensei que veria você por aqui, pra finalmente poder te ver nos palcos.

    - Quem sabe na próxima... – as luzes cianóticas dançavam pelo céu salpicado de pontos brilhantes.

    - Então te vejo no próximo concurso em Celadon. – ela mandou um beijo e desligou.

    - Ei! – gritei inutilmente. – Ela não vai desistir... Bom, depois me preocupo com isso! Hora de ir. – fui até o corredor de desembarque, relembrando da dificuldade imposta pelo comandante de ceder um dos botes para visitar a ilha. Ele relutou, mas no final permitiu que eu fosse acompanhada de um de seus homens de confiança.

    - Está pronta senhorita? – o rapaz de cabelos verdes disse educadamente. Os funcionários eram muito amáveis, nos tratavam com afinco, poderia até me acostumar com o tratamento VIP.

    - Vamos ver. – vasculhei minha mochila confirmando os itens da expedição. – Sim, sim. – olhei seu nome gravado em uma placa dourada em sua farda. – Você é muito gentil Andrei. Será uma ótima companhia.

    - Obrigado. – o rapaz sorriu com leveza. Pegou em minhas mãos ajudando a embarcar no bote. Ele deveria ter por volta dos vinte anos. Tinha a pele queimada de sol, um encanto ardente em seus olhos castanhos, o corpo era robusto, no entanto era ágil. Transmitia segurança em seu sorriso. Seria bom ter alguém mais velho para me auxiliar. Hoje eu sabia que nunca era uma boa ideia realizar expedições sem uma equipe ou pelo menos com um companheiro. Já fizera isso e acabei comprovando da pior forma. Olhei para a cicatriz em meu pulso para me lembrar de meus erros, erros aos quais eu não queria e nem deveria esquecer.

    - Precisarei de você em alguns momentos se não se importar. – disse observando pequenas ondulações na água, assim que Andrei começou a ligar o motor.

    - Certo. – disse movimentando os trilhos do motor. – Sempre tive curiosidade sobre esses assuntos. É uma honra ajudá-la. Mesmo sendo tão jovem eu já sei de grandes feitos seus, senhorita Gast.

    - Hum... Obrigada, eu acho. – ele sorriu ao ver meu constrangimento.

    Eu gostava de ficar nos bastidores, mas ultimamente estava tomando os holofotes. Marina era quem tinha habilidade com a fama e o reconhecimento, eu era uma simples historiadora e arqueóloga pokémon, apesar de que até nisso estava sendo reconhecida. E ainda tinha mais um porém recém apresentado a mim como possibilidade. Concursos pokémon. Eu não sabia se era uma boa ideia me misturar a esse mundo, embora fosse divertido. – Eu agradeço o elogio. – disse timidamente.

    - Soube de sua importância em recuperar alguns escritos antigos no Monte Prata. – Andrei tentou puxar conversa, embora estivesse bem mais atento no trajeto marítimo. – Na verdade, você foi quem conseguiu os escritos não é mesmo?

    - Todos juntos. Foi uma das minhas expedições mais difíceis e perigosas. – disse relembrando carinhosamente de Bill. Fora ele quem me dera mais forças para seguir em frente. Se não fosse por ele eu não teria vindo a Kanto e conhecido Julli. – E essa também poderá, já que nós nunca podemos garantir 100% de segurança. Quero que isso fique bem claro.

    - Certo. – Andrei ficou um pouco acanhado. – Vou me esforçar para protegê-la, senhorita Gast.

    - Você é muito gentil. – o elogiei novamente. – Será um conforto ter você por perto. – disse mentalmente.

    ***

    Seguimos pela água por algum tempo até chegarmos à costa da ilha. Acendi a lanterna me preparando para uma longa expedição, que segundo minhas pesquisas, seria em um longo e perigoso labirinto feito de gelo e águas turbulentas.

    O frio penetrava pelas frestas de minhas vestes deixando-me arrepiada. Adentrar pelas cavernas seria um martírio com esse clima gélido. Caminhamos pela areia úmida e pesada, procurando uma entrada para as galerias de água e gelo do subterrâneo, ao qual corria a lenda, Articuno, um dos três pássaros lendários habitava, mantendo a ilha em um inverno interminável.

    - Por aqui. – disse ao avistar a entrada. – Não se afaste de mim em hipótese alguma, ok.

