- Número oito, Isis Gast. – Marina confirmou o resultado demonstrado pela atendente.
Algum tempo depois ouvira o nome de Riuji, inscrito com o número vinte um.
- E finalmente, Julliane Cerule, número sessenta e quatro. – Marina disse enfim. – dentro de alguns instantes iremos iniciar a primeira rodada do septuagésimo sexto Campeonato da lótus vermelha. Não percam! Batalhas incríveis os aguardam.
A multidão gritou em uníssono, transmitindo boas energias a todos os competidores. Estavam entusiasmados com o que viria a seguir. Enquanto isso, voltamos para os vestiários aguardando a apresentação do grupo de teatro musical “Folha verde”.* Bailarinos atores em vestimentas brilhantes mimetizando o fogo saltavam pelo campo de rochas rubras, cantavam a história de Inu Guren em um espetáculo primoroso. Um cão de pelo rajado caminhou por entre os bailarinos utilizando flame wheels formando uma flor de lótus de fogo, deixando a todos impressionados.
- Após esta belíssima apresentação, iremos dar início ao tradicional torneio de Cinnabar, em conformidade com os requisitos da Liga Pokémon de Kanto. – Marina era extremamente natural no palco. Era o ambiente ao qual ela dominava. Ao citar a Liga Pokémon, lembrei-me de Adele, estava preocupada com o que poderia acontecer a ela. Estava se arriscando demais. – Nossos competidores que conseguirem chegar às finais terão a oportunidade de ganhar prêmios maravilhosos, mas o objetivo maior deste torneio é homenagear dois grandes exemplos de nossa sociedade, Inu Guren e Arcanine! Lutaram por essa ilha e por seu povo, por Kanto. Este campeonato é uma singela forma de relembrarmos seus feitos em mais de dois séculos atrás.
- É isso aí! – muitos gritavam e assobiavam a todo o momento. – Marina, eu te amo!
Algumas garotas surgiram carregando os prêmios que seriam distribuídos no torneio. Três cheques em tamanhos gigantes, um pedaço de carvão sob uma almofada violeta, uma pedra bruta de coloração dourada com detalhes em laranja e uma redoma de vidro acolchoada com um ovo protegido em seu interior.
- Para o terceiro lugar, mil pokedolars e um item para aqueles treinadores que querem aumentar seu poder de fogo, charcoal. – os telões destacavam os prêmios à medida que Marina os apresentava. – O segundo lugar, cinco mil pokedolars e um item raríssimo, fire stone. Muitos treinadores querem evoluir seus pokémons para ficarem mais fortes e terão uma grande oportunidade aqui. E para o primeiro lugar, dez mil pokedolars e um misterioso ovo pokémon. Qual pokémon nascerá deste ovo? Quem será o felizardo ou felizarda a receber estes prêmios? Acompanhem-nos para descobrir as respostas.
Marina foi para os bastidores, enquanto isso, um grupo de dança local entretinha a plateia.
- Olá Julli. – uma linda moça de olhos cor de avelã, cabelo loiro encaracolado se aproximou de mim. – Seremos as últimas a batalhar na primeira rodada de hoje.
- Moira? – ela continuava mascando chiclete vorazmente. – Há quanto tempo.
- E novamente iremos nos enfrentar. – Moira sorriu – Sou a número sessenta e três. Será minha revanche contra você. Só que agora estou muito mais forte. Acredito que você também esteja.
- Sério? – ficara surpresa com a coincidência. Meu primeiro torneio seria com a primeira treinadora com a qual batalhei. – Espero fazer uma boa batalha e corresponder as suas expectativas.
- Tenho certeza de que irá. – ela fez um sinal de positivo, afastando-se de mim.
- Quem era ela? – Isis ficara curiosa.
- Acho que tenho mais uma rival neste torneio. – senti um formigamento nas pernas inquietante. – Não posso fraquejar. Tenho de dar o meu melhor.
- Vai nessa garota. – Isis riu da minha tensão pré torneio.
***
- Ichiru e Isis ao campo! – Marina anunciou mais uma batalha da sacada com visão privilegiada do campo. – Boa sorte aos dois.
Nos pontos extremos do estádio surgiram duas pessoas. Ao norte, Isis caminhava tranquilamente, e ao sul em passos tímidos um jovem garoto de cabelos verdes. A câmera focou o rosto de ambos, e em seguida o do juiz autorizando o início da batalha.
- Eevee, hora do show. – Isis lançou a pokebola para o alto liberando escritas antigas que moldaram-se as formas de Eevee.
- Eeeee! – ele sempre se comportava com elegância e apuro, contudo eu nunca o vira em uma batalha de verdade. O que aconteceria a partir dali?
- Sandshrew eu conto com você. – o garoto lançou sua pokebola fazendo surgir um pequeno tatu de pelagem tijolada cor de areia com o ventre branco. Sua cauda balançava levemente de um lado ao outro. Os olhos negros de formato elíptico se contorciam em nervosismo. Temi pelas garras curtas acertarem o pelo vívido de Eevee, e deixá-lo em farrapos.
- Eevee, shadow ball agora. – Isis sinalizou ao garoto que a batalha não se estenderia.
- Use dig, Sandshrew. – o garoto gritou raivosamente. Sentira-se ofendido com o gesto de Isis.
Uma esfera negra ameaçadora criada por Eevee seguiu em direção a Sandshrew acertando-o em cheio em uma explosão soturna. Ele não resistiu ao golpe. A diferença de nível entre eles era imensa. Isis percebera que Ichiru não passava de um novato.
- Sandshrew está fora de combate. – o juiz proferiu. – Eevee é o vencedor. Isis segue para a próxima fase.
- Isso foi... – Marina tentava encontrar uma palavra mais reconfortante. – Rápido. – não encontrara.
O garoto saiu correndo de onde viera, escondendo o rosto em vão abandonando seu pokémon. Suas lágrimas criavam uma trilha dolorosa e humilhante rumo à saída. Isis correu em sua direção carregando o tatu desfalecido em suas costas abandonando o estádio. Marina achou melhor seguir com a programação do torneio para evitar mais transtornos.
- Isis, não é sua culpa. – pensei em voz alta.
- Ela deveria ter pegado leve com o garoto. – Riuji sentou-se ao meu lado apoiando os braços nas pernas abertas. – Mas também é bom pra ele aprender. A gente precisa apanhar um pouco pra crescer.
- Você tem toda razão, só que ela não o deixaria sozinho nisso. – disse do fundo do coração. – Pelo o que eu conheço de Isis, ela vai compensá-lo de alguma forma. Aprender por meio de sofrimento e humilhação só atrai desespero. Devemos procurar um jeito melhor de nos aprimorar com os erros que cometemos.
- Você por acaso é uma filósofa pokémon? – Riuji balançou os dreads piscando para mim em seguida. – Não sou papo cabeça gatinha. Mas se você diz isso, quer dizer... Essa garota deve ser uma boa amiga.
- A melhor. – senti orgulho em poder dizer isso.
- É bom ter pessoas assim por perto. – ele balançou a cabeça levemente em minha direção e sorriu. – Vai me explicar essa sua teoria ou não?
- Acho que falei demais. – não queria falar com ele sobre sofrimento, eu queria alegria, ter mais momentos felizes do que os ocorridos nos últimos tempos. – Já passei por mais coisas do que eu gostaria. Só queria esquecer um pouco disso.
- Sei bem como é. – seu olhar tornou-se inquietante por um momento. O brilho dourado de seus olhos desapareceu de imediato. Senti-me culpada por trazer lembranças ruins a ele. – Nem sempre temos uma jornada tranquila.
- Não é isso não, meu caro Riuji. – disfarcei, percorrendo um caminho menos doloroso de se seguir. – Eu só estou repassando a mensagem que este campeonato quer transmitir.
- Você é doida, né?! – ele sorriu. – Só pode. O que isso tem a ver?
- Você tem razão. – disse tranquilamente. – Não tem nada a ver. Devo estar surtando por conta de ser o meu primeiro torneio. – ri debilmente. – Deveria prestar mais atenção ao que se passa a sua volta. – sinalizei para a batalha que se passava no monitor, enquanto pigarreava ocultando um soluço de choro.
Uma garota ao meu lado riu da situação sem pé nem cabeça que eu consegui criar. Tudo para fugir de assuntos mais delicados.
- Garotas... – Riuji ficou sem entender. – Ruim com elas, pior sem elas.
- Não sabia que você utilizava de frases feitas. – ele ficou constrangido. – Nenhuma garota cai nessa Romeu.
- Vou me lembrar na próxima. – disse em tom de deboche.
- Não vai ter próxima. – falei secamente. Era melhor ser ríspida e terminar logo com conversas difíceis, mesmo que dessa forma tenha de magoá-lo.
- Você quem sabe... – Riuji era perspicaz. Entendeu o meu recado, disso eu tinha certeza. – Fugir não resolve nada.
As pessoas olhavam intrometidamente para a cena lastimável em que me envolvera.
***
Isis não retornara ao estádio, ela tinha de se apressar senão iria perder por WO. Percebera que só poderia enfrentá-la na final devido à conformação das chaves, assim como Riuji que derrotara seu adversário facilmente com seu poderoso Elekid. Se chegasse a enfrentá-lo, já teria uma estratégia de vantagens e desvantagens em relação aos pokémons a serem utilizados.
- Recebam agora Moira e Julliane para a última batalha desta rodada. – Marina anunciou para a plateia.
Ao ouvir meu nome, segui caminhando pelo túnel até ultrapassar um portal que dava acesso ao campo de batalha. Fiquei intimidada com o número de pessoas concentradas nas arquibancadas, todas esperando que mais uma batalha emocionante ocorresse. Moira caminhava calmamente até o ponto indicado do campo, aguardando ali a autorização do juiz para iniciarmos a batalha.
O juiz levantou as bandeiras verde e vermelha autorizando que a batalha tivesse começo.
- Vai nessa Persian. – Moira lançou sua pokébola ao campo.
- Mareep, faça as honras! – disse um pouco nervosa.
- Miaa... – Um gato de luxo com ares de arrogância e indiferença surgiu no campo, lembrando muito Meowth que enfrentara há um tempo. Usava braceletes de ouro em suas patas com uma gema rubra incrustada em sua testa. Seu pelo brilhava intensamente contra a luz, os bigodes bem aparados, os olhos vermelhos continuados em seu nariz triangular, a cauda encaracolada é que me fizera confirmar que fosse o mesmo pokémon de minha primeira batalha pokémon. Ele evoluíra, sofrera uma transformação que eu ainda não presenciara. Como ela dissera nos vestiários; estavam mais forte, ela e seus pokémons mudaram, cresceram e evoluíram.
- Mareeee! – minha adorável ovelha baliu com vigor ao aparecer.
- Persian, fake out! – Moira disse sorridente.
- Mareep, thunder wave! – falei confiante de que Mareep pudesse ganhar.
Mareep preparou-se para liberar suas ondas eletromagnéticas sobre Persian, mas foi interrompido por uma lufada de ar, fazendo-a recuar.
- Persian, work up agora! – Moira ordenou com firmeza.