    - Sim, senhorita. – Andrei exalou um vapor quente esbranquiçado em minha nuca.

    O gelo aderia às pedras estabilizando-se em uma rocha de tonalidade azulada liberando certa claridade, de tal forma a não permitir delimitar o que era o quê. As lanternas eram pouco úteis já que era possível enxergar tranquilamente na luz cianótica, mas ainda assim preferi mantê-las caso houvesse locais em que não tivesse luminosidade. Seria uma preocupação a menos. A cada passo era mais perceptível o som das águas correndo por entre os túneis da caverna. Corria intensa e rapidamente. Não gostaria de me aproximar desta potente correnteza. Seria um desastre.

    - Vamos seguir pela direita. – sinalizei quando desembocamos em uma encruzilhada. Marquei o lugar com um pincel vermelho.

    - Hum! – ele pigarreou confirmando.

    Meus dentes começavam a se debater incontrolavelmente pelo frio. Não sei quanto tempo suportaria as baixas temperaturas. Quanto mais caminhávamos ao subterrâneo mais gelado ficava. Nunca experimentara uma situação tão extrema como aquela. O frio que senti no pico do Monte Prata não era nada perto disso.

    - Espere! – alertei. O caminho seguia para um canal congelado envolto pela corrente de água. Não me parecia muito seguro. – Vamos seguir, mas tenha cuidado.

    - Sim. – ele disse expelindo uma névoa pela boca.

    Ao por os pés no canal, cai deslizando pelo gelo.

    - Annnndrreei!!! – gritei apavorada. Mal conseguia definir a minha visão em meio às luzes azuis e amarelas, visto a velocidade em que descia pelo canal. Rolei até o fim da viela, caindo sobre carcaças fétidas e por sorte sem me ferir.

    Procurei me orientar apontando a lanterna pelo local. O cheiro era insuportável.

    - Ahhhh! – percebi que Andrei me seguira. Não saberia dizer se seria melhor ele permanecer onde estava e procurar ajuda. Não precisava me desesperar, Eevee armaria o resgate caso eu necessitasse.

    - Você está bem? – disse tentando ergue-lo de algumas ossadas congeladas.

    - Que fedor. – ele tapou o nariz incomodado com o cheiro cadavérico. – Que lugar é esse?

    - Parece ser um cemitério de Dewgongs. – disse observando alguns restos mortais mais recentes. – Melhor sairmos daqui. Estamos profanando o local de descanso desses pokémons.

    - Você que manda. – ele levantou-se com dificuldade, caminhando ao meu lado.

    - Vi uma abertura por ali. Acho que alguns deles passam por aqui para chegar nesse lugar – disse ao procurar um meio de sairmos dali. – Droga, é muito pequeno.

    - E agora?! – Andrei começou a se desesperar.

    - Já sei! – não queria que ela visse isso, mas eu não tinha escolha. – Vulpix, hora do show!

    Joguei a pokébola para o alto, liberando um raio brilhante, formando uma pequenina raposa marrom.

    - Vul... – tentei tampar um pouco as nossas costas, mas o cheiro e a curiosidade natural de Vulpix entregava tudo.

    - Vulpix use ember para alargar essa passagem. – Andrei ficou um pouco mais calmo com a minha iniciativa rápida.

    - Vul... – Vulpix lançou pequenas brasas contra o gelo, o suficiente para derretê-las.

    - Muito bem Vulpix. – disse retornando-a o mais rapidamente possível. Percebi que ela estava com duas caudas. Ela crescera rapidamente, mesmo assim por ser um filhote, não me parecia adequado que ela presencia-se aquilo. – Agora vamos.

    - Sim, pode ir primeiro. – Andrei cedeu para que eu fosse à frente. Eu passei pelo acesso criado por Vulpix, chegando a um lugar que eu esperava encontrar.

    Ao passar a lanterna pelas paredes pude definir com clareza linhas grosseiras e bem características que se conectavam, criando um desenho singular. Senti meu coração pulsar com força ao ver aquilo.

    - Não me diga que... – Andrei parou a minha frente, boquiaberto. – Articuno?

    Asas imponentes se destacavam aos pequenos detalhes de flocos de neve representados. Coberta pelo gelo, a rocha trazia cravado a figura do mais belo pássaro existente. Um achado impressionante, que nem em meus melhores sonhos achei que pudesse encontrar com essa facilidade.