- Mareep, tente thunder wave novamente. – minha estratégia baseava-se em paralisar meus oponentes primeiramente. Persian era extremamente veloz, tinha de pará-lo de alguma forma.
- Aaaauuuu! – Persian miou ferozmente, iniciando uma sessão de exercícios aeróbicos para se fortalecer.
Mareep voltou a lançar suas ondas eletromagnéticas pelo campo. Persian seguiu caminhando tranquilamente sem sentir qualquer efeito do ataque.
- Só pra constar, Persian não pode ser paralisado. – Moira sorriu. – Limber é uma habilidade muito útil, não acha? Taunt agora.
- Não. – eu estava encrencada, todos os ataques dela fundamentavam-se nesta condição. – Mareep body slam! Body slam! – disse um pouco desesperada. Ainda havia uma maneira de parar Persian, só que fora retirada temporariamente
Mareep correu rumando o corpo de Persian, mas sua rapidez permitiu esquivar-se com facilidade. Teria de esperar para poder utilizar cotton spore e ter alguma chance em ataques diretos. Thundershock era o único ataque que poderia me dar uma resposta satisfatória no momento.
- Thundershock Mareep! – era hora de medir forças.
- Persian use power gem! – Moira não recusou o desafio.
A jóia na testa de Persian brilhou intensamente lançando um raio brilhante como pedras preciosas em Mareep.
A descarga elétrica de Mareep foi transpassada pelo raio luminoso de Persian acertando-a em cheio. Também não funcionara. Estava totalmente bloqueada.
- Reeep! – Mareep não suportou a força do raio sendo arrastada pelo campo com a brutalidade do ataque recebido.
- Parece que Julliane foi encurralada por Moira. – Marina anunciou. – Será que ela conseguirá se recuperar?
- Droga! – o que Isis faria nesse momento? Seria melhor desistir? Não queria que Mareep se prejudicasse por minha inexperiência. – O que eu faço?
- Vamos acabar com isso Persian! – Moira não omitia sua satisfação em quebrar minha estratégia. – Power gem!
- Mareep rebata com sua cauda. – gritei assim que pensara em algo. Mareep me dera a ideia. Sempre utilizava seu corpo de maneira eficiente nas batalhas, era hora de me render ao estilo de Mareep, tão próprio.
- Reeepp... – a esfera laranja na extremidade da cauda de Mareep refletiu o raio sobre o muro do estádio.
- Isso foi surpreendente pessoal. – Marina empolgara-se assim como a plateia. – Será que Julliane ainda terá chances de reverter esse quadro?
- Persian novamente. – Moira irritara-se. – Power gem!
O raio viera rápido demais extinguindo qualquer chance de defesa, lançando Mareep violentamente para longe.
- Mareep! – gritei agoniada. Minha cabeça começou a rodar, as vistas escureciam. Eu lutava para permanecer alerta. Mareep precisava de mim, não podia me acovardar. Não me deixaria cair por aquelas alucinações ou seja lá o que fossem. – Agora não!
- Julli, você está bem? – Moira ficara preocupada ao observar minha face angustiada.
- Estou, haha! – tentei rir para indicar que estava tudo bem. – Mareep consegue continuar?
- Mareeeeee... – baliu demonstrando força.
- Estamos chegando a um momento crítico pessoal. – Marina anunciou.
- Power gem Persian! – Moira ordenou.
- Mareep! – o estádio converteu-se em uma chuva torrencial, os portais arqueados, a multidão fugindo aflita por entre eles. Uma garotinha choramingava amedrontada ao chão de pedras marfim. Tentei ajudá-la, mas não conseguia me mover. Procurei me convencer de aquilo era uma miragem, irreal, não existia. – Agora não! – Mareep precisava de mim, tinha de fazer algo urgentemente. – EVASIVA MAREEP! – berrei fortemente.
Meus olhos voltaram-se de novo ao campo de batalha no momento em que Mareep rolava pelas rochas rubras para fugir do ataque de Persian. Moira sentira-se acuada com minha determinação. A plateia ficara alvoroçada com minha atitude extrema. Não sabiam o que se passava exatamente comigo. Não poderia culpá-los.
- Julliane está levando realmente a sério! – Marina começava a desconfiar de que algo estivesse errado comigo. Eu sentia isso em sua voz estremecida. – Vamos ver como isso termina.
- Mareep proteja-se com sua cauda! – apesar de receber parte do dano, Mareep era bastante resistente. Acreditava que pudéssemos permanecer até o efeito de taunt acabar.
- Mareep, thundershock. – disse extenuada mentalmente. Gastei todas as minhas forças para vencer essas alucinações e manter o foco em Mareep. Budew já pagou por minha hesitação e não queria isso novamente. Eu só queria ter uma jornada comum, mas eu sabia que não seria possível por enquanto.
- Persian, power gem para terminarmos. – Moira estava determinada a vencer.
- Reeeeep! – Mareep lançou uma descarga poderosa contra Persian, correspondendo a minha determinação em permanecer ali.
O raio brilhante chocou-se com a trovoada gerando uma explosão intensa lançando os dois pokémons aos pontos laterais do campo. Empate, melhor que a alternativa anterior.
- Miaaa! – Persian correu velozmente em direção a Mareep para o acerto de contas.
- Persian, power gem! – Moira se adiantara como sempre. Persian era muito veloz, não tinha chances contra sua velocidade. Ela percebera que o efeito de Taunt acabara, chegara o momento da virada.
- Mareep, cotton spore. – Mareep estava exausta. O que eu temia acontecera. Mareep fora forçada a dar tudo de si logo na primeira batalha. Ainda teríamos um longo caminho pela frente no torneio se passássemos dali.
- Marrr... – Mareep lançou a ponta de sua cauda contra o raio, conseguindo refleti-lo novamente com sucesso. Aproveitando a aproximação entre eles, Mareep jogou esferas algodonosas focalizando todas em sua direção diminuindo suas chances de evasão.
- Miaaa! – Persian miou exasperado.
- Persian! – Moira começava a se preocupar com sua possível derrota.
- Mareep thundershock! – com Persian preso, Mareep lançou uma descara elétrica diretamente sobre ele.
- Miaaa!!! – Persian mal conseguia se mover com as esferas presas ao seu corpo.
- Estoure as bolhas com suas garras Persian. – Persian expôs suas garras poderosas avançando contra as esferas flutuantes, eliminando-as.
- Não vou perder esta oportunidade. – disse olhando diretamente para Moira. – Mareep body slam!
Mareep correu em direção a Persian, acertando seu dorso em cheio. Persian guinchou e caiu.
- Persian está fora de combate. – o juiz proferiu. – Mareep é a vencedora. Julliane passa para a próxima fase.
- Espetacular! – Marina aplaudiu e toda a plateia a acompanhou. – Reviravolta surpreendente pessoal. Teremos muito mais emoções pela frente. Então aguardem que a segunda rodada está para começar. Septuagésimo sexto Campeonato da lótus vermelha está só começando.
- Ótima batalha Julli. – Moira mascava seu chiclete ritmadamente. – Boa sorte no torneio. – disse retirando-se.
- Obrigada. – disse agradecida, indo brincar com Mareep.
***
- Isis. – disse alegremente ao vê-la adentrando os vestiários.
- Passou por um sufoco pesado. – Isis sorriu. – Até achei que não fosse conseguir. Pena que só pude ver só o finalzinho.
- Foi mesmo. – minha cabeça latejava intensamente. – Em alguns momentos pensei em desistir. E sobre aquilo... – disse com o olhar preocupado.
- Eu já resolvi aquele incidente, não se preocupe. – eu estava prestes a desabafar. Retirar toda aquela angústia de dentro de mim, contudo não era o momento e talvez nunca fosse. Era melhor guardar minhas alucinações para comigo. – Deveria ter sido mais sensível com a situação.
- Isis poderia me acompanhar? – um dos organizadores interrompeu nossa conversa. – Você será a próxima.
- Ok – Isis deu uma batidinha carinhosa em minhas costas e seguiu rumo ao campo de batalha.
- Boa sorte! – desejei que se saísse bem.
- Valeu. – disse ao ultrapassar a porta.
Talvez algumas potions pudessem recuperar a vitalidade de Mareep, para continuarmos, mas talvez fosse melhor desistir. Voltei minha atenção para o telão, onde a batalha terminara com uma bela garota e uma gosma rosa com o rosto esquisito agradecendo o carinho do público.
- O que eu faço? – disse preocupada.
- Se saiu muito bem. – Riuji parou ao meu lado. – Mareep sabe como rebater. – ele simulou uma tacada de beisebol.
- Ela é incrível. – fiquei aliviada por Riuji ter entendido minha reação.
- Agora recebam Isis e Neil para mais uma batalha emocionante. – Marina noticiou.
Isis seguiu até sua posição, sorridente, aguardando até o juiz autorizar o combate. Riuji queria me dizer algo, eu pressenti isso devido ao seu jeito meio travado, mas acabamos ficando em silêncio para prestar atenção na batalha. Alguns segundos após e o juiz ergueu as bandeiras.
- Larvitar, hora do show! – Isis lançou sua pokebola para o alto, espalhando uma modesta tempestade de areia até o campo.
- Larv! – ele desfez o efeito desértico com vigor.
- Geodude ao campo. – um pokémon pedregoso e levitante com dois braços longos e robustos surgiu esmurrando o chão procurando intimidar.
- Será uma batalha de pokémons pedra. – Marina comentou. – Vamos ver quem é o mais durão.
- Larvitar, dragon dance. – Isis disse elegantemente.
- Lar... – Larvitar fechou os olhos e iniciou uma dança em que mais parecia um ritual. A cada novo elemento seu corpo tornava-se mais forte e rápido. Elementos místicos de trevas rubras uniram-se a forma de um símbolo enigmático.
- Rock smash, Geodude. – Neil simulou o ataque ao qual Geodude deveria fazer.
- Geo... – seu punho enrijeceu-se completamente rumando à face de Larvitar.
- Larvitar, força! – Isis não se alarmou com o ataque ser efetivo contra pokémons do tipo pedra.
- Larv! – um baque seco atingiu a cabeça de Larvitar em cheio, mas ele permaneceu imóvel amortecendo o impacto do potente soco de Geodude.
- Larvitar é realmente cabeça dura. – Marina comentou.
- Screech Larvitar. – Larvitar inspirou todo o ar em seu corpo.
- Geodude, rock smash novamente! – Neil continuava a demonstrar a Geodude como ele deveria batalhar.
- Rrrrrrrrrrrrrrrrrrr! – um berro ensurdecedor e agonizante espalhou-se pela arquibancada, forçando a todos taparem os ouvidos para atenuar o silvo irritante e intenso.
Geodude ficou desestabilizado, contudo acertou outro golpe em Larvitar. O impacto assemelhava-se a pedras sendo estilhaçadas, apesar disso Larvitar continuava inabalável em sua posição.
- Bite, Larvitar. – Isis ordenou.
- Geodude use defense curl. – Neil mimetizou o que Geodude deveria fazer.