    Eu nunca me acostumava com a sensação de se encontrar uma relíquia há muito esquecida. Nesses momentos eu reafirmava minha paixão pelo que eu fazia, e nada me preenchia mais do que isso.

    - Sim. – me aproximei com cuidado da peça, agora sentindo um cheiro desagradável em minhas roupas. – E pelas características eu acredito... Não pode ser... Mas pelo jeito precisa ser... Acho que se trata de um achado dos pokenopolitanos.

    - Quem? – Andrei quis se aproximar mais, mas o impedi.

    - Pokenopólis.* – disse enfim. – Uma antiga civilização que habitava os arredores de Viridian, chegou a ser foco de estudos, mas que foram encerrados após um grave acidente. Tive acesso a alguns desses dados, eles tem um padrão único de caligrafar. Muito peculiar.

    - Você é realmente incrível. – Andrei ficara impressionado. – Conseguir descobrir quem poderia ter feito isso a milhares de anos em tão pouco tempo. É demais!

    - Tem um tempo considerável realmente. – não queria corrigi-lo, ele fora muito gentil comigo e não queria destratá-lo. Pokenopólis deveria ter cerca de três mil anos, pelo menos era o que se comprovara analisando-se os materiais até então encontrados. – Difícil é imaginar como isso veio parar aqui. Não cheguei a encontrar relatos de migrações por parte dos pokenopolitanos. Melhor pesquisar e salvaguardar as descobertas.

    Tirei algumas fotos do recente achado arqueológico e calculei no mapa da pokegear sua possível localização para em algum momento mais propício retornar com uma equipe e explorarmos de maneira mais adequada o local.

    - Vamos seguir em frente. – disse em êxtase.

    - Vamos embora assim? – ele se decepcionara em ser apenas aquilo.

    - Eu esqueci de mencionar que essa é uma expedição de reconhecimento. – falei atravessando o portal de gelo. – Se isso está aí há séculos, não será agora que desaparecerá.

    - Se você diz. – Andrei me seguiu observando pela última vez a bela e modesta representação de um dos maravilhosos pássaros lendários de Kanto, Articuno, aquele que jaz o inverno como nova estação.

    ***

    - Isso está muito estranho. – vasculhei por entre as geleiras sinais de vida para algum pokémon. – Nós não demos de cara com nenhum pokémon selvagem até agora. E nem tive tempo de comprar repel, achei que seria tudo muito atribulado e emocionante.

    - Acho que estamos com sorte. – Andrei tentou a hipótese em que menos esperava que fosse dizer. Julli teria bolado algo mais. Nessas horas sua companhia fazia falta.

    - Não acredito que seja isso, mas acho que devemos voltar, temos menos de três horas para encontrar uma saída. – olhava a todo o momento a pokegear para sincronizar o tempo restante de nossa improvisada expedição. – E pode acreditar, três horas pode ser muito pouco para sairmos daqui. E já que não temos como voltar... – ainda não encontrara nenhuma marcação feita por mim, um mau sinal. – Pelo menos não estamos andando em círculos.

    - Certo. – Andrei era disciplinado como um marinheiro tinha de ser. – Confio em você.

    - Obrigada... Acho que vamos explorar só mais esta galeria e seguiremos de volta ao navio. – as luzes congruentes chamaram minha atenção. -

    Eu sempre ficava impressionada de como a natureza conseguia construir verdadeiras maravilhas como a que presenciava agora a minha frente. O gelo espalhou-se por toda a abóbada dando um aspecto desvirtuado entre as milhares de tonalidades de azul e verde. Meus olhos não eram capazes de identificar o que via. O lago esverdeado em turbulência abaixo da camada de gelo destacava-se nos pontos onde a espessura era mais fina. Uma passagem de acesso aos andares superiores encontrava-se do outro lado daquele campo minado ambulante.

    - Cada vez mais eu quero ver... – respirei para conseguir manter a admiração contida. – Ainda temos tanto a descobrir. Ainda há tantas histórias por ai...

    - E parece que a senhorita irá nos mostrar muita coisa ainda. – tirei algumas fotos, ocultando as lágrimas por trás da câmera. – Acha que podemos passar? – Andrei confiava em mim e tinha de retribuir sua confiança mantendo-o em segurança.