- Larv! – Larvitar avançou contra Geodude, engalfinhando-se as costas dele, destoando fortes mordidas contra seu resistente corpo. Isis caminhava em grande vantagem naquele momento. Ela conseguira um combo de ataque e velocidade para Larvitar somada às defesas diminuídas de Geodude, resultado: um ataque poderia ser mortal.
- Vejamos o que acontecerá? – Marina animava a plateia a todo o momento. – Quem passará para as oitavas de final? Neil ou Isis? Façam suas apostas.
- Duuuu. – Geodude guinchava de dor. Rodopiaram no ar alguns segundos. Geodude debatendo-se no chão e assim permaneceu imóvel. Larvitar saltou contra as rochas rubras arrastando terra e levantando uma nuvem de poeira consigo. A poeira assentou-se e aos poucos ficava perceptível um ferimento em sua testa. O telão focou a cena intensa.
- Geodude está fora de combate. – o juiz dera seu veredito. – Larvitar é o vencedor. Isis está classificada para as oitavas de final.
Sorri para Riuji e ele retribuiu.
- Muito bom meu querido! – Isis abraçou Larvitar, cumprimentou seu adversário e voltou rapidamente para os vestiários.
- A competição está acirrada. – Marina demonstrou em que estado encontravam-se as chaves do torneio. – Só os melhores permanecerão. A cada batalha vai se afunilando e diminuindo as chances de se chegar às finais. Quem receberá os fabulosos prêmios oferecidos no Campeonato da lótus vermelha? Já tem o seu favorito? Acompanhem o que acontecerá.
***
Riuji derrotara seu adversário sem expor muito o seu estilo de batalha, preservando suas estratégias para um momento mais oportuno do campeonato. Caso eu soubesse da existência de Magby, teria escolhido Mudkip para o campeonato, mesmo com a ameaça de Elekid. Magby demonstrou ser um oponente formidável e experiente. Teria sérios problemas se tivesse de enfrentá-lo agora no nível em que me encontro. Não me esquecera da crítica de Zackie ao batalhar contra seu fofíssimo Squirtle, de que quem sofreria por meus atos descompensados seriam os pokémons e não seu treinador e que só por eu ser uma garota, não significava que pegariam leve comigo.
- Julliane e Koda agora competirão à última vaga das oitavas de final. – a deixa de Marina para adentrarmos o campo de batalha. – Acompanhem.
À medida que me aproximava do campo pude definir meu adversário com maior precisão. Os olhos baixos em tonalidade sépia, os cabelos arrepiados de coloração caramelada, trejeitos marotos e contidos. A camisa modelo gola em v, listrada em cardo e branco e a calça jeans azul combinaram perfeitamente.
- Espero que se saia bem. – o garoto disse polidamente.
- Desejo o mesmo. – respondi com mesma amabilidade.
O juiz autorizou que começássemos a batalha.
- Poliwhirl conto com você. – Koda lançou sua pokébola ao campo.
- Pol! – um girino azulado de olhos arredondados no topo de sua cabeça e narinas dilatadas, chamou a atenção pela espiral negra em sentido anti-horário em seu ventre. Sua pele lisa e úmida assemelhava-se a de Mudkip, exceto pelo aspecto oleoso. Utilizava luvas brancas enormes em comparação aos seus pequenos pés.
- Natu faça as honras! – disse ao lançar sua pokebola.
- Na... – Natu focou sua atenção as espirais de Poliwhirl.
- Empregue de hypnosis Poliwhirl. – Koda detinha um vocabulário rebuscado bem próximo do meu.
- Natu utilize peck. – disse com o nervosismo a flor da pele.
O bico amarelado de Natu adquiriu um brilho esbranquiçado, saltando assim contra Poliwhirl.
- Poli! – o redemoinho no abdômen de Poliwhirl adquiriu movimentos ritmados hipnotizando Natu, deixando-o sonolento. Ele fechou seus olhos e dormiu.
- Parece que alguém parou para uma soneca. – Marina brincou.
- Poliwhirl! – Koda percebeu que seu pokémon também dormira.
- Natu adora passar sua condição ao adversário. – procurei explicar, já que todos os meus oponentes faziam o mesmo. – Syncronize é uma habilidade perigosa.
- Droga. – Koda ficara frustrado.
- Quem despertará primeiro? – Marina jogou a pergunta para a público.
- KODA! JULLI! – a torcida estava equilibrada entre nós.
- Na... – Natu acordou um pouco desorientado. Poliwhirl ainda ressonava tranquilamente.
- Muito bom Natu. – disse agradecida. – Use night shade!
Os olhos de Natu brilharam de lilás ressoando uma nuvem negra entre relâmpagos sobre o corpo inerte de Poliwhirl.
- Poliwhirl acorde! – Koda suplicava.
- Natu, peck! – fortes bicadas acertaram o corpo de Poliwhirl.
- Poli. – finalmente acordara.
- Doubleslap Poliwhirl! – Koda teria de correr contra o tempo perdido. Poliwhirl ficara bastante debilitado com os ataques constantes.
- Natu night shade! – a nuvem ilusória criada por Natu confundiu e machucou a mente de Poliwhirl impedindo seu ataque.
- Whirl – Poliwhirl acertou alguns passos em falso e caiu desacordado ao chão.
- Poliwhirl está fora de combate. – o juiz confirmou o fim da batalha. – Natu é o vencedor. Julliane está classificada para as oitavas de final.
- Natu você foi incrível. – corri para abraçá-lo.
- ...então não percam! – Marina anunciava. – Faremos uma pausa, mas voltaremos com muito mais emoções para vocês.
- Foi uma ótima batalha! – Koda cumprimentou-me pela vitória. – Espero que consiga o seu objetivo.
- Obrigada. – disse felicíssima.
- Tutu. – Natu pipilou festivamente.
***
- Eevee hora do show! – Isis lançou sua pokebola ao campo.
- Ee... – Eevee era sempre extremamente alinhado. Cada movimento era preciso e calculado.
Naquele momento grande parte dos competidores já havia alternado entre pokémons, o que já permitia moldar as táticas de batalha ao possível pokémon do adversário. Mas Isis pegara um osso duro de roer. Lass possuía um Ditto, um pokémon que transformava-se no pokémon de seu adversário. E apesar de ser uma cópia, Lass conseguia que seu pokémon copiador fosse melhor que o original. Apesar de seus trejeitos dóceis e gentis, ela era uma exímia treinadora, disfarçando-se em seu vestido curto com um laço ao peito e uma flor em seu cabelo castanho.
- Roseli mostre suas qualidades! – Lass beijou a pokebola e lançou ao campo em movimentos complexos e estranhamente coordenados.
- Diiiitto! – uma gosma rosa de face caricata remexeu-se no campo.
O juiz ergueu as bandeiras dando início à batalha.
- Roseli, use transform! – disse de imediato, com as feições infantis em contraste.
- Não mesmo! – Isis fora contundente assustando Lass. – Eevee, quick attack!
- Eev... – Eevee desapareceu por um instante surgindo novamente golpeando aquele estranho pokémon.
- Diiii. – Ditto cambaleou um pouco, mas conseguiu se transformar em um Eevee, adquirindo sua constituição em batalha, moldando suas células para um novo corpo. Um pokémon com uma característica terrível ao adversário.
Lass avaliou sua pokedex para escolher os ataques que poderia utilizar.
- Roseli use synchronoise. – ondas psíquicas propagaram-se pelo campo.
- Eevee também utilize synchronoise. – as ondas psíquicas produzidas por Eevee chocaram-se com as de Ditto criando uma nébula pulsante. A massa instável desintegrou-se liberando um chiado agudo e pouco perceptível.
- Eevee use quick attack! – Eevee rodopiou e sumiu em pleno ar reaparecendo pressionando suas patas dianteiras contra o outro Eevee. Seu corpo voltou-se a forma original. A gosma amoleceu até desfalecer aos pés de Eevee.
- Roseli! – Lass não esperava que Eevee fosse tão rápido e poderoso.
- Ditto está fora de combate. – o juiz anunciou. – Eevee é o vencedor. Isis está classificada para as quartas de final.
- Não. – Lass começou a espernear, montando uma cena desagradável apenas para ela.
- Julli? – ouvira uma voz culpada.
- Sim, Riuji. – disse secamente.
- Só queria pedir desculpas por aquilo lá. – ele sinalizou com as mãos. – Foi mal.
- Não guardei mágoas. – disse sinceramente. – Achei até um pouco engraçado.
- Garotas... – Riuji não entendera minha reação dúbia dessa vez. – Nunca tente entender.
- Hahaha! – não segurei o riso. – Quem sabe eu te passo um manual de instruções.
- Ajudaria muito. – Riuji ficara frustrado com minhas atitudes. Eu vivia fora do compasso, meio alheia a tudo. Coisa que ele não sabia, ao menos ainda não. – Esquece... Só queria saber se queria ir para o Haras mais tarde, chame a sua amiga se quiser...
- Certo, agradeço o convite. – eu suspeitava de que Riuji queria algo mais do que isso. Tinha de deixar claro para ele que tudo seria uma relação de amizade. – Bom ter novos amigos, não é mesmo?
Com essa deixa, ele percebera que tudo ficaria nos campos da amizade. Ele era bonito, mas não fazia o meu tipo. E também algo em meu coração não deixaria.
***
- Mankey acaba com ela. – o garoto disse em tom ameaçador.
- Toki acalme-se. – falei o mais serenamente possível.
- Cala a boca! – Mareep estava com a vantagem no momento, o que enfureceu meu adversário, deixando-o fora de si, o que foi transmitido ao seu pokémon. – Assurance agora!
- Man! – Mankey tentou se movimentar, contudo seus músculos paralisaram-se.
- Idiota. – era possível ver os nervos da cabeça do garoto latejar. – Vai se fuder, garota.
- Eu não vou aceitar insultos gratuitamente. – disse firmemente. – Mareep use thundershock. Se você não escuta pela razão talvez escute pela força.
- A situação fugiu do controle. – Marina disse preocupada. – Toki pode ser desclassificado por ofender seu oponente.
- Mareep! – descargas elétricas foram lançadas da lã de Mareep golpeando Mankey.
No início da batalha ele era um macaco gracioso e gentil em forma de uma esfera felpuda balançando sua cauda de um lado ao outro, mas seu pavio curto o transformou em uma besta furiosa. Seu treinador não ajudava muito a melhorar seu temperamento, deixando-me em uma situação ainda mais difícil.
Seu pelo amendoado desgrenhado e mal cuidado refletiam o desleixo de seu treinador com ele. O seu fofo nariz agora arfava violentamente, os olhos ainda mais vermelhos e incontroláveis, as patas de coloração marrom sela debatendo-se furiosamente contra o chão e descoordenadas devido a paralisia muscular, partia-me o coração que aquele pokémon tivesse um treinador como Toki. Mesmo que a natureza de Mankey fosse agressiva, o papel de um treinador seria o de instruir e controlar o que causasse malefícios ao seu pokémon, e Toki fizera exatamente o contrário.
- Keeeeeeeee... – a descarga elétrica percorreu o corpo de Mankey, mas ele continuava a debater-se descontroladamente.
- Pare, Mankey! – implorei. Não suportava vê-lo naquele estado.