    - Provavelmente. – visualizei onde a camada de gelo era mais grossa memorizando o caminho em minha cabeça. Deitei no chão gélido, distribuindo meu peso na superfície para diminuir os riscos do gelo quebrar e ser levada pela correnteza. Deslizei pelo gelo com cuidado.

    - Muito bom, senhorita Gast. – Andrei observava calmamente cada movimento meu, torcendo para que tudo desse certo.

    - CRACK! – eu não queria ouvir aquele som de maneira nenhuma.

    O gelo começou a trincar abaixo de mim. Tarde demais para qualquer ação. Fui de encontro a turbulenta correnteza congelante. Mesmo sabendo que me arrependeria depois, permaneci com os olhos abertos de curiosidade em saber o que havia naquelas águas.

    Eu nada conseguia definir com a confusão espiralada que se formava em minha cabeça. Meus olhos ardiam e queimavam devido ao contato com a água fria. Em meio à agitação percebi um pequenino cavalo marinho de olhos vermelhos indignados lançar um raio psicodélico em mim. O impacto me jogou contra o gelo, mas com força insuficiente para parti-lo. Continuei rodopiando descontroladamente, deixando-me de certa forma frustrada. Novamente o cavalo marinho preparou sua mira, desta vez com um jato d’água poderoso que aliado a fina espessura do gelo, conseguiu me levar à superfície. Ainda não havia confirmado se ele ficara bravo com minha invasão ou se estava tentando me livrar daquele redemoinho.

    Pokémon Ree laii [14 +] 116

    - Cof, cof... – me sentia péssima. Engolira muita água, percebia pelos pulmões pesados com o excesso de líquidos. Quase me afogara. O frio dava a sensação de que meu corpo era triturado por dentro e anestesiado por fora. A cabeça rodopiava deixando-me nauseada.

    - Isis! – ouvi a voz de Andrei, um pouco ruim devido à água em meus ouvidos. Era a primeira vez que me chamara pelo nome.

    - Horrrrr! – o cavalo marinho submergiu de onde eu retornei, enfurecido. Eu tinha caído em posição favorável. Estava sentada, mas o corpo não parava de tremer por conta do frio intenso.

    Joguei a pokebola de Teddiursa para o alto, deitando sem forças no gelo.

    - Cof, seed, cof bomb! – disse com dificuldade.

    - Tedd. – Teddiursa caiu ao pousar no gelo, desta vez não intencionalmente como sempre fazia. O chão estava extremamente escorregadio para dizer a verdade.

    - Horr... – o cavalo marinho lançou outro raio psicodélico, acertando Teddiursa em cheio, no entanto para não ser levada, cravou as garras no gelo.

    - Ursa! – Teddiursa balançou os braços alegremente lançando sementes explosivas na direção de Horsea.

    - Seeeee! – A violência do ataque fez com que Horsea fosse lançada sob o gelo, desacordada. Impossibilitada de se mover eu poderia me acalmar por enquanto e esperar que Andrei me ajudasse.

    - Zzzzzzzzzzzzzz.... – o gelo do teto começou a estremecer, gerando um zumbido arguto. Comecei a me preocupar com o que poderia acontecer dali em diante. Estacas de gelo começaram a cair no chão deixando a situação muito pior do que eu poderia imaginar. Teddiursa estava assustada, e eu precisava fazer algo com urgência.

    - Isis saía daí, é perigoso. – Andrei gritava, mas eu não conseguia me mover.

    Uma das estacas fincou-se ao meu lado, pensei que não teria a mesma sorte novamente. Tinha de fazer algo e logo. Não só por mim, mas também por Horsea e Teddiursa, afinal elas não poderiam sofrer as consequências dos meus atos.

    - Cof! – concentrei todas as minhas forças em meu braço direito, pegando uma pokebola em minha mochila.

    Suguei Horsea para seu interior e logo após com a esquerda retornei Teddiursa a sua pokebola. Naquele momento, fora a única solução que eu encontrei. Deixá-los a salvos nas pokebolas, realizando assim uma captura inesperada. Uma das pokebolas remexia em minha mão congelada antes que eu apagasse.

    Futuras expedições, todas as descobertas, tudo o que ainda poderia ver, conhecer, sentir, encontrar e experimentar, e o mais importante, rever as pessoas que eu amo, que são importantes pra mim, assim como meus pokémons, enfim os rumos da minha história dependiam de Andrei.