Ele já estava desacordado, no entanto seu corpo continuava a agir movido pela fúria. Corri em sua direção, imobilizando seu corpo. Lágrimas escorriam de meus olhos umedecendo seus pelos fétidos.
- Saia de perto do meu Mankey. – o garoto não via o que se passava. Ele aproximou-se de nós empurrando-me para soltar Mankey. Ao observar o seu estado ele ajoelhou escondendo o rosto.
- Parece que a batalha terminou. – Marina disse ao perceber todos em silêncio absoluto, apenas observando aquela lastimável cena.
- Mankey está fora de combate. – o juiz confirmou o resultado passado por Marina. – Mareep é a vencedora. Julliane está classificada para as quartas de final.
- Eu espero que de agora em diante você mude seu comportamento. – retornei Mareep a sua pokébola e segui para os vestiários.
Não havia o que comemorar agora. Eu poderia não ser uma das melhores treinadoras, mas aquilo fora cruel demais. O campeonato deveria ser uma homenagem a Inu Guren e Arcanine, grandes herois de Kanto, uma grande festa, divertida e despretensiosa, só que o que realmente acontecia na prática eram batalhas até o limite do pokémon. Eu estava aprendendo do pior jeito, que eu não acreditava naquele tipo de treinador pokémon.
Eu não saberia dizer se a situação poderia piorar daqui em diante, ou se os treinadores restantes respeitavam seus pokémons acima de tudo. Senti um aperto no peito ao olhar pela última vez aquele pobre pokémon que foi levado até as últimas consequências. Eu jamais faria aquilo, jamais.
***
- Larvitar hora do show! – a pokebola cercada por órbitas de pedras fincaram-se ao chão até Larvitar aparecer poderosamente.
- Larv! – sua testa ainda estava extremamente ferida, apesar dos cuidados de Isis. A batalha contra Geodude fora mais intensa do que eu imaginara.
- Butterfree é sua hora de brilhar. – o garoto disse realizando uma coreografia bem ensaiada.
- Freeee... – uma linda borboleta violácea, com belos olhos esquadrinhados em milhares de pentágonos vermelhos, as asas esbranquiçadas exuberantes desenhadas em linhas negras, os pés arredondados e achatados cobertos de finos pelos azuis, assim como seus modestos braços, semelhantes a uma flor de três pontas e sua boca com duas discretas presas surgiu esvoaçante ao campo de batalha. Suas asas liberavam um pó dourado que destacava a beleza de Butterfree.
- Mais que coisa linda. – os olhos de Marina brilharam de excitação ao ver aquela bela entrada. – Isis sabe mesmo como se apresentar em batalha. Afonse, bem... Não fica atrás quanto a esse quesito, mas esta luta não será medida pela melhor apresentação e sim pela força, estratégia e habilidades em combate.
- Eu não aprovei aquela coisa deplorável que você fez na praça. – Afonse começara a esnobar Isis. – Marina e seus fãs não mereciam. Foi de um mau gosto tremendo.
- Acho que isso depende. – Isis deixara algo subtendido. – Cada um tem sua opção.
- Nem vou me dignar a responder. – Afonse sentira-se ofendido.
- Que tal começarmos. – Isis estava impaciente. – Estou exausta. Foi um dia longo.
- Não se preocupe. – Afonse era extremamente arrogante. – Você poderá descansar. Não precisará vir mais, pois você termina sua participação neste grandioso evento hoje.
- É o que veremos. – ela iria demonstrar em batalha com quem ele estava lidando.
- Butterfree, mostre todo o seu brilho com silver wind. – ele ergueu os braços tentando chamar toda a atenção para si.
- Acabe com isso Larvitar. – Isis bocejou. – Rock s...lide!
- Freee... – um vento prateado produzido pelas asas de Butterfree estendeu-se pelo campo golpeando Larvitar.
- Lar! – Larvitar não se intimidou e esmurrou o chão deixando algumas pedras soltas. Em seguida, lançou-as contra Butterfree.
- Evasiva! – Butterfree conseguiu desviar de algumas pedras, mas não fora habilidoso o suficiente para escapar de todas as investidas. – Não. Minha linda Butterfree! Como ousa.
- Eu poderia explicar. – Isis parecia entediada. – Mas agora eu tenho alguns assuntos pendentes e não posso me atrasar. Por isso, Larvitar use rock slide e vamos embora.
- Lar... – Larvitar voltou a lançar mais pedras contra Butterfree até ela cair inconsciente.
- Butterfree está fora de combate! – o juiz disse quase rindo. – Larvitar é o vencedor. Isis está classificada para as semifinais.
- Isso é impossível. – Afonse estava atônito. – Eu guardei minha Butterfree para mostrar a você o que é uma verdadeira apresentação pokémon.
- Deveria estudar um pouco mais antes de entrar em uma batalha. – Isis não se comportava daquela forma. Algo que Afonse fizera ou dissera deixara Isis enfurecida. – Não lido com amadores que querem aparecer mais que seu pokémon e transformá-lo em um enfeite. – ela voltou sua atenção a Larvitar. – Larvitar você esteve ótimo. Vamos cuidar deste ferimento no centro pokémon?
- Tar! – Larvitar saltou nos braços de Isis, transbordando de felicidade.
- Isis é a primeira classificada desta rodada. – Marina a observou deixando o estádio, antes de continuar. – Ela demonstrou sua experiência e conhecimento desde o início e para muitos não é surpresa que ela chegou tão longe. Aguardem, pois a próxima batalha definirá seu adversário. Como ele lidará com o favoritismo que está se formando ao nome de Isis?
***
- Jill e Julliane ao campo. – a voz de Marina ressoou pelo corredor de entrada, doce e empolgante. – A última vaga para as semifinais do campeonato da lótus vermelha será disputada agora. Isis, Riuji e Shin já garantiram suas vagas. Quem levará a melhor e pegar a última vaga disponível para as semifinais?
Caminhando rumo ao campo, deparo-me com meu oponente. Ele era um pouco mais velho que a média dos competidores. Alto, contornos fortes e bem delineados me lembraram um pouco o porte físico de Riuji. Os olhos amarelo ouro, a pele morena, jurava que poderia ser ele. A boina xadrez escondendo o cabelo curto, o colete e a calça em risca de giz sobre a camisa social lilás era o que distinguia os dois. Poderiam ser parentes talvez.
- Natu faça as honras. – Mareep ainda estava debilitado com a batalha desgastante contra Persian e Mankey que decidi assim por Natu.
- Tu... – Natu voltou sua atenção para Marina ao alto de sua sacada. Ela realmente se destacava, mesmo em meio à multidão eu não duvidaria que fosse notada.
- Nidorino está na hora! – sua voz era grave e harmoniosa.
- Nido! – um quadrúpede espinhoso apareceu rastelando as patas na terra rubra do campo desgastado após tantas batalhas. A textura escamosa de coloração malva combinava com sua face carrancuda, e sua boca repleta de dentes fortes e perigosos.
O juiz autorizou que iniciássemos enfim a última luta do dia. Era pouco mais de meio dia, o sol escaldante em nossas cabeças, mas o cansaço era como se estivéssemos ao fim de um longo dia de treinamento.
- Natu, night shade! – eu particularmente adorava utilizar night shade, pois a todo o momento modificava-se em algo maior e mais forte.
- Horn attack, Nidorino. – Shin disse avaliando a postura de ataque de Natu.
- Na! – os olhos de Natu intensificaram-se em um brilho róseo produzindo arcos em pleno ar.
- Não! – ouvi uma voz infantil entre temores invadir minha mente. Não era o momento para alucinações, se é que há um momento adequado.
- Nido! – Nidorino correu em direção a Natu, apontando o chifre no topo de sua cabeça contra ele.
Arcos incendiados em fogo negro chocaram-se em Nidorino, contudo ele permaneceu seu trajeto de ataque.
- Natu evasiva. – disse um pouco incomodada com o calor intenso.
- Tu... – Natu saltou para a lateral direita do campo, evitando o ataque de Nidorino.
- Poison tail, Nidorino. – Jill dissera tranquilamente.
- Natu, peck agora! – observei a cauda de Nidorino adquirir um brilho escarlate e bolhas de material tóxico.
O bico de Natu brilhou intensamente voltando-se contra o dorso espinhento de Nidorino, porém ele fora mais veloz. A cauda de Nidorino rebateu em Natu como se estivéssemos em um jogo de beisebol, ao lançar a bola contra o taco. Acabei me lembrando de Riuji quando conversamos nos bastidores.
- Natu! – ele rodopiou em pleno ar, abriu as asas permitindo planar. Do nada, ele desapareceu, surgindo ao lado de Nidorino, lançando bicadas fortes em seu abdômen.
A pokedex apitou antes de falar a mensagem.
Golpe aprendido: Teleport
- Legal! – disse animada. – Vamos ver o que podemos fazer com isso. Natu você é demais.
- Return! – Jill era contido em batalha. Não era de falar muito.
- Nido! – Nidorino jogou o corpo em Natu, mas ele fora astuto. Teleportara-se para o outro extremo do campo.
- Jill está tendo problemas com o teleport de Natu. – Marina fez piruetas da sacada, demonstrando sua empolgação.
- Night shade Natu! – era hora de finalizarmos a batalha. Nidorino recebera muitos danos, não aguentaria continuar por muito mais tempo.
- Tu... – Natu recusou-se a utilizar o ataque ao qual ordenei. Saltou objetivando aproximar-se de Nidorino com seu bico brilhando intensamente.
- Poison tail Nidorino! – sua cauda produzia substâncias nocivas aguardando a chegada de Natu.
- Natu o que está fazendo? – não estava acreditando que Natu me desobedecera daquela maneira. Estávamos com a vantagem e ele fazia aquilo.
- Parece que temos um pokémon se rebelando. – Marina anunciou. – Será que isso poderá prejudicar Julliane?
Novas bicadas acertaram Nidorino, levando-o ao chão. Nidorino felizmente não tivera a oportunidade de utilizar sua poderosa cauda. Não suportou as bicadas de Natu.
- Nidorino está fora de combate. – o juiz confirmou. – Natu é o vencedor. Julliane está classificada para as semifinais.
- Apesar da insubordinação de Natu, Julliane conseguiu a última vaga para as semifinais. Parabéns a todos os que participaram e amanhã as finais do torneio. – disse acenando para seus fãs.
- Na... – Natu estava de costas para mim, mas mesmo assim senti tristeza em seu olhar. Algo não estava certo.
- Então definimos os quatro possíveis vencedores do septuagésimo sexto campeonato da lótus vermelha: Isis contra Riuji e Shin contra Julliane. – Marina mostrou às fotos no telão correspondendo às chaves finais do torneio. – Amanhã voltaremos para as emoções finais deste empolgante campeonato.
- Natu retorne. – ele estava me evitando. Deixaria assim por enquanto.
* O teatro musical Folha verde, representa o jogo pokémon leaf green, reversão do clássico pokémon green, lançado para game boy advanced.
No próximo capítulo:
- Spoiler:
Capítulo 014 - Caprichos. Rendendo-se as vontades de Isis, Julli e Riuji embarcam em uma arriscada expedição pela mansão abandonada de Cinnabar.