    ***

    - Vovó! – gritei ao avistá-la no corredor.

    - Já disse para não me chamar assim. – ela sorriu caridosamente aproximando-se de mim.

    - Desculpe. – abaixei a cabeça tentando esconder o embaraço.

    - Não fique assim. – ela levantou meu queixo fazendo-me um cafuné. – Sempre mantenha a cabeça erguida. Em qualquer situação.

    Eu observei seu olhar solidário e sincero entre as marcas da idade em seu rosto envelhecido.

    - Então. – ela piscou para mim. – O que quer?

    Ela seguiu até sua cadeira de balanço acolchoada com fios de lã de Mareep repousando seu corpo senil. Sobre a mesinha de canto ficava seu conjunto de chá de energypowder para recompor as energias, sempre escassos.

    - Poderia me contar aquela história de novo. – disse suplicante.

    - Hum! – ela pigarreou decepcionada, colocando chá em uma xícara. – Pensei que quisesse saber um pouco mais sobre as ilhas de Seafoam.

    - Eu já sei tudo que tinha de saber. – mostrei que havia terminado a leitura de “Articuno, o lendário pássaro de gelo”. – Acabei de ler tudo aqui.

    - Criança são tão ingênuas e sonhadoras. – ela olhou para o teto, como se estivesse revivendo uma lembrança de sua longínqua vida. – Criança, acredite. Nunca será possível, por mais que se corra atrás, pesquise e se aprofunde sobre um assunto, jamais terá descoberto tudo o que se poderia descobrir, sempre haverá algo a se desvendar e mostrar a todos. Esta é a razão para um historiador sempre buscar mais conhecimentos. Lembre-se disso, menina.

    - Eu... – ao analisar a página em que estava, percebi que alguns míseros detalhes haviam escapado de meus olhos astutos compreendendo o que ela queria dizer, ao menos um pouco.

    - Não se preocupe. – ela me olhou com seu sorriso cálido. – Você ainda terá um longo caminho até compreender verdadeiramente o que isso significa. A história é viva, sempre se modifica e nos traz novas razões para continuar a decifrá-la.

    - Certo. – disse com garra. – Vou me esforçar ao máximo para melhorar.

    - Sei que irá. – ela assoprou o chá fumegante antes de bebê-lo um pouco.

    Aquela mulher. Ela emanava paixão por sua carreira. Não. Aquilo era a sua vida. Era a vida que eu também queria para mim. Minha mestra, ao qual eu tinha verdadeira adoração. Quem eu me espelhava ser no futuro, a dama das almas, Agatha.


    RIUJI TEIKI

    - Shishishi! – enquanto o senhor tratava de minhas queimaduras, o velhote careca ria com escárnio sempre que olhava em meus olhos.

    - Vejo que o velho tem senso de humor. – tinha ouvido suas ofensas e não poderia deixar passar. – Vai continuar rindo ou vai me contar a piada.

    - A piada é você garoto idiota. – o velhote enrugou o cenho e tratou de colocar o chapéu para esconder a chateação. – Não é assim que se doma um cavalo.

    - E como é velhote?! – ele cruzou os braços apoiando-se na bengala.

    O senhor terminou de enfaixar os meus braços e saiu com a cabeça baixa.

    - Por acaso você sabe com quem está falando garotinho? – minha reação confusa confirmou suas suspeitas. – Shishishi! É realmente um garoto idiota.

    - E você por acaso se acha o máximo falando assim com os outros?! – levantei e segui em passos furiosos para fora da arena. – Fale para quem queira ouvir, porque eu... Eu tenho fogo queimando em minhas veias! Não vou ficar aqui para você me detonar.

    - Você deve se achar o máximo com toda essa pose garoto! – o velhote me observou sair do Haras com um sorriso tortuoso nos lábios. – Você, venha me encontrar na antiga estrada em meia hora e verá quem realmente possui fogo nas veias.





    * O termo pokenopólis faz menção a um dos episódios da 1° temporada do anime de Pokémon onde aparecem Gengar, Jigglypuff e Alakazam gigantes e tatuados de uma antiga civilização que estava sendo estudada por uma arqueóloga.


    No próximo capítulo:

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